As tabelas de pontuação têm sempre deficiências e a minha,
que é, reconheço, estrambólica volta e meia dá-me chatices. Como convencer
alguém que, numa escala decimal, o 3 já é positivo? O óbvio é que a fronteira
entre o acima da linha de água e o abaixo estivesse no cinco. Pois, mas aqui
não é. Todavia, aspectos como a qualidade intrínseca não deixam de ser tidos em
conta.
.
Como já disse, estas características causam-me chatices,
porque leem sempre mal a tabela e/ou não reparam, não prestam atenção ou não
percebem que há um editorial ao lado. O caso mais visível, por via dos
comentários deixados, e que mais me irritou foram relativos à Sociedade
Agrícola da Groucha e Atela: http://joaoamesa.blogspot.com/2006/08/casa-da-atela-sauvignon-2005.html
/ http://joaoamesa.blogspot.com/2006/08/torre-da-trindade-2005.html.
Neste último caso, o responsável da casa sentiu-se no direito de atribuir-se um
8, correspondente a «fantástico». É um bom vinho, notado como «bom», mas como
não leu ou não quis ler ou perceber o editorial, pensou que o positivo e o
negativo se separavam no 5.
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Outra coisa que faz confusão a algumas pessoas, exatamente porque
não leem o editorial, é o facto de a escala ser subjetiva. Quanto a mim são
todas, porque feita por humanos. Mas esta é mesmo, mesmo, mesmo, subjectiva. As
provas não são, regra geral, «científicas», os vinhos não são provados às
cegas, o ambiente físico não é em absoluto o perfeito, as experiências são
feitas com a presença de outras pessoas e em ambiente informal e descontraído.
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Depois, além disso, há que somar o facto de não terem uma
idêntica diferença entre patamares. Ou seja: o nível 1 representa o zero, pois
se um vinho é imbebível não é mais ou menos imbebível. Para quê complicar? Se
um vinho é evitável… é a mesma coisa; ou se evita ou não se evita, levando
todos esses um 2. Quando se passa para o terreno positivo é que convém esmiuçar.
Mas, não esquecendo que a escala é estrambólica, pessoal, subjetiva e
enquadrada no prazer que um vinho deu num determinado momento.
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Todavia, aspetos como a qualidade intrínseca não deixam de
ser tidos em conta. Não arrasarei um vinho só porque não gosto, se ele estiver
bem feito. Nessas situações faço ressalva da situação. Num caso extremo, não
dei grande nota a um vinho que não é, de todo, mau. Fiz, por isso, referência a
nota que poderia merecer, caso tivesse gostado do vinho… e também expliquei que
pela sua qualidade intrínseca não lhe dei um 2: http://joaoamesa.blogspot.com/2011/05/t-nac-by-falorca-2008.html.
Aliás, sempre que a qualidade do vinho não coincide de alguma maneira com a
nota atribuída, faço ressalva disso.
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Transformando a escala decimal em centesimal, adotando a
terminologia da percentagem, o sistema também não é óbvio. Se fosse uma escala
«científica», a diferença entre cada nível, partindo do 3 como positivo, seria
de 7,14 pontos. Assim, ao 3 corresponderiam 50%... 57,14% para o 4, 68,28% para
o 5, 71,42% para o 6, 78,56% para o 7, 84,40% para o 8, 91,84% para o 9 e 98,98%
(arredondando para 100) para o 10. Ainda mais confuso.
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Como há, para mim, menos necessidade de diferenças de
notação do 3 ao 6, o diferencial de pontos percentuais é de cinco. Seguindo a mesma
lógica da diferenciação na qualidade, do 7 para cima a separação é de dez
pontos percentuais.
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Se repararem na tabela lateral, com as notas e sua
explicação em palavras, ao 10 correspondem 100% +. Ou seja, a escala é aberta,
como a escala de Richter, que é de notação da amplitude local dos sismos, que
também «é decimal». A minha, ainda assim, não passa do 10 e a de Richter pode
assumir outros números, sem um limite. Isto porquê? Porque há vinhos que
atingem determinado patamar de categoria que chegam ao 10, mas podem haver
outros, com a mesma nota, que os suplantam. Vejam-se os casos: http://joaoamesa.blogspot.com/2011/11/um-tesouro-um-porto-colheita-de-1882.html
/ http://joaoamesa.blogspot.com/2011/10/taylor-scion.html
/ http://joaoamesa.blogspot.com/2011/02/um-sonho-cor-de-mel.html.
Para mim, à frente está o Scion, seguido Burmester Colheita 1900 e depois o
«Graham’s» 1882.
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Se no jornalismo noticioso as pressões existem, suponho que
no especializado (vinhos, cinema, automóveis, etc.) também aconteçam. Pois na blogosfera
acontece igualmente. Volta e meia lá levo com «pressões» e «pressõezinhas» para
subir uma nota. Percebo que quem produz goste de ver o seu trabalho o mais
reconhecido possível. Penso que as pressões são ilegítimas, mas lido com elas,
até por experiência da minha profissão.
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Há que relativizar! É necessário que quem é referido numa
nota perceba que se trata dum blogue, obra de um, ou poucos, franco-atirador. Um
blogue, no caso o joaoamesa.blogspot.com, não é o Financial Times, o New York
Times, a Wine Spectator, a Decanter… Além do peso institucional, têm críticos
duma competência, sabedoria e experiência que nenhum bloguista tem. Neste caso,
o João Barbosa não é o Robert Parker, o Charles Metcalf, a Jancis Robinson ou o
Paul White. Quem? João Barbosa? Não conheço, nunca ouvi falar… e lá fora: who?
.
Ponhamos as coisas nos seus devidos lugares. Se por cá a
crítica profissional não destrói um vinho nem uma marca, é o bloguista que o
faz?
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Não estou aqui para arranjar inimigos nem para me chatear.
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Não estou aqui para arranjar inimigos nem para me chatear.
7 comentários:
Prezado João,
O seu critério de avaliações é suficientemente claro e por isso não comporta elucubrações. Mas compreendo o seu problema. As suscetibilidades no mundo do vinho existem pelos fatos corretamente apontados por si. Aqui no Brasil não é muito diferente. Durante muito tempo fui convidado de uma revista de enogastronomia de grande circulação. Num dos eventos levei uma bronca sentida do editor por haver atribuído 80/100 pts. há um vinho brasileiro sem tipicidade (pontuo os vinhos de 50 a 100 pts, veja no meu blog). Esse mesmo editor decretou que nenhum vinho pode receber menos do que 85 pts. porque já estará "fora do mercado"...o mesmo se sucede com alguns importadores que não se conformam por trazer vinhos ao Brasil de elevadas pontuações (sempre na casa do 90/100 pts.) e que depois de degustados por abalizados degustadores recebem notas bem inferiores...mas ratifico o seu ponto de vista corajoso e independente, porque muita gente, ao menos aqui no Brasil,se esquiva de dar notas porque não querem se comprometer ou porque não sabem e/ou não querem aprender. Pontuar significa quantificar, orientar, facilitar, principalmente para o leigo, a avaliação objetiva do vinho. Par quem escreve, os melhores avaliadores são aqueles que atribuem nota, essa é ao menos para mim a opinião mais consentânea com a realidade. Um forte abraço. Vou providenciar um link e tornar-me-ei fã de seu blog. Atenciosamente, Jeriel
Prezado João,
O seu critério de avaliações é suficientemente claro e por isso não comporta elucubrações. Mas compreendo o seu problema. As suscetibilidades no mundo do vinho existem pelos fatos corretamente apontados por si. Aqui no Brasil não é muito diferente. Durante muito tempo fui convidado de uma revista de enogastronomia de grande circulação. Num dos eventos levei uma bronca sentida do editor por haver atribuído 80/100 pts. há um vinho brasileiro sem tipicidade (pontuo os vinhos de 50 a 100 pts, veja no meu blog). Esse mesmo editor decretou que nenhum vinho pode receber menos do que 85 pts. porque já estará "fora do mercado"...o mesmo se sucede com alguns importadores que não se conformam por trazer vinhos ao Brasil de elevadas pontuações (sempre na casa do 90/100 pts.) e que depois de degustados por abalizados degustadores recebem notas bem inferiores...mas ratifico o seu ponto de vista corajoso e independente, porque muita gente, ao menos aqui no Brasil,se esquiva de dar notas porque não querem se comprometer ou porque não sabem e/ou não querem aprender. Pontuar significa quantificar, orientar, facilitar, principalmente para o leigo, a avaliação objetiva do vinho. Par quem escreve, os melhores avaliadores são aqueles que atribuem nota, essa é ao menos para mim a opinião mais consentânea com a realidade. Um forte abraço. Vou providenciar um link e tornar-me-ei fã de seu blog. Atenciosamente, Jeriel
João, bom ano para ti!
Aproveito para mandar um forte abraço também ao Jeriel que faz tempo não trocamos conversa.
Eu sou um defensor das escalas simplificadas e as mais coladas possível às do ensino. No limite não entendo a utilização, seja aqui, seja no Brasil, de escalas modificadas e adaptadas, inventadas ou simplesmente transpostas de outras realidades como é a escala do Parker (50-100) que é precisamente a escala do ensino norte-americano, ou seja, ele não inventou nada limitou-se a usar uma escala que é entendida pelos destinatários da sua mensagem, OS CONSUMIDORES. Penso que não deviam esquecer estas coisas simples.
Nada contra as vossas escolhas, muito menos contra os vossos trabalhos. Ambos sabem que sou fã!
Abraço
HM
Jeriel, obrigado pelas tuas palavras e compreensão.
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Hugo Mendes, a minha escala é estrambólica propositadamente, para reflectir a subjectividade e demarcar-se de qualquer pretensão a crítica profissional.
Quanto às tabelas oficiais, nenhuma me causa particular apreço ou rejeição.
eh! eh! sempre à frente... gosto disso!
Abraço!
João,
Coloquei um link no meu para o seu....
atenciosamente
Jeriel
Jeriel, manda o link do teu blogue para eu também o adicionar. o teu perfil no blogger não mostra qual é
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