Confesso que tenho alguma dificuldade em escrever o que é
melhor do que o outro. São três os vinhos (mais um que conto depois, fora do
ramalhete) provados e, com sinceridade, não os sei classificar facilmente e
exprimi-lo na justificação.
.
Primeiro ponto: cada um é para o que nasce! A casta
alvarinho nasceu para a sub-região de Monção e Melgaço. Pode dar-se bem noutros
locais, apresentar variações, mas... ali... é do mais ilustrativo do que é um
terroir.
.
Onde a frescura do clima, a mineralidade do solo, o
temperamento da casta e o saber do homem se juntam. Terroir (pode ser mais
complicado), mas isto já define. O granito e um pouco de citrino, verde de erva
fresca, por vezes floral.
.
Os alvarinhos desta sub-região batem tudo e de longe (nem a
arinto de Bucelas consegue tantos créditos diferenciadores de qualidade). É
claro que não são a última Coca Cola do deserto, mas serão das últimas.
.
Quem quer saber o que é a casta alvarinho tem de beber do dali...
não é como a vadia da touriga nacional, que vai com quase todos. Se há castas
portuguesas que vão bem estreme (não conto muitas), está aqui uma... mas de
Monção e Melgaço.
.
As Quintas de Melgaço comercializam-se como QM – não é óbvio
nem identificativo, mas quem já deu uns tirinhos nas barraquinhas das feiras de
vinhos sabe e não precisa que lhe expliquem.
.
O que sinto nos alvarinhos em geral, e nos QM, em
particular, é uma complexidade sedutora, em que é fácil, mas não óbvio, com
segredos e diferentes níveis de leitura. Obviamente que isso significa polivalência.
.
QM Alvarinho 2013 – simples, desnudado. Não é cru, é
naturalmente despojado de artifícios. Sensível e delicado: praia/piscina, peixe
assado, marisco, festa, conversa, aperitivo.
.
O QM Alvarinho Vinhas Velhas 2012 é o morgado, o senhor do
solar. Com uma classe e tipicidade digna dos fidalgos do Entre-Douro-e-Minho.
Chamam-lhe vinhas velhas e notam-se diferenças... mas são novas, meros 20 anos.
Que isto fique assente em acta – o que não lhe tira brilho.
.
Este é dos tais que são o que é! Alvarinho é isto! Cítrico,
flor de laranjeira, granito... «vento» (não sei definir essa frescura) folhagem
verde do Alto Minho (ok, não estou nos meus dias para precisões nos
descritores, também...). Ao contrário do enólogo (Jorge Sousa Pinto) que
escreveu na ficha que tinha fruta tropical madura, notei-lhe a virtude de não
dar por ela... só depois de ler a ficha e continuar com o vinho é que tal coisa
me veio à lembrança – a tal coisa dos níveis de leitura. É longo na boca e
fundo.
.
O QM Espumante Super Reserva é um senhor! Ou melhor, um
cavalheiro... que visita os parentes no campo. Com boas maneiras, com bolha
fina, suave e persistente. Mineralidade, notas «verdes» (hoje não dou pra
mais), citrinos, talvez um nico de manga madura, um temperozito.
.
Como cavaleiro; sabe estar na sala, no café, no club, na
praia, na tasca ou em qualquer lugar. Vai bem como aperitivo, para a conversa,
para o Verão, para o Inverno, para peixe, para marisco, para carne no forno, para
carne grelhada e até bolos.
.
A surpresa: QM Alvarinho Vindima Tardia (2012?). O produtor
diz que foi o primeiro a produzir um colheita tardia na região dos Vinhos
Verdes... conheço mais dois: Quinta do Ameal e Quinta de Sanjoanne (este
assume-se como passito). Tenho ideia de que o Quinta do Ameal não foi tocado
pelo fungo botrytis cinerea (podridão nobre).
.
A surpresa da QM foi tocada pela botrytis cinerea e tal
nota-se. É um belo vinho. Não esperava. Todo ele de alvarinho. Mineral,
amêndoa, avelã, alguma manga, citrino (a atirar para o limão), untuoso e longo.
.
.
.
QM Alvarinho 2013
.
Origem: Vinhos Verdes
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 6/10
.
.
QM Alvarinho Vinhas Velhas 2012
.
Origem: Vinhos Verdes
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 8/10
.
.
QM Espumante Super Reserva
.
Origem: Vinhos Verdes
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 8,5/10
.
.
QM Alvarinho Vindima Tardia (2012?)
.
Origem: Vinhos Verdes
Produtor: Quintas de Melgaço
Nota: 8/10
Sem comentários:
Enviar um comentário