Há empresas e
produtos que marcam os tempos. Os anos passam e elas ficam, acompanhando as
épocas. A José Maria da Fonseca (JMF) é um desses casos. Fundada em 1834, é a
mais antiga casa produtora de vinhos de mesa em Portugal. No mundo, são
escassas as que resistem cem anos. Aqui apresenta-se o mais jovem membro da
família Periquita, o Superyor.
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O homem que deu
nome à casa nasceu em Nelas, em 1804. Formou-se em Coimbra e estabeleceu-se em
Lisboa, negociando em tabacos no Cais do Sodré. Prosperou e diversificou os investimentos.
Uma aposta foi a compra da Quinta de Periquita, em Azeitão. Lá plantou uma
casta que trouxe do Ribatejo: a João Santarém.
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A adaptação e o
sucesso da casta foram enormes. Alastrou e ganhou uma alcunha: periquita, em
alusão à quinta. Durante muito tempo, até oficialmente, também se chamou assim.
Até ao dia em que a JMF pôs os pés em tribunal para garantir que periquita só o
seu vinho. Hoje, o nome corrente é castelão (que já teve acoplado «francês»).
Voltando ao sucesso na região… os seus encepamentos chegaram quase aos 100%. Ultimamente
tem havido plantações diferenciadas, mas, julga-se, que quase 80% ainda sejam
desta estirpe.
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Em 2010
celebraram-se os 160 anos da marca Periquita. Todavia, o Superyor não é um
evocativo. Há já muito tempo que na JMF se queria uma coroa. Calhou 2008 ser um
ano excepcional e lá debutou na efeméride, diz Domingos Soares Franco, enólogo,
vice-presidente da JMF e descendente (sexta geração) do fundador. O próximo só
virá doutra vindima de excepção.
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Este topo de
gama é, como não podia deixar de ser, um «castelão», com quase 93% do lote. O
vinho estava com muita estrutura, «mas precisava que lhe puxassem as costas»,
afirma o enólogo. A prótese fez-se com cabernet sauvignon (5%). Para «dar um
coice de boca, para ser mais comprido», adicionou-se a tinta Francisca (2,4%). Uvas
de vinhas velhas, vindimadas à mão e esmagadas a pé, porque, quando se quer
qualidade, as mãozinhas e os pezinhos ajudam muito.
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Os frutos foram
prensados com 35% dos seus engaços, para extrair mais taninos, o que lhe
prolonga a vida. Os pormenores, ou o luxo, não foram descuidados: passou 12
meses nas melhores barricas de carvalho francês da Seguin Moreau, uma das mais
prestigiadas tanoarias do mundo.
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Evolui bem no
copo. O que se começa por beber não é o mesmo que termina a refeição. É um
tinto para se ir descobrindo. Tanto no prazo dum repasto como num horizonte
mais distante. É vinho para viver, pelo menos, mais uns 15 anos.
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Domingos
Soares Franco diz que lhe lembra as colheitas de 1966, 1967 e 1969, quando
havia poucas marcas em Portugal e os Periquita ainda não eram vinhos de consumo
massificado. Que venham mais 160 anos.
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