Já notei que o meu coração pende para o Douro, tanto em
tinto quanto em brancos, embora os amarelos da Beira Interior me contentem
também muito. Hoje a crónica calha a um branco do Douro.
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A empresa (Duorum Vinhos) pode ser recente, mas já se tornou
numa referência. A justificação é simples: os «pais» da criança andam a «virar
frangos» há muito tempo. E não é apenas uma questão de experiência. Tanto o
empresário e enólogo João Portugal Ramos como José Maria Soares Franco são do
melhor que existe nestes 92.090 quilómetros quadrados de terra, povoada (antes
da debandada dos imigrantes e dos novos emigrantes) por um pouco mais de 10,5
milhões de habitantes.
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Se não me engano, os Tons de Duorum são a entrada de gama da
Duorum Vinhos. E não enganando-me são do melhor do seu patamar (não de preço)
aspiracional (?).
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Bem, mas o parágrafo anterior é mero fédivéres (esquisita a
forma como invento palavras, esta até com a proibição de dois acentos). O que
importa é a verdade que existe neste vinho. Pode ser entrada de gama, pode ser
acessível à maioria das algibeiras, pode ser enofilizado por gente graúda...
podia até ser mais coisas e não ser verdadeiro.
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Verdadeiro aqui quer dizer ter a sua região no ADN (ácido
desoxirribonucleico – adoro estas coisinhas... pequeninas, como decifrar siglas
que toda a gente sabe... a minha favorita é ácido acetilsalicílico... quem não
sabe que procure... comece por tentar Aspirina).
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Embora com uma cedência ao mercado – ah pois! É preciso
vender – com um certo tropicalismo. Dispensava, compreendo, mas para mim é
penalizador (para quem não sabe, as crónicas são assumidamente subjectivas,
reflectindo o meu gosto, afectos, ambientes, não se baseiam normalmente em
sítios severos, em que a neutralidade é quase absoluta).
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É um Douro de ADN e ainda assim tem algumas raridades
legítimas, em termos de olfacto. Apreciei-lhe bem a mineralidade, aquela que só
o Douro tem (a da Beira Interior para os brancos talvez lhe fique à frente). É
um vinho fresco, pela acidez, e pelas sensações que induz, nomeadamente a limão
e uma certa tangerina. Se este último citrino sugere, o toque floral confirma:
há moscatel no lote. Bem, o sambinha ou outro tropicalismo...
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Frescura não lhe falta e, reconhecendo a tendência do gosto,
os trópicos estão equilibrados. Dão doçura e enjoam-me um bocadinho. Contudo, o
Tons de Duorum Branco é vinho que me dá bom contentamento. Marimbando-me para a
relação de preço e qualidade (o que vou dizer não implica preço – embora talvez
devesse) é a complexidade em harmonia.
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Quanto a castas: moscatel galego (5% – BINGO!), viosinho
(30% – smiley), rabigato (25% – smeyle), verdelho (20%) e arinto (20%). Não
sabia que o arinto era permitido no Douro... Solo de xisto (smiley – é Douro), sendo a
fruta proveniente de vinhas cultivadas entre os 400 e os 600 metros de altitude.
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O produtor sugere e eu assino por baixo: aperitivo,
refeições leves de Primavera e Verão, saladas mediterrânicas e peixe – acho que
foi quase ipsis verbis (hoje estou numa de brincar à artista).
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Embora cansado de dizer, repito. A minha escala de notação
do prazer (com acerto para cima, quando a qualidade é grande e o meu gosto
pessoal castigador) é decimal, mas em que o 3 já é positivo... isto porquê?
Qual a vantagem de usar diferentes patamares de «evitável» (2) ou de «imbebível»
(1)?
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Vamos a contas: prazer = a 5,5. Desconto do tropical de 0,5
pontos. Adição por João Portugal Ramos ser do Belenenses de 1 ponto.
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Origem: Douro
Produtor: Duorum Vinhos (João Portugal Ramos Vinhos)
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.
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