João Portugal Ramos foi nas décadas de 80 e 90 um verdadeiro
«driving wine maker». Em Portugal não eram muitas as casas com enólogos, embora
desde há muitos anos os houvesse. Mas foi, penso eu, um dos divulgadores da
palavra e, com seu trabalho, promotor dum aumento da qualidade dos vinhos
portugueses, coisa que o mercado reconheceu.
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O primeiro passo do seu projecto a solo deu-se em 1989, com
cinco hectares de vinha em Estremoz. No final da década de 90, João Portugal
Ramos optou por deixar a estrada para se dedicar apenas à sua empresa. Desde então
tem mimado os portugueses com criações de alta gama e vinhos, que sendo
populares e de baixo preço, patenteiam qualidade.
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Desde que se tornou empresário que não tem parado. Parece ter
tomado o gosto de criar projectos, sempre em regiões diferentes. Primeiro foi o
Alentejo (J. Portugal Ramos), depois o Ribatejo (Falua), há cinco anos
lançou-se no Douro (Duorum – com o seu amigo e gigante da enologia José Maria
Soares Franco), agora vai apresentar-se nos Vinhos Verdes. A estes soma-se a
pequena casa Quinta de Foz de Arouce, situada na Beira e propriedade do seu
sogro.
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Feita esta apresentação, adianto o motivo desta crónica: uma
visita à adega João Portugal Ramos, a 26 de Maio, em Estremoz. Foi tempo de
provar as novidades da casa e algumas colheitas com uns anitos e em muito boa
forma.
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Numa visita e prova com vários bloguistas e responsáveis por
sítios vínicos na net, provaram-se 11 novidades, ou novidades e alguns vinhos apresentados
recentemente. O primeiro a vir para a mesa foi o Loios Branco 2011, que foi já
algo duma nota no blogue do «je». Outro vinho também já comentado foi o Quintada Viçosa S.T. 2009.
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Marquês de Borba Branco 2011… fácil e «fresquinho» no toque.
Fez-se com arinto, antão vaz, verdelho e viognier. Felizmente para mim, o antão
vaz não chateou muito. No nariz agradou-me a frescura cítrica e mineral, menos
o (maldito) maracujá. Na boca mostrou boa acidez.
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Vila Santa Reserva Branco 2011… outra categoria. Fresco, mais
estruturado, com algumas notas conferidas pela madeira. Feito com arinto,
alvarinho e sauvignon blanc. Em termos olfactivos mostrou-me uma fina manteiga,
finíssimo fumo, amêndoa, especiarias, nomeadamente uma subtil pimenta branca
(atchim!), e presença herbácea. A boca tem ananás e minério, final bem catita.
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Loios Tinto 2011, que se fez sobretudo com aragonês e
trincadeira… as restantes são… mistéeeeeeriooo!... Ok, não perguntei. Certamente
ter-me-iam dito. Não é vinho que me diga muito, mas não peca por falta de
qualidade. No nariz tem amoras com força, mas revela-se muito óbvio. Na boca
demonstra doçura e suavidade, com um final com duração engraçada.
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Marquês de Borba Tinto 2011 continua fiel a si mesmo. A
marca é fiável na qualidade e no perfil. A edição do ano passado fez-se com
uvas das castas alicante bouschet, aragonês, touriga nacional, syrah e cabernet
sauvignon. Não é um vinho exuberante no nariz, mas mostra-se agradável com
compota e avelã. Na boca é suave, macio e equilibrado.
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O Vila Santa Trincadeira 2009 foi dos mais aplaudidos na
visita. Dentro do lote dos monovarietais da marca não foi unânime quanto a ser
o número um. Fui um dos que preferiram outra opção. Gostei do movimento
uniformemente acelerado que mostrou no nariz; primeiro lento (algo austero),
ganhando velocidade até derreter o prazer. No nariz notas de fumo, framboesa,
amora, alguma menta, terra… com os minutos passados revela flores e couro
jovem. Enche bem a boca, tem profundidade, belíssimo final.
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Vila Santa Aragonez 2009, o monovarietal que menos me impressionou,
mas de inegável qualidade. Os manos é que lhe «baterem» (aíii!...). No nariz
mostrou frescura, chocolate preto, alguma goma e muito xisto; muito agradável.
Na boca revelou doçura, mas também frescura, taninos com personalidade e belo final.
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Vila Santa Syrah 2009… muito fixe! No nariz mostrou cacau,
pimenta branca em pó, menta, xisto. Embora com doçura na boca, não se mostrou
exagerado, com frescura, com taninos vivaços, um vinho que preenche bem a gruta.
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O Vila Santa Reserva Tinto 2010 já me encantou menos que o
anterior… pois, bolas! O problema não é do vinho, mas da companhia do outro.
Este fez-se com aragonês, touriga nacional, syrah, cabernet sauvignon e
alicante bouschet. No nariz mostra fumo, amoras, ameixa preta madura e alguma
goma. Na boca empurra com doce, mas tem taninos elegantes, boa acidez e bom
final.
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A lide estava a correr bem e desde o primeiro Vila Santa que
o inteligente mandou tocar a banda. Quando chega o Marquês de Borba Reserva
Tinto 2009 o tema España Cani está ao rubro e nas bancadas começam a ser mais
efusivos os olés. Este tinto conta com trincadeira, aragonês, alicante bouschet
e cabernet sauvignon… pois é, que rico arranjinho no nariz: húmus, turfa
ligeira, menta, canela, pimenta branca, chocolate, cereja madura, compota de
morango… Na boca, ui! Consistente, muito estruturado, viva acidez, final muito
longo.
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Loios Branco 2011
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 4/10
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Marquês de Borba Branco 2011
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Origem: Alentejo
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 5/10
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Vila Santa Reserva Branco 2011
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Origem: Alentejo
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 6/10
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Loios Tinto 2011
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 4,5/10
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Marquês de Borba Tinto 2011
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Origem: Alentejo
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 5,5/10
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Vila Santa Trincadeira 2009
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 7/10
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Vila Santa Aragonez 2009
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 6,5/10
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Vila Santa Syrah 2009
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 7,5/10
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Vila Santa Reserva Tinto 2010
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 7/10
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Quinta da Viçosa S.T. 2009
Origem: Regional Alentejano
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 8/10
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Marquês de Borba Reserva Tinto 2009
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Origem: Alentejo
Produtor: J. Portugal Ramos
Nota: 8,5/10
1 comentário:
Ena, tantos - obrigada, João à mesa! Eu que sou leiga e pobre (sobretudo de palato - ainda ;) ) gostei/acho que vou gostar do Syrah fixe, do Marquês Branco 2011 (nada contra o Antão Vaz, antes pelo contrário, nem contra o maracujá), do Loios tinto 2011 e, como sempre adorei os monovarietais do JPR... - repito-me: obrigada, João.
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