Duarte Leal da Costa não tem só um apurado sentido comercial e de promoção. Mais do que coisas conhecidas da tribo do vinho, o homem da Ervideira arrisca. Felizmente, para ele e para quem prova e bebe, os resultados são positivos.
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Assumo-me céptico – muitas vezes com incredibilidade peremptória – e pessimista. Quando Duarte Leal da Costa depositou umas garrafas de vinho sob a água da barragem de Alqueva disse:
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– Ah e tal! Condições controladas cá fora dão o mesmo resultado! É golpe para vender vinho.
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Marketing não é pecado nem crime. Disse isso porque sinceramente acreditava que se tratava apenas duma boa iniciativa de promoção.
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Como é recorrente, a realidade bateu-me à porta e esbofeteou-me. Vermelho da vergonha e da pele escaldante dos estalos, assumo que, provados, os vinhos que ficaram guardados à superfície e os mergulhados… estão diferentes.
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Tantas e tantas vezes repito uma mínima parte d’ Os Lusíadas. Digo-o para mim, para que me mantenha céptico – não quanto à ciência – relativamente a mim e que tenha abertura de espírito para compreender o que se diz diferente ou novo.
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Os sábios do século XVI – como anteriores e futuros – desdenharam do que desconheciam. Os marinheiros eram homens duros e dados à fantasia. O fogo de Sant’Elmo era uma patranha. Embarcado, Luís de Camões testemunhou várias dessas supostas invenções. Por isso escreveu as maravilhas fabulosas, sentenciando:
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– Vejam agora os sábios na escritura / que segredos são estes da Natura.
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Sabendo que os vinhos são os mesmos, as condições de luz e quietude idênticas. No solo, a temperatura de arranque estava a 13 graus e foi até aos 20, e os submersos mantiveram-se a 17 graus. Duarte Leal da Costa referiu existirem condições de humidade comparáveis. As garrafas eram idênticas. Obviamente, a pressão é diferente – quatro quilogramas mais nos aquáticos. Os níveis de acidez mantiveram-se, tal como os de açúcar.
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– O que determina as diferenças?
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– Serão as nuances suficientes para as alterações? Quais ou em conjugação?
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Não se sabem as razões, mas há quem esteja a fazer um mestrado tendo este assunto como tema.
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Os primeiros em prova não eram exactamente idênticos. Os espumantes comparados foram três:
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– Vinha d’Ervideira Espumante 2015.
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– Vinho da Água Espumante 2015 – maturado com degorgement.
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– Vinho da Água Espumante 2015 – maturado com leveduras.
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O primeiro mostrou-se muito fresco, com notas de maçã reineta caramelizada. O segundo estagiou a 30 metros de profundidade e estava mais guloso. O terceiro registou a segunda fermentação sob a água e tornou-se mais complexo, em aromas e sabores.
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Quanto aos brancos tranquilos, provaram-se:
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– Conde d’Ervideira Reserva Branco 2015.
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– Vinho da Água Branco 2015.
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Também aqui, o mergulhado ganhou complexidade e registaram-se acrescentos de frescura e vivacidade, mais gastronómico.
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Os tintos em avaliação foram quatro:
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– Conde d’Ervideira Reserva Tinto 2014.
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– Vinho da Água Tinto 2014.
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– Conde d’Ervideira Reserva Tinto 2015.
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– Vinho da Água Tinto 2015.
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As conclusões não divergiram! Maior frescura, maiores complexidades de aromas e sabores, mais prazenteiros, com uma gulodice – não derivada de doçura – incrível.
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– Vejam-me agora tolo da escritura / que segredos são estes da Natura.
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Duarte Leal da Costa, obrigado por esta tareia no meu preconceito!
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