sábado, outubro 08, 2011

O elegante de Montemor – Torais Reserva 2007


O vinho, tal como muitas outras coisas, espelha quem o faz ou quem lhe dá alma. O Torais Reserva 2007 não deixa dúvidas. Tem o porte distinto do proprietário desta herdade de Montemor-o-Novo e o temperamento frontal e jovial do enólogo.
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Fernando Pereira Coutinho faz carreira na banca, como consultor da administração do Banco Espírito Santo, mas há muito que tem o prazer do vinho. Gosta e sabe da qualidade, mas não embandeira mais do que o seu prazer. As coisas técnicas não são para ele, assume.
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Diogo Campilho, o enólogo, é jovem e já uma certeza da enologia portuguesa. Fala do vinho com gosto visível. Fá-lo à medida de quem o irá vestir, mas deixa o seu traço. Aprecia trabalhar com castas estrangeiras, ou não tivesse andado pelo mundo a estudar ou estagiar.
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O projecto inicial não previa que a Herdade de Torais tivesse vinha. Fernando Pereira Coutinho comprou, em 1995, a propriedade como investimento. Quer desfrute, mas também razoabilidade económica. Aplicou poupanças numa exploração que tem de se pagar a si própria. Não quer nem prejuízo nem fazer vida de lavoura.
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Os cereais e o gado bovino foram as primeiras actividades após a herdade ter sido adquirida. Os cereais deixaram de dar e, um dia, os animais tiveram de ser todos abatidos, por causa da tuberculose.
Após o desaire ainda pensou na olivicultura, mas a enofilia resgatou-o. O seu amigo e enólogo João Portugal Ramos aprovou as condições físicas e Fernando Pereira Coutinho investiu. Primeiro só vendia uvas à Companhia das Quintas, mas nasceu a vontade de ter o seu vinho. Hoje, guarda algumas uvas para Torais e não tem uma adega xpto, como muito se viu pulular no Alentejo; trabalha com a adega da empresa a quem vende as uvas. Tudo bem pensado e medido. As quantidades são pequenas e são para manter. Deste (os reservas só vão aparecer em anos excepcionais) só se fizeram 1.500 garrafas.
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E quanto ao resultado? «O Diogo não é o típico enólogo alentejano, isso interessou-me. Não queria fazer o típico vinho alentejano, forte, pesado ou com muita madeira». Prova superada.

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