O tempo passa… vi num documentário que há um mecanismo no
nosso cérebro, deve ser algo como a espiral da corda dos relógios mecânicos,
que faz com que a percepção do tempo varie com a idade.
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Será por causa desse mecanismo que o período de aulas é
demorado para as crianças e vertiginoso para os adultos. Quando conheci o anãozinho
cá de casa tinha ele quase quatro anos e era um bocadinho trapalhão a andar…
andava esquisito. Hoje… corre como um Fórmula 1.
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Assim está a acontecer com este blogue. Os vinhos vão sendo
provados – bebidos, porque aqui há pouca ciência e mais prazer – e levam meses
até se plasmarem em letras. Está bem que a minha vida não é esta… sou
jornalista freelancer, não me posso dar ao luxo de faltar ou de meter baixa ou
ter férias. Cada trabalho é benvido (recuso-me a escrever bem-vindo), há a
família, outros óbis, dormir…
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Portanto, só posso pedir desculpa pelos atrasos a quem me
enviou vinho para prova, pois partiu do pressuposto que seriam publicados os
textos a eles relativos em tempo de novidade e procura direccionada.
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Uma das minhas vítimas preferidas é a firma José Maria da
Fonseca. Aqui vão as linhas da minha avaliação dos vinhos enviados. Começo com
os mais prováveis de chegar às mesas no Natal.
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Desta vez, ao contrário do que é hábito, coloco as
pontuações junto ao texto relativo a cada vinho.
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Domini Tinto 2012
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Bendita (estão a perceber por que é que deve ser benvindo e
não bem-vindo?) touriga francesa, nome da tradição e que o enólogo-mor desta
casa lhe voltou a chamar. Não é envergonhada, mas não é protagonista. Porém,
sem ela o Douro não pode ser Douro – ainda me vou tramar com esta afirmação.
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No lote deste vinho constam a touriga nacional (48%), a
tinta roriz (30%) e a touriga francesa (22%). Um coro bem afinado, onde a
touriga nacional é a maestrina, a tinta roriz os instrumentos de sopro e a
touriga francesa o conjunto de vozes.
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Cá vou aos malditos descritos, pois hoje apetece-me. Lá está
o doce de cereja – nada de compotas ou outro conduto de pão e bolachas – uma pitadinha
de violetas. Ao fundo o terroso da touriga francesa e umas agradáveis notas de
madeira. Na boca mostra-se elegante, de fino trato, com boa acidez e bom final.
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Origem: Douro
Nota: 6,5/10
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Domini Plus Tinto 2011
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Acho estranho não ter escrito antes acerca deste vinho.
Consta dos meus cadernos de anotações, que inclui o telemóvel, cuja diversidade
de recurso não me permite estabelecer uma linha temporal de prova. Devia escrever
a data, mas sempre fui mau com números.
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Este está acima do seu sucessor. A razão, que aqui é
assumidamente subjectiva, é a quantidade de sumo de touriga francesa: 68%. A
tinta roriz (22%) e a touriga nacional (10%) são as parceiras. Obviamente que o
trabalho enológico se repercute.
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As diferentes percentagens das composições dos dois vinhos
espelharão as virtudes de cada casta em cada um dos anos. Ainda assim, acredito
que a pontaria primeira à touriga nacional, no 2011, possa estar relacionada
com o apetite do consumidor.
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Este é muito mais Douro. Tem os aromas bravios da região e
as casas solarengas das quintas. Uma mão cheia de socalcos – não sei se a
propriedade os tem, é mero recurso. Na avaliação olfactiva estão o xisto e sua
terra, as estevas, aquela nota de madeira, talvez de azinho, que lhe oferece a
touriga francesa. Domingos Soares Franco, enólogo-mor, refere frutos pretos…
sim, não divirjo muito; às amoras, mirtilos e ameixas junto figo seco. Quanto a
violetas, ná! Continuo na minha, no Douro não topo muito esta flor, parece-me
sempre mais o doce, geleia e compotas de cereja e/ou outros frutos vermelhos.
Na boca é equilibrado, com boa acidez e um final longo.
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Origem: Douro
Nota: 8/10
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Hexagon Branco 2013
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A marca Hexagon nasceu para os tintos e o seis a que alude
referem-se ao número de castas. Neste branco há apenas quatro: viosinho (34%),
verdelho (30,5%), antão vaz (20%) e alvarinho (15,5%).
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Por partes: acho gira a combinação de castas tão diferentes
e de regiões diversas. Não penso que seja arriscado, é um vinho para amantes
assumidos, que premeiam a diferenciação, e para os apreciadores do estilo desta
firma de Azeitão.
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Como enófilo premeio as diferenças, ainda que, por vezes,
não me sacie completamente o prazer. Reafirmo, este não é um blogue de crítica
«séria» (é sério porque respeita o meu gosto), as provas não são cegas, o
ambiente não é de sala de provas, mas de amizade e convívio e reflecte o meu
gosto. Ainda assim, quando me surge um vinho que não me cai no goto, mas que
tem manifesta qualidade, não o posso penalizar completamente.
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Acresce que não sou enólogo nem vitivinicultor, não tenho
bases académicas para argumentar enologia nem dar conselhos comerciais e
empresariais. Quem me lê sabe o quanto aprecio o trabalho de Domingos Soares
Franco e sua equipa (e família).
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Já se percebeu que não gostei deste vinho. O não gostar é
relativo! A escala decimal é aberta como a de Richter, sendo que o 3 é
positivo, pois não vejo interesse em classificar o evitável (2) nem o imbebível
(1).
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Ora, este vinho – atenção refiro-me a gosto – tem vários
«defeitos»: antão vaz e alvarinho. O viosinho lembra-me o Douro dos meus
amores, onde leio uma alma grande. O verdelho diz-me o nome do enólogo, que tão
bom partido sabe tirar desta casta. A alvarinho é casta que raramente aprecio
fora dos frios de Monção e Melgaço. No Sul, enjoa-me um bocadinho. Depois vem a
casta Yeti – a abominável cultivar do Alentejo.
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Na «prova», os comensais gostaram muito. Eu não! Tenho
reparado que a antão vaz só é bebível quando se lhe junta o arinto – excepção feita
ao primeiro Solista, da Adega Mayor, com direcção de Paulo Laureano, que jurou
que me porá a cantar laudes a esta «coisa».
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Tentando ser justo quanto a qualidade e gosto pessoal… 6! Os
restantes 7.000.000.000 de terráqueos provavelmente deliciar-se-ão. Tem tudo
para agradar.
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Origem: Regional Península de Setúbal
Nota: 6/10
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FSF Tinto 2011
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Adoptei não pontuar vinho de homenagem, a menos que surjam
anualmente ou com grande regularidade. É o caso: Fernando Soares Franco, figura
enorme dos vinhos portugueses.
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É um vinhaço! Em grande! Fez-se de syrah (79%), trincadeira
(17,3%) e tannat (3,7%). Caiu-me muito bem. Mostra-se variado quanto a olfacto,
desde a mineralidade quente das areias, ao figo seco, à menta e chocolate
preto. Enche a boca, com calor e acidez que a equilibra, um final muito longo!
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Origem: Regional Península de Setúbal
Nota: 8,5/10
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Lancers Espumante Bruto, branco e sem indicação de ano,
produzido é método contínuo. É um vinho
que calha muito bem no Verão e que na passagem de ano contrabalança os enfartamentos
e os doces típicos da época.
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Tem uma acidez notória, bolhas brincalhonas a fazerem
cócegas, aromas de frutas de Verão, não tropicais. É prá festa!
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Lancers Espumante Bruto
Origem: Portugal
Nota: 5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo
produtor.