.
Encontra-me...
.
Quando era criança, o tempo demorava uma eternidade a
passar. O dia 1 de Outubro assinalava o final das férias grandes, que eram
praticamente infinitas, e o começo do ciclo escolar, igualmente semi-eterno.
.
Li algures que há um mecanismo na cabeça que coordena a
velocidade. Essa engenhoca da biologia é responsável pela aceleração da
percepção do tempo. Portanto:
.
Entre 29 de Abril e 1 de Maio, deste ano, estive em Plovdiv,
na Bulgária. Parece que foi ontem que recebi o convite para participar como
jurado no Concours Mondial de Bruxelles, mas faz um mês que terminou o evento.
Este texto quase vai tarde!
.
A experiência foi rica no que respeita a vinho. Não tanto pela
esperada variedade de vinhos que provei, mas por ter confirmado que a
componente do gosto tem muito a ver com a cultura em que se nasce. Se refiro o
gosto, o que pode alarmar quem acredita que tal deve ser banido da prova, é
porque a ciência do exame varia com o berço.
.
A minha mesa era presidida por um francês e formada por uma
búlgara, um italiano, um norte-americano e, obviamente, um português. Todos
tínhamos experiência de prova, mas houve momentos em que estranhamente o vinho
não era o mesmo para todos. Como pode alguém premiar o que outro penaliza?
.
Aqui entra o gosto? Alguém dirá que sim e outro dirá que
não. Aqui entra o hábito, no sentido de cultura ou conhecimento duma realidade,
direi. Isso foge ao acerto? Ou há que assumir que o reconhecimento da qualidade
também se molda nos critérios colectivos do gosto?
.
A minha mesa provou sobretudo rosados, sendo alguns também
eram espumantes. No total, nos três dias, provei 158 vinhos – em cada dia
repetiram-se alguns, mas o total em classificação foi esse. Foram 84 rosés
tranquilos, 27 espumantes rosados – alguns eram, na verdade, brancos de uvas
tintas –, 40 tintos tranquilos e sete brancos tranquilos.
.
Não me recordo de grandes divergências, em relação a tintos
e brancos. Porém, a avaliação dos 111 rosados foi, por vezes, diferenciada. A
grande divergência foi em relação a doçura e a acidez. É aqui que entra a
questão do gosto ou do ambiente cultural. Houve quem penalizasse rosados por
serem ácidos. Penalizei vinhos que cheiravam e sabiam a açúcar.
.
Em termos de pontuações, a organização atribui Medalha de
Prata a vinhos com pontuações entre 84 e 86,5. A Medalha de Ouro vai para os
que obtém entre 86,6 e 92 pontos. A Grande Medalha de Ouro é atribuída a vinhos
com mais de 92 pontos e até (obviamente) 100.
.
Estiveram em prova 8.015 vinhos, provenientes de 51 países.
França (2.421 – 17 Grande Ouro, 191 Ouro e 434 Prata), Espanha (1.570 – 10 Grande
Ouro, 167 Ouro e 300 Prata), Itália (1.226 – 16 Grande Ouro, 104 Ouro e 234
Prata) e Portugal (1.033 – 12 Grande Ouro, 107 Ouro e 212 Prata) foram os
países com maior número de vinhos em prova. Para se ter ideia mais precisa, a
quinta maior presença foi a do Chile, com 327 vinhos.
.
Porém, na escolha Exceptionnal Old Vintages, Portugal
conseguiu oito prémios, num total de nove, sendo o restante francês. Seis foram
Porto, dois Madeira e um Rivesaltes (Languedoc-Roussillon).
.
Pelas minhas contas, se não errei ao olhar os papéis, só uma
vez dei mais de 92. Por acaso calhou ao um vinho português. Não irei quebrar o
sigilo. Foi numa ronda pequena, mas notável.
.
Mais informações em http://www.concoursmondial.com/pt-pt/
e resultados em http://results.concoursmondial.com/
.
Quanto ao extra-concurso… a cidade de Plovdiv é interessante,
mas não me encantou por aí além. Gostei da higiene das ruas e da paisagem, mas
só conheci o caminho entre Sófia e Plovdiv.
.
.
Ficha sem bonecada, não é ficha...
Sem comentários:
Enviar um comentário