domingo, setembro 25, 2011

Vinho da terra xistosa – Maritávora Tinto Reserva 2007


O Douro da Quinta de Maritávora é diferente daquele dos bilhetes postais, da natureza montanhosa e arranjadinha pelos homens que, durante gerações, as foram torneando e domesticando para o cultivo da vinha. O Douro, por ali, é outro.
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A quinta situa-se no Douro Superior, terra muito quente de Verão e muito fria de Inverno. A paisagem lembra mais Trás-os-Montes do que a do postal vinhateiro. Fica na simpática e pequena vila de Freixo de Espada-à-Cinta, que está a caminho de coisa nenhuma… ou de coisa alguma de importância visível no mapa. Diz o vitivinicultor, Manuel Gomes Mota, que ninguém vai ao engano até Freixo. Quem lá vai, vai mesmo para lá. Não está nas rotas principais, aponta para nenhures.
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Freixo está numa natureza diferente, muito próxima do Parque Natural do Douro Internacional, onde voam os abutres negros do Egipto e as azinheiras se penduram nos penhascos abruptos, de tal forma que na região lhe chamam carrascos. Mas a vila é mais calma aos olhos.
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Apesar do seu nome que aponta a uma família da mais elevada nobreza portuguesa, que ganhou fama em massacre político, a Quinta de Maritávora não é imponente. Terá sido uma propriedade menor da família Távora, que não muito longe tinha outros bens. Sabe-se que foi comprada por Dona Maria de Lencastre, mulher do primeiro marquês de Távora. Pouco mais se sabe até ao século XIX.
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Em 1870, a quinta foi comprada pelo lavrador abastado José Junqueiro Júnior, pai do poeta Abílio Guerra Junqueiro. Desde então que se encontra na mesma família, que, por vias naturais da assumpção do nome dos maridos por parte das mulheres, passou para Sarmento Rodrigues e Gomes Mota.
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Nos últimos anos, o Vinho do Douro ganhou moda. E para tal muito contribuíram vários vinhos do Douro Superior. Não sendo um grande produtor, a Maritávora deu e dá o seu contributo. O enólogo é um dos mais reconhecidos e aplaudidos da região e do país, Jorge Serôdio Borges.
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Os grandes vinhos fazem-se em lugares únicos, com fruta muito boa e obrigatoriamente com mão sábia. Além do enólogo reputado e da qualidade das uvas, a Maritávora tem um solo que é de se ver. Pedregoso como muito poucos, é uma alegria de calhaus de xisto. Não parece ser importante, mas até confere propriedades apreciáveis aos néctares.

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