Estive em Provozende, terra de que já ouvira falar e que
pouco mais sabia que fica no Douro vinhateiro. A povoação é minúscula,
percebe-se pelo calcar nas pedras, mas mesmo assim pouco vi dela.
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Manuel Villasboas, fidalgo de província e moderno
profissional no Porto, é um homem simpático que, pouco depois de o entrevistar,
tratou logo de me pôr à vontade, sugerindo que nos tratássemos por tu. Sem demora
ou contrariedade assim se fez a sua, e minha, vontade.
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O Morgadio da Calçada foi instituído no século XVII pelo
desembargador Jerónimo da Cunha Pimentel. A família Pimentel, através deste
ramo Cunha e o dos Serpa, tem uma tradicional importância na região duriense.
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Ao contrário do que acontece(u) noutros países, a nobreza
portuguesa não dispôs, regra geral, de grandes casas. Para lá da fronteira a
riqueza era maior e avançando para França ou Alemanha a diferença ainda maior. Porém,
o que faltou em magnificência não faltou em poesia e charme.
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A casa de Manuel Villasboas tem um inquestionável encanto,
edificada num estilo neo-clássico rural, que não engana quanto aos costados nem se
distancia da nobreza portuguesa típica. Hoje, além de emblema familiar, o
conjunto arquitectónico é um empreendimento turístico, onde se junta tradição e
um certo despojamento «clean» contemporâneo.
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Mas o que aqui importa é o vinho; uma parceria entre Villasboas
e o enólogo-artista, tanto iconocasta quanto tradicional e minimalista, com toque de Midas, Dirk Niepoort, também ele oriundo
duma família de pergaminhos, neste caso relacionados com o Vinho do Porto.
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Já dei conta neste blogue http://joaoamesa.blogspot.pt/2012/12/morgadio-da-calcada-apresenta-novos.html
nota de alguns vinhos deste minúsculo produtor. Agora apeteceu-me voltar à
carga.
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A área total de vinha é de cerca de 4,5 hectares, dos
quais 2,5 de castas brancas. A vinha está dividida em três parcelas,
uma mais antiga, com mais de 100 anos, onde se misturam tintas com
brancas, uma só de brancas, com cerca de 20 anos, e outra de tintas com perto
de 30 anos.
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Em termos de castas, as uvas brancas plantadas são as côdega,
moscatel galego, gouveio, rabigato e viosinho e as tintas as tinta roriz,
touriga franca e touriga nacional. Na vinha mais antiga, tal como é comum no
Douro em parcelas com videiras dessa antiguidade, as variedades encontram-se
misturadas, sendo até difícil diagnosticar todas as presentes.
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A vinha, situada a 600 metros de altitude, com 6.000 pés de
vide por hectare, não é mecanizada. Assim, o trabalho é realizado com recurso a
tracção animal. É giro, tem pinta, mas é caro. E então? Esperar-se-á que uma
vinha desta dimensão dê um milhão de litros de massificação? Há pouco e tem de
ser caro. Juro que não sei de preços.
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Actualmente,
o Morgadio da Calçada tem nove referências (branco, tinto, branco reserva,
tinto reserva, Porto Dry White, LBV 2007, Tawny Colheita 1998, Tawny Reserva e Ruby
Reserva). Provadas que foram as novidades, e
que deixei já escritura, embora sem notas de prova ou notação (todas acima dos
6,5 / 7), fingindo-me de esquecido quanto aos descritores… coisa que até nem
diz muito…
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Antes de partir, tenho de sublinhar um Porto, daqueles muito
velhos que andam pelas adegas das quintas. Uma relíquia a que tive acesso e que
consegui bebericar mais do que um dedal. Um tawny muito velho, que terá idade
sabida, mas que não me lembro. Talvez nem seja importante. Relevante é saber que
no Morgadio da Calçada se guarda um tesoiro.
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