segunda-feira, dezembro 05, 2016

Intermarché celebra 25 anos em Portugal

O Intermarché assinala 25 anos de actividade em Portugal e, para comemorar, avançou com uma colecção de vinhos. É um passeio pelo país conduzido por alguns dos melhores enólogos do país.
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As empresas de distribuição terem vinhos próprios não é novidade. Diferente é apresentarem vinhos com interesse. Enquanto uns vendem, cada vez mais, sucata, outros interessam-se em respeitar o consumidor.
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O Intermarché está a apostar na qualidade. Para a festa dos 25 anos, cada enólogo escolhido é, além de reconhecida competência, referência em algumas regiões: Rui Reguinga (Alentejo e Douro), Paulo Laureano (Alentejo), Jaime Quendera (Península de Setúbal) e Anselmo Mendes (Vinho Verde).
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Rui Reguinga assina um tinto da sub-região de Portalegre, referente a 2014, elaborado com uvas alicante bouschet, aragonês, grand noir e trincadeira. É também o responsável pelo Douro, também de 2014, feito com tinta roriz, touriga franca e touriga nacional.
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Paulo Laureano criou um tinto, na sub-região da Vidigueira, referente à vindima de 2014. As castas usadas foram as alicante bouschet, aragonês, tinta grossa e trincadeira.
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Através da Casa Ermelinda Freitas, Jaime Quendera apresenta um tinto de 2013, produzido à partir de cabernet sauvignon, syrah e touriga nacional.
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Por fim, Anselmo Mendes é responsável pelo único branco da colecção. Trata-se dum alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço, referente a 2015.

Murça Minas 2015 + Murça Margem 2015

O Esporão avançou com duas novidades produzidas na Quinta dos Murças, no Douro. Tratam-se de dois tintos, referentes à vindima de 2015. Não desiludem quanto ao reflexo do que é a região. Porém, não me preencheram as expectativas.
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O Murça Minas 2015 é filho de tinta francisca, tinta roriz, tinto cão, touriga franca e touriga nacional. A fruta foi prensada a pé e numa prensa vertical. Estagiou em cubas de betão e em barricas usadas de carvalho francês.
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Tornou-se hábito em Portugal desdenhar do estágio em madeira, apontando-lhes efeitos desnecessários. Penso que, em 99% dos casos, trata-se de conversa para não dizer contenção de custos.
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Juntamente com o queixume da madeira, apareceu a ditadura da fruta. A fruta faz parte, mas não é – para mim – factor de necessária bonificação. Fruta, frutinha e flores em conta, peso e medida.
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Repare-se que os vinhos de topo continuam a penar os padecimentos causados pela malvada madeira. Cada um sabe o que faz e o que quer. Não sei – porque não o posso saber – se aqui a opção da madeira usada e da cubas em betão foi apenas enológica ou também para responder a menor encargo.
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Não sou caruncho, mas gosto de madeira. Neste caso em concreto, falta-lhe madeira. É um vinho vivo em fruta, além do meu gosto. Reafirmo o que sempre disse: as minhas palavras não são lei, as avaliações são subjectivas e inteiramente pessoais. Não reporto falta de qualidade ao vinho, assinalo as preferências.
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Apreciei mais o Murça Margem 2015, mas continuo a achar que lhe faltou madeira. Parece que lhe falta uma parede na estrutura e tempero na boca. Ao mesmo tempo, essa natureza de pomar excede a minha preferência.
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O Murça Margem 2015 fez-se com uvas touriga franca e touriga nacional. Os bagos foram esmagados a pé e em prensa vertical. O vinho estagiou nove meses em barricas usadas de carvalho francês.
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Seria extremamente injusto da minha parte classificar mal estes vinhos, apesar de, face às expectativas, ficarem abaixo. Seria injusto para a equipa de enologia e para a empresa, no seu todo. É uma casa que se tem mostrado pioneira nos cuidados ambientais, seja na vinha, seja na adega, com trabalho rigoroso, consistência no carácter da produção e fiável na qualidade.
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Aliás, apesar das palavras surgirem com um tom crítico, estes dois vinhos têm virtude. São dois belíssimos vinhos, que simplesmente não me preenchem inteiramente – gosto pessoal, reafirmo. As notas atribuídas são inequivocamente positivas.
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Murça Minas 2015
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Origem: Douro
Produtor: Esporão
Nota: 5/10
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Murça Margem 2015
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Origem: Douro
Produtor: Esporão
Nota: 6/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

Grandes Quintas Douro Reserva Tinto 2013 + Grandes Quintas Colheita Tinto 2014

Vejo algum pudor, em alguns meios, e afirmar a sua preferência por uma região. A justificação é basicamente a de que em «toda a parte» se fazem bons vinhos e que escolher uma é redutor. Reconheço que nos tintos tenho uma enorme inclinação para o Douro.
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A Casa de Arrochella tem-me mostrado tintos que não me desiludem, quer como apreciador duriense quer como enófilo. Vêm agora ao caso dois Grandes Quintas que são a região – aquilo que lhe valorizo. É habitual neste produtor.
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O Grandes Quintas Colheita Tinto 2014 tem o ADN do produtor e da região. Não se trata dum vinho de grande deslumbre, mas é um exemplar que dá bom contentamento e acompanha bem pratos de carne vermelha. Fez-se com tinta roriz, tinto cão, touriga franca e touriga nacional.
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O Grandes Quintas Douro Reserva Tinto 2013 é um vinhaço amigo, daqueles que me caem muito bem quando a temperatura baixa. Não é quente ou pesado, é substancial e com frescura. Fez-se com tinta amarela, tinta roriz e touriga nacional. Estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês.
Grandes Quintas Colheita Tinto 2014
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Origem: Douro
Produtor: Casa de Arrochella
Nota: 6/10
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Grandes Quintas Douro Reserva Tinto 2013
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Origem: Douro
Produtor: Casa de Arrochella
Nota: 7/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

Caiado Branco 2015 + Caiado Rosé 2015 + Caiado Tinto 2015

A Adega Mayor nasceu certeira. Não sendo uma firma antiga, tem apresentado consistência. Isto traduz-se numa qualidade regular, factor que valorizo muito, pois gosto de saber o que compro e não de surpresas.
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Aliás, surpresas só as que decorrem da diferenciação dos anos ou da característica do lote. O que não gosto é da oscilação da qualidade.
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Chegaram-me, faz meses, a colecção dos Caiados, referência popular da Adega Mayor. Comprova-se o profissionalismo da empresa e, obviamente, da equipa técnica. São três vinhos fáceis de gostar e com vocação gastronómica.
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Caiado Branco 2015
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Adega Mayor
Nota: 5/10
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Caiado Rosé 2015
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Adega Mayor
Nota: 5/10
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Caiado Tinto 2015
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Adega Mayor
Nota: 4/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor

terça-feira, novembro 22, 2016

H'Our Branco 2015 + H'Our Rosé 2015 + H'Our Tinto 2012 + H'Our Azeite Virgem Extra 2015

A região do Douro tem sido feliz. O potencial existe, mas se não houver quem saiba trabalhar duvido que o resultado seja, na melhor hipótese, interessante. Muitas firmas antigas, outras recentes, outras familiares, pequenas e grandes têm estado a fazer bem.
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Aqui, quando digo feliz não me cinjo apenas à qualidade, que pode não sair do estilo comum, mas ainda à diferenciação. É comum, demasiadamente, falar em terroir: tudo é um terroir. Toda a gente tem um terroir ou mais. Não sei de agronomia, biologia e enologia para sentenciar o que é esse atributo.
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Não sei de agronomia, biologia e enologia, mas sei de resultados finais. Como a natureza não faz vinho, o homem tem de fazer parte do terroir – o factor humano espelha-se em tudo, desde a agricultura até às opções na adega. Para mim, o terroir é uma equação e não uma graça divina ou mágica ou de sorte.
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O H’Our Branco 2015 caiu-me no goto. Apresentei-o aos amigos, que não fazem favores nem se impressionam facilmente, e a apreciação foi unânime. Este vinho fez-se com uvas duma vinha velha, onde as castas se baralham, verdelho e rabigato.
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A firma Parceiros na Comunicação é jovem, tal como os seus promotores, e fez o seu primeiro rosado na vindima de 2015. Em Portugal, apesar do Mateus e do Lancers, os vinhos rosés não tinham (têm) tradição. Na moda de nicho do século XXI surgiram vários, muitas vezes pesados, chatos e adocicados.
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Não é o caso do H’Our Rosé 2015. Embora com 14% de álcool, tem uma acidez que maravilha. Apesar de ser processado por sangria, aproveitamento de uvas produzidas para tinto e não colhidas muito mais cedo, nada o indica. Metade do lote é de touriga nacional e a parte restante proveniente duma vinha velha.
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O H’Our Tinto 2012 mantém a frescura notada nos vinhos anteriormente referidos. É o Douro, nos seus aromas terrosos, de esteva e rosmaninho. O lote fez-se com uvas duma vinha velha (80%), touriga nacional (10%) e sousão (10%). Estagiou um ano em barricas usadas, de 225 litros, de carvalho francês.
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A Parceiros na Comunicação faz ainda um azeite virgem extra, a partir das cultivares cobrançosa, madural, negrinha e verdeal... epá! Gosto muito!
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H’Our Branco 2015
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Origem: Douro
Produtor: Parceiros na Comunicação
Nota: 8/10
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H’Our Rosé 2015
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Origem: Douro
Produtor: Parceiros na Comunicação
Nota: 6/10
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H’Our Tinto 2012
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Origem: Douro
Produtor: Parceiros na Comunicação
Nota: 7/10

Ninfa Branco Maria Gomes 2015 + Ninfa Rosé 2015

João M Barbosa insiste em fazer vinhos de que gosto muito. Estes Ninfa são descontraídos, mas são mais do que Sol e praia. Elegantes e prazenteiros. Sabem estar à mesa, com comidas menos pesadas, e onde apeteça para a conversa.
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O Ninfa Branco Maria Gomes 2015 fez-se com uvas duma só vinha. O Ninfa Rosé 2015 resulta de frutos alfrocheiro e aragonês. Os dois são mais uma prova de que o Tejo está a conseguir fazer esquecer o Ribatejo – apesar de terem existido bons com essa denominação.
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Ninfa Branco Maria Gomes 2015
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Origem: Regional Tejo
Produtor: João M. Barbosa
Nota: 6/10
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Ninfa Rosé 2015
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Origem: Regional Tejo
Produtor: João M. Barbosa
Nota: 7/10

quinta-feira, outubro 20, 2016

Vertical de Tinto da Talha Grande Escolha - 2003 a 2010 saltando 2009

Apanhei um elevador de Redondo, aqui em Lisboa, e confirmei que os mitos servem para iludir e serem desmascarados. Ou seja, quem diz que os vinhos do Alentejo não aguentam a passagem dos anos engana-se.
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A Roquevale enviou-me para prova sete vinhos de Tinto da Talha Grande Escolha, referentes aos anos de 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2010. Para quem não está ainda familiarizado com a nomenclatura vínica, a estas degustações designam-se por «verticais».
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Para quem não é profissional da escrita vínica trata-se de tarefa complicada. Desde mais porque o blogue é assumidamente amador, não científico (se isso existe na prova) e subjectivo. Portanto, precisei de ajuda. Com significativo atraso, face à data de recepção, organizou-se o momento.
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O atraso é de praticamente um ano. Lamento, mas, embora profissional da escrita, sou apenas bloguista de vinho. Para além de mim, participaram o Sérgio, a B., a D. e o J.
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Limito-me às opiniões manifestadas a escrever as manifestações. Desta vez, não serão dadas notas. Por razões:
1)      Os vinhos têm diferentes idades, sendo de 2003 a 2010.
2)      Só eu e o Sérgio comentámos todos os vinhos e demos notas de pontuação. Porém, as nossas escalas, embora decimais, não são compatíveis, devido à minha ser excêntrica e, por isso, não é óbvia – o 3 é positivo e é aberta como a escala sísmica de Richter.
3)      Só eu e o Sérgio comentámos todos os vinhos.
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A ordem de serviço dos vinhos não é unânime. Há quem prefira começar pelos mais jovens e outros pelos mais antigos. Prefiro começar pelos mais antigos, pois tendem a ser mais frágeis e seriam prejudicados se fossem apresentados pela ordem inversa.
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No email que me enviou, a 13 de Novembro de 2015, a enóloga informou que a marca Tinto da Talha surgiu em 1989. Joana Roque do Vale lançou o Tinto da Talha Grande Escolha em 2003, «como uma aposta para cima a um preço bastante acessível».
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Quanto a valores e relações entre qualidade e preço mantenho-me fiel na não pronunciação. Cada um sabe da sua carteira, do seu prazer, disponibilidade financeira e patamar nominal. Bem, avanço.
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Com excepção do 2003, que (penso) atingiu o seu ponto mais alto, a generalidade destes vinhos tem ainda anos de vida pela frente. O caso do 2006 é, para mim, interessante, pois revela já aromas terciário, mas a frescura natural e a rugosidade fazem-me querer que será ainda motivo de conversa.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2003 foi o estreante e fez-se com touriga nacional e aragonês. Mostra positivamente sinais da passagem do tempo, com vida pela frente. O Sérgio, que o notou com garra e secura, sentenciou-o como um dos melhores da prova. A D. sentiu-o áspero. Para mim, este ganhou.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2004 conheceu uma formulação diferente, conjugando syrah e touriga nacional. Está mais jovem, não na proporção do tempo, ainda com o chocolate preto, coisa em que a casta francesa costuma ser fiel. Serviu considerou-o superior aos 2003 e eu, pelo que já se percebeu, discordei. A D. não disse muito e, tal como em relação ao anterior, J. e B. mantiveram-se silenciosos.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2005 é um lote de touriga nacional e aragonês. Achei-o fechado e quando abriu notei-o menos vivo do que o anterior. B. não o apreciou de todo, Sérgio colocou-o acima do 2004 e voltei a divergir.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2006 é resultado de syrah e touriga nacional, mais marcado pelos anos do que os precedentes (excepto 2003), mostrando um agradável aroma de pelica. Elegi-o como o terceiro da prova. Curiosamente, a opinião do Sérgio (não na tabela das preferências) foi bastante próxima da minha. Finalmente, J. decidiu falar, para dizer que preferia o primeiro (2003). B. achou-o «forte» (encorpado) e D. disse ser «muito equilibrado».
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2007 é a junção de syrah e alicante bouschet e está com frescura e gostei da sua aspereza suave. Tanto o Sérgio como moi même colocámo-lo a meio da tabela. D. disse que era fácil de se gostar, embora não lhe tivesse caído totalmente no goto.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2008 fez-se com aragonês e alicante bouschet. Este foi o mais consensual e, se tivesse havido votação, teria sido eleito o melhor da prova. Não fosse a minha admiração pelo estado de vida do 2003 e seria minha preferência. O Sérgio deu-lhe a sua mais alta pontuação. J. achou-o o melhor. D. gostou bastante. B. disse:
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– Gosto. É o melhor de todos.
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Para o Sérgio é «mais suave do que o anterior, mas não tão rico de aromas».
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2010 fez-se com aragonês e touriga nacional. Quando chegou, era novidade. Provado há um mês, sensivelmente, está jovem e promete caminhar pelo tempo. Verdadeiramente, apenas J. falou e para lhe elogiar a acidez. A justiça do tempo é relativa. Lendo os comentários que recolhi, terá de esperar para mostrar a personalidade.
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

domingo, agosto 21, 2016

Três Bagos Branco 2015 + Três Bagos Sauvignon Blanc 2015 + Três Bagos Reserva Tinto 2013 + Três Bagos Grande Escolha Tinto 2011 + Três Bagos Grande Escolha Estágio Prolongado Tinto 2005

A firma Lavradores de Feitoria apresentou cinco vinhos. Nenhum é propriamente vinho de Verão, têm características que os tornam indicados para temperaturas mais frescas e comidas com mais substância do que saladas, peixes grelhados, mariscos…
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Três Bagos Branco 2015 resulta do lote típico de castas do Douro: gouveio, rabigato e viosinho. É um vinho com frescura e estrutura.
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Três Bagos Sauvignon Blanc 2015 é exuberante nos aromas e mais fresco na boca do que na percepção olfactiva. É guloso e com 13% de álcool é precisa já alguma prudência.
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Três Bagos Reserva Tinto 2013 está «qualquer coisa». Ou como, há uns anos, diziam os miúdos: «está muito lá»! É o Douro! Fez-se com tinta roriz, touriga franca e touriga nacional. Durante 11 meses, metade do vinho estagiou em inox, 25% em barricas novas de carvalho francês e 25% em barricas de segundo ano.
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Agora vêm os problemáticos! No bom sentido. Dois tintos ousados; poucos produtores se arriscam no conceito. Saber esperar não é arte apenas dos chineses.
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O ano 2011 está na história. Três Bagos Grande Escolha Tinto 2011 confirma-o. É o Douro, é o ano e a vida. As uvas vieram duma vinha velha, suponho que daquelas onde se misturam como uma família. Metade da fermentação fez-se em lagar de granito e a outra parte em balseiros de carvalho, com maceração prolongada. Não sei o que possa escrever que acrescente… os descritores de prova são tantas vezes maçadores e redutores… é beber e depois contar.
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Três Bagos Grande Escolha Estágio Prolongado Tinto 2005 é um dos que onde tudo se resume a quase nada. Custa-me palavrar quando cada boca e cada nariz irão julgar de toda a maneira. A complexidade e riqueza são enormes. Vagarosamente. Muito vagarosamente.
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Três Bagos Branco 2015
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Origem: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria
Nota: 5/10
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Três Bagos Sauvignon Blanc 2015
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Origem: Regional Duriense
Produtor: Lavradores de Feitoria
Nota: 6/10
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Três Bagos Reserva Tinto 2013
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Origem: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria
Nota: 7/10
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Três Bagos Grande Escolha Tinto 2011
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Origem: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria
Nota: 8,5/10
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Três Bagos Grande Escolha Estágio Prolongado Tinto 2005
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Origem: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria

Nota: 9/10

sábado, agosto 20, 2016

BSE 2015 + Colecção Privada Sauvignon Blanc 2015

Este Verão não tem sido fácil! Mas é a fruta da época, que veio abundante na minha colheita.
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Embora pareça, a minha vida não se faz no vinho. Letrinhas, vírgulas e outras coisas que existem nos teclados e nas pontas dos lápis e canetas. Daí, que ande atrasado na blogosfera.
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O Verão vai quente e há ainda muito sol para escaldões. Dos lados de Azeitão vieram dois brancos. Um incontornável e outro a caminho.
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O mais fácil de comentar é o mais difícil. Sobre este vinho, ano após ano, já escreveu muito. É um parente, conhecemo-lo todos. O BSE (Branco Seco Especial) é fiável, algo que valorizo em tudo. Em quase tudo gosto de não ter surpresas e ainda menos sobressaltos.
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Da esplanada ao churrasco (fora das matas), da comida leve à conversa. Com a virtude dos 12,3% de álcool. Tem a particularidade de a casta antão vaz não me incomodar, coisa raríssima. E tem-na em abundância (55%) – a equipa de enologia da José Maria da Fonseca é como a Regisconta! «Aquela máquina»! Conta com a arinto (34%) – provavelmente a melhor cultivar branca portuguesa – e fernão pires (11%).
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A casta sauvignon blanc, quando a sabem agarrar, dá vinhos muito sedutores, equilibrados na sensação do doce e do fresco, da fruta algo exótica a verdes de horta. Aqui, nada está exagerado, com o maracujá diluído em kiwi e líchias, e dos espargos à nota de salsa.
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Quem me lê sabe da admiração que tenho por Domingos Soares Franco e sua equipa de enologia. O senhor tem aquilo que se diz(ia) das cozinheiras: tem mão. Não basta aprender nem só trabalhar muito. O talento existe e faz tanta falta quanto os outros aspectos citados – devem completar-se. Assim acontece.
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Aqui o truque está (penso – não sou nem bruxo nem enólogo) nos 15% de verdejo ajuntados ao sauvignon blanc.
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Colecção Privada Domingos Soares Franco Sauvignon Blanc 2015
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7/10
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BSE 2015
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

segunda-feira, julho 25, 2016

Coroa d’Ouro 2015 + Poças Reserva Branco 2015 + Vale de Cavalos 2015 + Símbolo 2015 + Poças Colheita 2001

A firma Poças Júnior é quase centenária (2018), familiar e portuguesa. À frente dos negócios está a quarta geração. É uma casa conhecida pelos Vinhos do Porto da família tawny, mas hoje apresenta também vintage e não produz apenas fortificados.
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A Poças investiu numa campanha artística, com o escultor Luís Mendonça. Quem quiser ver os trabalhos basta clicar aqui.
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A gama compõe-se por quatro marcas do Douro (sete referências – Coroa d’Ouro, Poças Reserva, Vale de Cavalos e Símbolo) e só uma de Porto (17 referências – Poças). Jorge Manuel Pintão, elemento desta quarta geração, dirige a enologia da Poças Júnior, à qual integra também André Barbosa.
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O Coroa d’Ouro 2015 tem aroma delicado, juntando ao citrino o floral notas térreas. Na boca é fresco e boa estrutura. É para ir para a mesa. As uvas vêm de duas origens: São João da Pesqueira (Cima Corgo) e Numão (Douro Superior). As castas são códega, malvasia fina, moscatel galego, rabigato e viosinho. O vinho fez-se exclusivamente em cubas de inox.
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O Poças Reserva Branco 2015 é um vinho mas complexo. Olfactivamente tem gulodice, não sendo doce, notas fumadas. Não é exuberante. Na boca está bem acima, com frescura, gordura e final longo. É obrigatório sentá-lo à mesa.
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Não posso dizer muito sobre o Vale de Cavalos 2015. Quando o provei estava jovem. Dá indicações positivas, com acidez, mas foi cedo. Fez-se com as «obrigatórias» tinta barroca, touriga franca e touriga nacional. A firma agendou o lançamento para 2017.
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O Símbolo 2015 é um típico Douro e com as feições que mais gosto. Fez-se com as típicas tinta barroca, tinta roriz, touriga franca, touriga nacional. O vinho estagiou 18 meses em barricas de carvalhos americano e francês. Gosto das ervas secas, uma pitada de lenha de azinho, tabaco louro e uma suave ginja. Tem óptima estrutura, final duradouro e frescura, prometendo viver bom tempo em garrafa.
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Eis chegado à grande especialidade da casa, Porto da família tawny. É o Poças Colheita 2001, filho de Ervedosa do Douro (Cima Corgo) e Numão (Douro Superior), com as uvas tinta barroca, tinta roriz, tinto cão, touriga franca e touriga nacional. Guarda a razão por que o Vinho do Porto tem o carisma que tem. Muito rico de aroma e extraordinário na boca.
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Coroa d’Ouro 2015
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Produtor: Poças Júnior
Origem: Douro
Nota: 5,5/10
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Poças Reserva Branco 2015
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Produtor: Poças Júnior
Origem: Douro
Nota: 6,5/10
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Símbolo 2015
Produtor: Poças Júnior
Origem: Douro
Nota: 8/10
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Poças Colheita 2001
Produtor: Poças Júnior
Origem: Porto
Nota: 9/10

domingo, julho 24, 2016

Monte da Raposinha Branco 2015 + Monte da Raposinha Rosé 2015 + Atayde Branco Reserva 2014 + Nós Tinto 2014 + Monte da Raposinha Tinto 2013 + Maria Antonieta 2013 + Athayde Grande Escolha 2013 + Furtiva Lágrima 2013

Visitei duas vezes o Monte da Raposinha, próximo de Montargil, e vim feliz. Pela simpatia natural da família Ataíde e pelos vinhos que fazem com gosto. Este ano tive direito a um improvisado espectáculo de canto, pois que a música vive por ali.
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«Una Furtiva Lagrima», área da ópera «O Elixir do Amor», de Gaetano Donizetti, é igualmente um dos expoentes do Monte da Raposinha. Nuno Ataíde, o patriarca, tem uma belíssima voz, que enche o espaço. João Ataíde, quem dá o corpo pela casa, tem um cantar mais fresco, fruto certamente de ser mais jovem. E sabem cantar!
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A propriedade tem 150 hectares, dos quais 15 são de vinha. A enologia está entregue a Susana Esteban, que assina vários excelentes vinhos do Alentejo e do Douro.
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Quando alguém diz que «este Alentejo é mais fresco» está a dizer que não tão quente quanto outros locais. É como dizer que um Fórmula 1 é lento só porque não tem a pole position. Isto para dizer da frescura dos vinhos do Monte da Raposinha.
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Nesta última visita, a porta do Inferno estava aberta. É fácil a temperatura dos vinhos despistar-se no Verão. Ora… se não fossem os bons termómetros a sentenciar os valores e ninguém acreditaria, tal o frescor natural.
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O primeiro vinho da prova foi o Monte da Raposinha Branco 2015, um lote de partes iguais de arinto e antão vaz. A primeira faz milagres e a segunda… quem me lê sabe o que penso. Porém, está longe de ser enjoativo ou de algum modo excessivo.
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O Monte da Raposinha Rosé 2015 fez-se em bica aberta e não sangria. É obviamente notória a diferença entre um rosado e um subproduto do tinto. Trata-se de lote de touriga nacional (60%) e de aragonês (40%). É um pouco fechado de aroma, mas na boca acelera e recomenda-se para além da piscina.
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O Atayde Branco Reserva 2014 é um vinho com maior complexidade do que os anteriores. Não é um branco de Verão. Fez-se com uvas chardonnay (60%) e sauvignon blanc (40%). A primeira dá-lhe gordura e volume e a segunda transmite-lhe vivacidade. Estagiou seis meses em barricas de carvalho francês.
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Quando o provei achei o Nós Tinto 2014 achei-o ainda novo, prometendo ser mais do que estava nesse momento. Gostei do ramalhete de aromas de campo, um grupo de cheiros de ervas e árvores. É um tinto descontraído, feito com alicante bouschet, aragonês, syrah e trincadeira.
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Enquanto o anterior é jovem, o Monte da Raposinha Tinto 2013 já é senhor. É aromaticamente austero e mostra-se duradouro na boca, com final seco.
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O Maria Antonieta 2013 é um tinto complexo, com um aroma fresco, de um ligeiro canabinóide até aos mais notórios mentolados com tempero de pimenta. É guloso, no melhor sentido. Fresco! Trata-se duma homenagem familiar, que certamente fará feliz a homenageada.
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O Athayde Grande Escolha 2013 é um tinto que entra na categoria de «vinho para oferecer ao médico que me operou ao coração». Penso que é um vinho universal, que agrada facilmente, do português até ao esquimó. É complexo e rico de aromas, boa estrutura de boca, fundo e longo. Fez-se com alicante bouschet, syrah e touriga nacional.
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O Furtiva Lágrima 2013 é um tinto da categoria «não levar para o jantar de apresentação aos sogros». Os senhores ficariam a saber bem demais o que o genro/nora gosta da filha/o. É bom não os habituar mal. É sedutor e complexo aromaticamente. É fresco, com nervo, longo na boca e frescura. É 90% alicante bouschet e 10% touriga nacional.
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Monte da Raposinha Branco 2015
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 6/10
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Monte da Raposinha Rosé 2015
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 5/10
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Atayde Branco Reserva 2014
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 6,5/10
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Athayde Branco Reserva 2014
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 7/10
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Nós Tinto 2014
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 4,5/10
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Maria Antonieta 2013
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: X
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Atayde Grande Escolha 2013
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 7,5/10
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Furtiva Lágrima 2013
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Produtor: Monte da Raposinha
Origem: Regional Alentejano
Nota: 8,5/10

sábado, julho 23, 2016

Pancas Branco 2015 + Quinta de Pancas Branco 2015 + Pancas Tinto 2015 + Quinta de Pancas Tinto 2014 + Quinta de Pancas Reserva Tinto 2013

A Quinta de Pancas é uma casa pioneira na renovação da região vitivinícola de Lisboa. A propriedade situa-se a 45 quilómetros a Noroeste da capital e encontra-se numa vertente com boa inclinação e que a protege de maiores calores, entre a Serra de Montejunto e a lezíria do Tejo. Deu nas vistas com a uva cabernet sauvignon.
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A direcção de enologia está entregue a Frederico Vilar Gomes, que tem a responsabilidade de suceder a outro grande enólogo, João Corrêa, falecido em Agosto do ano passado. O testemunho está bem entregue.
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Nos brancos, a entrada de gama é o Pancas, tendo provado o respeitante à colheita de 2015. É um vinho com muita frescura e indicado para comidas mais leves. Fez-se com arinto (40%), fernão pires (40%) e vital (20%). Balança entre a fruta (pomóideas) e a mineralidade, nuns belos 12,5% de álcool. Mais estival é difícil.
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O Quinta de Pancas Branco 2015 tem mais nervo e abalança-se a pratos mais elaborados do que os peixes e mariscos. Fez-se com chardonnay (60%), arinto (30%) e vital (10%). A casta francesa dá-lhe untuosidade sem aquecer o lote, até porque o arinto é refrescante, especialmente na região de Lisboa. Estagiou dois meses sobre borras finas em depósito de inox.
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Quando provado, o Pancas Tinto 2015 estava muito novo. Por isso, abstenho-me de comentar, embora já indique que terá frescura.
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O Quinta de Pancas Tinto 2014 está muito apetitoso e apresenta uma característica rara: um ligeiro aroma a canabinóides, mas sobressaem notas mentoladas. Na boca prolonga-se com final seco. Fez-se com uvas cabernet sauvignon (30%), merlot (30%), touriga nacional (30%) e tinta roriz (10%).
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A cabernet sauvignon desta quinta, que sempre foi elogiada, mostra-se bem e explica o porquê da fama. Esta francesa representa 45% do lote. A touriga nacional (35%) encontra frescura nesta terra, pelo que se aproxima do floral do Dão. O lote completa-se com alicante bouschet (20%). É perigoso! São 14,5% de álcool que chegam de pantufas.
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Pancas Branco 2015
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Produtor: Companhia das Quintas
Origem: Regional Lisboa
Nota: 4,5/10
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Quinta de Pancas Branco 2015
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Produtor: Companhia das Quintas
Origem: Regional Lisboa
Nota: 6/10
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Pancas Tinto 2015
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Produtor: Companhia das Quintas
Origem: Regional Lisboa
Nota: X
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Quinta de Pancas Tinto 2014
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Produtor: Companhia das Quintas
Origem: Regional Lisboa
Nota: 6,5/10
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Quinta de Pancas Reserva Tinto 2013
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Produtor: Companhia das Quintas
Origem: Regional Lisboa
Nota: 7,5/10

sexta-feira, julho 22, 2016

Vidigueira Antão Vaz 2015 + Vidigueira Grande Escolha Branco 2015 + Vidigueira Reserva Branco 2014 + Vidigueira Rosé 2015 + Vidigueira Grande Escolha Tinto 2014

Ou emaluqueci ou o mundo está para acabar. Possivelmente as duas coisas. Esta é uma das raras vezes em que me apanham a elogiar vinhos feitos com a casta antão vaz – costumo espancar.
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Agora sem brincadeiras: a casta antão vaz é da Vidigueira. Foi aí que ganhou fama. É aí onde se expressa com frescura e se mostra muito prazenteira. Não é por acaso que os brancos desta sub-região ganharam fama. No resto do Alentejo… é mais cantigas!
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Como a designação indica, o Vidigueira Antão Vaz 2015 fez-se exclusivamente com uvas desta variedade alentejana. Não é nem sopa nem pão molhado e morno mastigado nem enjoo de fruta excessivamente doce e maçuda nem lenhosa…
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É a expressão do que deve ser. Muito fresco, sábios 12,5% de álcool, permitindo notar-lhe ananás e pêra não totalmente madura e mineralidade. Tem lonjura de boca.
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O Vidigueira Grande Escolha Branco 2015 vem no seguimento do anterior, mantendo a frescura e a mineralidade. À antão vaz foi-lhe acrescentada a casta perrum, que lhe confere alguma complexidade.
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Vidigueira Reserva Branco 2014 está num patamar superior e atira-se para comidas menos estivais. É também resultado da junção de antão vaz com perrum. É mais complexo e longevo na boca. Nele sobressaem notas mais doces, sem serem enjoativas, e de amêndoa torrada.
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O Vidigueira Rosé 2015 é uma escolha acertada para refeições leves, além dos repetidos mariscos e peixes. Vai ainda bem como desinibidor de conversas. Fez-se com uvas aragonês e touriga nacional, apanhadas propositadamente para rosado. O resultado é a feliz graduação de 12,5% de álcool.
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O Vidigueira Grande Escolha Tinto 2015 é o que se pode designar por alentejano. É isto! Não é modernaço nem conservador. Apresenta-se muito indicado para os pratos de carne, do borrego ao bovino. Fez-se com uvas das variedades alicante bouschet e trincadeira. Estagiou um ano em barricas de carvalhos americano e francês.
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Vidigueira Antão Vaz 2015
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Produtor: Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito
Origem: Alentejo (Vidigueira)
Nota: 5,5/10
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Vidigueira Grande Escolha Branco 2014
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Produtor: Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito
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Origem: Alentejo (Vidigueira)
Nota: 6/10
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Vidigueira Reserva Branco 2014
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Produtor: Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito
Origem: Alentejo (Vidigueira)
Nota: 7/10
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Vidigueira Rosé 2015
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Produtor: Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito
Origem: Alentejo (Vidigueira)
Nota: 5/10
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Vidigueira Grande Escolha Tinto 2014
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Produtor: Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito
Origem: Alentejo (Vidigueira)
Nota: 5,5/10

quinta-feira, julho 21, 2016

Vila Flor Tinto Reserva 2013

A Casa d’Arrochella tem vindo a apresentar vinhos de qualidade, ano após ano, patamar a patamar. Digo que se chama consistência e perseverança. Gosto (julgo que todos ou a maioria das pessoas) de saber com o que conto. As oscilações de qualidade não beneficiam ninguém, sobretudo o produtor. Se não existir regularidade, o enófilo só comprará duas vezes: a do ano que gostou e a do que se decepcionou.
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Essa é uma situação que neste caso não se põe de forma alguma. Por vontade do produtor, quer pela política seguida, quer pela escolha de um enólogo com muitas provas dadas: Luís Soares Duarte.
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Este produtor dispõe de 115 hectares de vinhas, espalhados por cinco propriedades, na sub-região do Douro Superior.
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Sou grande apreciador dos tintos do Douro e este cabe-me bem no nariz e na boca. Tem dentro a região, resultado das condições naturais e do lote, composto por uvas de tinta roriz, touriga franca e touriga nacional. Estagiou nove meses em barricas de carvalho francês.
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Vila Flor Tinto Reserva 2013
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Produtor: Grandes Quintas
Origem: Douro
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quarta-feira, julho 20, 2016

Casa do Arrabalde – Avesso Alvarinho Arinto – 2015 + Espinhosos – Avesso Chardonnay – 2015

Aqui se apresentam dois vinhos Regional Minho, um mais conservador e outro arrojado. Tanto um como o outro se apresentam felizes à mesa, especialmente no Verão. A preguiça estival combina bem com Casa do Arrabalde. Já o Espinhosos é mais «quente».
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Não conhecia a A&D Wines. O produtor está estabelecido na sub-região de Baião. A enologia está a cargo de Fernando Moura. Critico a opção de colocar o ano de vindima em local improvável e em caracteres mínimos (no bordo do rótulo e na vertical).
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Não consegui ainda perceber a razão por que muitas pessoas têm ao avesso – gosto. No Casa do Arrabalde, esta casta juntou-se à fresca alvarinho e a gulosa alvarinho. É bem indicado para este tempo quente e com uns felizes 12,5% de álcool.
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O lote do Espinhosos surpreendeu-me. Não estava à espera dum lote de avesso com chardonnay. Resulta bem. Porém, trata-se de um vinho que pede mais mesa do que o anterior, mantendo-se com apetitoso no estio. A casta francesa dá-lhe alguma gordura e calor e a graduação é de 13%.
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Casa do Arrabalde – Avesso Alvarinho Arinto – 2015
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Produtor: A&D Wines
Origem: Regional Minho
Nota: 5,5/10
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Espinosos – Avesso Chardonnay – 2015
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Produtor: A&D Wines
Origem: Regional Minho
Nota: 5/10
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Nota: Os vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

terça-feira, julho 19, 2016

Sossego Branco 2015 + Sossego Rosé 2015 + Sossego Tinto 2014

A Sogrape tem vindo a encontrar nomes muito fixes para as suas marcas. Ao Papa Figos, do Douro, e ao Trinca Bolotas, do Alentejo, junta-se agora o Sossego, também desta região do Sul.
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O sossego é inerente ao campo. Esquecendo as anedotas que põem os alentejanos como preguiçosos, a palavra remete para o (meu) imaginário: as tardes quentes sem fim, do Verão, a sombra de sobreiros e azinheiras e até a quietude que sucede às grandes chuvas.
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Luís Cabral de Almeida assina os vinhos da Herdade do Peso, no Concelho da Vidigueira e na proximidade da Serra do Mendro. Nesta colecção tive prazer e encontro com a minha casta branca maldita – não gosto de antão vaz!
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O Sossego Branco 2015 resulta da junção de uvas das castas antão vaz (75%), arinto (20%) e roupeiro (5%). É um vinho equilibrado e com frescura, certamente com grande responsabilidade da arinto. Não fosse o critério assumidamente pessoal e subjectivo e teria melhor nota. Lamento, mas sou «alérgico». Quem gostar dessa uva tem aqui contentamento.
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O Sossego Rosé 2015 é para beber em calções, embora com atenção, pois a graduação não sendo alta também não é baixa: 13%. É um monovarietal de touriga nacional, com frescura e gulodice, e que vai à mesa e à espreguiçadeira.
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O Sossego Tinto 2014 é como a táctica do 4-4-2 do seleccionador Fernando Santos. Não falha! Independentemente das proporções, a conjugação das castas é fórmula vencedora: aragonês (75%), syrah (15%) e touriga nacional (10%).
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Apetitoso no nariz (pede mesa), boa estrutura e frescura na boca. As suas características, nomeadamente os 13,5% de álcool, recomendam que seja resfriado antes de servir. Por mim, guardava-o para quando as temperaturas do ar começarem a baixar.
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Sossego Branco 2015
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Produtor: Sogrape
Origem: Regional Alentejano
Nota: 4,5/10
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Sossego Rosé 2015
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Produtor: Sogrape
Origem: Regional Alentejano
Nota: 5,5/10
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Sossego Tinto 2014
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Produtor: Sogrape
Origem: Regional Alentejano
Nota: 5,5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

domingo, julho 10, 2016

QM Espumante Super Reserva Alvarinho 2012 + QM Vinhas Velhas Alvarinho 2015 + QM Homenagem Alvarinho 2014 + QM Espumante Velha Reserva Alvarinho

A frescura é a característica mais vincada (arrisco no absoluto da afirmação) da região do Vinho Verde. Aqui conseguem-se características minerais, frutadas e florais – não necessariamente sempre todas num mesmo vinho – refrescantes.
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Dispenso os étnicos tintos e fico nos brancos, apetitosos a vários níveis: lazer, comida de Verão e pratos mais ácidos. Os que aqui apresento são todos da sub-região de Monção e Melgaço, onde reina a casta alvarinho.
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A Quintas de Melgaço foi fundada em 1990 e hoje agrega mais de 530 produtores. Trabalha apenas com a casta alvarinho. Os espumantes são produzidos apenas no método clássico. A enologia está a cargo de Jorge Sousa Pinto e Virgínia Raínho.
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O QM Espumante Super Reserva Alvarinho 2012 faz bem o papel de relações públicas. Um bom companheiro para apresentações, refrescante e amigo de acepipes de entrada. Ainda assim é competente para ser servido com carnes gordas. É delicado e persistente, de bolha fina.
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As uvas foram prensadas e decantadas entre 12 e 36 horas e fermentou até 15 dias em  inox. Estagiou  em inox, com movimento regular das borras,  entre três e seis meses. Fermentou 24 meses em garrafa, antes do degorgement.
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QM Vinhas Velhas Alvarinho 2015 é uma excelente companhia para o Verão. Sai-se muito bem numa conversa de amigos – daquelas sem hora para acabar – ou a escoltar marisco ou frango.
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As uvas foram prensadas e decantadas entre 12 e 36 horas e fermentou até 15 dias em  inox, onde estagiou por dois meses, com movimento regular das borras. Não veio para a rua sem  ter permanecido dois meses em garrafa.
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QM Homenagem Alvarinho 2014 celebra o fundador da empresa, Amadeu Abílio Lopes. É também ele uma aposta para a mesa, desde marisco, peixe, carnes brancas e queijo. Alia a frescura à untuosidade. Tratando-se duma evocação, abstenho-me de pontuar.
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As uvas foram prensadas e decantadas entre 12 e 36 horas e fermentou até 15 dias em  inox. Estagiou seis meses em barricas de carvalho francês, com movimento regular das borras.
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O QM Espumante Velha Reserva Alvarinho é mais uma prova de que a região do Vinho Verde, no geral, e na sub-região de Monção e Melgaço, no particular, é generosa para quem quer fazer espumantes. Naturalmente fresco, longo na boca e de bolha elegante. Tal como anteriormente, dá-se bem na mesa, chegando até à sobremesa.
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As uvas foram prensadas e procedeu-se a decantação a frio de 12 horas a 36 horas. Fermentou por 15 dias em inox e aí permaneceu entre três e seis meses. Fez a segunda fermentação em garrafa, durante 36 meses, antes do degorgement.
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QM Espumante Super Reserva Alvarinho 2012
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Origem: Vinho Verde
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 6,5/10
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QM Vinhas Velhas Alvarinho 2015
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Origem: Vinho Verde
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 6,5/10
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QM Homenagem Alvarinho 2014
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Origem: Vinho Verde
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: X
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QM Espumante Velha Reserva Alvarinho
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Origem: Vinho Verde
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 7,5/10

sábado, julho 09, 2016

Quinta dos Carvalhais Colheita Branco 2015 + Quinta dos Carvalhais Colheita Tinto 2012

Fico feliz por a região do Dão estar a ressurgir. Depois de anos de inexplicável declínio, o desenvolvimento parece-me consistente, com investimentos de grandes empresas e de pequenos vinhateiros.
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A qualidade dos vinhos do Dão sempre foi uma certeza. A natureza sempre esteve. O conhecimento técnico não me parece que tenha sido problema. O que falhou? Marketing, relações públicas, imagem e desempenho comercial.
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Creio que a Comissão Vitivinícola Regional está bem entregue, traduz-se também pelo desenvolvimento do negócio. O caminho será longo, com percalços e sustos, e esforçado. Nada que a vontade não ultrapasse. Hoje há massa-crítica no Dão.
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A Sogrape não chegou a maior empresa do sector em Portugal por acaso. Há já uns anos que tem investido no Dão, certamente com dificuldades próprias. Cabe-lhe uma tarefa importante: ser uma das locomotivas da região.
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O centro da Sogrape no Dão está na Quinta dos Carvalhais. A propriedade situa-se entre Alcafache e Nelas, no Concelho de Mangualde, no planalto beirão. Está rodeada pelos maciços montanhosos da Serra do Açor, Serra do Buçaco, Serra do Caramulo, Serra da Estrela, Serra da Lapa, Serra da Lousã, Serra de Montemuro e Serra da Nave. A orografia aponta para características frescas e assim é.
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Duas características dos vinhos do Dão são a elegância e o potencial de evolução em garrafa. Estes dois vinhos assim o prometem. Se o branco é recente, já o tinto é mais antigo. Não é um risco apresentar um 2012, mas é ousadia, num país em que muitos consumidores, comerciantes e donos de restaurantes se centram na novidade.
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Cabe a Beatriz Cabral de Almeida comandar as operações enológicas no Dão. A tarefa tem responsabilidade acrescida, visto suceder ao incontornável Manuel Vieira, que há poucos anos deixou a empresa.
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O branco fez-se com 80% da casta rainha do Dão: encruzado. A verdelho completou o lote. É delicado, cítrico e mineral, com frescura natural. Recomendo que se beba a acompanhar comida com alguma confecção (não é para a piscina) e queijo.
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O tinto é igualmente complexo, elegante e longo na boca. Bem estruturado, com a madeira bem integrada e frescura natural. A composição do lote não foi revelada, mas a touriga nacional parece-me presente.
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Segue a tradição dos bons vinhos da região: a longevidade. É de 2012 e promete longa vida em garrafa.
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Quinta dos Carvalhais Colheita Branco 2015.
Origem: Dão
Produtor: Sogrape
Branco: 7/10
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Quinta dos Carvalhais Colheita Tinto 2012.
Origem: Dão
Produtor: Sogrape
Nota: 8/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

sexta-feira, julho 08, 2016

Adega de Borba Branco 2015 + Adega de Borba Rosé 2015 + Adega de Borba Tinto 2014

Uma característica que valorizo (muito) é a fiabilidade. Dou-lhe mais atenção do que ao preço. Quem me costuma ler sabe que me recuso a estabelecer decretos acerca do que é a relação entre a qualidade e o preço – a disponibilidade financeira, o limite pessoal do aceitável, o que se valoriza (nariz e boca) e o traquejo enófilo variam de pessoa para pessoa. Assim, não se pode estabelecer uma conclusão.
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Ao contrário pode estabelecer-se um quadro de fiabilidade. Uma referência vínica que oscila em qualidade não é segura – não me refiro às especificidades de cada ano. Essas têm de ser tidas em conta, mas o sufrágio deve fazer-se pelo que se entende do trabalho que se realizou.
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Os vinhos da Adega de Borba têm essa consistência. Sei que ao comprar não me irá desiludir, não é uma lotaria. Isto deve-se a quem trabalha a viticultura dos muitos associados desta casa e a quem assina o trabalho de enologia.
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Óscar Gato é o homem dos tubos de ensaio, das análises, das milhentas provas que um vinho necessita antes de ser dado como concluído e engarrafado. Tem ainda mais um peso nas costas: a quantidade. Este enólogo não faz duas barricas ou 7.000 litros. Tem de saber muito para garantir uma qualidade regular e consistente em toda a gama.
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A gama dos Adega de Borba é já clássica. Vários anos de público e com sucesso. Vinhos descomplicados e fáceis (no melhor da expressão).
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O branco é descontraído, muito competente para as comidas que apetecem no Verão e amigo de convívio sem preocupações, em conversas de férias. O problema não é um problema, apenas não sou apreciador da casta antão vaz. Ainda assim, o arinto e a roupeiro compõem o retrato.
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O rosado insiste em agradar-me. É absolutamente vinho para férias. Podendo acompanhar comida, penso que o mais indicado é mesmo quando se está despreocupado, com as pernas esticadas numa cadeira longa, música chill out (perdõem-me o anglicismo, mas não encontro correspondente) e amigos. Fez-se com aragonês e syrah.
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O tinto é um vinho aveludado, que corresponde às espectativas de quem aprecia os néctares alentejanos, com a gulodice dos frutos vermelhos. Fez-se com as castas alicante bouschet, aragonês e trincadeira.
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Adega de Borba Branco 2015
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 5,5/10
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Adega de Borba Rosé 2015
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6/10
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Adega de Borba Tinto 2014
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

quinta-feira, julho 07, 2016

Singular 2015

Não se pode dizer que este seja um típico Vinho Verde branco. Isso não sinónimo de bom nem de mau. Apenas o que é. A avaliação é francamente positiva.
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Quando escrevo que é diferente justifico com alguma untuosidade que lhe dá a casta chardonnay. Fez-se ainda com avesso, alvarinho e malvasia fina. Este ramalhete traduz-se numa bela frescura e alguma gulodice. A enologia está a cargo de Fernando Moura.
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A propriedade de onde se apanharam as uvas fica na sub-região de Baião, com solos graníticos. Conta a informação do produtor que 2015 que, por ali, o primeiro trimestre foi chuvoso e que a precipitação regressou em Setembro. Esses factos deram-se, com certeza, uma maior frescura natural.
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Mal seria se este vinho não fosse bom acompanhante de comida. Parece-me ser mais competente para consumo apenas no Verão. Julgo que acompanhará bem repastos mais pesados.
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Origem: Vinho Verde
Produtor: A&D Wines
Nota: 5,5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quarta-feira, julho 06, 2016

Azeite Virgem Extra Oliveira Ramos Premium

É difícil não gostar deste azeite. Tem suavidade, aroma agradável e casa muito bem com pratos diferenciados. Desde peixe cozido (Deus me livre – não como peixe) a uma salada ou ao refrescante gaspacho – tendo este diversas formas de ser feito.
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Fez-se com azeitonas das variedades cobrançosa, galega e picual. Despois de espremidos os frutos seguiu-se o armazenamento, em depósitos de inox com gás inerte. É um óleo frutado no aroma e ligeiramente picante na boca.
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Nunca é demais salientar que o azeite é um sumo de fruta e não um líquido fermentado como o vinho. Por isso, tem um tempo de vida muito menor e exige cuidados, como a guarda em local fresco e escuro.
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Nota: Este azeite foi enviado para prova pelo produtor.

segunda-feira, maio 30, 2016

V Concurso de Vinhos do Douro Superior – Festival de Vinho do Douro Superior 2016

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Encontra-me...
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Antes que o tempo acelere… continuo na vertigem dos dias (ver texto anterior)… conto do concurso que vai na quinta edição e o primeiro parece ter sido anteontem. É uma prova que se arrisca a tornar num clássico, devido à qualidade média dos concorrentes.
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Este ano, o concurso decorreu entre 20 e 22 de Maio, mantendo-se no Expo Côa (parque de feiras e exposições de Foz Côa). Estiveram presentes 70 produtores e o concurso contou com 144 vinhos. O júri foi formado por críticos, jornalistas, bloguistas, escanções, comerciantes e profissionais de hotelaria.
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A pensar no almoço...
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De todos os concursos em que participei, o Concurso do Douro Superior é o de melhor qualidade média. O princípio da precaução vigora, pelo que os grandes vinhos não costumam ir a prova. Porém, ali existe uma espécie de acordo de cavalheiros e os produtores apresentam-se com os seus melhores néctares.
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Há quem diga que a vida é uma roda… ora, pois! Lembro-me de há umas edições quase todos os vinhos que me calharam terem tido pontuação para medalha. Este ano não tive tanta sorte. Ainda assim, a qualidade foi notável.
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«O nível de pontuações foi tão alto que não foram atribuídas medalhas de bronze», lê-se no comunicado da organização. Ficam os principais premiados: Passagem Douro Reserva Branco 2015 (Quinta das Bandeiras), Quinta do Grifo Grande Reserva Tinto 2011 (Rozès) e Maynard’s Porto Colheita Branco 2007 (Barão de Vilar).
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Os grandes vencedores.
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No entanto, o concurso é apenas uma parte do evento. Além da feira, há visitas a quintas e sessões de formação, palestras e debates. Este ano, abriram as portas as Quinta do Vale Meão, Muxagat, Quinta da Cabreira (Quinta do Crasto), Quinta da Terrincha e Quinta das Bandeiras.
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Quinta do Vale Meão.
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Ainda não tinha provado nenhum branco da Quinta do Vale Meão, propriedade mítica do Douro e cuja família sempre me recebeu de braços abertos. O Meandro Branco 2015 é um alegre contentamento. A junção de viosinho e arinto dá um néctar sem travões… a bizarria da viosinho e a frescura da arinto (possivelmente a minha casta portuguesa favorita) resultam numa conjugação complexa.
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Os vinhos da Muxagat são um encanto. Ali não há luxo e trabalha-se com o essencial. O resultado é a prova de que, no vinho, dois e dois não são necessariamente quatro. A verdade está na fruto e no rigor enológico. Belos tintos, magníficos brancos.
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Gosto muito de ciprestes.
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A Quinta do Crasto situa-se em Sabrosa. Porém, o Douro Superior tem mostrado ser uma sub-região de grande qualidade. Por isso, a família Roquette comprou terra e criou a Quinta da Cabreira. O resultado chama-se Crasto Superior e vai dum lote clássico do Douro, à base de touriga nacional e touriga franca, até a uma espécie de provocação, feita com 97% de syrah e 3% de viognier. A jovialidade das vinhas ainda não permite uma equiparação dos vinhos dali aos da casa-mãe. Roma e Pavia não se fizeram num dia.
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O Vale da Vilariça é de terra fértil e de clima mediterrânico, mas sem mar. Disseram-me que ali os figos chegam 15 dias antes de amadurecerem no Algarve. É ali que se situa um projecto turístico de luxo, enquadrado na produção de vinho. A Quinta da Terrincha é também uma casa jovem. As vinhas farão o seu caminho e, com elas, os vinhos vão mostrar as características dessa terra quente. A propriedade foi recuperada e acolhe um enoturismo com pernoita. O restaurante é gerido pelo proprietário do Flor de Sal, de Mirandela.
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A viagem começou na margem direita do Douro e terminou na margem oposta, precisamente em frente da Quinta do Vale Meão. A Quinta das Bandeiras nasceu porque há pessoas que não conseguem estar quietas. Tim Bergkvist não se contentou com a sua Quinta de La Rosa (Pinhão – Cima Corgo) e avançou para montante. Hoje, o empreendimento tem à frente a sua filha, Sophia Bergkvist, e o enólogo Jorge Moreira (Passagem, Poeira, Quinta de La Rosa e Real Companhia Velha).
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Os rios são passagens e nas reentrâncias dos vales passou outrora o comboio. Daí nasceu o marca Passagem. Jorge Moreira é um dos enólogos com toque de Midas. Um vinho seu já só será notícia se não for bom. Coisa absolutamente improvável. Ali se almoçou no último dia e como se não houvesse amanhã… a simplicidade do campo!
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Roubei esta fotografia no Facebook...
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O Festival de Vinho do Douro Superior 2016 é organizado pela Câmara Municipal de Foz Côa, sendo produzido pela Revista de Vinhos estão de parabéns, com o apoio de imprensa de Joana Pratas.
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Nota: As fotografias de grupo são da autoria de Ricardo Palma Veiga, da Revista de Vinhos. A fotografia da Quinta das Bandeiras foi roubada, mas não sei a quem.

Concours Mondial de Bruxelles - Bruxelas é a capital da Bélgica! É, mas o concurso é mundial...

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Encontra-me...
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Quando era criança, o tempo demorava uma eternidade a passar. O dia 1 de Outubro assinalava o final das férias grandes, que eram praticamente infinitas, e o começo do ciclo escolar, igualmente semi-eterno.
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Li algures que há um mecanismo na cabeça que coordena a velocidade. Essa engenhoca da biologia é responsável pela aceleração da percepção do tempo. Portanto:
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Entre 29 de Abril e 1 de Maio, deste ano, estive em Plovdiv, na Bulgária. Parece que foi ontem que recebi o convite para participar como jurado no Concours Mondial de Bruxelles, mas faz um mês que terminou o evento. Este texto quase vai tarde!
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A experiência foi rica no que respeita a vinho. Não tanto pela esperada variedade de vinhos que provei, mas por ter confirmado que a componente do gosto tem muito a ver com a cultura em que se nasce. Se refiro o gosto, o que pode alarmar quem acredita que tal deve ser banido da prova, é porque a ciência do exame varia com o berço.
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A minha mesa era presidida por um francês e formada por uma búlgara, um italiano, um norte-americano e, obviamente, um português. Todos tínhamos experiência de prova, mas houve momentos em que estranhamente o vinho não era o mesmo para todos. Como pode alguém premiar o que outro penaliza?
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Aqui entra o gosto? Alguém dirá que sim e outro dirá que não. Aqui entra o hábito, no sentido de cultura ou conhecimento duma realidade, direi. Isso foge ao acerto? Ou há que assumir que o reconhecimento da qualidade também se molda nos critérios colectivos do gosto?
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A minha mesa provou sobretudo rosados, sendo alguns também eram espumantes. No total, nos três dias, provei 158 vinhos – em cada dia repetiram-se alguns, mas o total em classificação foi esse. Foram 84 rosés tranquilos, 27 espumantes rosados – alguns eram, na verdade, brancos de uvas tintas –, 40 tintos tranquilos e sete brancos tranquilos.
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Não me recordo de grandes divergências, em relação a tintos e brancos. Porém, a avaliação dos 111 rosados foi, por vezes, diferenciada. A grande divergência foi em relação a doçura e a acidez. É aqui que entra a questão do gosto ou do ambiente cultural. Houve quem penalizasse rosados por serem ácidos. Penalizei vinhos que cheiravam e sabiam a açúcar.
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Em termos de pontuações, a organização atribui Medalha de Prata a vinhos com pontuações entre 84 e 86,5. A Medalha de Ouro vai para os que obtém entre 86,6 e 92 pontos. A Grande Medalha de Ouro é atribuída a vinhos com mais de 92 pontos e até (obviamente) 100.
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Estiveram em prova 8.015 vinhos, provenientes de 51 países. França (2.421 – 17 Grande Ouro, 191 Ouro e 434 Prata), Espanha (1.570 – 10 Grande Ouro, 167 Ouro e 300 Prata), Itália (1.226 – 16 Grande Ouro, 104 Ouro e 234 Prata) e Portugal (1.033 – 12 Grande Ouro, 107 Ouro e 212 Prata) foram os países com maior número de vinhos em prova. Para se ter ideia mais precisa, a quinta maior presença foi a do Chile, com 327 vinhos.
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Porém, na escolha Exceptionnal Old Vintages, Portugal conseguiu oito prémios, num total de nove, sendo o restante francês. Seis foram Porto, dois Madeira e um Rivesaltes (Languedoc-Roussillon).
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Pelas minhas contas, se não errei ao olhar os papéis, só uma vez dei mais de 92. Por acaso calhou ao um vinho português. Não irei quebrar o sigilo. Foi numa ronda pequena, mas notável.
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Quanto ao extra-concurso… a cidade de Plovdiv é interessante, mas não me encantou por aí além. Gostei da higiene das ruas e da paisagem, mas só conheci o caminho entre Sófia e Plovdiv.
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Ficha sem bonecada, não é ficha...