A poderosa Wine Spectator deu um arraso nos vinhos
portugueses. Numa lista com alguns notáveis, o resultado chega a ser humilhante. Para mim, a revista cobriu-se de ridículo, mas quem leva o
enxovalho são os produtores portugueses.
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Não há muito a fazer. A imprensa tem uma força que dificilmente
se vence. Um órgão de comunicação social só costuma ser batido por outro parceiro
do ofício. É assim em todo lado onde vigoram regimes democráticos.
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Não se pede à Wine Spectator que tenha pena dos portugueses,
que pense no difícil momento do país e inflacione as avaliações, por amor,
carinho, caridade ou misericórdia. Talvez os vinhos até só valham as pontuações
que receberam… mas… há um mas, uma dúvida legítima. Ou dois mas. Ou três mas.
Ou mesmo mais mas que os meus mas.
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Afasto teorias conspirativas, juízos de valor e processos de
intenções. Não me amedronto com fantasmas, mas pergunto-me se a Wine Spectator bateria
com a mesma força e do mesmo modo nos vinhos de França, Itália ou Estados
Unidos.
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São memoráveis as vitórias de David sobre Golias, mas em mil
combates o homem apenas vence uma vez o gigante. A prepotência é uma acção
perniciosa do mais forte em relação ao mais fraco.
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Quando falo de a Wine Spectator ter caído no ridículo dou
exemplos: CARM Maria de Lourdes 2008 bate-se de igual, com 87 pontos, com o
Pêra Manca Tinto 2007, mas abaixo do Cabriz 2009.
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Claro que há opiniões para tudo, com respectivas
justificações. Claro que há virtualidades nas provas cegas e nas provas com
rótulo à vista. Claro que há revelações surpreendentes, com maravilhosas
relações entre a qualidade e o preço… mas dificilmente me convencerão que um
Cabriz é melhor que um Pêra Manca.
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E pergunto-me ainda: será que quem provou sabia que país
estava a provar? É que numa revista global as provas não podem ser só às cegas
quanto a marcas… Sabiam qual o país? Se sim, terá havido preconceito?
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Entre vários exemplos, repito: Cabriz melhor que Pêra Manca?
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Preconceito meu? Talvez. Preconceito da Wine Spectator,
tenho pouca dúvidas. Asneira dos provadores da Wine Spectator, quase de
certeza.
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Uma coisa é também certa: Portugal põe-se a jeito: A
quantidade e variedade de vinhos abaixo de medíocre que os portugueses põem lá
fora só desajuda e dá a reputação que cria este eventual preconceito. E a
certificação portuguesa ajuda à festa, validando vinhos inacreditáveis de maus
ao lado doutros inacreditáveis de bom. Quem compra lê dois rótulos com a mesma
DOC, sem diferenciação qualitativa; o preço dá uma avaliação concreta, mas a
percepção do vinho dá uma subjectiva: compro o mais barato, porque é a mesma
coisa, mas como não presta desconfio quando voltar a ver um vinho da mesma DOC.
Há muito que penso que as denominações deviam ter escala de avaliação
qualitativa.
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Voltando à Wine Spectator: é sabido que manda quem pode e
obedece quem deve… a revista faz a merda e são os portugueses quem a limpa.