domingo, abril 28, 2013

Cinco quadros de colecção

Domingos Soares Franco deve divertir-se à brava a fazer vinho. Ok, há o trabalho chato de todos os dias no escritório (laboratório, sala de provas, atender jornalistas, ir a conselho de administração, ouvir marketeers e pessoal de I&D), em que se tem de olhar só para números e parâmetros, provar e provar amostras... azaritos! Os dias cinzentos tocam a todos e ainda assim o mundo avança. Depois, o mestre dá ideia de que vai para a casa, no carro a bombar alto a música, inventar coisas que há-de enfiar numa garrafa.
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Estes vinhos parecem-me provar isso mesmo. Domingos Soares Franco e sua equipa não têm de prestar provas. Fora o ramerrame há mundo: praia, amigos, amores, família, cinema, romantismo, flores, chocolates... e a Colecção Privada é para enófilos que relativizam, que falam doutras coisas, mas ainda e também de vinho. Com os amigos, é giro conversar sobre vinhos destes. Têm para dizer. São lúdicos, educativos e nada aborrecidos.
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Avanço com o que gostei menos: Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2012. Já na colheita anterior esperava outra coisa... não percebo o que faz neste calendário Pirelli. É um bom vinho, não haja dúvidas, mas... mas a colecção é do camarada Domingos e ele é que sabe.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2012 vacila entre a fruta suave e as flores... ou melhor, da lichias às rosas... e lichias é fruta que cheira a flores... ou isso. Belo, mas (como referi), se fosse eu o enólogo, não o meteria na colecção de cromos. Mas o mestre sabe mais a dormir do que eu com dez cafés.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho 2012 tem uma piada: tem verdelho (95%) e verdejo (5%). Ora, é aqui que o enófilo pode animar um pouco o jantar. Esta coisinha das duas castas com nome tão parecido, que até parece portunhol, permite várias coisas: sorriso cúmplice da mulher, olhar orgulhoso da mãe, irritação do palerma que se conheceu ao jantar, sedução da miúda que é namorada do palerma anterior e motivo para justificar o não conseguir dizer coisa com coisa no final do repasto.
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Ora, este Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho 2012 tem prunídeos (continuo sem saber escrever esta palavra, vai assim mesmo) e espargos brancos. Fixe! Adoro espargos! Na boca é prolongado e fresco.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Castas Branco 2012  um pópurri (potpourri). A conjugação das castas faz subir de nível o grau de dificuldade da experiência de mostrar aos amigos o vinho que se levou para o jantar: listão da madeira, merlot blanc furmint e palomino fino.
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Trata-se dum vinho com graça, que conjuga a fruta tropical (que regra geral dispenso), com a fruta tropical com interesse (abacaxi) e com a decente pêra. Bom vinho para servir antes da sobremesa, quando a barriga diz basta e a boca pede algo, quando os ouvidos pedem palavras.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Grüner Veltliner, Rabigato e Viognier 2012 é ainda um outro nível. Quando chega já as miúdas que se acabaram de conhecer estão: uma numa discreta discussão com o namorado, outra perdida indisfarçadamente pelo apresentador e duas com vontade verdadeira de saber mais acerca das três castas do lote.
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Belo! Tem mineralidade, o que mais me ocorre. Diz o enólogo que há alperce, sinceramente passou-me ao lado. Mas melão e meloa, esses são frutos abundantes e benvindos, que haja mais gente a fazer vinho branco além da tropicalidade... diz ainda o mestre: «capucho». Qual? O tomate de capucho, dos Açores, também conhecido por physalis? Lá acidez tem, mas não chegaria a tanto.
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Por fim, o Domingos Soares Franco Colecção Privada Syrah e Touriga Francesa 2011, um tinto de duas castas que gosto bastante, com domínio (95%) da francesa... a que não é touriga, entenda-se.
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O nome deste vinho é mais uma alfinetada de Domingos Soares Franco, que percebeu haver um buraquinho que um burocrata deixou aberto e adoptou a designação antiga desta touriga. Não sei se isso é bom ou se é mau; o que sei é que é a minha casta tinta favorita. Sendo a predilecta, quase me atrevo a pedir uma maior dose.
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Bem! Chocolate preto, com ameixa preta, daquelas que embora em passa não transbordam de doce, avelãs, amoras, terra seca, restolho, algum húmus... ai, e tanta coisinha que 5% dão ao todo...
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Castas Branco 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 6,5/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Grüner Veltliner, Rabigato e Viognier 2012
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Origem: Regional Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 5/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Syrah e Touriga Francesa 2011
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Origem: Regional Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7,5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

sábado, abril 27, 2013

Três brancos da JMF para alegrar o Verão

A casa José Maria da Fonseca habituou-me a uma grande regularidade. A gama prima pela fiabilidade. Embora com os vinhos de topo a mostrarem características de raça, ou de ano, muito mais vincadas, a arte (a técnica) está (também) em saber fazer bons vinhos todos os anos, que prolonguem o essencial, o que apetece ao público, dê segurança... vinhos que criem apostas seguras e boa relação entre a qualidade e o preço. Que crie laços e fidelize escolhas.
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Estes três vinhos têm tudo isso. O Periquita, que busca o nome ao tinto (o verdadeiro), o Quinta de Camarate que já atira um pouco mais acima e o BSE que se atira para a toalha, na praia ou na piscina.
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Periquita Branco 2012: vou tentar esquecer-me que aqui só o meu gosto conta; a frutinha aborreceu-me um pouco, nomeadamente o pêssego que assalta o nariz. Na boca pareceu-me mais ao meu modo, com acidez a contento.
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BSE 2012: não se correm ralis com carros de fórmula 1... não posso esperar nem exigir que este seja um grande vinho, mas é um vinho com muita graça. Não por causa das memórias, que também pesam, mas pela leveza e facilidade com que nos leva a vida. É um amigo vago, mas amigo. Gosto dele.
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O Quinta de Camarate achei-o um pouco quente face ao que estava à espera, mas admito facilmente que o erro tenha sido meu. Não foi termómetro, foi expectativa. É um néctar que puxa ao vegetal (gosto), com notas de erva cortada e maçã granny smith.
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Periquita Branco 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 5/10
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BSE 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 4/10
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Quinta de Camarate Branco Seco 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 6/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

sexta-feira, abril 26, 2013

Azeite Oliveira Ramos Premium Extra Virgem 2012

Azeite nosso de cada dia... tão lustroso que apetece sempre. Carregado de Alentejo, este óleo é proveniente de azeitonas galega, cobrançosa e picual. Luminoso no nariz, suave e irrequieto na boca.
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Tenho família no Alentejo e sempre de lá chegou azeite, que a família produzia e produz. Habituei-me e parametrizei o paladar e olfacto. Mais tarde, conheci os de Trás-os-Montes e do Douro, de que me apaixonei, também devido às diferenças face aos que melhor conhecia. Este, embora do Sul (Estremoz), diferencio-o doutros da mesma província, mais a Sul. Tem os traços comuns, mas é um pouco menos «doce». É fresco, «verde», de maçã e alguma relva regada.
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Quando o recebi usei-o para temperar uma salada, que julgo ser a verdadeira à portuguesa (ou do Sul... ou de Lisboa... ou lá da casa dos papás...): alface, tomate, pepino, cebola, sal e orégãos, mais o vinagre da ordem... mas faltando o pimento.
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Nota: Este azeite foi enviado para prova pelo produtor.

Quinta Vallado - Adelaide Tributa

Tributo justo. Dona Antónia bem ficaria grata. Um grande vinho. É um luxo que não se fica pela simples conjugação de quatro letras. O meu amigo VR diz que há vinhos que se podem usar como perfume; delicados, subtis e sensuais. Este é um deles.
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Uma delícia sumptuosa. Um Vinho do Porto com a juventude da lucidez idosa. Em suma: não tenho dinheiro para o comprar!... Infelizmente...
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Comprado a um lavrador que o tinha guardado, como acontece em muitas casas durienses. Procurou a Vallado um néctar que não tivesse sido refrescado com vinhos doutros anos. É de 1866 e recomenda-se.
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Quem quiser saber um pouquinho mais, carregue aqui.
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Origem: Vinho do Porto
Produtor: Anónimo / Quinta do Vallado
Nota: 10/10

quinta-feira, abril 18, 2013

Eusébio marca golo... perdão, vinho

A Adega de Borba lançou o Eusébio, um tinto DOC Alentejo da colheita de 2008, em homenagem ao «Pantera Negra». Trata-se duma edição limitada a 1.000 garrafas. Este vinho será objecto de análise aqui no blogue (espero que para breve).

segunda-feira, abril 01, 2013

Château Pichon Longueville Comtessee de Lalande

Só me apetece dizer palavrões! Parti a garrafa de Château Pichon Longueville Comtessee de Lalande que tinha para o jantar...
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Nota: Dia 1 de Abril