Não sei se felizmente ou se infelizmente, a região da Beira
Interior é pouco notada e, por isso, deficientemente valorizada.
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A formulação é retórica. Não é porque sai mais barato ao
consumidor que o preço é justo para quem compra – como em tudo na vida – pois alguém
não aufere o que deveria, é algo que pessoalmente, é um preconceito moral meu.
Para mim, os bons negócios são proveitosos para todos, por isso gostaria que subissem
os valores dos vinhos desta região.
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Quando me refiro à região vitivinícola da Beira Interior
tenho de realçar que é mais uma excentricidade da nomenclatura burocrática. As
duas áreas que permitem a denominação de origem controlada não têm nada a ver. É
uma bizarria.
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A que viso neste texto é a setentrional. O solo granítico e
os 750 metros de altitude funcionam generosamente no sentido da qualidade.
Curiosamente, embora estes, agora comentados, sejam monovarietais, comportam-se
dum modo mais interessante e complexo do que muitos monocasta.
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Há muitos anos que os vinhos de síria desta propriedade estão
nos meus brancos favoritos. Esta propriedade – localizada mais a Norte – dá
vida a vinhos muito minerais e com excelente frescura. Se são muito felizes no
nariz, mais o são na boca. Por mim, os brancos tendem a estar acima dos tintos.
Do caraças!
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A herança de João Corrêa e Nuno do Ó está bem entregue. A
dois grandes enólogos sucederam dois outros de grande competência e, atrevo-me,
alguma irreverência: Luís Leocádio e Frederico Vilar Gomes.
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Vou aos brancos.
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O Quinta do Chardonnay Reserva 2015 tem uma qualidade
excepcional, mas não me sinto grande fã desta casta francesa em Portugal. Isso
vale o que vale e reconheço que tenho bebido alguns com muito bom prazer.
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Aliás, aqui penso tratar-se de desperdício de natureza, pois
considero que outras uvas podem dar vinhos mais interessantes e prazenteiros. Realço
o que sempre disse: no blogue reina assumidamente o meu gosto pessoal, sendo
que evito prejudicar vinhos com qualidade, em que patamar esteja.
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Ora, o Quinta do Cardo Chardonnay Reserva 2015, apesar dos
solos e da altitude, pesou-me um pouquinho na boca. Metade fermentou quatro
semanas em barricas novas de carvalho francês. O conjunto estagiou por dez
meses em madeira, com battonâge quinzenal.
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O Quinta do Cardo Síria Reserva 2015 é um vinho em que a
mineralidade quase explode, mas conta, como auxiliares de frescura, notas
cítricas e uma finura de ervas de verde feliz – sei lá como explicar, isto das
ervas… se as vir poderei mostrá-las.
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Algumas notas fumadas acrescentam-lhe complexidade e aquela
gulodice – não é doçura – que nos senta à mesa. Um terço deste vinho fermentou
em barricas de carvalho francês. O todo estagiou nessa madeira por dez meses,
com battonâge regular – designação da empresa.
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O Quinta do Cardo Vinha de Lomelo 2014 foi todo feito com
uvas síria. Fermentou totalmente em barricas de carvalho francês, durante
quatro semanas. Estagiou 22 meses em barricas com battonâge regular. Está…
está… sei lá…
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Tendo os investimentos enológicos no Cardo Vinha de Lomelo
2014 sido superiores aos do que no Quinta do Cardo Reserva 2015 – certamente
também em valor traduzível em euros –talvez seja injusto atribuir-lhes a mesma
nota… porém… são regras daqui da casa.
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Agora, o rosado. Blá, blá, blá, os rosés são todos iguais,
blá, blá, blá são todos doces, blá, blá, blá o estágio em madeira estraga-os…
conversa. Ou seja, três momentos referentes a três grupos de gente
preconceituosa.
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Ora, o Quinta do Cardo Rosé Reserva Caladoc 2015 manda calar
uma série de gente. Um terço do vinho fermentou em barricas de carvalho
francês. Estagiou dez meses em barricas de carvalho francês, com battonâge
regular.
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O Quinta do Cardo Reserva Tinto 2014 é um monovarietal de
touriga nacional. Certamente pela altitude, climatologia e solos, não lhe senti
nem o exagero de violetas, duns locais, nem das compotas e geleias, doutros
sítios.
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Fresco, sem a frutinha e as florezinhas que me desgostam,
apresenta-se complexo, duradouro e a exigir mesa. Fez a fermentação maloláctica
em inox e o vinho seguiu para barricas de carvalho francês durante 20 meses,
sendo metade em recipientes novos.
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O Quinta do Cardo Vinha do Castelo 2014 fez-se totalmente
com uvas de tinta roriz. Aqui as uvas foram pisadas a pé. Fermentou por oito
dias – em recipiente não especificado – e estagiou 22 meses em barricas de
carvalho francês.
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Quinta do Cardo Chardonnay Reserva 2015
Origem: Beira Interior
Produtor: Agrocardo
Nota: 6/10
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Quinta do Cardo Síria Reserva 2015
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Origem: Beira Interior
Produtor: Agrocardo
Nota: 8/10
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Quinta do Cardo Vinha de Lomelo 2014
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Origem: Beira Interior
Produtor: Agrocardo
Nota: 8/10
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Quinta do Cardo Rosé Reserva Caladoc 2015
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Origem: Beira Interior
Produtor: Agrocardo
Nota: 7/10
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Quinta do Cardo Reserva Tinto 2014
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Origem: Beira Interior
Produtor: Agrocardo
Nota: 7,5/10
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Quinta do Cardo Vinha do Castelo 2014
Origem: Beira Interior
Produtor: Agrocardo
Nota: 8/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.
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