Domingos Soares Franco deve divertir-se à brava a fazer
vinho. Ok, há o trabalho chato de todos os dias no escritório (laboratório,
sala de provas, atender jornalistas, ir a conselho de administração, ouvir
marketeers e pessoal de I&D), em que se tem de olhar só para números e
parâmetros, provar e provar amostras... azaritos! Os dias cinzentos tocam a
todos e ainda assim o mundo avança. Depois, o mestre dá ideia de que vai para a
casa, no carro a bombar alto a música, inventar coisas que há-de enfiar numa
garrafa.
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Estes vinhos parecem-me provar isso mesmo. Domingos Soares
Franco e sua equipa não têm de prestar provas. Fora o ramerrame há mundo:
praia, amigos, amores, família, cinema, romantismo, flores, chocolates... e a
Colecção Privada é para enófilos que relativizam, que falam doutras coisas, mas
ainda e também de vinho. Com os amigos, é giro conversar sobre vinhos destes.
Têm para dizer. São lúdicos, educativos e nada aborrecidos.
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Avanço com o que gostei menos: Domingos Soares Franco
Colecção Privada Moscatel Roxo 2012. Já na colheita anterior esperava outra
coisa... não percebo o que faz neste calendário Pirelli. É um bom vinho, não
haja dúvidas, mas... mas a colecção é do camarada Domingos e ele é que sabe.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2012
vacila entre a fruta suave e as flores... ou melhor, da lichias às rosas... e
lichias é fruta que cheira a flores... ou isso. Belo, mas (como referi), se
fosse eu o enólogo, não o meteria na colecção de cromos. Mas o mestre sabe mais
a dormir do que eu com dez cafés.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho 2012 tem
uma piada: tem verdelho (95%) e verdejo (5%). Ora, é aqui que o enófilo pode
animar um pouco o jantar. Esta coisinha das duas castas com nome tão parecido,
que até parece portunhol, permite várias coisas: sorriso cúmplice da mulher,
olhar orgulhoso da mãe, irritação do palerma que se conheceu ao jantar, sedução
da miúda que é namorada do palerma anterior e motivo para justificar o não
conseguir dizer coisa com coisa no final do repasto.
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Ora, este Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho
2012 tem prunídeos (continuo sem saber escrever esta palavra, vai assim mesmo)
e espargos brancos. Fixe! Adoro espargos! Na boca é prolongado e fresco.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Castas Branco 2012
um pópurri (potpourri). A conjugação das
castas faz subir de nível o grau de dificuldade da experiência de mostrar aos
amigos o vinho que se levou para o jantar: listão da madeira, merlot blanc
furmint e palomino fino.
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Trata-se dum vinho com graça, que conjuga a fruta tropical
(que regra geral dispenso), com a fruta tropical com interesse (abacaxi) e com
a decente pêra. Bom vinho para servir antes da sobremesa, quando a barriga diz
basta e a boca pede algo, quando os ouvidos pedem palavras.
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O Domingos Soares Franco Colecção Privada Grüner Veltliner,
Rabigato e Viognier 2012 é ainda um outro nível. Quando chega já as miúdas que
se acabaram de conhecer estão: uma numa discreta discussão com o namorado,
outra perdida indisfarçadamente pelo apresentador e duas com vontade verdadeira
de saber mais acerca das três castas do lote.
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Belo! Tem mineralidade, o que mais me ocorre. Diz o enólogo
que há alperce, sinceramente passou-me ao lado. Mas melão e meloa, esses são
frutos abundantes e benvindos, que haja mais gente a fazer vinho branco além da
tropicalidade... diz ainda o mestre: «capucho». Qual? O tomate de capucho, dos
Açores, também conhecido por physalis? Lá acidez tem, mas não chegaria a tanto.
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Por fim, o Domingos Soares Franco Colecção Privada Syrah e
Touriga Francesa 2011, um tinto de duas castas que gosto bastante, com domínio
(95%) da francesa... a que não é touriga, entenda-se.
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O nome deste vinho é mais uma alfinetada de Domingos Soares
Franco, que percebeu haver um buraquinho que um burocrata deixou aberto e
adoptou a designação antiga desta touriga. Não sei se isso é bom ou se é mau; o
que sei é que é a minha casta tinta favorita. Sendo a predilecta, quase me
atrevo a pedir uma maior dose.
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Bem! Chocolate preto, com ameixa preta, daquelas que embora
em passa não transbordam de doce, avelãs, amoras, terra seca, restolho, algum
húmus... ai, e tanta coisinha que 5% dão ao todo...
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Verdelho 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Castas Branco 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 6,5/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Grüner Veltliner, Rabigato
e Viognier 2012
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Origem: Regional Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2012
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 5/10
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Domingos Soares Franco Colecção Privada Syrah e Touriga
Francesa 2011
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Origem: Regional Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 7,5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.
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