Não acredito que alguma vez Sandra Tavares da Silva faça um
vinho mau. Tem no ADN a intuição e a experiência deu-lhe sabedoria. Sou fã. Um
dos locais onde trabalha é a Quinta de Foz Torto.
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Esta propriedade situa-se, obviamente, junto à foz do rio
Torto no Douro, na sub-região de Cima Corgo, não muito distante da aldeia do
Pinhão. O proprietário, Abílio Tavares da Silva, deixou Lisboa e a informática
para se dedicar inteiramente à produção de vinho, à recuperação de vinhas,
muros e lagares, edificação de novas estruturas, produção de azeite e cultivo
duma horta e dum pomar.
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Estive na apresentação de três vinhos desta quinta duriense:
Foz Torto Vinhas Velhas Branco 2016, Foz Torto Tinto 2015 e Foz Torto Vinha
Velhas Tinto 2015. Não é de agora que conheço vinhos desta quinta e avalio-os
fiáveis – reflectindo os anos, como convém em vinhos de qualidade superior, mas
sem oscilações, há consistência, quem os compra sabe o que está a comprar.
Mesmo nos vinhos mais modestos, a fiabilidade é algo que muito valorizo.
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Uma propriedade com 14 hectares produz pouco. A Quinta de
Foz Torta faz apenas 12.000 garrafas. Claro, a rendibilidade é obtida não por
uma gama vasta com centenas de milhares de litros, mas por vinhos de
ourivesaria: vinhas cuidadas, muita atenção à saúde da fruta, rigor na apanha… etc.
aquelas coisas que surgem em «todas» as fichas técnicas e que, obviamente, em
muitos casos, não são (bem) verdade.
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Não sou ninguém no mundo dos vinhos, limito-me a escrever
(pouco) no meu blogue, mas sou atrevido… gosto de esculpir conceitos. Aquilo que
se tem definido como terroir – as condições naturais de toda a ordem – não coincide
com a minha definição. Fazer vinho implica pensar e decidir. Por isso, incluo o
factor humano, nas suas várias valências, no conceito de terroir. Eu bem
poderia ter a melhor vinha do mundo, desastrado e ignorante, como sou, seria
uma sorte conseguir um vinho medíocre.
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É aqui que entra o produtor, o viticultor e o enólogo –
talvez mais gente. O que sinto nos Foz Torto é o Douro. O «meu» Douro do xisto,
da esteva, do azinho e, por vezes, este madeiro fumado. Sinto uma emoção que
não escondo – aliás, todos os meus textos, no blogue, são assumidamente subjectivos.
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A minha paixão duriense é sobretudo pelos tintos, nos
brancos tendo a preferir doutras localizações – embora, para mim, obviamente, o
melhor branco português seja do Douro, da Quinta de Maritávora.
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O que não é definível ou é demorado não interessa. Já todos
perceberam o que disse. Vou então à parte chata, mas que tem sempre interesse.
Os dados básicos.
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As uvas do Foz Torto Vinhas Velhas Branco 2016 saíram duma
vinha antiga, onde sobressaem a códega de larinho e a rabigato. Foram esmagadas
em prensa pneumática, a fermentação ocorreu em barricas de carvalho francês
durante quatro semanas, tendo estagiado, nos mesmos recipientes, por seis meses.
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No Foz Torto Tinto 2015 dominam as tourigas: a nacional com
40% e a francesa com 30%. Depois há tinta francisca (10%), alicante bouschet
(5%), sousão (5%), tinta barroca (5%) e tinta roriz (5%). As uvas foram
desengaçadas; a fermentação ocorreu em cubas de inox durante oito dias; a
fermentação maloláctica e o estágio decorreram em barricas de segundo e
terceiros anos, durante 16 meses.
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O Foz Torto Vinha Velhas Tinto 2015 fez-se com uvas duma
vinha com 60 anos, onde as cultivares típicas da região se encontram
misturadas. As uvas foram desengaçadas; a fermentação ocorreu em cuba durante
oito dias; a fermentação maloláctica e o estágio processaram-se em barricas
novas de carvalho francês (30%) e de segunda utilização (70%), durante 18
meses.
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Foz Torto Vinhas Velhas Branco 2016
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Origem: Douro
Produtor: Foz Torto
Nota: 6/10
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Foz Torto Tinto 2015
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Origem: Douro
Produtor: Foz Torto
Nota: 6,5/10
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Foz Torto Vinha Velhas Tinto 2015
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Origem: Douro
Produtor: Foz Torto
Nota: 7,5/10
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