Num momento de crise até
arrepia apresentar um vinho deste calibre. A idade é muita, a qualidade é
imensa, a raridade é grande… caríssimo. Com crise ou sem crise, não estaria
disponível à bolsa dos comuns. É talvez o Vinho do Porto mais caro de sempre,
em preço de estreia, pois circulam outros Rolls Royce. Todavia, não há forma de
escapar à referência, é o vinho do ano! Talvez da década.
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É do tempo em que as
vinhas eram diferentes. No século XIX chegou à Europa, vinda da América, um
minúsculo insecto que arrasou a vitivinicultura. Sem defesas, as videiras
morreram aos milhões. Gerou-se uma grande crise nos países produtores e
Portugal teve o primeiro caso 1867, em Vila Real.
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A solução veio com a
enxertia em pés de videiras americanas, bravias, mas com defesas naturais. Pois
este Taylor´s tem 155 anos, o que quer dizer que é anterior à praga da
filoxera.
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Repousava em dois cascos
de reserva pessoal duma família duriense. Ora ninguém fica eternamente nesta
vida nem pode levar nada para o «outro lado». O dono morreu e os herdeiros
venderam-no à Taylor’s. Há ainda a curiosidade dum dos cascos se destinar a
Winston Churchill.
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David Guimaraens,
enólogo da Taylor’s, provou e não teve dúvidas em adquiri-lo. A opção do que
fazer com ele poderia ter sido outra; a de entrar nos lotes dos tawnies velhos
(resultantes da junção de néctares de diferentes anos, nomeados por idade de
envelhecimento pela média dos anos dos vinhos do blend). O técnico reconheceu
as grandes virtudes e preferiu não o mesclar, pois perder-se-ia a fama pública.
Apesar das suas 15 décadas, mantém uma frescura e um vigor de excepção.
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O nome é feliz. Há na palavra inglesa «scion» a essência deste vinho do
período pre-filoxérico e de nobreza. O vocábulo quer dizer garfo de enxerto,
mas também herdeiro de família nobre.
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Foram cheias apenas 1.400 garrafas, desenhadas especialmente. É para quem
pode... Mesmo não podendo, sou um dos felizardos que o provou. Espero que o
leitor também tenha hipóteses.
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