terça-feira, dezembro 24, 2013

Real Companhia Velha apresenta novos topos de gama

Eu, embirrento me confesso, encanito-me com castas estrangeiras no Douro. Irrita-me ser humano e ter excepções. Irrita-me, irrita-me e irrita-me.
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A questão que ponho é aceitarem uma designação tradicional a uma coisa que nada tem de tradicional. A Real Companhia Velha, instituição de 1756, tem um estatuto especial... pergaminhos e a antiguidade é um posto... não é bem assim.
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Na Quinta de Cidrô tem se posto, há muitos anos, a fazer ensaios. Felizmente, no Douro não reina o deslumbramento pelo estrangeiro e protege-se o que é, de facto, de lá. Porém, o semillon foi aceite... ai que morro!
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É que a francesa semillon é a nossa boal! Cruzes! Canhoto! Pois numa visita técnica, os especialistas concluíram que eram a mesma coisa. Mais tarde, as equipas da Real Companhia Velha vieram a descobrir nomenclaturas interessantes em algumas aldeias. Há várias, mas só fixei o semilhão.
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Semilhão é notável! É a língua a mexer-se. Ao contrário da defesa das nossa denominações de origem controladas, que aprecio a quietude, o idioma quero-o mexido, prova de vitalidade. E semilhão é um achado que vale oiro.
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Antes de concluir esta parte, quero notar a homogeneidade da qualidade dos vinhos. É claro que não podem ser todos iguais, ainda bem, mas completam-se. Permitem variar nos pratos se se quiser manter sempre a escolha no mesmo produtor.
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Quinta de Cidrô Semillon 2012
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Fresco e guloso. Não é o meu estilo de vinho, com as suas notas florais e de pêssego em calda. Escorrega perigoso e tem um final com alguma lonjura. Como o termo indica, é 100% semillon, semilhão ou boal, conforme a sede do freguês.
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Origem: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 6/10
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Carvalhas Branco 2011
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Ora aqui está um branco mais ao meu contentamento. Pudera... viosinho, rabigato e côdega. Tem mineralidade e notas cítricas, pelo que resulta fresco. Mas conjuga-as com notas mais quentes da madeira, como um suave abaunilhado. Na boca teima em ficar.
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Origem: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 7/10
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Carvalhas Tinta Francisca 2011
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É giro! No bom sentido. Desanuvia o Douro, aligeira-lhe o perfil que, por vezes é carregado. Bebi-o com muito agrado.
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Embora tratando-se dum monovarietal, tem complexidade... algum cogumelo, ou terra húmida sob as árvores, amoras e ervas molhadas. Final elegante.
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Origem: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 7/10
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Quinta dos Aciprestes Grande Reserva 2011
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A dupla tourigas a funcionar... parece o Belenenses quando jogava à bola. Ando a ficar cansado da touriga nacional, nomeadamente do seu peso excessivo, que marca muito... no Douro, quando está mais quente, ainda não em compota açucarada, resulta muito bem.
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A touriga franca é... quem me lê sabe que é a tinta da minha vida.
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As duas, a jogar ao ataque, dão vinhos que só o Douro sabe fazer. E digam-me e ralhem-me, mas touriga nacional é no Douro.
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É um vinho vivo, com nervosinho, que dá pica a beber, não dá vontade de beber duma só vez... quase que irrita e é para ir lá para fora pedir explicações. Teu framboesas muito maduras, amoras, mas também notas trufadas, terra molhada e algum azinho. Boa acidez e um belo final.
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Origem: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 8,5/10
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Evel  XXI 2011 – Centenário
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Este tem um carisma que lhe dá o lugar conquistado pelo «singelo» Evel, que é um marco nos vinhos durienses. Desliza com elegância, ou não fosse resultado também de vinhas velhas. Aqui a dupla de tourigas volta a provar que são grandes castas.
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A marca Evel foi criada em 1913 e resulta da pouca imaginação de escrever «leve» ao contrário... ponto diferenciador do que se fazia na região.
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É um vinho com classe e fundura. Dura uma refeição de vários pratos de carne... caça, tacho, forno...
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Taninoso e com fruta, sem mariquices modernaças, encorpado e suave. Com longo e fresco final.
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Origem: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 8,5/10
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Quinta do Cidrô Celebration 2010
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Outro grande vinho, mas com resultado menos feliz. A enologia juntou duas grandes castas e saiu um certo conflito de egos: cabernet sauvignon e touriga nacional.
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Nem pimentão nem compota. Aleluia! Mas um primeiro golo e o cabernet sauvignon já estava a marcar pontos. Com o tempo, a touriga nacional deu algum sinal de si, mas a francesa deu-lhe poucas hipóteses. E ainda assim, a touriga nacional tem 60% do lote...
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Digo «outro grande vinho», porque o é. Seria injusto se não o afirmasse. Porém, no totalitarismo do meu gosto, que impera neste blogue de crítica amadora, não o posso coocar no mesmo patamar.
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Origem: Regional Duriense
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 6,5/10
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Carvalhas Tinto 2011
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Um grande ano e aqui se mostra que o foi. Um Douro feito para mim. Tem a complexidade mineral, floral, herbácea e frutada, notas fumadas, nomeadamente de azinho. É fresco e muito longo. Denso e negro.
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Vinho de vinhas muito velhas, dizem mais de 20, onde cada casta sabe de si e Deus sabe de todas. E quis o bom Deus que delas saísse uma obra que tanto prazer me deu.
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Origem: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 9/10
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Grandjó Late Harvest 2008.
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Todo ele feito de semillon. Um vinho sempre fiável. Na dúvida... Talvez o melhor colheita tardia português.
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Origem: Regional Duriense
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 8/10

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