quinta-feira, outubro 20, 2016

Vertical de Tinto da Talha Grande Escolha - 2003 a 2010 saltando 2009

Apanhei um elevador de Redondo, aqui em Lisboa, e confirmei que os mitos servem para iludir e serem desmascarados. Ou seja, quem diz que os vinhos do Alentejo não aguentam a passagem dos anos engana-se.
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A Roquevale enviou-me para prova sete vinhos de Tinto da Talha Grande Escolha, referentes aos anos de 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2010. Para quem não está ainda familiarizado com a nomenclatura vínica, a estas degustações designam-se por «verticais».
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Para quem não é profissional da escrita vínica trata-se de tarefa complicada. Desde mais porque o blogue é assumidamente amador, não científico (se isso existe na prova) e subjectivo. Portanto, precisei de ajuda. Com significativo atraso, face à data de recepção, organizou-se o momento.
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O atraso é de praticamente um ano. Lamento, mas, embora profissional da escrita, sou apenas bloguista de vinho. Para além de mim, participaram o Sérgio, a B., a D. e o J.
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Limito-me às opiniões manifestadas a escrever as manifestações. Desta vez, não serão dadas notas. Por razões:
1)      Os vinhos têm diferentes idades, sendo de 2003 a 2010.
2)      Só eu e o Sérgio comentámos todos os vinhos e demos notas de pontuação. Porém, as nossas escalas, embora decimais, não são compatíveis, devido à minha ser excêntrica e, por isso, não é óbvia – o 3 é positivo e é aberta como a escala sísmica de Richter.
3)      Só eu e o Sérgio comentámos todos os vinhos.
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A ordem de serviço dos vinhos não é unânime. Há quem prefira começar pelos mais jovens e outros pelos mais antigos. Prefiro começar pelos mais antigos, pois tendem a ser mais frágeis e seriam prejudicados se fossem apresentados pela ordem inversa.
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No email que me enviou, a 13 de Novembro de 2015, a enóloga informou que a marca Tinto da Talha surgiu em 1989. Joana Roque do Vale lançou o Tinto da Talha Grande Escolha em 2003, «como uma aposta para cima a um preço bastante acessível».
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Quanto a valores e relações entre qualidade e preço mantenho-me fiel na não pronunciação. Cada um sabe da sua carteira, do seu prazer, disponibilidade financeira e patamar nominal. Bem, avanço.
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Com excepção do 2003, que (penso) atingiu o seu ponto mais alto, a generalidade destes vinhos tem ainda anos de vida pela frente. O caso do 2006 é, para mim, interessante, pois revela já aromas terciário, mas a frescura natural e a rugosidade fazem-me querer que será ainda motivo de conversa.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2003 foi o estreante e fez-se com touriga nacional e aragonês. Mostra positivamente sinais da passagem do tempo, com vida pela frente. O Sérgio, que o notou com garra e secura, sentenciou-o como um dos melhores da prova. A D. sentiu-o áspero. Para mim, este ganhou.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2004 conheceu uma formulação diferente, conjugando syrah e touriga nacional. Está mais jovem, não na proporção do tempo, ainda com o chocolate preto, coisa em que a casta francesa costuma ser fiel. Serviu considerou-o superior aos 2003 e eu, pelo que já se percebeu, discordei. A D. não disse muito e, tal como em relação ao anterior, J. e B. mantiveram-se silenciosos.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2005 é um lote de touriga nacional e aragonês. Achei-o fechado e quando abriu notei-o menos vivo do que o anterior. B. não o apreciou de todo, Sérgio colocou-o acima do 2004 e voltei a divergir.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2006 é resultado de syrah e touriga nacional, mais marcado pelos anos do que os precedentes (excepto 2003), mostrando um agradável aroma de pelica. Elegi-o como o terceiro da prova. Curiosamente, a opinião do Sérgio (não na tabela das preferências) foi bastante próxima da minha. Finalmente, J. decidiu falar, para dizer que preferia o primeiro (2003). B. achou-o «forte» (encorpado) e D. disse ser «muito equilibrado».
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2007 é a junção de syrah e alicante bouschet e está com frescura e gostei da sua aspereza suave. Tanto o Sérgio como moi même colocámo-lo a meio da tabela. D. disse que era fácil de se gostar, embora não lhe tivesse caído totalmente no goto.
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2008 fez-se com aragonês e alicante bouschet. Este foi o mais consensual e, se tivesse havido votação, teria sido eleito o melhor da prova. Não fosse a minha admiração pelo estado de vida do 2003 e seria minha preferência. O Sérgio deu-lhe a sua mais alta pontuação. J. achou-o o melhor. D. gostou bastante. B. disse:
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– Gosto. É o melhor de todos.
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Para o Sérgio é «mais suave do que o anterior, mas não tão rico de aromas».
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O Tinto da Talha Grande Escolha 2010 fez-se com aragonês e touriga nacional. Quando chegou, era novidade. Provado há um mês, sensivelmente, está jovem e promete caminhar pelo tempo. Verdadeiramente, apenas J. falou e para lhe elogiar a acidez. A justiça do tempo é relativa. Lendo os comentários que recolhi, terá de esperar para mostrar a personalidade.
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.