Disse 5.000.000.000 (mil milhões, não é bilião) que este
blogue reflecte gosto, que as provas não são científicas, que normalmente são
avaliados em convívios (sempre agradáveis, graças a Deus), assumidamente
apaixonado ou zangado, influenciado por quem os faz ou pela sua história. Nunca
penalizando (em demasia) vinhos bem feitos.
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Isto a propósito de gostar da equipa da José Maria da
Fonseca e de lhe reconhecer competência e imaginação. Do rapaz inquieto,
imaginativo e irreverente que manda na enologia. Gosto muito dos vinhos da
casa, embora já tenha dado notas, embora positivas, que não transcendem
(veja-se o caso do Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo).
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E julgo que, apesar deste afecto, serei justo na avaliação.
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Tinha de ter este desabafo, até por uma razão. Eu, que
sempre disse marimbar-me para aquela coisa subjectiva da relação entre a
qualidade e o preço, tenho de manifestar que nesta colecção há (quase)
pechinchas. Bem, descontem o que quiserem da subjectividade do meu apreço pela
equipa da empresa.
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Começo pelo mais óbvio, aquele que une gerações. Regular,
com perfil assente, indicado para o consumidor que quer marca e não añada (como
dizem os espanhuelos). Uma regularidade implica saber técnico apurado – e estou
a falar duma realidade de 200.000 litros. Qualquer mexida, para acompanhar o
gosto ou moda, tem de ser feita com muito cuidado, para que o ganhar de
clientes não faça perder os que já tem.
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Refiro-me ao BSE. O BSE é (dos poucos em Portugal) que é uma
instituição. BSE é BSE. Ponto final, parágrafo.
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Vai bem com quase tudo, acompanha ambientes, não deslumbra,
mas nunca desilude. Fez-se com antão vaz (a maldita – 45%), fernão pires (33%)
e arinto (22%). O arinto dá uma frescura que amaina a antão vaz. Confesso que
nunca pensei que essa «coisa» lá estivesse metida. O fernão pires há-de ter uma
função qualquer, mas, como não sou engenhêro, mantenho-me calado.
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Outro óbvio é o Periquita Branco 2013... Quando saiu o
primeiro Periquita amarelo fiquei triste, pois tinha de ser vermelho carregado,
como sempre foi. Passado o amuo, reconheço-lhe virtudes. Acho-o menos
polivalente que o BSE, mas mais convidativo para a mesa.
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O Periquita Branco 2013 fez-se com verdelho (64% – acho que
o mestre Domingos tem uma paixoneta por esta casta), viosinho (14%) e viognier
(22%). É um vinho menos neutro e menos óbvio que o BSE, mas não lhe tenho o
mesmo amor.
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O Montado Branco 2013 foi o da colecção que menos alegria me
deu. Mas fiquei a saber que existe uma casta chamada «alva». Sem indicação de
percentagens, além da alva, fez-se com tamarez e rabo de ovelha.
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A cena tropical, para mim, fica-se pelas camisas dos
americanos nos cruzeiros e na Florida, pelos calções de banho (tipo cueca de
gola alta) e pelos chinelos de enfiar o dedo (flip flop – termo anglo-saxónico,
onomatomeia certeira).
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Pois o ananás, manga, melão, leve maracujá e limão... epá! Não
é a minha praia. Deve ser para muita gente, ou não houvesse tantos
vitivinicultores a apostar nos trópicos. Como diz o tipo do vídeo do skate:
«sai da frente, Guedes»!
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Diverti-me larguete com o Quinta de Camarate Branco Seco
2013... e aqui há tropical... mas não o tropicalzinho. É muito fixe. Feito com uma
casta fora do sítio, a alvarinho (50%), que lhe dá «doçuras» e fruta, e
verdelho (50%) que lhe levanta o ânimo.
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Mas curtir, assim mesmo com os pés na areia, mergulhos,
pirolitos, regresso ao poiso, amêijoas, mergulho... piscina tem menos piada. O
Quinta de Camarate Doce 2013 é dos vinhos que mais me divertiu dentro dum
espaço de tempo razoável.
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Quero lá saber da Troika... o PSI 20 está em queda?... O
Belenenses perdeu? O João Galamba foi vítima de mais um triste espectáculo?...
amêndoas fritas, amendoim salgado, camarões (arriscaria), amêijoas (arriscaria
muito)... Sol, praia, férias, festas até de manhã... é um Verão!
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Tropical (ai), mas complexo. Não é uma fruta, nem duas... e
com frescura. Divertidíssimo! Calhou-me tão bem... Pois tomem lá os aromas:
lima, limão, laranja, manga, banana, melão, alperce, lichias, flor de
laranjeira (talvez seja confusão com outros citrinos), erva cortada... e na
boca, o doce é agradável, não me enjoou nada. Com bom final, a atirar-se ao
alongamento... eu que não me meto em preços nem aos valores recomendados pelos
produtores...
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Até me lembrou festas na praia ou a maluquice das discotecas
ao ar livre, em Sevilha, a dançar músicas kitsch, como só os espanhóis sabem fazer, e que
divertem-me horrores.
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Mas mais justo, com os citrinos é o Brasil... quero!
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No fim segue um vídeo, é de homenagem a este vinho.
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Branco Seco Especial (BSE) 2013
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 5/10
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Periquita Branco 2013
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 5/10
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Montado Branco 2013
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 3,5/10
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Quinta de Camarate Branco Seco 2013
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca:
Nota: 5,5/10
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Quinta de Camarate Branco Doce 2013
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 6,5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.
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Nota: Música de Fernanda Porto com DJ Patife
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