quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Arruda Garrafeira 1970

Há uns meses, ou há um ano, escrevi um texto, publicado na imprensa, acerca da Quinta de São Sebastião. Nele referi a estória da encomenda feita ao enólogo Tiago Carvalho. Às cegas deram-lhe um vinho novo e outro com idade. O desafio era o de fazer algo que sugerisse a junção dos dois.
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Contou-me Tiago Carvalho que o vinho idoso lhe lembrava algo do Barca Velha, mas que, definitivamente, não era. Após o primeiro embate percebeu que não era esse famoso Douro. Mas o que seria?
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Compreendido o caderno de encargos revelou-se o embuçado. Tratava-se dum tinto da Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos. Espanto! Tiago Carvalho disse-me que tivera assim a prova de que se podem fazer grandes vinhos numa região em que ninguém dá muito por ela. Mas como também referiu, não será por acaso que a palavra «vinhos» faz parte do topónimo.
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Fiquei com essa na cabeça e, como não duvido de pessoas sérias, fiquei sonhando com o momento em que uma dessas perdizes me passasse frente à caçadeira. Um ano depois da conversa, tau! Duas aves raras abatidas. Todavia não sei se o ano da colheita era o mesmo.
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Outro dia a Mé e o Tiago vieram cá jantar. Como prometido anteriormente, trouxeram duas botelhas que, todavia não se abriram nessa noite. Passado um mês, ou coisa que o valha, vieram novamente e disparou-se o saca-rolhas.
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O Tiago, que tem uma coleção destas garrafas, já me avisara que, de vez em quando, uma sai errada. Normal, pois a idade trata de tratar (foi de propósito) de modo diferente diferentes (foi de propósito) exemplares. Claro está que as duas estavam desfasadas.
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Uma mais enrugada, sem qualquer brutalidade, e outra muito polida e elegante. Quer numa quer noutra, a cor mantinha-se jovial. Já com aromas terciários, mostravam notas verdáceas. Cada uma com seu carácter.
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A garrafa traz um colar, dum lado com as cores da bandeira da República Portuguesa e, doutro, as de Itália. Ao centro, um círculo dourado com o dizer: Concurso Enológico Internacional – Itália 1984. Não sei que concurso possa ser e deduzo, pela cor, que tenha ganho uma medalha de ouro… sendo que não ligo bóia a tal coisa, mas neste particular achei que o devia referir.
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Quem as vir passar que lhes passe uma rasteira e as levante, agarrando-as sem as largar. Trate-as com carinho e dê-lhe finanço.
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Origem: não referida (A Arruda dos Vinhos situa-se na atual região de Lisboa)
Produtor: Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos
Nota: 7,5/10 e 8/10

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