O bom e o mau, como o claro e o escuro, o preto e o branco,
nunca (!) acontecem – mas contudo acrescento que tudo, nada, sempre, nunca são
palavras tramadas. A vida é assim.
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Tenho apreço pela tradição. Não pela fantochada do folclore,
mas da verdade que existe no étnico. A qualidade é um valor absoluto, mas os
parâmetros de aferição não são; a escala varia, as relações afectivas pesam, a
experiência de vida é decisiva, as sugestões sublinham e influenciam.
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Portanto: não gosto de Vinho Verde tinto. Tanto quanto
desejo que viva pela eternidade. Não sei se quero que mude. Mudar? Para ficar
outra coisa? Mudar para que os gajos que não gostam de Vinho Verde tinto passem
a gostar? Não faz sentido. Num tom de brincadeira, não de cinismo, digo que
quero que o Vinho Verde tinto fique como está, para que, há falta de melhor
assunto, tenhamos algo com que afiar a língua.
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Este vinho dá motivo a conversa, tem muito para dizer. A Casa do Cruzeiro, uma bela residência solarenga, que
outrora, antes da vila a abraçar, servia para descanso da família durante o
Verão. Como seria de esperar, o domínio tem vinhas. E já agora, de quê? Vinhão
e loureiro... que mais poderia ser? O vinho da de loureiro não bebi.
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Porém, este vinho não tem nada a ver com os donos da casa. As uvas vêm de vinhas que estão em terrenos que fizeram parte do morgadio. Este vinho é da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Ponte de Lima, que também o engarrafa. Este vinho é didáctico. É didáctico para quem o faz e para quem o bebe.
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Porém, este vinho não tem nada a ver com os donos da casa. As uvas vêm de vinhas que estão em terrenos que fizeram parte do morgadio. Este vinho é da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Ponte de Lima, que também o engarrafa. Este vinho é didáctico. É didáctico para quem o faz e para quem o bebe.
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Ensina a quem nunca provou um Verde tinto onde está o portão
do Inferno... mas numa suavíssima visão... o Verde tinto, entenda-se. Esta afirmação
traduz-se em: «consegue ser bebido». Tem o seu gás... o amigo Paulo Rosendo
hoje andou de esfregona a limpar uma cena de crime. Um mar sanguíneo... ninguém
homicidiou (a palavra não existe), apenas o gás forçou a cápsula e a rolha;
Bum!
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O facto de se conseguir beber não quer dizer que seja «mau»
Verde tinto. Autenticidade, tem. Falta-lhe é o fulgor desabrido dos
tradicionais, a loucura insana de quem sai a correr a gritar que há fogo no fim
da rua, com os olhos esbugalhados e a língua a quase saltar da boca, os gestos
amplos quase desacertados e ilógicos, numa velocidade vertiginosa.
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É aí a falha! Na essência é um verdadeiro Vinho Verde tinto,
mas, à conta de muito sermão e porrada, deixa que «eu» o tenha conseguido
beber. Defeitos mais do que desculpáveis, até por se tratar dum vinho de
escola. A haver falha seria sempre do professor.
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É como o miúdo travesso que sai de manha para ir à mercearia
e só volta à noite, trazendo apenas a fisga e dois pardais, que passa ao pé de
freiras e diz um palavrão, mas que ao domingo, com o banho tomado e bem
penteado, ouve missa e come à mesa com o padre... só porque o obrigaram!
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O Vinhas do Cruzeiro tem a cor da tinta de escrever (só que
em notas encarnadas), densas, profundas, misteriosas; pouco grau (11) e tem um
aroma limpo. O que não percebo é a acidez. O que fizeram dela? Está castrada.
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Não estando a dizer mal para dizer bem, não fazendo o favor
a ninguém, digo que gostei com sinceridade. Defeito? Fizeram-no perfeitinho.
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Ninguém nasce ensinado e não sou ninguém para dar lições de
enologia a ninguém. Se fosse eu a fazer, faria certamente muitíssimo pior.
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Conselho aos fazedores: para a próxima amordacem o professor
ou anotem mal os valores que lhe fornecem e façam uma rave na adega (oiçam e dancem house, free jazz e Quim Barreiros enquanto o fazem). Partam isso tudo! Ponham o vinhão a dizer palavrões! Essa é
a tradição! C******!
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Origem: Vinho Verde
Produtor: Escola Profissional de Agricultura e
Desenvolvimento Rural de Ponte de Lima
Nota: X
Nota: X
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Nota 1: Tenho a escrita dos vinhos atrasada e este entra à fascista.