Há uns anos largos (nem quero pensar nisso)... em 1989, fiz
o Interail, que era a coisa mais fixe que um jovem podia fazer nas férias
grandes, que eram mesmo grandes. Agora há a Easyjet e a Rayanair e... na altura
andar de comboio sem adultos era aventura, hoje viaja-se sem estilo em aviões
de companhias manhosas.
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Eu, o P e o V arrancámos de Lisboa sem saber muito bem para
onde ir. Queríamos chegar à Irlanda e à Escócia, ver Londres e Paris...Não
arranjámos poiso em Paris e não vimos nada, cruzámos a cidade com mochilas
pesadas e carregadas, entre o cair da noite e a noite... noite, mesmo,
abrigados do frio (era Agosto) na escadaria dum wc público...
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Inventámos que em Le Havre haveríamos de apanhar um barco,
como nos filmes, para a Irlanda, embora a documentação dissesse que nesse dia
não circulavam ferries... bolhas nos pés, cansados, exaustos...
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Lá chegámos à Irlanda no Saint Kilian, onde dormimos,
primeiro, no convés sob umas escadas e depois no chão da discoteca... não
dormimos nada. Em Dublim conhecemos o Patrick, que desconfiamos e acertámos que
era do IRA, que nos mostrou toda a cidade. Fomos para o campo e regressámos à
capital irlandesa.
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De Dublim seguimos para Londres e odiamos tanto a metrópole
que, só de pensar que teríamos de lá voltar se fôssemos à Escócia, abalámos
para a Alemanha.
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Isto foi a entrada... agora vem o bife:
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Em Dublim, nesse ano de 1989 (já tive 19 anos), visitámos um
«centro comercial» fantástico. Em vez de corredores e grandes portadas de
vidro, de espaços fechados, de desvios... era um antigo palácio convertido ao
consumo.
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Passava-se de loja para loja por portas de madeira, cada
sala era diferente, mas sempre com uma continuidade de casa grande.
Maravilha!...
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E eis que, anos mais à frente, abre uma galeria com esse
encanto que encontrei em Dublim. Sempre conheci aquela grande casa fechada, no
Jardim do Príncipe Real. Não havia estrago, mas não se via viv’alma.
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Dão-lhe o nome Embaixada, ao Palacete Ribeiro da Cunha, que
prefiro chamar-lhe palácio. Palácio urbano, já se vê... O estilo neo-árabe
enquadra-o no romantismo e, por conseguinte, no século XIX. E um hectare de
jardim resistiu à voragem do cimento de Lisboa.
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O centro do espaço – no meu caso, que tenho neurónios na
barriga – é o restaurante: o Le Jardin. Mandam nas mesas, nas comidas, nos
serviço os experiente Miguel Picciochi, em parceria com o restaurante Moma (o da
Rua de São Nicolau e não o de Copenhaga).
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Sou um romântico e deixo-me abraçar pelos ambientes. Ali, só
pode ter havido retoques... a preciosidade já lá estava. Dá uma certa
tonalidade de importância, aquele cenário... Os retoques de que falo fazem
parte da decoração... enquadram, realçam. Não rompem, mas não se fazem passar
por outra coisa. Ou seja: bom gosto e consistência... trabalho inteligente.
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As refeições à carta vão até às 23h00, mas para quem se
atrasou tem ao dispor uma carta de petiscos, até às 2h00. Os responsáveis do
espaço estabelecem um preço médio, por pessoa, entre os 17 euros e os 25 euros.
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Ou seja, não é um luxo, embora a comida seja de muito boa
nota e a envolvência de cenário. É um luxo acessível. E basta pensar na enorme
quantidade de tascas – foleiras, de azulejo e alumínio, onde o balcão serve de
copa, com o inevitável ruído a talheres e loiças em combates ferozes – que, por
pudor chamam restaurantes, que servem refeições nesse mesmo intervalo de
preços. Exemplo: Portugália (porque é grande e fácil de acertar, mas basta
abrir os olhos e espreitar, para tapar os ouvidos e segurar a algibeira).
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Ora, o intervalo entre os 17 e os 25 euros abarca entrada,
prato principal, bebidas, sobremesa e café. Ora, eu, que me manifesto sempre
indiferente àquela coisa da relação do preço com a qualidade, tenho de reconhecer
que o Le Jardin é bom local de poiso e se enquadra nesse âmbito.
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O Príncipe Real, um dos locais mais charmosos de Lisboa,
cuja traça das edificações mostra a elegância antiga, contrasta com a típica
(que também gosto) popularidade do Bairro Alto, que ali vai desaguar.
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Fazia falta, ali e em Lisboa, um sítio com elegância e
beleza. Diria que hoje é cosmopolita... sítio para «gente gira», sem paciência
para o moche e com ouvidos sensíveis à barulheira. Sim, 17 a 25 euros.
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A ementa conta com comidas portuguesas e outras vindas
doutros lugares. Cosmopolita e diferente. Variado e bonito.
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Morte ao feio! Viva o bonito!... e bom!.
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Onde: Lisboa, Príncipe Real, 26 (palacete Ribeiro da Cunha).
Horário: 12h00 às 2h00.
Aberto todos os dias.
Telefone: 93 832 14 14
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