A Bairrada está a entrar na moda. E há modas felizes. Neste
caso, a frescura dos seus vinhos é notável. Têm uma capacidade de envelhecimento
que não está ao alcance de todos. Além dos tranquilos, há décadas que se
produzem espumantes de grande qualidade.
.
Outrora a casta baga dominou os encepamentos. Hoje, é
variada a paleta de cultivares. Não tenho nada contra as uvas exóticas, porém custa-me
vê-las permitidas para a elaboração de vinhos com denominação de origem
controlada.
.
É apenas uma comichão ao nível dos princípios. Os
encepamentos com castas portuguesas não dão só vinhos de excelência. Tal como
os produzidos com variedades estrangeiras há com variadas qualidades.
.
Francisco Batel Marques é daquelas pessoas que transmitem
simpatia e sorriso. Junta-se um amor visível pela terra. Evito estrangeirismos,
mas a melhor palavra para designar os produtores duma só quinta é francês:
vigneron. A ele se junta Osvaldo Amado, um dos melhores enólogos portugueses.
.
Este professor apaixonou-se pela bebida sagrada das três
religiões do Livro e transmite esse afecto pela terra e as plantas. O
território, situado nas proximidades da Serra do Buçaco, esteve abandonado
durante 12 anos e, foi por ele, comprado em 2003.
.
Tudo tem um nome. Francisco Batel Marques baptizou a terra
como Quinta dos Abibes, homenageando um pássaro pelo qual tem simpatia. O
abibe, Vanellus vanellus, tem uma
enorme lista de designações… Bem, este texto não é dedicado à ornitologia!
.
Bebi e apreciei-os.
.
Bruno Antunes, escanção e empresário no ramo da distribuição
(Wine Man), organizou um jantar dedicado à Quinta dos Abibes, que foi confeccionado
pelo chefe Joachim Koerper, do restaurante Eleven, em Lisboa. Como não escrevo
acerca de maridagens, fico-me por dizer parelhas perfeitas e aplaudo.
.
Obviamente, os quatro vinhos não são iguais. Descreve-los é
maçador e não conduz a nada – por regra, não definem grande coisa. Resumo: delicados
no aroma, finos no tacto e com perlagem elegante, perdurando na boca. Basta.
Afirmo que todos pedem comida, embora possam abrir o apetite.
.
À recepção foi servido o Quinta dos Abibes Espumante Rosé
2015, feito integralmente com uvas baga. Seguidamente vieram Quinta dos Abibes
Espumante Arinto e Baga Reserva 2013 – a meias arinto e baga – e Quinta dos
Abibes Espumante Sublime 2010 – brut nature de 2010, com o degorgement realizado
em 2015, feito integralmente com uvas arinto.
.
Saltei o tinto! Escrevo agora. Como definir o diferente?
Trata-se da junção de três colheitas de cabernet sauvignon, casta que Francisco
Batel Marques aprecia bastante (eu também, mas fora das DOC).
.
É um vinho perigoso! A sua acidez nega os seus 14% de
álcool. Ou seja: o problema está quando te levantas. Juntaram-se os resultados
das colheitas de 2011 e de 2013, que estagiaram 18 meses em barricas de
carvalho francês, de segundo uso, e a de 2015, que viveu nove meses em barricas
novas de carvalho francês. A conjugação das três ficou em garrafa por um ano.
.
Conclave significa reunião – em diversas acepções – e o «3»
percebe-se facilmente o que quer dizer.
.
O que é diferente e bom tem de se valorizar. Viva a
imaginação. O vinho, quando é de qualidade superior e com um conceito estético,
é arte. Não gosto da definição da «nota artística», que tem aparecido nas
escritas, pois lembra-me a enfadonha patinagem no gelo (artística). Prefiro
dizer arte – só e chega.
.
.
.
Quinta dos Abibes Espumante Rosé 2015
.
Origem: Beira Atlântico
Produtor: Quinta dos Abibes
Nota: 6/10
.
.
Quinta dos Abibes Espumante Arinto e Baga Reserva 2013
.
Origem: Bairrada
Produtor: Quinta dos Abibes
Nota: 6,5/10
.
.
Quinta dos Abibes Espumante Sublime 2010
.
Origem: Bairrada
Produtor: Quinta dos Abibes
Nota: 7,5/10
.
.
Conclave 3
.
Origem: Beira Atlântico
Produtor: Quinta dos Abibes
Nota: 8,5/10
1 comentário:
Perfeito, grandes vinhos
Obrigado
Enviar um comentário