Há vinhos de enólogo, vinhos de produtor, vinhos do
consumidor, vinhos dos críticos, vinhos para concurso. Nenhum significa bom ou
mau, há de tudo. Penso – posso estar enganado – que os vinhos da Torre do Frade
são simultaneamente vinhos de produtor e de enólogo.
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Há muita gente a comprar terra e pelas mais variadíssimas
razões. Muitas vezes, o lazer tem de ser compensado com uma actividade económica,
para que se possa manter o luxo. Muitos apostaram na vinha e no vinho – uns bem
e outros mal. Dentro destes, uns são enófilos outros são empresários.
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Fernando Carpinteiro Albino – e família – não estão na
agricultura porque ganharam dinheiro na bolsa ou na construção ou... ou...
ou... São alentejanos de sotaque e já percebi que também de temperamento.
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A sociedade familiar que gere as propriedades não existe
para poesia, mas para criar riqueza. Mas, ao contrário doutros lavradores –
antigos, pára-quedistas, vaidosos – o vinho não é só negócio.
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Os Carpinteiro Albino gostam do que fazem – numa casa de
lavoura, especialmente no Alentejo, há muito para fazer – e o vinho talvez seja
a que mais apreciem, embora a criação de gado bovino de raça alentejana também lhes
proporcione prazer.
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Penso ser importante referir estes aspectos, porque nem
sempre são uma realidade e fazem parte do «ser»... [palavras como projecto,
filosofia, conteúdo... fazem-me urticária em algumas coisas].
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Já tive o prazer de me sentar à mesa com os Carpinteiro
Albino e nota-se bem o brilho com que apreciam os seus vinhos. Conhecendo
Fernando Carpinteiro Albino – o chefe – há 19 anos é natural que lhe conheça
algumas características pessoais. Duas delas são a franqueza e a coragem de dar
o corpo à luta.
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Estão no vinho! Porque é um vinho de produtor. Não entraram
num táxi e disseram para o motorista os levar onde quisesse. Chamaram um dos
melhores enólogos do país, homem da região, para dar nascimento aos néctares.
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As suavidade, elegância e polimento de Paulo Laureano estão
também nos vinhos desta casa situada no concelho de Elvas. Quem conhece os
vinhos deste enólogo reconhece-lhe uma linha coerente – tem um estilo próprio.
E tem a competência técnica (quem sou eu para o afirmar) para fazer o perpétuo
Mouchão – que é como a equipa do Ajax, que venha que treinador vier a táctica
é sempre a mesma – como para apoiar ou aconselhar o mais autónomo e «desalinhado» José Mota
Capitão.
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Os vinhos da Torre do Frade têm a caligrafia de Paulo
Laureano, bem desenhada e respeitadora da encomenda. Por isso, penso que a
Torre do Curvo (Frade) faz vinhos de
produtor e de enólogo.
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Não pude estar presente na apresentação em Lisboa de dois
brancos da Torre do Frade. Fizeram-me chegar as botelhas a casa e foram provadas
cumprindo as rígidas formas de análise do bloguista: ambiente de convívio
feliz, à mesa, sem estresse (adoro), rótulo à vista...
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Atenção: blogue é prazer e respeita apenas gosto pessoal, condimentado
com bom-senso (espero), respeitando a linha que divide gosto pessoal e a qualidade intrínseca quando não coincidentes. Não sou crítico profissional. Nos
concursos em que tenho feito parte do júri, os meus parâmetros não são os do
blogue. As provas cegas são o que Churchill disse da democracia:
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– É o pior dos regimes políticos, com excepção de todos os
outros.
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Cá em casa o regime é monárquico e absolutista e o pensamento
iluminista só é usado em assuntos específicos. Portanto...
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Quanto aos vinhos que me chegaram, Virgo 2013 e Torre do
Frade Viognier 2013, começa agora a sua entrada em cena.
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O Virgo é o que mostra o rótulo. Um vinho divertido, bem-disposto, descontraído, veraneante... e felizmente não tem no lote a casta maldita! Viognier em esplendor. É elegante e
fundo. É um vinho sem estágio em madeira, pelo que a flor de laranjeira, a
evocação de tangerina não ganharam as notas de manteiga e de fumo que andam a
infestar muitos vinhos alentejanos. Há depois algum abacaxi que reforça a
frescura.
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Quanto a mim, o melhor Virgo que bebi.
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O outro já é outra coisa. É para jantar e de casaco vestido.
Pode apresentar-se na Real Mesa. Com corpo e frescura, ainda assim delicado. Um
cavalheiro. Complexo, com evocação de laranjeira, maçã verde (nunca me lembro
do nome da cultivar), manteiga suave, banana ao de leve e mais umas
tropicalidades domesticadas. Fuuuundoooo na boca. Honra os antepassados.
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Virgo Branco 2013
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Torre do Curvo
Nota: 7/10
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Torre do Frade Viognier
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Torre do Curvo
Nota: 8/10
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