terça-feira, setembro 12, 2006

Vivó Douro!

Ainda ontem abri uma garrafa de Vinho do Douro. Foi assim que festejei os 250 anos da demarcação da região vinhateira. Dizem que é a mais antiga do mundo. Dizem, mas não é bem verdade. No papel não o é, mas é-o na terra de xisto.
Ainda ontem estava de apetites simples e feliz por existir. Sentei-me à mesa e pedi arroz de cabidela, sem ironia com o folhetim com os batoteiros de Barcelos. Que bem me calhou a galinha com um despretencioso Quinta de la Rosa de 2003. Penso que não há forma melhor de se celebrar o Douro do que beber os seus vinhos.
Como bom português, o meu sangue é um rio com afluentes nascidos em muitas nascentes. Não venho dum só lugar. Pelo menos gosto de pensar assim. Se viesse viria de Lisboa, donde tenho um costado com várias gerações; sou dos poucos. Mas também do Alentejo. Lá de cima, atrás das montanhas das Beiras, não consta que tenha sangue recente. Porém, é do Douro o vinho que mais prazer me dá beber. O vinho também é sangue e as gentes durienses recebem-me tão simpaticamente como se fosse família.
A demarcação do Douro aconteceu porque andavam a assucatar os vinhos e as exportações ressentiam-se. O marquês de Pombal estabeleceu regras para produtores e comerciantes, em nome da qualidade e do comércio. A lei previa que os mixordeiros pudessem ser punidos até com a pena de morte. Coisa séria! Felizmente hoje já não se faz vinho a martelo, mas há ainda aldrabões no vinho, e até no Douro... há gente a fazer vinho que era preferível produzir batatas.
O Vinho do Porto do tempo da primeira demarcação era semelhante ao actual Vinho do Douro e só mais tarde a diferenciação veio a acontecer e a acentuar-se. Hoje, a região divide-se em Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior... está vasta e generosa, linda com os seus sucalcos, vales de reentrâncias, sombreados e inclinações, com a natureza bravia a querer furar a paisagem humanizada. O Douro é uma festa para todos os cinco sentidos.
Penso que uma lista dos melhores vinhos do Douro, tanto de tintos como de brancos, fortificados ou de pasto, dá um poema, seja qual fôr a forma da sua ordenança. Ainda que em escala e tamanhos diferentes, tenho no paladar e na cabeça prazeres feitos de Vale Meão, Maritávora, Poeira, Pintas, Redoma, Charme, Barca Velha, Chryseia, Vallado, Grantom, Gouvyas... Achou que poemei!...

Nota: Já sei que devia ter divulgado este texto a 10 de Setembro, data exacta do decreto do marquês de Pombal. Contudo, nesse dia não me apeteceu celebrar a efeméride nem abrir uma garrafa.

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