O Esporão avançou com duas novidades produzidas na Quinta
dos Murças, no Douro. Tratam-se de dois tintos, referentes à vindima de 2015. Não
desiludem quanto ao reflexo do que é a região. Porém, não me preencheram as
expectativas.
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O Murça Minas 2015 é filho de tinta francisca, tinta roriz,
tinto cão, touriga franca e touriga nacional. A fruta foi prensada a pé e numa
prensa vertical. Estagiou em cubas de betão e em barricas usadas de carvalho
francês.
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Tornou-se hábito em Portugal desdenhar do estágio em
madeira, apontando-lhes efeitos desnecessários. Penso que, em 99% dos casos,
trata-se de conversa para não dizer contenção de custos.
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Juntamente com o queixume da madeira, apareceu a ditadura da
fruta. A fruta faz parte, mas não é – para mim – factor de necessária
bonificação. Fruta, frutinha e flores em conta, peso e medida.
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Repare-se que os vinhos de topo continuam a penar os padecimentos
causados pela malvada madeira. Cada um sabe o que faz e o que quer. Não sei –
porque não o posso saber – se aqui a opção da madeira usada e da cubas em betão
foi apenas enológica ou também para responder a menor encargo.
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Não sou caruncho, mas gosto de madeira. Neste caso em
concreto, falta-lhe madeira. É um vinho vivo em fruta, além do meu gosto. Reafirmo
o que sempre disse: as minhas palavras não são lei, as avaliações são
subjectivas e inteiramente pessoais. Não reporto falta de qualidade ao vinho,
assinalo as preferências.
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Apreciei mais o Murça Margem 2015, mas continuo a achar que
lhe faltou madeira. Parece que lhe falta uma parede na estrutura e tempero na
boca. Ao mesmo tempo, essa natureza de pomar excede a minha preferência.
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O Murça Margem 2015 fez-se com uvas touriga franca e touriga
nacional. Os bagos foram esmagados a pé e em prensa vertical. O vinho estagiou
nove meses em barricas usadas de carvalho francês.
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Seria extremamente injusto da minha parte classificar mal
estes vinhos, apesar de, face às expectativas, ficarem abaixo. Seria injusto
para a equipa de enologia e para a empresa, no seu todo. É uma casa que se tem
mostrado pioneira nos cuidados ambientais, seja na vinha, seja na adega, com trabalho
rigoroso, consistência no carácter da produção e fiável na qualidade.
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Aliás, apesar das palavras surgirem com um tom crítico,
estes dois vinhos têm virtude. São dois belíssimos vinhos, que simplesmente não
me preenchem inteiramente – gosto pessoal, reafirmo. As notas atribuídas são
inequivocamente positivas.
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Murça Minas 2015
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Origem: Douro
Produtor: Esporão
Nota: 5/10
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Murça Margem 2015
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Origem: Douro
Produtor: Esporão
Nota: 6/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.
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