quarta-feira, agosto 14, 2013

Herdade da Bombeira 2009

Dos dois milhões de critérios e conjugações de alíneas, momentos e contingências para escolher um vinho... escolhi este (não esta colheita) por causa dum serzinho de quatro anos, dos quais com 4.000 de ternura.
.
Corria o ano de 2005 e namorava eu uma moça (a G) que tinha uma filha linda (linda mesmo) e muito doce (docíssima). A P era uma paixão de se cair para o lado. Para se ter uma melhor ideia da P... coisa dum ano depois, estava eu com uma nova namorada, a V, e cruzei-me com a G e sua filha. Encontro que não foi longo, mas que deu para V, muito habituada a lidar com crianças, entender e afirmar:
 – Como é possível alguém não se apaixonar por esta miúda?
.
Tranquilos! Sossegados! Não houve sangue! Tudo bem! Tudo bem!
.
Voltando a 2005... a P é a «mãe» da minha gata Paraquedas. Gata que já se chamava Paraquedas antes de ela a ver, e que foi tida na ninhada da gata do meu irmão – a par da Amiguinha, cuja narrativa é excessiva para aqui. A Paraquedas que é irmã, embora doutra ninhada, da Granita e da Lioz, 11 meses mais velhas. Por enredos dispensáveis ao tema, a Paraquedas acabou minha e, visto a forma como ficou, pode dizer-se que caiu de paraquedas em minha casa.
.
Uma vez mais, voltando a 2005 e à P... a miúda dizia querer ser bombeira. Ok, por que não? Há os que querem ser astronautas... outros médicos... professores... eu queria ser calceteiro. Como também quis ser bombeiro, razão pela qual o meu pai foi cravar, e conseguiu, um capacete... achei absolutamente compreensível que a P também quisesse ser bombeira.
.
Uma tarde, passeava eu sem rumo (mais ou menos), olhei para a montra duma loja em Campo de Ourique... ok, a Garrafeira Campo de Ourique, dos meus amigos... e estava uma garrafa de Herdade da Bombeira.
.
Todos já comprámos coisas só porque combinam com qualquer coisa, independentemente de terem um sentido com sentido: uma gravata azul branca para oferecer a um fanático do Benfica, após perder o campeonato para o Porto; um porta-chaves do café «O Careca» ao amigo calvo; um busto de Lenine para um anti-comunista universitário; uma edição do jornal Avante do dia do nascimento daquele cromo que teima em ser fascista... um disco do David Bowie a alguém que nasceu no mesmo dia, ainda que não aprecie a sua música (eu – as duas coisas)...
.
Pois! Herdade da Bombeira prestou-se mesmo para um jantar com a G e sua partenaire. Assim foi. Correu bem... e o vinho esteve mesmo bem... sem qualquer avaliação subjectiva. Tratou-se da edição de 2004, à qual atribuí a nota claramente positiva de 4,5.
.
Para ser sincero, não me lembro do vinho. Lembro-me da miúda e da sua fantasia profissional. Lembro-me da mãe da catraia, que é pessoa de quem só posso dizer bem. Lembro-me do momento... do vinho, não.
.
Por todas as notas atrás referidas, Herdade da Bombeira não mais me sairá da memória, a menos que uma doença degenerativa me corroa os miolos. Se todas as avaliações são subjectivas, e as expressas neste blogue são-no o «mais possível»; e nunca este vinho terá uma menção negativa.
.
Ok, se fosse vinagre... e do mau, não o elogiaria. Não é o caso. Acresce que o vinho é bom, agora refiro-me à vindima em causa, embora tenha tido sempre ecos muito favoráveis doutras vintage. Mas bebidos por mim, só 2004 e 2009.
.
Justificar uma nota? Para mim, tal é sempre subjectivo; tenha copos pretos, temperaturas ajustadas, sejam as garrafas escondidas. Tudo depende de muita coisa. Este blogue não é feito mais do que impressões pessoais, falíveis, com erros de paralaxe, de miopia, de hipermetropia... é sincero e honesto. E sinceramente, apesar de tudo o que adiantei, este é um belo vinho.
.
Sendo tudo subjectivo e assumindo isso no ADN deste blogue, qualquer análise vai forçosamente errar na justiça, seja por excesso, seja por defeito, via complexo emocional tentado reparar...  já perceberam. Porém, não falha na verdade, na do seu autor. Represento-me a mim e só a mim. Tenho a presunção de ter alguma coisa a contar; e o que quero é «contar histórias, estórias», não definir padrões ou ditar sentenças.
.
Faço, tento, o exercício da imparcialidade... não consigo. E neste vinho, não consigo mesmo. Tenho distanciamento para dizer que é um vinho de qualidade. Direi o que me vai na alma: muito bom!
.
A história é esta! Quanto à adjectivação, cada um leia como quiser.
.
Factual: a herdade fica no concelho de Mértola, na margem direita do Guadiana. As castas que compõem o lote são: trincadeira, cabernet sauvignon, syrah e alicante bouschet.
.
Finalmente: se já o disse e escrevi bastas vezes, embora frequentemente ceda ao protocolo, os descritores não me interessam nada e, na verdade, não indicam nada, a menos que apontem defeitos. Tendo isto em consideração e mais ao que disse, não vou perfilar narizes nem paladares.
.
.
.
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Bombeira do Guadiana

Nota: 6/10

sábado, agosto 10, 2013

Tons de Duorum Branco 2012

Vou entrar em partilha de intimidade.
.
A A que, há coisa de dois anos, quase afirmava que o vinho era todo igual já não o faz. A A tem um feliz descomplexo: gosta, gosta, não gosta, não gosta. Não é nem quer ser uma intelectual do vinho. O vinho é pra fruição. Bingo!
.
A miúda às vezes tem cismas e ultimamente anda numa de carnicha, não. Embora na véspera lhe tenha feito tragar umas fatiínhas de lombo de porco, o dia a que se reporta o texto foi de «não carne».
.
Umas cenourinhas (não é diminutivo bacoco, ao jeito português... cafézinho, copinho, bolinho, continha) avinagradas, uns tomates pêra (já por si uns diminutivos), umas massas (massinhas) com uma forma escanifobética (tipo lacinhos) que o M (cinco anos) chamou de medusas (rosa, encarnado, amarelo, laranja e verde), salada de eruca selvagem e agrião e (non sense) queijos: Queijo de Azeitão, Queijo Picante da Beira Baixa (antes conhecia-o por Castelo Branco) e queijo de ovelha semi-curado de Seia. O M inventou um molho (o M gosta de ir cozinhar comigo, que o deixo inventar, desde que coma o que inventou) com azeite, vinagre balsâmico, flor-de-sal com limão, açafrão, caril e canela, que ficou catita (pasmem-se).
.
Como diz o M (e com toda a razão) que quem manda cá em casa sou eu (é instintivo, os putos sabem), ordenei à A que escolhesse o vinho. Foi directamente aos brancos (não tenho perdido o latim) e escolheu o Tons de Duorum 2012. Perguntei-lhe o critério, mas como a resposta não fazia qualquer sentido, achei que Deus criou o acaso para justificar a razão feminina... xiu! Ela não pode saber que escrevi isto... Não percebi a razão, mas penso que acertou na mosca.
.
Porque esta «democracia» está estabelecida em alicerces perfeitamente definidos, a A, quando escolhe um vinho (e quando não escolhe), é obrigada à tarefa de descrever o vinho (coisa que não interessa quase nada... é assim tipo palavras-cruzadas), à qual dou umas dicas, ora para ajudar, ora para desajudar. Esclareço que a A, nessa arte desnecessária da adivinhação, se sai muito bem.
.
Ora, em termos olfactivos o que encontrámos? Manga, algo de maracujá e um pouco de abacaxi. Mal levantou o copo disse: é fresco! Pois é. Tanto quanto o é na boca. Fresco, suave e deslizante.
.
.
.
Origem: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Nota: 5,5/10

sexta-feira, agosto 09, 2013

Quinta do Monte Xisto 2011

Há projectos vínicos para todos os gostos: os que se herdam, os grandes, os megalómanos, os pirosos, os pretensiosos, os modestos, os poéticos ou românticos, os nostálgicos, os filosóficos, os d’hoje-prá-amanhã, os vai-se-fazendo... haverá mais, mas basta.
.
O Quinta do Monte Xisto está na categoria dos vai-se-fazendo, com uma parte de romântico, com toques de poético e filosófico, estes dois que se interligam e não se sabe bem onde está um e o outro.
.
Justifico: poético, porque há todo um despojamento de brilho e adorno que remete para a felicidade. Filosófico, porque tudo tem um sentido e uma lógica, resultante de pensamento, diálogo e ponderação. Romântico, porque se faz no afecto duma família (pai, mãe e três filhos), que transmite (sabe-se pela conversa) esse amor à viticultura e ao campo. A componente vai-se-fazendo é porque passaram-se 20 anos (vinte) até que saísse o primeiro vinho. Tudo comprado com dinheiro da algibeira, sem empréstimos nem alavancagens.
.
A espera valeu. É um GANDA vinho! A colheita de 2011, ano dourado no Douro, foi posta ao léu em Julho, e arrebata. Não acredito (completamente) que outras, experiências e protótipos, não tivessem qualidade para os enófilos. Dou o meu cavalo, espada e feudo para provar esses números-zero, usando a linguagem dos jornais,
.
Antes que me esqueça; a equipa é formada pelo casal João Nicolau de Almeida e Graça Eça de Queiroz Cabral, e pelos filhos Mateus, João e Mafalda. Já se percebeu pelo apelido que não são paraquedistas que saltaram de algures e caíram no Douro. São gerações e trabalho e reconhecimento.
.
Tudo começou num passeio (ou algo vagamente parecido) de João Nicolau de Aldeia (pai) numa zona do concelho de Vila Nova de Foz Côa. Alguém o chamou para ver uma parcela de terreno que estava a venda. Viu, gostou, negociou, comprou, patati-patata, quis mais, patati-patata , andou anos atrás de quem quisesse vender e de quem ainda teria de assinar... o calvário do costume quando se quer comprar terra em Portugal; tudo micro, tudo dividido por 20 gerações sem partilhas assentes, herdeiros que não se entendem, muita conversa para convencer a vender... Calvário, já disse. É ainda mais complicado, mas basta.
.
A «quinta» não tinha nome, porque não existia. Chamaram-lhe do Monte Xisto, porque é isso que a forma. Fica em Vale de Cobrões, mas o nome não dava jeito e lembrava vale de cabrões... quiçá não terá sido esse o topónimo original. O cerro situa-se entre os 250 e os 320 metros de altitude, tem vertentes voltadas a Norte e a Sul. Mais complexidade?
.
Foram 12 anos para conseguir juntar 40 hectares dum cerro de xisto sem grande uso. Um calhau com algumas oliveiras muito velhas e pouco mais (espero que se lembre de fazer azeite). Em 2003, a família Nicolau de Almeida plantou dez hectares de vinha, quase toda tinta. A uva branca que lá há, da casta rabigato, talvez possa um dia dar à luz umas garrafas.
.
Os dez hectares de vinha são compostos (a grosso modo) por touriga nacional (5,5 hectares), touriga franca (2), sousão (1), rabigato (0,5), tinta francisca (0,5) e tinto cão (0,5). Há ainda umas pequenas parcelas de tinta roriz, touriga brasileira, tinta barroca, tinta da barca e alicante bouschet.
.
Fizeram-se várias experiências com castas, todas do Douro. Porém, a natureza não é toda igual, mesmo numa mesma sub-região. Algumas uvas não se deram bem. De toda esta paleta de uvas, aproveitaram-se para este vinho as de touriga nacional, touriga franca e sousão.
.
Vinha cultivada em modo de produção biológico. O rótulo não mostra, porque não é ideia vender «bio». Não é um projecto de filosofia «bio» (que só por si não é nem bom nem mau), mas de aproveitamento do que a natureza dá. As condições naturais do Monte Xisto permitem que seja bio, sem remorosos nem dúvidas. E João Nicolau de Almeida sabe ao que cheiram e sabem umas «mesmas» uvas tratadas com produtos de síntese doutras que ficam apenas empoeiradas.
.
Os Nicolau de Almeida quiseram ter o Douro dentro da garrafa... mais do que a região, quiseram o local. O monte de xisto, que foi trucidado por três vezes até que desse solo arável, entregou a sua mineralidade. As uvas foram pisadas a pé em lagares de granito e o vinho estagiou 18 meses em pipas de carvalhos francês e austríaco.
.
Este vinho é um encanto. Arrebatador, mas não tirano. Sedutor, mas não possessivo. Profundo, mas não sombrio. Na difícil tarefa de escolher uma só palavra para o definir, exercício estúpido e masoquista a que me submeto voluntariamente, direi: majestade.
.
É um mundo num copo. Vinho de enorme complexidade, em que aromas dançam sem se substituírem, que evoluem com o tempo no copo sem se despedirem do provador. Vão e regressam. Brincam às escondidas e à apanhada. Que aromas!
.
No folguedo olfactivo dançaram rosas, violetas, pétalas de laranjeira (!), uma pitada de casca de laranja, cerejas, ameixas, romãs, um toque de noz-moscada e de cravinho... e xisto. Os seus perigosos 14 graus de álcool são mansinhos. Diria que sonsos, pois a frescura deste vinho camufla-os e quando nos levantamos é que percebemos... O corpo tem uma dimensão... talvez uma quinta dimensão. É um Bentley (desde que visitei a fábrica que ando com a ideia fixa de ter um) em aceleração. Pesado? Não! Colossal. Desliza elegante, avança suave, com densidade. Profundo, seco, longo, com garra. Um final bombástico.
.
A estreia não poderia ter sido melhor!
.
.
.
Origem: Douro
Produtor: João Nicolau de Almeida & Filhos
Nota: 9/10

quinta-feira, agosto 08, 2013

Novidades da Quinta de Cidrô

Um viajante francês do século XVIII desdenhou da nobreza portuguesa, parodiando, entre outras coisas, da dimensão das suas casas, que em França não seriam de meras famílias abastadas. Entre outros mimos.
.
O Norte do país é fértil em casinhas com pedra d’armas... ou não fosse a fidalguia estado que passasse por parte de pai e de mãe a toda a prole, independentemente de graça ou mercê de el Rei. Mas a Quinta do Cidrô é já uma casa nobre à séria, a imponência não engana.
.
Foi casa do primeiro e único marquês de Soveral, Luís Maria Pinto de Soveral, nascido em 1851 em São João da Pesqueira e falecido em 1922, em Lisboa. Diplomata com grandes conhecimentos em inglês e vivência em Inglaterra, destacou-se nessa chancelaria. O seu pai foi também célebre; Eduardo Pinto de Soveral, primeiro visconde de São Luís. Era um homem de cultura e amante da arte dramática, tendo mandado erigir o Teatro de São Luís, no Chiado, que perdura até hoje.
.
Hoje a Quinta de Cidrô, até há relativamente pouco tempo chamada de Sidrô, e o palácio pertencem à Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, vulgarmente conhecida por Real Companhia Velha. Para quem não sabe, foi esta empresa que constituiu e demarcou o Douro vinhateiro, por ordem de Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro conde de Oeiras, primeiro marquês de Pombal e ministro do rei Dom José. A companhia foi fundada em 1756 e, durante estes mais de 250 anos, conheceu diferentes fases e funções, sendo desde 1960 controlada pela família Silva Reis.
.
Hoje, a Real Companhia Velha é uma empresa que se dedica à produção de vinhos do Douro e do Porto, sendo um dos principais operadores, quer em quantidade processada, quer em reputação. Entre as diversas quintas (Aciprestes, Carvalhas, Casal da Granja, Cidrô e Síbio), a do Cidrô é uma das principais, tendo sido constituída como um «laboratório» vivo, onde são testadas diferentes castas e testadas abordagens de viticultura. Não sei porquê, mas eu, que me enxofro com castas estrangeiras no Douro, não me apoquento muito com estas diatribes da Real Companhia Velha no Cidrô... Freud poderia explicar.
.
Foi para esta casinha, um T0 de vinte e tal quartos, que me levaram e me deram a conhecer as novidades nascidas em São João da Pesqueira. Tenho a dizer (mais uma vez) que o espírito, ânimo e personalidade das pessoas se transmite ao vinho. Testemunhei a amizade e prazer com que a equipa técnica se cruza. O enólogo, Jorge Moreira, nasceu na casa, passeou pelo Douro e regressou, o responsável pela vinha é Rui Soares (também manda na dos Aciprestes) e depois há Álvaro Martinho (responsável pela viticultura da Quinta das Carvalhas), um bem-disposto que quando começa a falar dificilmente o calam, mas não aborrece (mesmo nada)... ora no serão do jantar, o simpático Álvaro agarrou-se à viola e cá vai disto: concerto longo, que só terminou quando alguém apagou as luzes, propositadamente, do pátio interior do palácio. E canta bem! Até lhe chamaram Álvaro Dylan.
.
Vamos ao que interessa e vos trouxe até aqui; os vinhos. Foram 11 as novidades apresentadas, brancos, rosados e tintos. Fica a quinta ainda no Cima Corgo, na fronteira com a sub-região do Douro Superior; ainda não tem os calores. Pela sua situação geográfica, a Quinta de Cidrô não tem atractivos para nela se fazerem Vinhos do Porto, mas tem óptimas condições para vinhos Douro.
.
Nas novidades destacaram-se os estrangeirismos, razão por que a maioria não pode ser aprovada como Denominação de Origem Controlada Douro, tendo passado (sem qualquer mácula de qualidade) para Regional Duriense. A saber:
.
Nos brancos da Quinta de Cidrô encontrei, em maior ou menor expressão, notas de casca de tangerina. Isto quer dizer que alguma(s) características do local potenciam esses aromas. Brancos, rosado e tintos demonstraram mineralidade e frescura. Estes são os traços gerais.
.
Quinta de Cidrô Alvarinho 2012... blá blá blá no nariz maracujá, flor de laranjeira, casca de tangerina; boca fresca com doçura.
.
Quinta de Cidrô Sauvignon Blanc 2012... blá blá blá no nariz casca de tangerina e finura de terra, podia ser fumo, mas não conheceu madeira. Na boca é seco e fresco. Não costumo gostar da casta.
.
Quinta de Cidrô Gewurztraminer 2012... blá blá blá no nariz notas florais, destacando-se a laranjeira, minério, casca de tangerina, líchias. Na boca, uma impressionante frescura e final delicioso. Para mim, a surpresa da prova.
.
Quinta de Cidrô Sémillon 2012... blá blá blá, não é exuberante no nariz e o que prevalece é alguma confusão, com identificável flor de laranjeira, mas lá muito ao fundo. Na boca é equilibrado. Tudo pode parecer pouco, mas não é. Resulta bem.
.
Quinta de Cidrô Chardonnay 2011... blá blá blá no nariz mostrou manteiga e, vagamente, flores. Na boca é fresco, denso e profundo.
.
Quinta de Cidrô Rosé 2012... o menos bom do conjunto. Sem deslumbre nem argumento que o destacasse, apagou-se. Mesmo num contexto doutros rosados, este não vai muito longe. Cumpre no critério de qualidade formal, mas não vejo interesse em preferir este ao outros do mesmo calibre. Bom, mas sem alma. Feito com touriga nacional, tem as virtudes de não ser «docinho» nem quente.
.
Quinta de Cidrô Rufete 2011... depois da ousadia de, em 2010, abraçar uma casta pouco valorizada e de forma estreme, a Real Companhia Velha voltou à carga. Para mim, a audácia de avançar com um rufete, que não tem nada de mariquices que a corrente dominante enaltece, merece aplauso. Não é um patinho feio que se adopta com ternura, é um vinho diferente, com lugar à mesa, com comidas precisas (sardinha assada dizem que vai bem, mas não sei, porque não como peixe). Blá blá blá... no nariz sobressai metal e nitrato... sugestão? Talvez, mas lembrou-me peixe, sardinhas... se calhar ando a ouvir demasiadas estórias, mas juro que foi a impressão que me deu. Ora, não comendo eu peixe, sobretudo por causa do odor, é compreensível que não tenha adorado o aroma deste vinho. Porém, lembrava, de facto, o da sardinha, que é bicho que não tem demasiada pestilência (para o meu nariz). Na boca escorrega muito bem, fresco e perigoso. Um tinto para pratos leves e noite descontraída à conversa.
.
Quinta de Cidrô Cabernet e Touriga Nacional 2007... ui! Esta é difícil. Duas grandes castas dentro duma garrafa. Temperamento? Mau feitio? Bem, não sendo amiguinhas, dão-se bem. De início, a cabernet sauvignon não se impõe, mas o tempo dá-lhe prevalência. Com outra casta, a cabernet sauvignon tê-la-ia humilhado, mas a touriga dá luta. Bem, um a zero para a francesa. Na boca, a cabernet sauvignon não dá grandes hipóteses. Embora dominando, no geral, a casta não rebentou em pimentão, mostrou frescura, vegetal e personalidade.
.
Quinta de Cidrô Pinot Noir 2011... embora lhe atribua a mesma nota que dei ao cabernet sauvignon e touriga nacional, este néctar parece-me um pouco superior. Não estava à espera dum pinot noir assim. Não é (mesmo) nada mau, antes pelo contrário, mas não me evoca os da Borgonha, muito menos na cor. Blá blá blá no nariz mostra coisinhas que gosto muito: poeira, lenha, um pouco de menta... é profundo sem ser perfurante. Na boca é flanela... o tempo será generoso para este vinho, que tem uma acidez muito elegante.
.
Quinta de Cidrô Touriga Nacional 2011... blá blá blá, é um clássico! A touriga nacional, embora tendo nascimento no Dão e o mundo para conquistar, tem casa no Douro. Não será por acaso que foi o monocasta mais conseguido. A touriga nacional estava a jogar em casa. Ao contrário de muitos «tourigos» durienses, este mostrou as violetas, sem abandonar um pouco de geleia de morango. Na boca mostrou-se muito elegante e envolvente, com um longo e profundo final. Não tenho a escala dividida em décimas, centésimas nem milésimas... Três tintos com a mesma nota, mas não com a mesma altura. Este está acima.
.
Quinta de Cidrô Celebration 2010... sem blá blá blá, directo ao final: grande vinho! Criado para celebrar 20 anos de viticultura moderna na Quinta de Cidrô e na Real Companhia Velha... sei lá... é um grande vinho. Que mais posso acrescentar? Que se fez com cabernet sauvignon e touriga nacional? Opá! Pouco me importa! Notável nos equilíbrios entre as duas castas, uma presença de madeira e longe de ser pau. Na boca revelou grande estrutura, doçura, frescura, profundidade e um final quase orgásmico.
.
.
.
Quinta de Cidrô Alvarinho 2012
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 5/10
.
.
Quinta de Cidrô Sauvignon Blanc 2012
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 6/10
.
.
Quinta de Cidrô Gewurztraminer 2012
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 7/10
.
.
Quinta de Cidrô Sémillon 2012
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 6/10
.
.
Quinta de Cidrô Chardonnay 2011...
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 6/10
.
.
Quinta de Cidrô Rosé 2012
.
Origem: Douro
Nota: 4/10
.
.
Quinta de Cidrô Rufete 2011
.
Origem; Douro
Nota: 5/10
.
.
Quinta de Cidrô Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional 2007
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 7,5/10
.
.
Quinta de Cidrô Pinot Noir 2011
.
Origem: Regional Duriense
Nota: 7,5/10
.
.
Quinta de Cidrô Touriga Nacional 2011
.
Origem:Douro
Nota: 7,5/10
.
.
Quinta de Cidrô Celebration 2010
.
Origem: Regional Duriense

Nota: 8,5/10

quarta-feira, agosto 07, 2013

Quinta da Ponte Pedrinha Tinto 2010

Tenho apreço por este produtor de Gouveia, ainda que não lhe conheça nem rosto nem voz. Um gosto que advém pela honestidade com que faz vinho; nada de artifícios, apenas vinho. Néctares que respeitam a palavra Dão.
.
Há vinhos para todos os gostos, bolsos, conhecimentos, momentos... Este é para quem gosta do Dão ou o quer descobrir. Desde já porque conjuga as castas de referência da denominação: touriga nacional, alfrocheiro, tinta roriz e jaen. Até onde está uma memória, que poderia ser (pois que existe) fantasiada por leveduras ou Diabo a quatro... essas coisas que sabem os enólogos.
.
Os vinhos da Quinta de Ponte Pedrinha, todos os que conheci até agora, têm essas coisas que muita gente perdeu ou não sabe: respeito e honestidade. Este não é um «grande vinho do Dão»; é um muito bom vinho, porque que mostra a região e porque, para além disso, é genuinamente bom. Não é um vinho modernaço nem a atirar ao pingarelho... é Dão.
.
É incrível que um vinho cujo preço deve rondar os cinco euros, talvez menos, apresente esta complexidade e prazer de ser bebido. Mais interessante na prova olfactiva, em que a violenta se sobrepõe à fruta e depois permite que o mineral supere a fruta. Um jogo a três bem praticado. Na boca gostaria de lhe sentir mais acidez, mas simpatizei com o polimentos dos taninos.
.
O Dão fez fama com a longevidade dos seus néctares; dez, 20, 30 anos e mais. Duvido que este chegue em forma aos 30 anos, mas certamente no prazo duma década ainda terá alguma coisa para contar.
.
.
.
Origem: Dão
Produtor: Maria de Lourdes Mendes Oliva Nunes Osório
Nota: 6/10

terça-feira, agosto 06, 2013

Os IWA no Ritz – 10 de Julho deste ano – 10 anos à prova





















«Dez anos, é muito tempo», Paulo de Carvalho dixit... ou, melhor, cantava ou canta. Uma música evocativa dos seus primeiros dez anos de carreira, que hoje ultrapassa os 50. Nove anos em retrospectiva dos Independent Winegrower’s Association (IWA), colheitas de há dez anos.
.
Para quem não sabe, esta organização junta cinco produtores de referência, que ano após ano apresentam vinhos consistentes em qualidade. Ninguém sai enganado. Quem vai sabe ao que vai. E se não sabe, fica a saber. São eles: Casa de Cello (Dão e Vinhos Verdes), Alves de Sousa (Douro), Luís Pato (Bairrada), Quinta do Ameal (Vinhos Verdes) e Quinta dos Roques (Dão).
.
Numa mostra no Hotel Ritz, em Lisboa, os Famosos Cinco apresentaram bué de néctares, não sendo todos novidades. Não me demorarei a escrever sobre cada um dos seus novos vinhos, prefiro sublinhar o conteúdo da «masterclass», dedicada aos dez anos de existência da IWA. Visto a vindima de 2013 ainda estar por acontecer, a associação só tem nove campanhas. O tema foi a década, pelo que brilharam os vinhos de 2003.
.
Não sou grande coisa a fazer contas de cabeça e de memorizar as características meteorológicas dum determinado ano, aplicadas a diferentes regiões, particularizadas em localizações específicas. Contudo, lembro-me que 2003 foi quente comó caraças! Houve tantos incêndios florestais que Lisboa adoptou fumo de zonas confinantes. No Saldanha não se conseguia ver o outro lado da rua.
.
Pois esse ano muito quente resultou, talvez contra as expectativas, em belíssimos vinhos dos Famosos Cinco. Pedro Araújo (Quinta do Ameal) revelou que o acharam pouco são das ideias quando decidiu fazer um monovarietal da casta loureiro.
.
O Ameal Loureiro 2003 está em grande forma, com presença de fruta na prova olfactiva. «Diziam-me que os vinhos de loureiro só aguentavam seis meses» – disse Pedro Araújo. Quase dez anos mais tarde vê-se quem tinha razão e quem não via o horizonte.
.
Embora produza tintos no Dão, João Pedro Araújo (julgo que primo do anterior) levou um Vinho Verde branco; Quinta de Sanjoanne Escolha Branco 2003. Não tão vivo quanto o vinho precedente no texto, mas igualmente fresco e jovial. Mais um argumento a favor da capacidade de guarda dos Vinhos Verdes.
.
Luís Pato apresentou o Vinha Formal Branco todo ele feito com uvas da casta bical e fermentado em barricas. A casta não é particularmente ácida, afirma Luís Pato, que, apesar disso, revela não acidifica. Embora com notas de evolução, estava fresco e guloso de se beber.
.
Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2003 sem sinal de envelhecimento, notando-se apenas um suave couro a revelar alguns sinais. Vinho com frescura e subtilezas, complexo e longo de boca.
.
Quinta dos Roques Garrafeira Tinto 2003 foi criado a pensar no envelhecimento. Luís Lourenço tem sido um dos motores de recuperação do bom nome do Dão, região que durante décadas foi uma referência. Andou a fazer monovarietais, mas convenceu-se que a realidade do Dão é feita de lote. Uma região famosa pela longevidade dos seus vinhos, e este está em grande forma.
.
Não vou entrar pelo enfadonho caminho, para mais sendo tantas as referências, dos descritores, até porque não me apetece. Em vez do tradicional esquema da notação, vou aplicar, desta vez, uma solução mais vantajosa para quem (eu) está cansado de bater nas teclas. Não irei também atribuir notas. Alguns vinhos tiveram já referência anterior, pelo que podem ser encontrados outros textos no blogue.
.
Quinta de Sanjoanne Terroir Mineral 2012 (Vinho Verde – branco), Quinta de Sanjoanne Escolha 2009 (Vinho Verde –branco), Quinta de Sanjoanne Superior 2009 (Vinho Verde –branco), Sanjoanne Passi (vinho de mesa passito – branco), Vegia 2010 (Dão – tinto), Quinta da Vegia 2010 (Dão – tinto) e Quinta da Vegia Reserva 2007 (Dão – tinto).
.
Branco da Gaivosa Reserva 2011 (Douro - branco), Quinta da Gaivosa Tinto 2003 (Douro - tinto), Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2005 (Douro – tinto), Tapadinha Grande Reserva Tinto 2009 (Douro – tinto), Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo Tinto 2009 (Douro – tinto), Abandonado Tinto 2009 (Douro – tinto), Memórias Alves de Sousa (vinho de mesa – tinto) e Alves de Sousa Porto Vintage 2011 (Porto – tinto).
.
Luís Patos Espumante Maria Gomes 2012 (Bairrada – espumante branco – método clássico), Luís Pato Espumante Maria Gomes Método Antigo 2012 (Bairrada – espumante branco – método antigo), Luís Pato Espumante Quinta do Moinho 2010 (Bairrada – espumante branco – método clássico), Luís Pato Vinhas Velhas Branco 2012 (Bairrada – branco), Luís Pato Baga 2012 (Bairrada – tinto), Luís Pato Vinhas Velhas Tinto 2009 (Bairrada – tinto), Luís Pato Vinha Pan 2010 (Bairrada – tinto) e Luís Pato Vinha Barrosa 2010 (Bairrada – tinto).
.
Ameal Loureiro 2012 (Vinho Verde – branco), Ameal Loureiro 2004 (Vinho Verde – branco), Ameal Escolha 2012 (Vinho Verde – branco), Ameal Escolha 2011 (Vinho Verde – branco), Ameal Escolha 2007 (Vinho Verde – branco) e Ameal Special Harvest 2011 (vinho de mesa – colheita tardia – branco).
.
Maias Branco 2012 (Dão – branco), Quinta das Maias Malvasia Fina 2012 (Dão – branco), Quinta das Maias Verdelho 2012 (Dão – branco), Quinta dos Roques Encruzado 2012 (Dão – branco), Quinta dos Roques Rosé 2012 (Dão – rosado), Maias Tinto 2011 (Dão – tinto), Quinta dos Roques Touriga Nacional 2011 (Dão – tinto) e Quinta dos Roques Garrafeira Tinto 2008 (Dão – tinto).

segunda-feira, agosto 05, 2013

Vinhos Torre do Frade e Virgo

Conheço Fernando Carpinteiro Albino há 20 anos e uns meses. Pensava que era apenas 18, mas a memória deste lavrador alentejano está melhor do que a minha, que tenho idade para ser seu filho.
.
Julgava que o tinha conhecido, em 1995, quando estava no Diário Económico e ele era vice-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal. Contudo, ao metermos a conversa em dia, ele iluminou-me a memória. Tinha-o conhecido dois anos antes, quando fiz uma reportagem para a SIC acerca do preço do trigo,quando era presidente da Associação Nacional de Produtores de Portugal.
.
Fernando Carpinteiro Albino é agricultor em Elvas e só o conhecia dos negócios dos cereais, embora imaginasse que a sua casa agrícola tivesse mais actividades, tal como a maioria das explorações alentejanas.
.
A empresa familiar (Sociedade Agrícola da Herdade da Torre do Curvo) explora 3.000 hectares, divididos pelas herdades da Torre do Curvo, Torre do Frade, Pereiras e Serra de Aires. Nela produz, além de vinha, trigo rijo, aveia e girassol, cria gado bovino de raça alentejana, e explora montados de sobro e de azinho.
.
Ciente que estava de que teria várias culturas, ainda assim, surpreendeu-me quando soube que produzia vinho. Ok, por que não? Foi apenas coisa que não me ocorreu. A viticultura é um negócio relativamente recente, remontando ao ano 2000, quando foram comprados 13,8 hectares de direitos de vinha.
.
As plantas foram postas junto à aldeia de Santo Aleixo, entre Borba e Orada. Delas saiu, em 2004, o primeiro vinho, o Torre do Frade Reserva. Desde então criou-se a marca Virgo, de gama inferior, embora de grande qualidade.
.
Voltando atrás, penso que vale a pena fazer um enquadramento histórico. A Herdade da Torre do Frade foi constituída em 1384, sendo domínio duma ordem religiosa. Em 1834, por ordem de Joaquim António de Aguiar, ministro da Justiça do Rei Dom Pedro IV (Pedro I do Brasil), foram extintas, em Portugal, as ordens religiosas. Decisão que valeria ao ministro a alcunha do Mata Frades.
.
As terras dos conventos, mosteiros, abadias e de mais organizações religiosas foram vendidas em hasta pública. No Sul do Portugal, nomeadamente no Alentejo, eram avantajados esses domínios. Foi uma oportunidade doutros lavradores, uns mais ricos outros mais empreendedores, e de burguesia urbana adquirirem a bom preço propriedades rurais.
.
Foi o caso dos antepassados de Fernando Carpinteiro Albino, que agarraram a propriedade. Com as gerações, o domínio familiar foi sendo alargado, até serem alcançados os actuais 3.000 hectares.
.
Com a revolução do 25 de Abril de 1974, o país agitou-se; fraccionou-se entre esquerda e direita, entre Norte e Sul, tendo chegado à beira duma guerra civil. A história, e o seu devido distanciamento, julgará o que se passou no período entre 25 de Abril de 1974 e 26 de Setembro de 1976, data da tomada de posse do primeiro Governo Constitucional.
.
O tempo mais tumultuoso, desses primeiros tempos da Terceira República, aconteceu entre Março de 1975 e 25 Novembro de 1975, quando se dá o golpe militar, de forças afectas aos partidos democráticos. Esse dia marca o fim da era em que o Partido Comunista Português tentou criar um regime totalitário de esquerda, à moda das «democracias populares» das repúblicas da Cortina de Ferro.
.
No chamado Verão Quente, na verdade até antes, deram-se as ocupações das propriedades agrícolas do Sul, sobretudo no Alentejo. Embora implantada a democracia, levaram-se muitos anos até que a justiça fosse feita e devolvidos os terrenos aos seus legítimos proprietários.
.
A família Carpinteiro Albino teve a mesma sina dos restantes lavradores alentejanos, tendo-lhe sido confiscadas as propriedades. Curioso é que foi «por pouco», em Outubro de 1975, um mês antes do golpe democrático (o segundo, depois de 1974). A desocupação deu-se a desocupação. As herdades foram devolvidas, mas não os seus bens de trabalho. Das alfaias ficaram «um tractor em estado de sucata e mais algumas alfaias que só serviam para ferro velho», diz Carpinteiro Albino.
.
Esse período negro (vermelho) causou atrasos e prejuízos na agricultura e no desenvolvimento económico. Fernando Carpinteiro Albino recuperou a casa agrícola e alargou-lhe as actividades, sendo o vinho o píncaro.
.
Voltando ao vinho, desde a primeira colheita que a chefia técnica está a cargo de Paulo Laureano, um dos mais reconhecidos enólogos portugueses. Os resultados mostram a aptidão da localização das vinhas e a mestria técnica.
.
No final de Maio visitei a exploração de Fernando Carpinteiro Albino, onde me foram mostradas as novidades e alguns néctares menos recentes. A ideia com que fiquei foi que são vinhos que evoluem bem, mantendo frescura e graça.
.
Da colecção de Carpinteiro Albino provei, se a memória não me atraiçoa, Virgo Branco 2012, Virgo Tinto 2010, Torre do Frade Viognier 2011, Torre do Frade Reserva Tinto 2007, Torre do Frade Reserva 2006 e Torre do Frade Reserva Tinto 2005.
.
Como já referi, os vinhos mais antigos estão em grande forma. Não os tomarei em letra, passarei a referir as novidades:
.
O Virgo Branco 2012 fez-se com 80% de arinto e 20% de viognier. É um vinho fresco, para consumo imediato, embora se aguente por mais algum tempo. A frescura advém-lhe das notas cítricas, que combinam com linhas florais.
.
Virgo Tinto 2010 foi o vinho que menos apreciei da panóplia da casa, ainda assim de notável boa qualidade. Fez-se com aragonês (42%), trincadeira (27%), sirah (21%) ealicante bouschet (10%). É um néctar que não sendo linear também não foge para o curioso. É um vinho que preferi no nariz, com frutos dos bosque e um leve chocolate preto. Na boca é elegante, com taninos suaves.
.
Torre do Frade Viognier 2011 (100% viognier) atira-se para outro degrau, sendo claramente superior ao Virgo. É muito estruturado, untuoso, guloso e com mineralidade. Possui um final que se prolonga. É muito elegante. No nariz é menos complexo, mas com uma agradável parede cítrica, temperada por pêssego em passa.
.
Torre do Frade Reserva 2007 é de babar, pasmar e comentar. Está do melhor, com complexidade nas provas olfactiva e gustativa. Fez-se com 50% de alicante bouschet, 33% de trincadeira e 17% de aragonês. É muito completo, com mirtilo, amoras, ameixa preta, chocolate preto, notas balsâmicas, finura de noz-moscada e cravo-cabecinha. Na boca é potente, com acidez, prolongado no final.
.
.
.
Virgo Branco 2012
Origem: Regional Alentejano
Nota: 6,5/10
.
Virgo Tinto 2010
Origem: Regional Alentejano
Nota: 6/10
.
Torre do Frade Viognier 2011
Origem: Regional Alentejano
Nota: 7,5/10
.
Torre do Frade Reserva 2007
Origem: Regional Alentejano
Nota: 8/10

domingo, agosto 04, 2013

José de Sousa Mayor 2009

Depois do que escrevi ontem, não tenho muito a acrescentar. Apenas que este vinho pretende ser um retrato mais fiel aos néctares originais da casa. Neste surge novamente a referência à colheita de 1940. Parece que foi tão notável que o José de Sousa Mayor tenta acertar-lhe.
.
As uvas que fazem este néctar vêm de vinhas velhas e são colhidas à mão e pisadas a pé, em lagares. Tal como a versão «normal», o Mayor fez-se com uvas das cultivares grand noir (49%), trincadeira (28%) e aragonês (23%).
.
O texto de suporte técnico refere: «Parte dos cachos são pisados e desengaçados manualmente num pequeno lagar, exactamente como nos séculos XVIII e XIX, parte das massas e do mosto são transferidos para talhas de barro e o restante para lagares de maior dimensão, onde fermenta a 26ºC, durante dez dias, fazendo nas talhas uma maceração pelicular de mais duas semanas. Após a primeira trasfega o vinho vai envelhecer directamente nos cascos. No final deste estágio, é feito o lote final que é depois transferido para Azeitão [onde se situa o principal centro vinícola da empresa], onde é engarrafado, sem ser filtrado ou estabilizado pelo frio. Esta colheita estagiou em cascos de madeira nova de carvalho francês por um período de 11meses. Foi engarrafado sem ser filtrado».
.
É tão mais fácil fazer «corta e cola» deste palavreado técnico... Não sei como não me lembrei de o fazer mais cedo...
.
As provas sensoriais são, também elas, irmãs das verificadas no «normal», porém em densidades diferentes e proporções diferentes. Como seria de esperar, o Mayor é maior, cria mais apetite e prazer.
.
Ao nariz vêm muitas tâmaras, folhagem seca, tabaco, noz moscada e um leve cravo-cabecinha. Na boca mostra-se frutado, com tâmaras e ameixas, revela taninos elegantes e com um final de boca prolongado.
.
.
.
Origem: Regional Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 8/10
.
Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

sábado, agosto 03, 2013

José de Sousa 2011

Quem gosta de vinhos há alguns anos e tem memória... os José de Sousa é mais do que um clássico. Não tem tempo, ganhou estatuto de referência. Nas propriedades, que foram de José de Sousa Rosado Fernandes, cultivam-se vides desde, pelo menos, 1878.
.
A marca José de Sousa é mais recente. Não sei ao certo quando surgiu a primeira colheita engarrafada e com rótulo. A empresa que actualmente tem a marca e a propriedade elogia a colheita de 1940. Portanto, a referência comercial existe há, pelo menos, 72 anos.
.
Os tempos eram outros. Diferentes conhecimentos e tecnologias, gostos diferentes, exigências não coincidentes quanto a estágios. O mundo é composto de mudança, como dizia o Camões.
.
Dos 120 hectares da Herdade do Monte da Ribeira, situada em Reguengos de Monsaraz, 72 são de vinha, toda ela cravada em solo granítico. As variedades plantadas são, desde o começo da memória dos anos de 1950, as grand noir, trincadeira e aragonês.
.
O presente vinho fez-se nas seguintes proporções: grand noir 47%, trincadeira 33% e aragonês 20%. Uma pequena parte do todo fermentou em potes de barro (as tradicionais talhas alentejanas, caídas em desuso e sem quem as saiba fazer), o resto foi em inox. Posteriormente realizou-se um estágio de oito meses, em barricas novas de carvalhos francês e americano.
.
Disso tudo resulta um vinho complexo, tanto nas provas olfactiva e gustativa. Diz a ficha técnica, com a qual concordo a 100%, que no nariz mostra tâmaras, folha de tabaco, granito, violetas, figos, ameixas e baunilha. A boca é macia, com taninos domesticados e que se mostram. Um final de boca contente.
.
.
.
Origem: Regional Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca

Nota: 7/10
.
Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

sexta-feira, agosto 02, 2013

O vinho é caro em Portugal?

Ora vamos a contas... quantas e quantas vezes me dizem que cinco euros por um vinho é muito ou é o máximo que dão por um.
.
Quem o afirma terá as suas razões e não quero argumentar quanto a conhecimento doutras realidades, acerca da qualidade, gosto pessoal ou relação entre qualidade de preço. Todas essas considerações são meramente pessoais.
.
O que é mais objectivo é o custo de fazer vinho. Ninguém ganha muito ou chega a ganhar com os preços que pratica. Ou perde dinheiro ou apenas tenta escoar stock ou pratica ciências ocultas.
.
Segundo me constou, por diversas vezes, 90% do mercado português de vinho faz-se abaixo dos cinco euros por garrafa de 0,75 litros, sendo que 80% estão abaixo dos três euros. Visto tanta gente mo dizer, tendo a achar que essas informações são verdadeiras, muito embora não tenha encontrado na internet nenhum sítio credível que o atestasse... mas também não perdi muito tempo com essa tarefa.
.
O que sei é que nos hipermercados e supermercados, estruturas comerciais que dominam o negócio da distribuição, e ainda nas tradicionais mercearias de bairro, as prateleiras parecem traduzir essa fé dos patamares abaixo dos cinco euros e dos três euros. Segundo números da Nielsen, citados pela Revista de Vinhos, referentes a 2012, uma garrafa de vinho custa, em média, 1,50 euros nas grandes superfícies.
.
Seja como for, a minha experiência é que a maioria das pessoas (com quem me dou) acha que cinco euros por um vinho é uma loucura. Porém, muitos bebem o seu café ou comem uma torrada na pastelaria da esquina.
.
Deixando de lado o custo de matéria-prima, de transporte e transformação... Deixando de lado o pão torrado, em que a situação é ainda mais flagrante, veja-se o preço do café, a vulgar bica. Neste momento em que escrevo, uma bica custa normalmente 60 cêntimos...
.
Vamos a contas: assim, 60 cêntimos por 30 mililitros de café corresponderá X euros por garrafa de 0,750 mililitros. Ou seja, 15 euros por garrafa. E com 15 euros já se compram muitos bons vinhos.

Lan a Mano 2009

Uau! Grande vinho! Encantou-me toda a pujança deste tinto riojano.
.
Do princípio ao fim, cada trago que dei, senti o poder duma carga de cavalaria hussarda. Uma elite de cavaleiros que criou fama na Europa de Leste. Gente nobre de sabre na mão.
.
Não estava à espera disto. Aliás, não estava à espera de nada. Uma surpresa absoluta.
.
Ficou-me na memória. Uma pujança de vinho, com bastantes notas de madeira (gosto de madeira, não apenas... mas gosto bastante), porém equilibradas com fruta (frutinha a mais cansa-me).
.
Este vinho estagiou sete meses em barricas novas de carvalho francês e quatro em barricas novas de carvalho do Cáucaso. De início, as notas de madeira predominam. Vão desvendando mirtilos e amoras, a compota de ameixa. Tem aroma de café e de cacau.
.
Na boca apresenta-se com grande estrutura, com taninos com personalidade vincada, com profundidade e notas minerais. O final de boca, meus amigos... que final!
.
Como o nome indica, as uvas foram apanhadas à mão. Tinha de dizer esta. E assim termino.
.
.
.
Origem: Rioja
Produtor: Bodegas Lan / Sogrape
Nota: 8,5/10
.
Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quinta-feira, agosto 01, 2013

Novidades da Quinta da Lagoalva de Cima

Gostei da família Campilho logo no dia, no momento, que a conheci. Fazia eu uma reportagem, para o programa Da Terra Ao Mar (RTP 2), sobre o azeite da casa. Quem conhece Manuel Campilho, o boss dos bosses, sabe como é o seu linguajar e a sua simpatia. Desarmou-me com uma tirada, mas isso é coisa que talvez um dia conte.
.
Feitas as filmagens, almocei na casa da quinta, um palacete do século XVIII (se não me enganam os olhos). Serviram uns ovos que guardo na memória – é da tradição da casa comerem ovos a todas, ou quase todas, refeições. Voltei lá, umas quantas vezes, a almoçar e nem sempre tive a sorte de comer os benditos ovos. Azaritos...
.
A Quinta da Lagoalva de Cima é uma grande propriedade no concelho de Alpiarça e tradicional: vinho, cortiça, azeite, cavalos puro-sangue lusitano, gado, etc. Mas, é claro, que nos píncaros estão os vinhos e os cavalos.
.
Há coisa de um mês ou dois, a família Campilho apresentou as suas novidades, num almoço no Clube dos Jornalistas. Estava bom tempo, temperatura amável e a comida foi um regalo. Foram apresentados 12 vinhos (na verdade 14) e o azeite Quinta da Lagalva Azeite Virgem Extra, feito com azeitonas das cultivares italianas frantoio e moraiolo. As árvores têm 200 anos e foram introduzidas por uma antepassada com nascimento na Toscânia, donde trouxe também uma tonalidade verde muito particular e que se tornou «emblema» da família dos duques de Palmela, da qual fazem parte.
.
Para não estar a maçar o leitor (e a mim) com uma tonelada de descritores, que penso serem quase sempre dispensáveis e muito enfadonhos, passo a notar as características comuns que encontrei.
.
Uma realidade dos vinhos da Lagoalva é a sua frescura. É um dom da natureza que Diogo Campilho, o enólogo, sabe aproveitar. Embora repita constantemente que não me interessa nada a definição de boa relação entre a qualidade e o preço, tenho, neste caso, de a sublinhar. São vinhos muito bons e com preço acessível. Apostas seguras.
.
Os brancos mostram, com maior ou menor intensidade, notas cítricas e minerais. Os tintos revelam-se bem estruturados. E todos, como já salientei, com boa frescura. Refiro apenas as castas.
.
Quinta da Lagoalva Talhão 1 2012 (branco): alvarinho, arinto, fernão pires, sauvignon blanc e verdelho (não é a casta espanhola verdejo).
.
Quinta da Lagoalva Sauvignon 2012: sauvignon blanc.
.
Lagoalva Espírito Reserva Branco 2011: chardonnay.
.
Quinta da Lagoalva de Cima Arinto e Chardonnay 2012 (Reserva): arinto e chardonnay.
.
Quinta da Lagoalva Rosé 1 2012: alvarinho, alvarelhão, syrah e touriga nacional.
.
Espírito Lagoalva 2011 (tinto): castelão e touriga nacional.
.
Quinta da Lagoalva Castelão Touriga 2011: castelão e touriga nacional.
.
Quinta da Lagoalva Reserva Tinto 2011: alfrocheiro, touriga nacional e syrah.
.
Quinta da Lagoalva de Cima Grande Escolha Syrah-Touriga Nacional 2011: touriga nacional e syrah.
.
Quinta da Lagoalva de Cima Grande Escolha Syrah 2010: syrah.
.
Quinta da Lagoalva de Cima Grande Escolha Alfrocheiro 2009: alfrocheiro.
.
Dona Isabel Juliana 2009: alfrocheiro, alicante bouschet, tanat e syrah. Visto tratar-se dum vinho de homenagem a uma pessoa, neste caso a matriarca e avó do enólogo (referir toda a descendência ser... entendem-me, não entendem?), abstenho-me de lhe dar uma nota. Mas não posso deixar escapar um comentário: grande vinho!
.
Foram ainda servidos o Quinta da Lagoalva de Cima Late Harvest 2012 (riesling e gewurztraminer) e Quinta da Lagoalva de Cima Licoroso 2008 (tannat), mas não lhes dei a devida atenção para agora os comentar.
.
.
Quinta da Lagoalva Talhão 1 2012
Nota: 6/10
.
Quinta da Lagoalva Sauvignon 2012
Nota: 5,5/10
.
Lagoalva Espírito Reserva Branco 2011
Nota: 6,5/10
.
Quinta da Lagoalva de Cima Arinto e Chardonnay 2012
Nota: 7,5/10
.
Quinta da Lagoalva Rosé 1 2012
Nota: 6/10
.
Espírito Lagoalva 2011 (tinto)
Nota: 5/10
.
Quinta da Lagoalva Castelão Touriga 2011
Nota: 6/10
.
Quinta da Lagoalva Reserva Tinto 2011
Nota: 6,5/10
.
Quinta da Lagoalva de Cima Grande Escolha Syrah-Touriga Nacional 2011
Nota: 6,5/10
.
Quinta da Lagoalva de Cima Grande Escolha Syrah 2010
Nota: 7/10
.
Quinta da Lagoalva de Cima Grande Escolha Alfrocheiro 2009
Nota: 7,5/10