Mário Sérgio (Alves Nuno) nasceu na Bairrada e numa família
com vinhas. Lembro-me quando o visitei pela primeira vez, contou-me que houve
camponesas a queixarem-se ao pároco por causa da monda de cachos. Desperdício
de alimento é pecado!
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Este bairradino assinalou 25 anos como vitivinicultor e
chamou, à aldeia da Fogueira, amigos, familiares e jornalistas. Lá a meio do
convívio rasgou um sorriso e deu-me um abraço:
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– Epá! Já nos conhecemos há uma data de anos.
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Pois já! Fui em reportagem pelo programa «Da Terra Ao Mar»
(RTP 2 – domingo às 11h00) – era muito mal pago, mas foram os anos profissionais
que mais gostei de viver. Dez anos! O texto da reportagem data de 13 de Outubro
de 2004, pelo que a visita deve ter acontecido em finais de Setembro ou no
início do mês seguinte. Não me lembro se estava em vindimas.
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O vinho é uma complexa criação humana, com várias nuances e
significados, seja directos, seja indirectos:
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– Alimento de alimentar, alimento de comida, objecto
sagrado, droga social (álcool) do Ocidente, com ele se brinda ao amor, se
afogam desamores, se celebra o Natal, o Ano Novo, a Páscoa, os aniversários...
A grosso modo, pois assume ainda mais contornos e funções...
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A Bairrada é uma região especial. O consumidor
contemporâneo, que usufrui sem chegar a ser enófilo, não a compreende muitas
vezes. Uma região que nem muitos bairradinos a entendem.
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Lá vem a polémica das castas (tem de ser): uma denominação
de origem tem de ser tradição. A evocação duma denominação de origem não
significa maior nem menor qualidade do que menção «regional». Quanto a mim,
cada um planta o que quer, seja qual for a razão e critério. Custa é ler num
rótulo Bairrada (ou outra) menções a cabernet sauvignon, merlot, viognier,
sauvignon blanc ou outra qualquer – por muito bons que sejam os vinhos. Desde
já afirmo que gosto mesmo muito dos néctares de Carlos Campolargo, mas há alguns
que, no meu conceito de região, não deviam ser classificados como Bairrada.
Bem, assunto encerrado. Entendam-se, organizem-se e tenham sucesso.
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O Mário Sérgio é um rosto da tradição. Se transgride é
ligeiramente e pontualmente. Os Quintas das Bágeiras são mesmo Bairrada! O seu
enólogo Rui Moura Alves, homem que se formou e doutorou sozinho – grande valor.
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A publicação desta crónica está atrasada – como as que
recentemente saíram e as que estão na calha. O que talvez seja uma vantagem,
pelo distanciamento face a 10 de Julho, quando se deu a festa e o lançamento de
três vinhos de homenagem.
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Visitar Mário Sérgio implica ganhar peso. Não há volta a
dar. O vinho é rico em calorias e o leitão é pecaminoso. O Mugasa – a par da Casa
Vidal – faz o melhor leitão da Bairrada que conheço. O nosso vinhateiro tem
forno e uma relação de amizade próxima com o proprietário e assador do Mugasa.
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Garantidamente leitão. Leitão português e bairradino (não
sei se bísaro). Assado com lenha de videira. Os leitões do Mugasa abrem a porta
para o paraíso gastronómico... ou seja, vai toda a gente parar ao Inferno.
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Nesta celebração dos 25 anos, Mário Sérgio apresentou os
vinhos Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2012, Quinta das Bágeiras Pai Abel
Tinto 2009 e Quinta das Bágeiras Avô Fausto Tinto 2010.
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Tratando-se de vinhos de homenagem não os classificarei. O
Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2012 resulta dum lote de maria gomes e
bical. O Quinta das Bágeiras Pai Abel Tinto 2009 é composto por baga (80%) e
touriga nacional. O Quinta das Bágeiras Avô Fausto é formado por uvas baga
(90%) e touriga nacional.
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Grandes vinhos da Bairrada. Grandes vinhos em qualquer lugar
em que haja quem saiba apreciar. A Bairrada não é a Disneylândia.
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Mário Sérgio teve (obrigatório) de subir a uma cadeira e
discursar. Improvisou e emocionou-se. Por tudo destes 25 anos.
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Que venham mais 75!
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