quinta-feira, dezembro 28, 2006

José de Sousa 2002 - uma crónica natalícia

O Natal não me diz muito. Aliás, não me diz quase nada. O que me diz não tem quase nada a ver com o Natal das outras pessoas. Ou seja, o meu Natal é quase nada de comum. Não, porque não seja cristão, mas porque não me faz sentido todo o folclore associado à data, mais a euforia consumista, o trânsito infernal, mais a falsa paz que nem mal se disfarça, nem a hipocrisia, nem o cinismo, nem a pirosada das pessoas, entre outros atributos negativos que não me apetece enumerar ou não me ocorrem de momento.
Contudo, o Natal tem também alguns significados positivos. As lembranças da infância, o Bolo-Rei, que antigamente só se comia por esta época, a alegria verdadeira de Calvin, os belos jantares do amigo Sérgio, para os quais todos os anos me convida.
O que tudo isto a ver com um vinho? Tem alguma coisa, já explico. Peço alguma paciência, porque o Natal tem a ver com emoções e desta vez escolhi um vinho que tem memória. Vou voltar atrás, ao que o Natal tem de bonito. Retrocedo para contar uma tradição que não me lembro quando começou: os jantares em casa do amigo Sérgio, que é amigo de infância. A 25 de Dezembro, lá em casa, junta-se a família mais chegada e um grupo muito pequeno de amigos. É uma alegria! O Natal, o verdadeiro, será feito daqueles convívios ou algo de muito parecido.
Este ano, o amigo Tinoco levou uma garrafa de José de Sousa de 2002. A marca é um clássico! O vinho não desiludiu. Alegou a conversa e iluminou a noite. É bem certo que não é um vinho de estalo, mas tem memórias, um património de afectos, que lhe dão um encanto. Nunca me desilude, o José de Sousa. Este de 2002 tem um aroma vegetal, a tabaco e ervas, e um toque achocolatado. Na boca tem frutado suave e agradavel. Já disse que não é de arromba, mas é um valor seguro.

Região: Regional Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca
Teor alcoólico: 13%
Nota: 5,5/10

quinta-feira, dezembro 21, 2006

CARMIM Vinho Novo 2006 Branco

Muita fruta, com destaque para a tropical: ananás e manga. Acidez notória. Fruta em excesso. Fruta até ao enjoo. Beber muito fresco para se conseguir tolerar. Contudo, claramente superior ao seu «irmão» tinto.

Região: Regional Alentejano
Produtor: CARMIM - Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz
Teor alcoólico: 13%
Nota: 3/10

Altas Quintas Reserva 2004

Muito elegante! Gostei da sua complexidade onde notei uma agradável linha vegetal. Este tinto alentejano é, tal como diz o produtor, diferente da generalidade dos vinhos oriundos do Alentejo.

Região: Regional Alentejano
Produtor: Altas Quintas
Teor alcoólico: 14,5%
Nota: 7,5/10

Monte da Ravasqueira 2004

Bebível, mas algo agreste, desequilibrado, com uma acidez despropositada, uma fruta desinteressante... Este tinto vem vestido de forma digna, com brasão no rótulo e tudo!... Mas falta-lhe alma, corpo, interesse, distinção e elegância. Ou seja, a roupa não bate certa com o interior. As aparências iludem. É um vinhito banal.

Região: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Dom Diniz
Teor alcoólico: 14%
Nota: 3/10

terça-feira, dezembro 19, 2006

Post Scriptum 2002

A marca propriamente dita é Post Scriptum de Chryseia. A palavra Chryseia surge em pequenino, mas surge. Surge para associar este vinho ao outro, ao maior, àquele que tem reputação de especialidade. A técnica comercial não é original e é legítima, uma vez que se tratam de dois vinhos do mesmo produtor. O problema está em que este Post Scriptum não tem nada de especial; é uma banalidade, um bocejo! Pelo preço que custa bebem-se vinhos muitíssimo melhores... até mais baratos. Evitável, portanto!

Região: Douro
Produtor: Prats & Symington
Teor alcoólico: 12,5%
Nota: 4,5/10

segunda-feira, dezembro 18, 2006

A boca dos outros

Esta coisa de ler sobre paladares e aromas causa-me alguma estranheza. O que me faz espécie são as opiniões, porque cada um tem a sua boca, memória e palavras, o que por vezes não se encaixa no meu modo de ver. Contudo, este é um dos encantos da opinião em geral, da blogosfera em particular... do convívio humano, para ser preciso.
É claro que me espanto com muitas coisas que leio. Porque me revejo. Porque me dão novas perspectivas. Porque me iluminam. Porque me fazem exclamar negativas. Gosto dessas sensações. Outro dia navegando com tempo pelo rol de blogues que tenho pendurados descobri como são diferentes as bocas. Não são melhores nem piores, são diferentes. É fascinante! Vinhos que tenho por valorosos cotados como medianos. Vinhos que dou como pirosos avaliados muito positivamente. Quem está certo? Quem está errado? Ninguém provavelmente.
Há pouco li no blogue Pingas no Copo um texto sobre a subjectividade da prova e fiquei a matutar. Matuto como aceno com a cabeça, afirmativa ou negativamente, quando leio uma opinião sobre um vinho. O texto de Pingus Vinicus é acertadíssimo quando diz ficar-se com a ideia de «que as notas de prova de um vinho estão intrinsecamente ligadas a um gosto ou tendência pessoal, por parte de um especialista». É claro! Não penso, sequer, que seja grave.
Contudo, julgo que seria importante que a nossa crítica apontasse mais os eventuais defeitos e virtuades, evidenciando-os, explorando-os mais, explicando-os melhor. Muitas vezes fico com a sensação que os descritores dos vinhos e as anotações servem para quase todos os vinhos. Ler as referências tona-se monótono e enfadono. Dois vinhos de qualidade muito diferente podem ter descrições idênticas, diferenciando-se apenas um simples adjectivo. Por mim, gostaria de saber mais. Por mim marimbo-me para os descritores, jamais comprei um vinho porque tem aroma a frutos vermelhos e na boca lembra compota. No entanto, ligo à avaliação crítica. Porém, esta é sempre reduzida. Este reparo é genérico e não destinada a nenhum escriba em particular. Não aponto desconhecimento da matéria - antes pelo contrário, os nossos críticos sabem de vinho.
Voltando atrás e ao gosto dos outros. Não me choca que a crítica seja influenciada pelo gosto pessoal, até compreendo. O que não entendo é a escravatura face à crítica, seja de quem compra, seja de quem produz. Ou seja, que se sobrevalorize a opinião de alguém face a do próprio ou à auto-confiança. Fico sempre sem saber o que dizer quando um produtor se mostra desolado quando foi publicada uma nota crítica dum vinho seu. Não percebo, porque é só uma opinião, não é lei nem uma sentença. Fiquei atordoado quando um dia, neste blogue, um leitor anónimo surgiu pressionando para que alterasse a nota que dei a um vinho, por causa da opinião dada por um crítico.
É esse empolamento do papel da crítica que faz com que nos mercados mais sofisticados e mais exigentes existam produtores que façam um vinho para agradar a um determinado crítico, porque sabem que a sua opinião vai traduzir-se em vendas.
Julgo que o consumo em excesso da opinião dos críticos desfoca a visão essencial: o gosto pessoal. Quem vive obcecado a pensar no que diz a crítica acaba por beber do que não gosta, castrando-se e mentindo, e a falar mais pela boca dos outros. Para dar um exemplo: uma conhecida minha confidenciou-me que aprecia um vinho, mas que tem vergonha de o dizer, por estar mal cotado pela crítica, pois levou ao gozo de amigos enófilos. Usando uma expressão fabulástica (fabulosa + fantástica), que deve de servir de mandamento, que aprendi no blogue Vinho para Todos: «Não te tornarás num enochato»! Aquele que vive da opinião da crítica subjuganto da sua torna-se, forçosamente, num enochato!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

CARMIM Vinho Novo 2006 Tinto

Antes que comecem os mexericos tenho duas coisas a dizer: não comprei este vinho, mandou-me uma empresa de comunicação que tem a conta da CARMIM; segundo, bebi este vinho consciente de que bebia um vinho novo, da vindima deste ano.
Há uma tradição portuguesas - a qual não concordo, mas entendo - de se beber vinho novo no final do Outono. O primeiro vinho é aberto por alturas do São Martinho, que acontece por volta de meados de Novembro e tradicionalmente ocorre uma subida da temperatura. Este é um país de tradição vitivinícola e até há bem pouco tempo o vinho era encarado como um alimento essencial (se é que ainda não o é para muita gente com fortes raízes rurais). Por isso, entendo perfeitamente a tradição de se beber vinho novo e até o prazer de muita gente e o fazer.
Por isso, casas de alguma dimensão têm olhado para esse mercado tradicional e posto à venda marcas de vinho novo. Entende-se, é negócio. Tudo isso tem lógica e está certo.
Contudo, o acerto do negócio e a tradição não garantem qualidade. Provei o CARMIM Vinho Novo 2006 Tinto e aquilo é o que é. Uma bebida inacabada e insuportável. Acabo por ser condescendente, por via da tradição, e dar-lhe mais meio ponto na nota, porque o que este vinho merecia era mesmo só a nota mínima.
Este vinho lembrou-me as tabernas que ainda vi em Lisboa. Diz-se que o vinho não tem cheiro, mas aroma... este tem cheiro: a vinhum! Cheira a taberna! Um enjoo! Depois emana um abaunilhado que só abrava a náusea. O sabor é intenso a mosto. O que esperar? O vinho é novo.

Região: Regional Alentejano
Produtor: CARMIM - Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz
Teor alcoólico: 15%
Nota: 1,5/10

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Maritávora - Prova dos três vinhos

Clef du vin

Este ano surgiu um pequeno objecto que quer revolucionar o mundo dos vinhos: a clef du vin. O apetrecho garante adiantar os ponteiros do relógio... ou melhor, promete adiantar o tempo.
Mergulha-se a ponta metálica no vinho e este envelhece. Por cada segundo corresponde um período de tempo, pelo que o seu uso requer o auxílio dum relógio, perícia e conhecimento da regra de três simples. Em alguns segundos obtém-se vários anos de envelhecimento. É magia!
A coisa tem o tamanho dum porta-chaves e ar de coisa-nenhuma. É fruto do trabalho dum enólogo e dum físico. Suponho que levaram muitas horas a pesquisar. Porém acho-o um objecto pouco mais do que inútil!
Não o considero inútil, pois pode alguém entender dar-lhe uso e ver benefícios na sua existência.
Por mim, dou de barato que é eficiente e que os segundos em que se mergulha no vinho correspondem na exactidão aos anos que teria se estes tivessem passado. O que para mim é irritante - não quero dizer estúpido para não ofender ninguém - é o princípio subjacente. Ninguém parece estar disposto a esperar e agora até já se pode comprar a velhice.
Antigamente, os vinhos faziam-se esperar. A tecnologia mudou os vinhos e estes hoje bebem-se mais novos - nada a opor. O gosto também mudou - nada a opor. A vida hoje é mais acelerada e há menos necessidade e opção para guardar vinho, e os apartamentos não são os locais ideais para o guardar - paciência, são contigências da vida. Contudo, isso não faz com que se torne útil ou bonito comprar a velhice. Desde logo porque há soluções de guarda dum vinho, há estabelecimentos especializados que o podem fazer e, sobretudo, há uma poesia no esperar.
Quando bebo um vinho com idade aprecio muito mais do que o vinho. Há a delicadeza frágil dos sabores e aromas, mas há o respeito da data, a memória da garrafa e do tempo que ela levou até chegar ao momento da consagração. Quantas vezes uma garrafa não evoca pessoas já partidas? Há a sujidade e o envelhecimento do rótulo. Há o encanto do saber esperar.
Nada disso pode ser transmitido pela Clef du Vin. O objecto é apenas um instrumento para o consumo, um reflexo da pressa e da voragem dos dias. Ora, não é assim, com pressa e precipitação, que gosto de beber vinho. O meu vinho vai esperar por mim.

Nota: Foto roubada no blog amigo da Garrafeira de Campo de Ourique.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Egoísta 2004

Egoïste é uma belíssima publicação francesa, de tão fino pormenor e longa fama, que apeteceu ao Casino do Estoril traduzir o substantivo (por acaso também adjectivo) e criar uma boa revista. A inveja tem braços longos, principalmente quando rareia a imaginação. À falta dum bom tópico para marcar um rótulo, há quem ceda à fácil tentação de espreitar para o caderno do lado. Obviamente que uma revista e uma marca de vinho não têm nada a ver, o plágio acontece a nível do conceito. Porém, isso agora pouco importa.
O que importa é que gosto de experimentar vinhos e este surgiu-me pela frente, com uma desafiante marca e umas fortes letras brancas a contrastarem no negro postas ao alto. Fui voluntariamente com a mão à garrafa e chamei-lhe minha. O que importa é que este vinho não tem nada que importe, não tem importância nenhuma. É um vinhito. Não tem aroma nem corpo. Os 13% de álcool transbordaram no copo ao longo da refeição. Na boca é desinteressante e incaracterístico.
Não sei se a revista Egoïste ainda se publica, sei é que além da palavra nada liga este vinho à publicação, nem a esta nem à boa colecção de páginas editada pelo Casino do Estoril. O conceito de usar um defeito como virtude, o egoísmo em particular, é apenas um pobre plágio mal colado. Já que se faz rábula ao menos que se tivesse algo de bom para a justificar.
Não dei o tempo como perdido, porque gosto de experimentar. Mas não volto a pedir um Egoísta...

Região: Regional Alentejano
Produtor: Esprit du Monde
Teor de álcool: 13%
Nota: 2/10

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Glühwein

Eis uma coisa que me tem andado a apetecer e já não provo há uns anos. Nos países germânicos faz parte da tradição invernal, sobretudo natalícia, beber glühwein à noite ao serão. O glühwein é uma bebida bem-disposta, descontraída e com grande poder de aquecimento. É do melhor para o Inverno.
Para se fazer glühwein é necessário vinho tinto, canela, cravinho, cardamomo, anis estrelado, limão, laranja e mel. No entanto, não disponho de nenhuma receita alemã, austríaca ou dinamarquesa de glüwein para aqui expor. Sei, contudo, que se trata de uma bebida popular e secular, pelo que não haverá uma receita, mas muitas variantes, mas há certamente modos mais ortodoxos do que outros. Não encontrei receitas credíveis nem dos países de origem, tendo encontrado na internet apenas receitas inglesas, norte-americanas e até, imagine-se, mexicanas, que me pareceram, obviamente muito pouco credíveis e até inventivas, com inclusão de disparates como o açúcar em vez de mel, só para citar um exemplo.
O glühwein não é mais do que vinho quente com especiarias e serve-se quase como se fosse um chá, pelo que, nos países onde tem tradição, há à venda saquetas das especiarias já com as doses loteadas. Assim, vou pôr-me de avental e ver o que descubro ao mesmo tempo que irei investigar o que há em algumas casas de Lisboa... caso descubra alguma coisa, por alguma das vias, partilharei com a comunidade.

terça-feira, novembro 28, 2006

Gouvyas Couvée OP 2000

Belíssimo! Elegante como poucos! Deu-me um enorme gozo! Este não um vinho para meninos, não é um tinto das modinhas. É um senhor bem apresentado! Fiquei estarrecido e comovido.

Região: Douro
Produtor: Bago de Touriga
Nota: 8,5/10

Nota final: Agradecimento ao amigo Manuel Gomes Mota por me ter apresentado esta bela paisagem do Douro

domingo, novembro 26, 2006

Sexy 2004

O nome é tão disparatado como deve ser acertada a pontaria do marketing. Para mim, que sou um pedante confesso, a marca repugna-me e afasta-me, como se me fosse bater na mão quando esta tentasse agarrar uma garrafa. Porém, o destino trocou-me as voltas e os disparates de alguém a fazer uma carta de vinhos deixou-me pouca escolha. Entre as certezas já batidas e repetidas, com previsíveis bocejos, e os rumores desinteressantes, ficou aquele adjectivo estrangeiro a moer-me a curiosidade. Não estava ninguém a ver, o sítio até era escuro e a companhia de absoluta confiança. Pronto, saltei:
- Por favor, queria o Sexy»
Lá pedi o vinho, envergonhado. Não sendo um estrondo, a «coisa» mostrou-se melhor do que esperava. Tem fruta, compota, muito vegetal, acidez... bebe-se com facilidade e agrado e não tem, felizmente, aquele sabor massificado que anda a passear pelas vinhas e adegas alentejanas. Não faço grandes tenções do repetir, porque não é uma excelência, mas se me vir numa contingência ficarei menos triste em pedi-lo. E continua a marca a causar-me urticária!

Região: Regional Alentejano
Teor alcoólico: 13,5%
Produtor: Fita Preta
Nota: 5,5/10

terça-feira, novembro 21, 2006

Quinta do Vale Meão 2004

Não me quero alongar muito, porque sei que as palavras ficam aquém. É um vinho fácil, guloso e contudo complexo e rico. Apesar do seu forte teor alcoólico, este é um vinho muito sensível e equilibrado, é um Rolls Royce. É dos melhores que já bebi e, sem dúvida, o melhor Quinta do Vale Meão que já provei. Ao apreciá-lo tive a impressão que aquela boa gente que o faz poderá ainda tirar melhor das uvas. São sábios e afortunados. Estou apaixonado por este vinho.

Nota: 9,5/10
Região: Douro
Produtor: Francisco Olazabal e Filhos
Teor alcoólico: 14,5%

sexta-feira, novembro 03, 2006

O Galito

Rua da Fonte, 18 D (ao largo da Luz - Carnide) - Lisboa
Telefone: 21 711 10 88
Cozinha Alentejana

Para entrada tenho a dizer duas coisas: que só lá fui ainda uma vez e que a reputação deste local já me vinha de há muito e de muito boa gente; boa gente no sentido da mesa, pois quanto a questões morais não faço comentários nem tenho ambições a padre.
Estive lá com mais três amigos, o que foi bom e deu para partilhar comezainas, e não saíu cara a brincadeira, tendo em conta o que se pediu e a qualidade servida. Entre faz-bocas, prato, sobremesa, vinho (três garrafas) e doses de cafeína/teína ficou a coisa em 30 euros a cada um. Ajuize cada um como quiser, sendo que o fará melhor no final da crónica.
Pois para fazer sala antes da comidinha maior vieram umas azeitonas marteladas (bem sei que o termo não é este, mas sei que percebem), um peito de frango desfiado e umas favas com linguiça. Como as propostas regionais alentejanas são, por regra, pesadas, optou-se por evitar entradas... exceptuando uns torresmos. Uns verdadeiros e tradicionais, feitos de refolhos viscerais do bicho. De todos os estreantes, os torresmos pareceram-me os mais interessantes, bem temperados, sem exagero de sal e bem gulosos. Contudo, estava toda a mesa bem apaladada.
Vieram depois os pratos: Um deles foi uma açorda de galinha, que chegou aldrabada, esquecida do grão de bico. O empregado lembrou o patrão da casa que o desmentiu em frente aos clientes, mas o rapaz certo do seu saber informou-se na cozinha e acertou o prato e o engano. Avalie o leitor como quiser a situação. Quanto ao sabor, estava a sopa bem equilibrada quanto aos coentros e rica em carnes. Dois dos presentes repetiram o pedido e vieram dois entrecostos com migas, com a carne acertada no tempero do pimentão e no sal e o pão compactado nada enjoativo (o que infelizmente é muito comum). O prato restante foi de pézinhos de coentrada e, não sendo os melhores já provados, estavam de chorar por mais, e mais uma vez a mão de quem cozinha teve contenção nos temperos.
Durante o repasto beberam-se três garrafas de Convento da Tomina de 2005, que apesar dos seus 14,5% de álcool se mostrou bem equilibrado. O restaurante conta com uma belíssima carta de vinhos, com forte presença de referências alentejanas, obviamente, mas não apenas. Por ali existem bons exemplos doutras regiões, nomeadamente do Douro. De notar apenas a anedota que é o excesso de regionalismo alentejano na carta vínica, que se torna bairrismo, com a existência de regiões vinícolas que nem sequer existem. Em comparação aos preços que se vêem em muitas casas, não pareceram os vinhos demasiado inflacionados (no padrão português). Custou o Convento da Tomina 15 euros por garrafa.
O serviço mostrou-se simpático, atento e competente.
Por tudo isto, este é um restaurante a repetir. Não para tirar nada a limpo, mas porque o primeiro embate foi francamente positivo.

sexta-feira, outubro 27, 2006

A Camponesa

Rua Marechal Saldanha, 25 (Bica)
Telefone: 213464791
Cozinha tradicional portuguesa, com especialidades minhotas, transmontanas, alentejanas e algarvias.

Conheci este restaurante quando era um tasco a puxar para o gorduroso, pelo que criei um preconceito e, logicamente, recusei-me a frequenta-lo. O tempo passou e mudou a gerência ou se não mudou mudaram, pelo menos, os hábitos da casa. Voltei lá há relativamente pouco tempo e fui contrariado, não convencido, mas vencido pelo cansaço da argumentação e pelo crédito do insistente interlocutor. Acabei por ter de dar a mão à palmatória.
A Camponesa de hoje não tem, felizmente, nada a ver com o que foi outrora. Desde logo a aparência da casa, que agora está mais «fashion» com cores vivas, com o «positivo» cor-de-laranja ou não estivesse situado no agora alternativo bairro da Bica, mesmo junto ao Bairro Alto. A nova roupagem visual alargou os horizontes da pequena sala, que antigamente parecia mais acanhada. Os atendedores são simpáticos, atentos, rápidos e educados, embora nem sempre informados acerca dos pratos.
Quanto ao que mais importa: a paparoca... A comida tem o tom das antigas casas de pasto, algo entre o caseiro e o restaurante, entre o familiar e o profissional, o que dá um encanto muito próprio e muito português. Nem sempre este atributo é positivo, mas aqui resulta muito bem. Não se esperem grandes voos, mas o que vem da cozinha vem bem feito e apaladado. Dá gozo, sobretudo, perceber o empenho com que esta gente faz o seu trabalho. Nota-se que quem dirige a casa e quem cozinha desempenha as suas funções com gosto, que se esforça no desenho das ementas e na escolha dos produtos que leva à mesa. A lista em si não tem nada que transcenda a imaginação e faça crescer a água na boca, está tudo na tradição portuguesa. Já provei vários pratos e saí sem desilusão, com excepção duma em que pedi costeletinhas de borrego grelhadas e cujo sabor trazia um pouco de bedum. De resto, boas postas de bacalhau, bom polvo, etc, etc, etc.
O esmero, o empenho e o brio nota-se também num pormenor... aliás, num pormaior: a temperatura do vinho. A Camponesa investiu numa garrafeira climatizada para que os vinhos estejam à temperatura ideal de se beberem. À custa de muitos tasqueiros deste país, talvez a maioria, não perceberem nada do seu trabalho, os portugueses habituaram-se a tolerar vinho quente no Verão e frio no Inverno. Este facto já tem causado peripécias aos responsáveis de A Camponesa. Ainda bem, é bom sinal, pois só mostra estão no certos e que fizeram bem adquirir a garrafeira climatizada.
O vinho da carta é acertado para os pratos da ementa. Vinhos bons, honestos, simples e sem grandes pretensões e, felizmente, sem preços estapafúrdios. Embora pudessem estar menos caros, no panorama português não deixa de ser positivo o patamar a que são comercializados.
Não se pense, por tudo isto, que os preços são exorbitantes, porque não são. Não se julgue que é o melhor restaurante do mundo ou mesmo de Lisboa, que não o é. No entanto, é uma casa boa de se frequentar e, absolutamente, o melhor da sua faixa de preço e da sua gama.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Charutos

Não há nada melhor do que um bom charuto para culminar um bom repasto. Ando há uns tempos para escrever esta verdade, não porque seja um grande contributo para a comunidade dos gulosos - porque não o é, diria até que é uma banalidade -, mas porque neste sítio justifica-se assinalar um espaço para fumadores, uma sala de fumo.
Não há nada melhor do que um bom charuto para culminar um bom repasto e visto ser este apenas um texto para marcar uma posição e não ser um tópico sobre um charuto em concreto, deixo umas fumaças de três charutos que muito aprecio... que por acaso só um ainda marca presença na caixa lá de casa: Montecristo Nº1, Partagas Lusitania e Cohiba Esplendido.

domingo, outubro 22, 2006

Vinha do Tanque Reserva 2002

Andava eu às voltas em casa com apetites, como uma grávida, quando descobri na minha secção de vinhos do Douro uma garrafa de Vinha do Tanque Reserva 2002. Juro que não sei como ela me veio parar à posse e ainda menos quem ma possa ter trazido. Agarrei nos apetites todos e estendi os petiscos na mesa: enchidos, queijos e pão. Abri a dita garrafósia e espantei-me como no Douro ainda fazem vinhos destes. O líquido é rústico e abusado sentimento do álcool. Peço desculpa aos ingredientes por lhes ter faltado ao respeito. Nota muito negativa também para a rolha de produto sintético.

Nota: 2,5/10
Região: Douro
Produtor: Castelinho Vinhos
Álcool:13%

segunda-feira, outubro 16, 2006

Varga Tokaji Hárslevelü

Este foi o meu primeiro Tokay de pasto e também o primeiro que não é feito com uvas afectadas pelo fungo botrytis cinerea (podridão nobre). Por isso, não tenho grande termo de comparação com outros Tokay húngaros ou eslovacos do mesmo género. Todavia, este pareceu-me substancialmente menos complexo do que os Tokay de três puttonyos (três cestos de uvas com fungos por 80 litros) e muito menos do que os de cinco puttonyos por mim já provados.
Quanto às impressões causadas: achei-o frutado, com muito açúcar de fruta, e algum remédio... Simples e despretencioso. Apesar da definição, não calhou desagradável e alinhou muito bem com uma esparguetada com alho e presunto.
Agradeço (muito, muito) à Mafalda a experiência que me proporcionou.

Nota: 4/10

Produtor: Varga Badacsonyörs
Região: Tokay (Hungria)
Álcool: 11%

quarta-feira, outubro 11, 2006

Vinhos provados em 2005

Generosos e Licorosos
Graham's Vintage Malvedos 1987 - Vinho do Porto - 8,5
Churchill's Vintage Quinta da Água Alta 1987 - Vinho do Porto 7,5
Dow's Vintage Quinta do Bonfim 1987 - Vinho do Porto - 7
Warre's Otima 20 anos (tawny) - Vinho do Porto - 7
Niepoort Vintage 1987 - Vinho do Porto - 6,5
Warre's Vintage Quinta da Cavadinha 1987 - Vinho do Porto - 6,5
Quinta de Vale Meão Vintage Port 2001 - Vinho do Porto - 6
Quinta de la Rosa LBV 1998 - Vinho do Porto - 6
Taylor's Vintage Quintas das Vargellas 1987 - Vinho do Porto - 5,5
JP Moscatel - Setúbal - 5,5
Fonseca Vintage 1987 - Vinho do Porto - 5,5
Porto Caúnho LBV 1999 - Vinho do Porto - 5,5
Ramos Pinto Porto 10 anos Quinta da Ervamoira (tawny) - Vinho do Porto - 5
Alambre 2000 - Setúbal - 5
De La Force Corte 1987 - Vinho do Porto - 5
Adega Cooperativa de Favaios - Moscatel do Douro - 4,5
Croft Vintage Roeda 1987 - Vinho do Porto - 4
Quinta do Infantado 10 anos (tawny) - Vinho do Porto - 4
St-Bart Tawny Tawny 10 ans - Vinho do Porto - 2
Mariota - Vinho Licoroso - 1

Espumantes
Quinta de Soalheiro Super Reserva Bruto 1999 - Vinho Verde (Monção) - 7
Chão do Prado Reserva 2003 - Bucelas - 6
Luís Pato Maria Gomes 2004 - Bairrada - 6
Côto de Mamoelas 2003 - Vinho Verde (Monção) - 5,5
Quinta das Bágeiras Grande Reserva 1996 - Bairrada - 5
Chão do Prado Super Reserva 2000 - Bucelas - 4
Quinta das Bágeiras Reserva 2001 - Bairrada - 4
Luís Pato Casta Baga - Bairrada - 4
Quinta de Lousada 2002 - Vinho Verde - 2
Quinta de Lousada 2001 - Vinho Verde - 2
Fragância Meio Seco 2003 - (sem especificação) - 2
Terras de Felgueiras - Vinho Verde - 1
Bas Tinho 2004 - Vinho Verde - 1

Colheitas Tardias
Tokaji Aszú 3 puttonyos 1983 - Tokay da Hungria - 6
Chão do Prado 2003 - Bucelas - 5

Brancos de Pasto
Quinta do Monte d'Oiro Viognier 2003 - Regional Estremadura - 8
Conventual Reserva 2004 - Regional Alentejano - 7
Soalheiro 2004 - Vinho Verde (Monção) - 7
Boa Nova 2004 - Regional Alentejano - 6
Castello d'Alba Reserva 2004 - Douro - 6
Porca de Murça Reserva 2003 - Douro - 6
Tormes 2003 - Vinho Verde - Baião - 6
Krebs-Grode Riesling Spätlese 2002 - Reno - 6
Santiago 2003 - Bairrada - 6
Prova Régia 2004 - Bucelas - 5,5
Adega de Pegões Colheita Seleccionada 2004 - Regional Terras do Sado - 5,5
Quinta da Pedra 2004 - Vinho Verde (Monção) - 5,5
Gutsverwaftung Stifungsweingut 2004 - Mosela - 5,5
Riesling 2001 (Eduardo Francisco Bessa Costa Seixas) - Regional Trás-os-Montes - 5,5
Muralhas de Monção 2002 - Vinho Verde (Monção) - 5
Senhoria 2004 - Vinho Verde (Monção) - 5
Planura 2004 - Regional Alentejano - 5
Visconde de Alcacer 2003 - Regional Terras do Sado - 5
Aveleda Meio Seco - Vinho Verde - 5
Calhandriz 2004 - Regional Estremadura - 5
Casa de Vila Verde 2004 - Vinho Verde - 5
Encostas de Estremoz 2004 - Regional Alentejano - 4,5
Quinta de Abrigada 2002 - Alenquer - 4,5
Barrosinha 2003 - Regional Terras do Sado - 4,5
Gaião 2004 - Regional Alentejano - 4,5
Quinta do Cardo 2004 - Beira Interior - 4,5
Julieta 2003 - Douro - 4,5
Quinta de Lourosa Pedernã 2003 - Vinho Verde - 4
Bucellas 2004 - Bucelas - 4
Tormes 2004 - Vinho Verde - 4
Chão do Prado Colheita Seleccionada 2002 - Bucelas - 4

Rosados
Encostas do Tua 2004 - Douro - 5
Quinta da Lagoalva 2004 - Regional Ribatejano - 5
Quinta do Monte d'Oiro Clarete 2002 - Regional Estremadura - 4,5
Quinta do Monte d'Oiro Clarete 2003 - Regional Estremadura - 4,5
Lagar de Darei (2004) - Dão - 4
Casa de Mateus Alvarelhão 2003 - 3
Conde de Vimioso 2004 - Regional Ribatejano - 4
CARM 2004 - Douro - 3
Quinta do Monte d'Oiro Clarete 2004 - Regional Estremadura - 3

Tintos de Pasto
Echezeaux de Romanée Conti 1987 - Borgonha Romanée Conti - 10
Quinta do Vale Meão 2002 - Douro - 9
Pintas 2003 - Douro - 8
Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo 2003 - Douro - 7,5
Quinta das Bágeiras 2002 - Bairrada -7
Mouchão 2001 - Regional Alentejano - 7
Quinta do Vale de Dona Maria Sarzedinho 2003 - Douro - 7
Pontual Touriga Nacional Trincadeira 2004 - Regional Alentejano - 6,5
Pontual Reserva 2000 - Regional Alentejano - 6,5
Quinta do Côa 2003 - Douro - 6,5
Meandro 2002 - Douro - 6,5
Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2000 - Dão - 6
Maritávora 2003 - Douro - 6
Pontual Syrah 2004 - Regional Alentejano - 6
Dolium 2001 - Regional Alentejano - 6
Corvo 2003 - Sicília Casteldaccia - 6
Chocapalha Cabernet Sauvignon 2003 - Regional Estremadura - 6
Chocapalha 2003 - Regional Estremadura - 6
CARMIM Trincadeira 2003 Regional Alentejano - 5,5
Quintas das Cerejeiras Reserva 1998 - Óbidos - 5,5
Encostas de Estremoz Selelecção Touriga Franca 2003 - Regional Alentejano - 5,5
Herdade do Pinheiro 2002 - Regional Alentejano - 5,5
Pontual Syrah 2003 - Regional Alentejano - 5
Pontual Touriga Nacional Trincadeira 2003 - Regional Alentejano - 5
40º Aniversário (Adega Cooperativa de Valpaços) 1994 - Valpaços - 5
Quinta das Bágeiras Garrafeira 2001 - Bairrada - 5
Quinta de la Rosa 2002 - Douro - 5
Quinta de S. José 2001 - Douro - 5
Quinta de Cabriz Superior 2000 - Dão - 5
Quinta dos Grilos 2003 - Dão - 5
Pegos Claros Reserva 2004 - Palmela - 5
Quinta das Baceladas 2001 - Regional Beiras - 5
Encostas de Estremoz Selelecção Touriga Nacional 2003 - Regional Alentejano - 5
Adega Cooperativa de Borba Reserva 2001 (rótulo de cortiça) - Alentejo (Borba) - 5
Pingo Doce Palmela Colheita Seleccionada 2003 - Palmela - 5
Cortes de Cima 2001 - Regional Alentejano - 5
João Pires 2004 - Terras do Sado - 5
Marquês de Borba 2004 - Alentejo - 5
Foral de Albufeira 2004 - Regional Algarvio - 5
Quintas das Hidrângeas 2004 - Douro- 5
Zimbro 2004 - Douro - 5
José de Sousa 2002 - Regional Alentejano - 5
CARMIM Aragonês 2000 - Regional Alentejano - 4,5
Bom Juiz Reserva 1999 - Alentejo (Reguengos) - 4,5
Monsaraz Museu Aberto Reserva 2000 - Alentejo (Reguengos) - 4,5
Soporcel 1999 - Regional Alentejano - 4,5
Pasmados 1999 - Terras do Sado - 4,5
Gaião Reserva 2001 - Regional Alentejano - 4,5
Pegos Claros 1999 - Palmela - 4,5
Encostas de Estremoz Selelecção Trincadeira 2003 - Regional Alentejano - 4,5
Encostas de Estremoz Selelecção Alicante Bouschet 2003 - Regional Alentejano - 4,5
Calços do Tanha 2003 - Douro - 4,5
Herdade Porto da Bouga Reserva 2003 - Regional Alentejano - 4,5
Herdade da Bombeira 2004 - Regional Alentejano - 4,5
Periquita 2002 - Terras do Sado - 4,5
Vertice 2001 - Douro - 4,5
Romeu 2001 - Douro - 4
Esporão Reserva 2002 - 4
Conventual Reserva 2003 - Regional Alentejano - 4
Vinha Conchas 2003 - Regional Estremadura - 4
Herdade da Espirra 2001 - Palmela - 4
Quinta de S. José 2002 - Douro - 4
Casa de Mouraz 2002 - Dão - 4
Caves Velhas Garrafeira 1980 - 4
Pingo Doce Palmela 2002 - Palmela - 4
Barrosinha Colheita Selecionada 2003 - Regional Terras do Sado - 4
Vinhas do Convento Reserva 2000 - Bairrada - 4
Herdade de São Miguel 2003 - Regional Alentejano - 4
Quinta dos Aciprestes 2000 - Douro - 4
Quinta do Cardo 2003 - Beira Interior - 4
Calhandriz 2003 - Regional Estremadura - 4
Cistus Reserva 2003 - Douro - 4
Dão Reserva Pingo Doce 2003 - Dão - 4
Vinha de Mazouco Reserva 2003 - Douro - 4
Lagoa Reserva 2004 - Lagoa - 4
Domingos Soares Franco Colecção Privada Touriga Nacional 2003 - Terras do Sado - 4
Encosta da Penha 2003 - Terras do Sado - 4
Terras de Estremoz 2003 - Alentejo - 4
Fronteira 1999 - Douro - 4
Planura Reserva 2003 - Regional Alentejano - 4
Planura Syrah 2004 - Regional Alentejano - 4
Planura 2003 - Regional Alentejano - 3,5
Desigual 2003 - Regional Alentejano - 3,5
Gaião 2003 - Regional Alentejano - 3,5
Morgado da Canita 2003 - Regional Alentejano - 3,5
Beira Mar Garrafeira 1987 - 3
Capote Reserva 2001 - Regional Alentejano - 3
Quinta de Abrigada 2000 - Alenquer - 3
Boa Nova 2001 - Regional Alentejano - 3
Val da Clara 2002 - Douro - 3
Cheda 2000 - Douro - 3
Foral Grande Escolha 2000 - Douro - 3
Herdade de São Miguel 2004 - Regional Alentejano - 3
Altano 2003 - Douro - 3
Montes Ermos 2004 - Douro - 3
Lagoa 2004 - Lagoa - 3
Encostas da Vilariça 2001 - Douro - 2
Casalinho Reserva 2003 - Douro - 2
Castelinhos Reserva 2001 - Douro - 2

segunda-feira, outubro 02, 2006

Adega Faustino

O sítio é uma antiga adega, calcetado a paralelipípedos de granito e com as madeiras pintadas de vermelhão... bonito e rústico. As mesas são em madeira escura envernizada e as sentadas são bancos. Por ali há sempre umas exposições de pintura amadora, muito naïf e de gosto infeliz. Contudo, o que por ali importa é mesmo o que se põe na mesa.
Desta última vez que lá fui repimpei-me com uns rojões do redanho (torresmos dos verdadeiros), salada de orelha, pica-pau, bolos (pastéis) de bacalhau, moelas e arroz de tomate. Os torresmos estavam de fazer transbordar as lágrimas de alegria e a salada de orlha uma das mais gostosas que provei. O pica-pau estava bastante gostoso e os pastéis estavam bem equilibrados em termos de peixe e batata. Já as moelas não estiveram à altura dos demais petiscos. O arroz de tomate, verdadeiro carolino, absolutamente extraordinário. Tudo a preço muito simpático. O serviço é atento e simpático. Bebi do vinho da casa, do branco, que não sendo uma especialidade, foi bem com os petiscos.

Travessa do Olival - Chaves (em frente ao Hotel Trajano - reconhece-se pelas grandes portadas vermelhas)
Telefone: 276 322 142
Horário: das 10h30 às 2h00
Encerra ao domingo

terça-feira, setembro 12, 2006

Vivó Douro!

Ainda ontem abri uma garrafa de Vinho do Douro. Foi assim que festejei os 250 anos da demarcação da região vinhateira. Dizem que é a mais antiga do mundo. Dizem, mas não é bem verdade. No papel não o é, mas é-o na terra de xisto.
Ainda ontem estava de apetites simples e feliz por existir. Sentei-me à mesa e pedi arroz de cabidela, sem ironia com o folhetim com os batoteiros de Barcelos. Que bem me calhou a galinha com um despretencioso Quinta de la Rosa de 2003. Penso que não há forma melhor de se celebrar o Douro do que beber os seus vinhos.
Como bom português, o meu sangue é um rio com afluentes nascidos em muitas nascentes. Não venho dum só lugar. Pelo menos gosto de pensar assim. Se viesse viria de Lisboa, donde tenho um costado com várias gerações; sou dos poucos. Mas também do Alentejo. Lá de cima, atrás das montanhas das Beiras, não consta que tenha sangue recente. Porém, é do Douro o vinho que mais prazer me dá beber. O vinho também é sangue e as gentes durienses recebem-me tão simpaticamente como se fosse família.
A demarcação do Douro aconteceu porque andavam a assucatar os vinhos e as exportações ressentiam-se. O marquês de Pombal estabeleceu regras para produtores e comerciantes, em nome da qualidade e do comércio. A lei previa que os mixordeiros pudessem ser punidos até com a pena de morte. Coisa séria! Felizmente hoje já não se faz vinho a martelo, mas há ainda aldrabões no vinho, e até no Douro... há gente a fazer vinho que era preferível produzir batatas.
O Vinho do Porto do tempo da primeira demarcação era semelhante ao actual Vinho do Douro e só mais tarde a diferenciação veio a acontecer e a acentuar-se. Hoje, a região divide-se em Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior... está vasta e generosa, linda com os seus sucalcos, vales de reentrâncias, sombreados e inclinações, com a natureza bravia a querer furar a paisagem humanizada. O Douro é uma festa para todos os cinco sentidos.
Penso que uma lista dos melhores vinhos do Douro, tanto de tintos como de brancos, fortificados ou de pasto, dá um poema, seja qual fôr a forma da sua ordenança. Ainda que em escala e tamanhos diferentes, tenho no paladar e na cabeça prazeres feitos de Vale Meão, Maritávora, Poeira, Pintas, Redoma, Charme, Barca Velha, Chryseia, Vallado, Grantom, Gouvyas... Achou que poemei!...

Nota: Já sei que devia ter divulgado este texto a 10 de Setembro, data exacta do decreto do marquês de Pombal. Contudo, nesse dia não me apeteceu celebrar a efeméride nem abrir uma garrafa.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Monte do Pintor 2001

Já tinha provado, em tempos, outros pintores deste monte e, muito embora, não tenha ficado embasbacado, estes tintos deixaram-me boa impressão. Ontem, confesso, o que me atraiu no Monte do Pintor não foi apenas a memória, mas o preço simpático a que estava a ser vendido no restaurante. Por que não experimentar e avaliar? Assim fiz e fiquei muito feliz com a decisão.
O Monte do Pintor é um alentejanão! Não engana! É um vinho fácil de se gostar. Tem um aroma quente, a torrefacção, logo no início e a prometer prazeres. Na segunda aproximação já vêm frutas maduras, que, ainda assim, não tapam por completo os aromas anteriores. Uma delícia! Na boca não desilude e é suave e redondo.

Nota: 6/10
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola da Sossega

Tapada da Torre Reserva 2001

Este tinto algarvio é uma excepção no panorama vinhateiro da região. Infelizmente é uma excepção, pois o Algarve anda muito mal servido de vinhos. É um vinho que se bebe com agrado. Está elegante e tem um perfil bastante internacional. Como lamento só tenho a apontar-lhe o facto de ter pouco de algarvio... tanto podia ter sido feito no Chile como na Austrália como na Califónia ou em Nenhures do Novo Mundo. Não é um defeito, é feitio, e este meu apontamento é mera implicância. Este vinho faz-se com as castas castelão, trincadeira, alicante bouschet e cabernet sauvignon. Esta última variedade nota-se no aroma e mais na boca sem que, contudo, se torne impositiva, não impestanto a bebida com o travo do pimento ou do pimentão. Está um vinho muito equilibrado e agradável.

Nota: 5,5/10
Origem: Portimão
Produtor: Quinta do Morgado da Torre

quinta-feira, agosto 17, 2006

Cortes de Cima Reserva 2003 tinto

Mal o provei notei algo de extraordinário e depois fui sentindo-o evoluir fantasticamente. É um belo vinho com todo o carácter do Alentejo e que dá muito prazer a quem aprecia os tintos da planície. Apesar dos seus 14,5% de álcool, este tinto é duma suavidade e equilíbrio notáveis. Este vinho faz-se com as uvas syrah (42%), aragonês (39%) e touriga nacional (19%).

Nota: 6,5/10
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Hans Kristian Jorgensen - Cortes de Cima

Casa Burmester Reserva 2004

Aqui está um tinto que eu tinha esquecido completamente... não sei como foi possível! Não me tinha esquecido do prazer nem do seu sabor, mas que tinha uma garrafa guardada cá em casa. No outro dia estiveram de visita uns franceses amigos de amiga e abri-a. Espantei-os com ela e o Douro encantou-os!
Já sabiam que Portugal produz vinhos, mas da bebida conheciam os Portos e os Madeira. O contacto com os vinhos de pasto fez-se com o Douro e a região deixou-os impressionados... com este tinto robusto, cheio em frutos vermelha maduros e especiarias, com taninos presentes, um final longo e todo ele bem equilibrado. Gostei!... e eles adoraram!

Nota: 7/10
Origem: Douro
Produtor: J. W. Burmester & Cª (Sogevinus)

Herdade de Torais rosé 2005

Este não se encontra no mercado! Sou um homem feliz por beber uma raridade! Está bem, não é uma exclusividade de finura notável, mas é um belíssimo rosado produzido em Montemor-o-Novo e obra do enólogo Diogo Campilho.
Este não se encontra no mercado, mas o de 2006 talvez conheça as prateleiras comerciais e se acontecer ser tão bom ou melhor do que o de 2005 temos obra! Tem fruta sem enjoo, em belo equilíbrio e refresco. O vinho de 2005 está de se lhe tirá o chapéu e enquanto não bebi as garrafinhas que tinha não descansei. É um rosé muito guloso e apetecível.

Nota: 5/10
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Herdade de Torais

quarta-feira, agosto 09, 2006

Casa da Atela Sauvignon 2005

A casta sauvignon blanc está na moda e contra isso pouco ou nada há a fazer. Acontece que não vou à bola com a fruta tropical e ainda menos no vinho. Acontece que esta cepa é proveitosa para quem quer extrair fruta exótica das uvas. Felizmente, para mim, o Casa da Atela Sauvignon é atinado e nada exuberante na manga e o maracujá está ausente ou, quanto muito, bem disfarçado. O vinho deixou-se beber com agrado e fluidez, tendo-lhe a apontar a antipadia da casta, mas isso não é defeito, é feitio.

Nota: 4/10
Origem: Regional Ribatejano
Produtor: Sociedade Agrícola da Grouxa e Atela

Torre da Trindade 2005

Quem vê caras não vê corações, que é como quem diz: olhar um rótulos não é provar. Abri a garrafa um pouco desconfiado, mas cedo dei a mão à palmatória. Este branco é um vinho escorreito e fácil, que se deixa ir alegremente com a sua fruta madura sem exagero. Não será o mais entusiasmante branco que provei, mas é um vinho honesto e franco e sem vaidades. Só por isso vale recomendação e repetição.

Nota: 5/10
Origem: Ribatejo DOC
Produtor: Sociedade Agrícola da Grouxa e Atela

domingo, agosto 06, 2006

Quinta da Bacalhôa 2002

Há muito tempo que não bebia um Quinta da Bacalhôa e devo confessar que tinha saudades da elegância deste vinho... trouxe-me memórias felizes. Este vinho pouco tem a ver com os que se fazem na zona de Azeitão e as uvas da casta castelão não entram no seu lote. O Quinta da Bacalhôa faz-se com cabernet sauvignon (90%) e merlot (10%), o que pode explicar as suas notas apimentadas e mentoladas.
A ver se me lembro de o beber mais vezes...

Nota: 6,5/10
Origem: Vinho Regional Terras do Sado
Produtor: Bacalhôa Vinhos

domingo, junho 25, 2006

Lisboa à Noite

Sempre que lá fui nunca fiquei insatisfeito.O serviço é competente e simpático. O espaço bonito e acolhedor. A cozinha muito competente, tanto nas entradas, como nos pratos de carne e peixe (neste caso apenas sei das impressões de quem me acompanha),como nas sobremesas. A carta de vinhos está variada, tanto nas regiões, como nas gamas, como na oferta de tintos e brancos, como em número. Os preços vínicos não são dos mais especulativos.Não praticando preços de tasca, nem atingindo os requintes de restaurantes de gama mais elevada, penso tratar-se duma mas melhores opções de gama média de Lisboa, em que o cliente sai satisfeito sem ter a sensação de ter sido assaltado... (para mais situado no mediático Bairro Alto, tão cheio de exemplos de tascos, botecos e restaurantes com preços absurdos e qualidade intragável).A este restaurante vou e tenciono continuar a voltar.

De segunda a quinta-feiras das 19h30 às 24h00, sexta-feira e sábado das 19h30 às 1h00. Encerra ao Domingo.
Rua das Gáveas, 69 (Bairro Alto)
21 34 85 57

sábado, junho 17, 2006

Jantar para duas meninas

Ontem fiquei a suar em bica com a ansiedade, a correria pela cozinha e o calor dos fogos. Neste fingimento de Primavera e ameaço de Verão resolvi dar um jantar de espelhos, ou seja enganos às estações, que, além de tudo, andam fugidias. Pois foi de frescos e de quentes, tanto nos bebentes como nos trincantes.
Duas belas e sábias amigas (a Suspinha e a Nanda) vieram cá jantar e sem cerimónia ornamentei a mesa, mas preocupei-me com a ementa, tal é a reputação de suas barrigas e a exigência e a sabedoria dos apetites. Fui às compras sem pressas e atarefei-me nas lides da cozinha, o que sempre me rejuvenesce. Tratadas as tarefas foi tempo de jantar.
Veio primeiro, antes de tudo, um branco Monte da Peceguina 2005 (regional alentejano) para afugentar os calores, distrair os convidados e reanimar o cozinheiro enquanto a comida se aprontava. Estava escorreito o vinho, bem feito, mas continuo a lamentar a sorte dos brancos vindos do Alentejo, por causa do açúcar residual a tapar tudo o resto... enjoam-me.
A estreia à mesa foi um gaspacho a puxar ao vinagre para que maior fosse o refresco, acompanhado com atum, em salada de cebola e ovo para cortar o peixum. Isto serviu-se com um Muros Antigos Alvarinho 2005 (Vinho Verde - sub-região de Monção) que não podia estar mais fresco, seivoso e apetecível.
Depois vieram cogumelos portobello, que são quase tão grandes como meia laranja, recheados com foi-gras e chévre gratinados, justamente acompanhados com Aureus de Sauternes 2003 (Sauternes). Emborna não seja o Sauternes que mais me impressionou, o vinho escoltou muito bem os fungos e fez eleger esta como a combinação gastronómica da noite.
O terceiro prato ligou-se mais à quase invernia dos últimos dias e foi talvez um pouco quente e não fosse estarmos tão saturados e teria sido degustado em maior quantidade. A saber: carne de barrosã em cubinhos frita em azeite com morcela de Trancoso e cogumelos seta fritos em azeite. À parte fritaram-se uns cogumelos (vulgares) laminados com presunto de pato, temperos e colorantes do arroz que acompanhou a carne. Esta confecção foi apresentada com Emergente Crianza 2002 (Navarra), um vinho que não deslumbrando criou vontade de o provar mais vezes e sobretudo de o testar daqui por um par de anos.
Com este vinho com toque de frutos vermelhos avançou-se improvisando para umas cerejas do Fundão. Não sei se alguém reparou, mas este ano as cerejas andam divinais!... A ligação com o vinho foi estupenda.
Quando se julgava não poder mais veio a estocada final, com alguma malvadez. Bombons All Dark Selection da Godiva e H.M. Borges Colheita 1995 Boal (Vinho da Madeira). Este foi o melhor vinho da noite e os chocolates estavam num ponto de pecado que fazem os comensais agora precisar de abstinência, suplício santo e ginásio.

domingo, junho 04, 2006

Festa à mesa

O Paulo acusa-me e eu acuso-o. Na verdade devemos ser os dois culpados mais a Nês. Vou tentar contar a minha versão e com sorte pode ser que tudo fique em bem a rimar com todas as opiniões.
Era para acontecer um jantar aqui em casa, mas porque não havia onde deixar o miúdo do Paulo e da Nês passou a cerimónia para a casa destes. Desde então tomaram-me conta do evento, acuso eu. Desde sempre dizem que o repasto foi meu. A verdade é que a união de esforços deu uma coisa memorável de fazer inveja a nós mesmos, pois agora enciumamo-nos por não estarmos a usufruir aquele momento, como se fôssemos hoje outras pessoas, porque há instantes na vida em que o tempo está proibido de passar.
No primeiro acto aconteceu um Quinta dos Cozinheiros Rosé de 2004 (Regional Beiras), líquido seco e austero na fruta, bom para matar a sede. Estava fresco e contrariou o calor daquele fim de tarde. Porém não é o meu vinho rosé nem fez amigos... não angariou adeptos para as falanges dos rosés, embora todos lhe reconhecessem virtudes. Depois, sim, houve muita alegria e contentamento. Veio de Champanhe um rosé divertidíssimo e elegante: Bauget-Jouette. Com este todos festejaram e grandes sorrisos se puseram nos rostos, até dos teimosos que insistem em afirmar e garantir que não gostam de Champanhe nem de rosé.
Acto segundo: queijo camembert, um malcheiroso francês que não fixei o nome, queijo de azeitão, queijo de mistura de cabra e vaca, pasta de fígado de porco, duas variedades de gressinos temperados, cubos de pão com ervas e joaquins fritos. Aqui estava já em estreia líquida o primeiro vinho do jantar: Hexagon 2000 (Regional Terras do Sado), talvez o melhor vinho que se faz a Sul do Tejo ou mesmo do Mondego.
Terceiro acto: gaspacho (à portuguesa e com acompanhamentos vários, incluindo os joaquins sobrantes) com o já referido Hexagon. O vinho é uma maravilha. Julgo que Nostradamus o anteviu nas suas visões e que Leonardo da Vinci fez esboços para a sua criação. E não é que ligou mesmo bem com a sopa fria?
Quarto acto: lombo de porco temperado com massa de pimentão e batata assada no forno, ratatui (cebola, tomate, alho francês, maçã e tomilho) que se regou com Hexagon, enquanto houve, e Quinta do Monte d'Oiro Reserva 2001 (Regional Estremadura). Este segundo tinto é outra maravilha, tem encantos diferentes do parceiro mais sulista, e dança no nariz e na boca com muita elegância.
Findos os dois grandes tintos e antes que se quisessem as sobremesas bebeu-se parcialmente um Vinha da Pala Reserva 2001 (Douro), que é justo e sereno, não levanta ondas, mas tem carácter, não fez sombra aos anteriores, mas todos repararam que lá estava. Só por causa disso irá ser repetido numa jantarada menos exigente.
Após o intervalo da conversa em que os fumantes se intoxicaram, veio uma charlotte de ananás e serviu-se um Vinho do Porto que estava de estalo, embora viesse a estar mais se tivessemos a paciência de esperar mais uns anos: Ferreira 1997 Vintage. Suave e aveludado, complexo no nariz e na boca foi uma delícia de se beber. Na minha opinião ofuscou a sobremesa, pois estava demasiado vaidoso e galante.
Já quando os talheres se tinham retirado e os guerreiros da comezaina queriam apenas repousar e conversar, as gargantas molharam-se com um honesto, mas fracote Tinto da Ânfora 2002 (Regional Alentejano), que o bom Alex trouxe. Lamento, amigo, mas este não teve hipótese, mas foi um vinho amigo para quando já estávamos exaustos... e não só.
De tudo o que mais gostei foi mesmo da amizade. É que amigos destes dizem o que sentem e comem e dão a comer o melhor que têm. Foi um grande festa para festejar coisa nenhuma.

quinta-feira, maio 25, 2006

Vinhos H.M. Borges - Madeira

O improvável aconteceu-me. Serviram-me vinho abafado para regar a refeição e o dito cansou-me a sede. Na verdade, não foi um generoso, mas quatro. Flutuei sentado na cadeira a beber Vinho da Madeira. No nariz festejei com os aromas quentes e diferentes do quarteto e na boca exprimentei as mestiçagens com as diferentes comidas. Todos vieram da casa H.M. Borges.Primeiro veio um Harvest Sercial de 1995, de trago seco e ácido, mas a enrolar-se macio e suave dentro de mim. Quando lhe encostei uma salada de tomate e courgette com espargos, então, começou a cantar alegrias.Encanto maior mostrou o Harvest Colheita Boal de 1995... que delícia elegante no nariz e prazer na boca! Este é um Vinho da Madeira capaz de trazer fama e fazer renascer um espírito cansado. Visto a olho nu era apenas vinho num copo, mas quando se soltava na boca e se lhe juntava a mousse com avelãs e foi-gras havia brincadeiras desenfreadas e alegres.A coisa acalmou com o Harvest Colheita de 1995, feito só de uvas negra mole, e embora não sendo de mau fundo não brilhou por causa dos manos. Nem mesmo com a carne de vaca macia, a batata desfeita e os legumes verticais o fizeram subir a grandes alturas. Mas não envergonhou o nome de família.A fechar a festa veio uma sericá com mel escoltada por um Harvest Malvazia 1998 e o júbilo foi notório, tanto da parte da noiva, como do noivo, como durante toda esta boda. Por mim, este foi a melhor núpcia da época e a beleza líquida mais fácil e encantadora. Perdi-me de amores por ela.Espantoso ainda foi o chefe, o alcoviteiro que inventou os casamentos dos vinhos com os pastos. Foi tarefa de esforço, engenho e sabedoria. Porém, saí-lhe em destino e desafiei-o com a minha intolerância ao peixe. Saiu-se bravamente, improvisando uma cartinha só para mim, coisa revelada de maravilha nas papilas e saciante na gula.Hoje é dia de festa, canta a minha alma!

terça-feira, maio 16, 2006

Pizzeria Mezzogiorno

O que vale é o espaço, tudo o resto é de evitar.O menos mau ainda é o serviço, que, por acaso, nem é bom. Aliás, é muito demorado. A comida, que nem vale a pena, não merecia e os clientes também não.A carta de vinhos é curta, inflacionada e os ditos são todos de gama baixa ou de gama média/baixa.Para entrada-couvert trazem uma espécie de pizza que faz corar de vergonha um bacalhau. Um horror salgado.As pizzas são feitas em forno de lenha e aí reside o curtíssimo interesse do sítio, o que, convenha-se, é pouco. Os produtos são industriais e incaracterísticos.Este sítio é um lugar a mais em Lisboa. Devia fechar!

Rua Garret 19 - Lisboa
Telefone: 213421500
Encerra: Domingo, segunda (almoço)
Horário de funcionamento: sas 12h30 às 15h30 e das 19h30 às 00h00

domingo, maio 07, 2006

Restaurante d'Avis

Há anos que conheço este restaurante e nunca me desiludiu. A cozinha alentejana é feita com competência e acerto. Vou lá com gosto. Recomendo-o.O serviço é informal e o ambiente familiar.

Rua do Grilo 96/98 Lisboa (Beato)
Telefone: 21 868 13 54

quinta-feira, abril 27, 2006

Found You

O espaço é bonito e bem apresentado. O serviço é simpático. No entanto, sofri um atraso inenarrável com a sobremesa, que julgo foi azar da noite.O desagradável da casa é o odor a fritos que resulta dos fondues. A exaustão poderia melhorar. A carne também.A lista de vinhos é curta, os preços estão puxados muito para cima e a qualidade média é média-baixa. Uma coisa a melhorar e muito. Os copos aceitam-se bem.É um local para voltar, mas não encanta.

Travessa dos Inglesinhos, 34 a 40 (Bairro Alto) Lisboa
21 346 11 37

domingo, abril 16, 2006

Paladar

Comida bem cofeccionada e enquadrada na corrente alternativa que tem surgido em Lisboa. Provei uma trilogia de folhas com palmitos e espargos grelhados muito boa e lombo com arroz de cogumelos que também foram muito bem. As sobremesas não estão à altura dos pratos, nem quanto à escolha nem confecção. A lista de vinhos é curtíssima e de fraca qualidade. A decoração cumpre, o ambiente é descontraído e o serviço agradável. O preço é aceitável.

Calçada do Duque nº 43A Lisboa (junto ao largo da Misericórdia - Trindade)
Telefone : 213423097 e 93 342 30 31
Aberto apenas para jantares.
Horário de funcionamento: das 19h30 às 2h00. Encerra aos domingos.

domingo, abril 02, 2006

La Moneda

O espaço é bonito e anda com grande campanha mediática. Ele está nas rádios da «gente gira», nos pontos «fashion» e nos circuitos da imigração como exemplo de sucesso.A casa tem coisas boas e coisas que não gostei.Os copos são bons. É bom beber vinho por bons copos. O vinho não está dos mais especulados, mas há vinhos que não merecem os copos, tão desinteressantes que são... nem o preço que têm.Na comida, provei empada de carne e um carpácio. A primeira estava competente, mas não deslumbrava. O carpácio, sina portuguesa, estava grosso e pouco apaladado.Antes da refeição veio um evitável e sem história sorvete de limão. Não esteve a fazer lá nada.O prato foi um belo naco de carne, que pela dimensão merecia melhor proveniência. Mas não, era industrial. Carne daqueles talhos sem história. Sem bons produtos não há boa gastronomia. O naco veio sobre um saboroso cogumelo, mas com falta de escolta quanto a batatas ou outro acompanhamento. Injustificável. Não se come uma posta daquele tamanho sem nada.Para sobremesa pedi tarte de maçã. Era das verdadeiras, mas não tinha histórias para contar.Quanto à competência: é um género que não é o meu, mas respeito.Quanto ao serviço: Há simpatia e eficiência q.b, mas não se admite que uma empregada responda «hã?» aos clientes.Opinião final: Não comi mal, mas também não comi bem. Achei o La Moneda um local a atirar ao pingarelho e armar aos cucos. Mas é preferível a muitos locais atafulhados e feios, mas com reputação. Para esses já dei e no La Moneda lavam-se os olhos e os alimentos vêm bem apresentados e com ar apetitoso.Tenho de lá voltar para tirar as dúvidas ou confirmar as suspeitas.

Rua da Moeda, n.º 1 - C - Lisboa

sábado, abril 01, 2006

Papaçorda

A mousse de chocolate da casa tem fama e arrasta multidões, mas come-se com muito gosto tudo o que vem daquela bendita cozinha. A última vez que lá fui vieram de entrada peixinhos-da-horta e folhado de queijo de cabra. Como prato principal marchou uma cabidela de galinha. Terminei com um pecaminoso bolo de chocolate com compota de laranja. É por estas e por outras que não tenho o peso que devia!

Rua da Atalaia, 57 - Lisboa
21 3464811
213429705