domingo, junho 25, 2006

Lisboa à Noite

Sempre que lá fui nunca fiquei insatisfeito.O serviço é competente e simpático. O espaço bonito e acolhedor. A cozinha muito competente, tanto nas entradas, como nos pratos de carne e peixe (neste caso apenas sei das impressões de quem me acompanha),como nas sobremesas. A carta de vinhos está variada, tanto nas regiões, como nas gamas, como na oferta de tintos e brancos, como em número. Os preços vínicos não são dos mais especulativos.Não praticando preços de tasca, nem atingindo os requintes de restaurantes de gama mais elevada, penso tratar-se duma mas melhores opções de gama média de Lisboa, em que o cliente sai satisfeito sem ter a sensação de ter sido assaltado... (para mais situado no mediático Bairro Alto, tão cheio de exemplos de tascos, botecos e restaurantes com preços absurdos e qualidade intragável).A este restaurante vou e tenciono continuar a voltar.

De segunda a quinta-feiras das 19h30 às 24h00, sexta-feira e sábado das 19h30 às 1h00. Encerra ao Domingo.
Rua das Gáveas, 69 (Bairro Alto)
21 34 85 57

sábado, junho 17, 2006

Jantar para duas meninas

Ontem fiquei a suar em bica com a ansiedade, a correria pela cozinha e o calor dos fogos. Neste fingimento de Primavera e ameaço de Verão resolvi dar um jantar de espelhos, ou seja enganos às estações, que, além de tudo, andam fugidias. Pois foi de frescos e de quentes, tanto nos bebentes como nos trincantes.
Duas belas e sábias amigas (a Suspinha e a Nanda) vieram cá jantar e sem cerimónia ornamentei a mesa, mas preocupei-me com a ementa, tal é a reputação de suas barrigas e a exigência e a sabedoria dos apetites. Fui às compras sem pressas e atarefei-me nas lides da cozinha, o que sempre me rejuvenesce. Tratadas as tarefas foi tempo de jantar.
Veio primeiro, antes de tudo, um branco Monte da Peceguina 2005 (regional alentejano) para afugentar os calores, distrair os convidados e reanimar o cozinheiro enquanto a comida se aprontava. Estava escorreito o vinho, bem feito, mas continuo a lamentar a sorte dos brancos vindos do Alentejo, por causa do açúcar residual a tapar tudo o resto... enjoam-me.
A estreia à mesa foi um gaspacho a puxar ao vinagre para que maior fosse o refresco, acompanhado com atum, em salada de cebola e ovo para cortar o peixum. Isto serviu-se com um Muros Antigos Alvarinho 2005 (Vinho Verde - sub-região de Monção) que não podia estar mais fresco, seivoso e apetecível.
Depois vieram cogumelos portobello, que são quase tão grandes como meia laranja, recheados com foi-gras e chévre gratinados, justamente acompanhados com Aureus de Sauternes 2003 (Sauternes). Emborna não seja o Sauternes que mais me impressionou, o vinho escoltou muito bem os fungos e fez eleger esta como a combinação gastronómica da noite.
O terceiro prato ligou-se mais à quase invernia dos últimos dias e foi talvez um pouco quente e não fosse estarmos tão saturados e teria sido degustado em maior quantidade. A saber: carne de barrosã em cubinhos frita em azeite com morcela de Trancoso e cogumelos seta fritos em azeite. À parte fritaram-se uns cogumelos (vulgares) laminados com presunto de pato, temperos e colorantes do arroz que acompanhou a carne. Esta confecção foi apresentada com Emergente Crianza 2002 (Navarra), um vinho que não deslumbrando criou vontade de o provar mais vezes e sobretudo de o testar daqui por um par de anos.
Com este vinho com toque de frutos vermelhos avançou-se improvisando para umas cerejas do Fundão. Não sei se alguém reparou, mas este ano as cerejas andam divinais!... A ligação com o vinho foi estupenda.
Quando se julgava não poder mais veio a estocada final, com alguma malvadez. Bombons All Dark Selection da Godiva e H.M. Borges Colheita 1995 Boal (Vinho da Madeira). Este foi o melhor vinho da noite e os chocolates estavam num ponto de pecado que fazem os comensais agora precisar de abstinência, suplício santo e ginásio.

domingo, junho 04, 2006

Festa à mesa

O Paulo acusa-me e eu acuso-o. Na verdade devemos ser os dois culpados mais a Nês. Vou tentar contar a minha versão e com sorte pode ser que tudo fique em bem a rimar com todas as opiniões.
Era para acontecer um jantar aqui em casa, mas porque não havia onde deixar o miúdo do Paulo e da Nês passou a cerimónia para a casa destes. Desde então tomaram-me conta do evento, acuso eu. Desde sempre dizem que o repasto foi meu. A verdade é que a união de esforços deu uma coisa memorável de fazer inveja a nós mesmos, pois agora enciumamo-nos por não estarmos a usufruir aquele momento, como se fôssemos hoje outras pessoas, porque há instantes na vida em que o tempo está proibido de passar.
No primeiro acto aconteceu um Quinta dos Cozinheiros Rosé de 2004 (Regional Beiras), líquido seco e austero na fruta, bom para matar a sede. Estava fresco e contrariou o calor daquele fim de tarde. Porém não é o meu vinho rosé nem fez amigos... não angariou adeptos para as falanges dos rosés, embora todos lhe reconhecessem virtudes. Depois, sim, houve muita alegria e contentamento. Veio de Champanhe um rosé divertidíssimo e elegante: Bauget-Jouette. Com este todos festejaram e grandes sorrisos se puseram nos rostos, até dos teimosos que insistem em afirmar e garantir que não gostam de Champanhe nem de rosé.
Acto segundo: queijo camembert, um malcheiroso francês que não fixei o nome, queijo de azeitão, queijo de mistura de cabra e vaca, pasta de fígado de porco, duas variedades de gressinos temperados, cubos de pão com ervas e joaquins fritos. Aqui estava já em estreia líquida o primeiro vinho do jantar: Hexagon 2000 (Regional Terras do Sado), talvez o melhor vinho que se faz a Sul do Tejo ou mesmo do Mondego.
Terceiro acto: gaspacho (à portuguesa e com acompanhamentos vários, incluindo os joaquins sobrantes) com o já referido Hexagon. O vinho é uma maravilha. Julgo que Nostradamus o anteviu nas suas visões e que Leonardo da Vinci fez esboços para a sua criação. E não é que ligou mesmo bem com a sopa fria?
Quarto acto: lombo de porco temperado com massa de pimentão e batata assada no forno, ratatui (cebola, tomate, alho francês, maçã e tomilho) que se regou com Hexagon, enquanto houve, e Quinta do Monte d'Oiro Reserva 2001 (Regional Estremadura). Este segundo tinto é outra maravilha, tem encantos diferentes do parceiro mais sulista, e dança no nariz e na boca com muita elegância.
Findos os dois grandes tintos e antes que se quisessem as sobremesas bebeu-se parcialmente um Vinha da Pala Reserva 2001 (Douro), que é justo e sereno, não levanta ondas, mas tem carácter, não fez sombra aos anteriores, mas todos repararam que lá estava. Só por causa disso irá ser repetido numa jantarada menos exigente.
Após o intervalo da conversa em que os fumantes se intoxicaram, veio uma charlotte de ananás e serviu-se um Vinho do Porto que estava de estalo, embora viesse a estar mais se tivessemos a paciência de esperar mais uns anos: Ferreira 1997 Vintage. Suave e aveludado, complexo no nariz e na boca foi uma delícia de se beber. Na minha opinião ofuscou a sobremesa, pois estava demasiado vaidoso e galante.
Já quando os talheres se tinham retirado e os guerreiros da comezaina queriam apenas repousar e conversar, as gargantas molharam-se com um honesto, mas fracote Tinto da Ânfora 2002 (Regional Alentejano), que o bom Alex trouxe. Lamento, amigo, mas este não teve hipótese, mas foi um vinho amigo para quando já estávamos exaustos... e não só.
De tudo o que mais gostei foi mesmo da amizade. É que amigos destes dizem o que sentem e comem e dão a comer o melhor que têm. Foi um grande festa para festejar coisa nenhuma.