segunda-feira, julho 26, 2010

Dão - The next big thing - A próxima coisa em grande!

Num país onde a incompetência e a preguiça compensam, cabe, muitas vezes, a quem não tem obrigação fazer o trabalho de quem deve, mas pouco ou mal sabe fazer. Um produtor de vinho deve tudo fazer para promover os seus produtos, é lógico. Pode estar interessado em associar-se com outros vitivinicultores para acções de divulgação. O que não pode é estar sozinho sem apoios de quem deve.
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Em Portugal, quando se promove uma região vitícola, juntam-se todos em barraquinhas ou colocam-se os vinhos em cima de um balcão e toca de servi-los. Acções que não diferenciam o bom do mau, a quinta da cooperativa. Em vez de se potenciar a qualidade, promove-se a mediocridade. É uma opção marxista a de tratar por igual o que é diferente. Esquecem-se que é a qualidade que faz vender os vinhos que criam volume e, até, contagia positivamente os que não prestam. Por isso, há que nivelar por cima. Nivelar por baixo só estraga.
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Se não se compreende que vinhos de classe muito baixa sejam aprovados pelas CVR (se não todas, quase todas) para ostentarem a denominação de origem controlada, menos se compreende que não tenham acções de promoção diferenciadas. Pode ser elitista mas é a única forma de promover convenientemente uma região.
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E quanto à Viniportugal, organização que tem por missão promover os vinhos nacionais? Parece que faz umas feiras… sei, por experiência própria, que nem sequer avalia propostas que lhe fazem. Nem tampouco responde.
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Tudo isto por causa dum evento organizado por João Tavares de Pina, a 26 de Julho deste ano, que levou ao Dão bloggers portugueses, jornalistas em «traje» informal e jornalistas de referência internacional (Charles Metcalfe e Paul White). Conheceu-se a «obra publicada» da grande maioria dos produtores de referência. Ou seja, esteve a fazer o que não tem obrigação de fazer. Gastou do seu bolso, dedicou horas na organização, convidou colegas, assumiu custos… Viniportuquê?
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O futuro da comunicação (vínica ou outra) não passa só pela internet, blogues e Facebook. O papel não morreu, mas a internet está viva e mexe-se, havendo jornalistas vínicos com os seus próprios espaços na rede mundial. João Tavares de Pina (Terras de Tavares) percebeu isso e apostou nos bloggers. A Viniportugal e a(s) CVR acreditam mais nos sinais de fumo e nas cartas timbradas do que nas novas formas (que já têm uns anos) de comunicação. Ainda não perceberam, talvez sejam aleijadinhos das ideias.
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Apostar nos blogues compensa. Ora veja-se: conte-se o número de visitas diárias e multiplique-se por 30 dias – já para não falar em multiplicação pelo número de blogues. Conte-se a tiragem (não vendas) da imprensa tradicional. Pense-se um bocado… e… É claro que é mais fácil comunicar para a crítica profissional (e deve-se, há essa obrigação e é muito válida), mas a blogosfera não pode ficar de fora. Se nem todas as entradas nos blogues são directamente para a página inicial, resultando de pesquisas concretas, nada leva a supor que os leitores não leiam, depois, as novidades. Por outro lado, o internauta tem à sua disposição e facilmente os textos em arquivo, sem ter de empilhar papel nem gastar tempo a pesquisar em mar de folhas. Todavia, não digo que se desvalorize o papel, tudo tem o seu espaço. Além de que há espaço virtual das revistas, realce-se o fórum (bem participado e de louvar) da Revista de Vinhos. As CVR e a Viniportugal é que andam a dormir.
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O evento apelidou-se de «The next big thing» (lamentavelmente em inglês e com denominação vazia na ligação com Dão – percebe-se a ideia, mas, de futuro, se voltar a acontecer, pode mudar-se o nome do evento) e juntou duas provas, um incrível almoço e um jantar de encerramento. Nesse tal almoço, de sete pratos e uma sobremesa, serviram-se vinhos antigos que mostram o potencial da região e por onde deve passar a estratégia: os néctares do Centro de Estudos Vitivinícolas (CEV) de 1971, branco, e os tintos de 1963 e 1970 arrasaram. As ilustrações servem para explicar onde se quer chegar e o que se pode fazer.
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Responderam ao convite de João Tavares de Pina, Álvaro de Castro (Quinta da Pellada e Quinta da Passarela) a Casa de Mouraz, Lagar de Darei, Quinta da Bica, Quinta da Falorca, Quinta da Fonte de Ouro, Quinta da Vegia, Quinta das Estrémuas, Quinta de Carvalhais (Sogrape), Quinta do Cerrado, Quinta do Perdigão, Quinta do Serrado, Quinta dos Roques (e Quinta das Maias), Terras de Tavares (obviamente) e Vinha Paz. É de notar que Álvaro de Castro não compareceu (por motivos familiares), mas podia ter enviado alguém para abrir as garrafas e explicar os vinhos; a Quinta do Serrado, que mandou vinho, mas ninguém para os abrir e explicar, devendo achar que os bloggers, os críticos ou outros produtores o fizessem; e a Quinta da Bica que colocou e abriu os vinhos, mas não teve ninguém para os apresentar e dar a provar. Estes foram os que responderam à chamada, mas houve outros que andam sonâmbulos como a Viniportugal. Estou a referir-me apenas aos produtores de referência e de reconhecida projecção.
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Onde estiveram a Casa de Santar (a Dão Sul deve estar focada a vender Grilos e Cabriz), Pedra Cancela, Quinta da Fata, Quinta das Marias, Quinta do Corujão? Certamente devem considerar bloggers e importantes críticos internacionais pessoas sem merecimento de grande atenção… problema deles, pois são quem quer vender alguma coisa. Não se misturam, penso que fazem mal.
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O escol do Dão, como se provou com esta acção, por constituir-se em ajuntamento de interesse e lobby, tal como acontece, no Douro, com os Douro Boys. O que cinco produtores da elite duriense (Niepoort, Quinta do Crasto, Quinta do Vale de Dona Maria, Quinta do Vale Meão e Quinta do Vallado) têm feito pela demarcação é puxar e empurrar o carro. Fazem por eles e ajudam, indirectamente, os outros. O Dão, e outras regiões, podem e devem fazer o mesmo.
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Os produtores, de referência e outros de qualidade, devem ainda apostar na qualidade intrínseca, no terroir, na tradição. O estilo do Dão não é o redondinho e bonitinho, tipo Ken e Barbie. É de grande elegância e de longevidade – um dia, quem sabe, porque no vinho também há modas, pode o mercado voltar aos gostos que hoje são de antigamente.
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É fácil dizer, quando o dinheiro não é o nosso, que se deve apostar na longevidade e no estilo. É fácil dizer, esquecendo que há contas para pagar. É fácil dizer quando não se empata capital na produção e acondicionamento dos vinhos. Guardar vinho no Dão é investir, mas a vida requere, também, soluções de curto prazo. Mas, o Dão tem, pelo menos tem também, de passar por aí. Sob pena de daqui por uns anos não haver vinhos como os CEV de 1963, 1970 ou 1971, que são grandes vinhos.
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Por agora é tudo. Despeço-me com amizade até aos próximos textos, que serão publicados faseadamente, acerca de vinhos e produtores presentes no «The next big thing».

5 comentários:

Geografia disse...

Obrigado João,
muito pragmático, provocador e incisivo. Também já critiquei muitas vezes a utilização de títulos estrangeiros, tens toda a razão, deveria no mínimo de fazer como tu...
O teu lugar está já marcado para o próximo Dão - The Next Big Thing - A próxima coisa grande!

Um grande abraço

João Tavares de Pina

P.Rosendo disse...

Boa João. Dá-lhes. Fiquei com inveja desses dois tintos ai se fiquei. Abraços

João Barbosa disse...

Paulinho, o Dão estará contigo.

:-)

Unknown disse...

A Viniportugal tem os tiques dos institutos públicos ou das instituições deoendentes do Estado: burocracia, burocracia, burocracia!! Criatividade, nicles!!! Porque não se aprende a fazer com quem faz bem????
Parabéns. Dão forever (esta é para gozar)!!!!
vasco rosendo

Peter disse...

Pedi já desculpa ao João Tavares de Pina por minha não comparência a este importante evento. Tinha confirmado a minha participação mas tive um problema grave que me obrigou partir com urgência para o estrangeiro durante este fim de semana. Não foi de maneira nenhuma falta de consideração pelos bloggers ou críticos de vinho mas a Quinta das Marias é uma pequena empresa familiar onde muito depende do pai....
Se alguém estiver interessado em provar os meus vinhos com toda a tranquilidade teria muito prazer em enviar-lhe umas amostras. O meu Email é eckert@sapo.pt . Cordiais cumprimentos Peter Eckert, Quinta das Marias