quarta-feira, janeiro 23, 2013

Morgadio da Calçada

Estive em Provozende, terra de que já ouvira falar e que pouco mais sabia que fica no Douro vinhateiro. A povoação é minúscula, percebe-se pelo calcar nas pedras, mas mesmo assim pouco vi dela.
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Manuel Villasboas, fidalgo de província e moderno profissional no Porto, é um homem simpático que, pouco depois de o entrevistar, tratou logo de me pôr à vontade, sugerindo que nos tratássemos por tu. Sem demora ou contrariedade assim se fez a sua, e minha, vontade.
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O Morgadio da Calçada foi instituído no século XVII pelo desembargador Jerónimo da Cunha Pimentel. A família Pimentel, através deste ramo Cunha e o dos Serpa, tem uma tradicional importância na região duriense.
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Ao contrário do que acontece(u) noutros países, a nobreza portuguesa não dispôs, regra geral, de grandes casas. Para lá da fronteira a riqueza era maior e avançando para França ou Alemanha a diferença ainda maior. Porém, o que faltou em magnificência não faltou em poesia e charme.
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A casa de Manuel Villasboas tem um inquestionável encanto, edificada num estilo neo-clássico rural, que não engana quanto aos costados nem se distancia da nobreza portuguesa típica. Hoje, além de emblema familiar, o conjunto arquitectónico é um empreendimento turístico, onde se junta tradição e um certo despojamento «clean» contemporâneo.
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Mas o que aqui importa é o vinho; uma parceria entre Villasboas e o enólogo-artista, tanto iconocasta quanto tradicional e minimalista,  com toque de Midas, Dirk Niepoort, também ele oriundo duma família de pergaminhos, neste caso relacionados com o Vinho do Porto.
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Já dei conta neste blogue http://joaoamesa.blogspot.pt/2012/12/morgadio-da-calcada-apresenta-novos.html nota de alguns vinhos deste minúsculo produtor. Agora apeteceu-me voltar à carga.
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A área total de vinha é de cerca de 4,5 hectares, dos quais 2,5 de castas brancas. A vinha está dividida em três parcelas, uma mais antiga, com mais de 100 anos, onde se misturam tintas com brancas, uma só de brancas, com cerca de 20 anos, e outra de tintas com perto de 30 anos.
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Em termos de castas, as uvas brancas plantadas são as côdega, moscatel galego, gouveio, rabigato e viosinho e as tintas as tinta roriz, touriga franca e touriga nacional. Na vinha mais antiga, tal como é comum no Douro em parcelas com videiras dessa antiguidade, as variedades encontram-se misturadas, sendo até difícil diagnosticar todas as presentes.
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A vinha, situada a 600 metros de altitude, com 6.000 pés de vide por hectare, não é mecanizada. Assim, o trabalho é realizado com recurso a tracção animal. É giro, tem pinta, mas é caro. E então? Esperar-se-á que uma vinha desta dimensão dê um milhão de litros de massificação? Há pouco e tem de ser caro. Juro que não sei de preços.
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Actualmente, o Morgadio da Calçada tem nove referências (branco, tinto, branco reserva, tinto reserva, Porto Dry White, LBV 2007, Tawny Colheita 1998, Tawny Reserva e Ruby Reserva). Provadas que foram as novidades, e que deixei já escritura, embora sem notas de prova ou notação (todas acima dos 6,5 / 7), fingindo-me de esquecido quanto aos descritores… coisa que até nem diz muito…
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Antes de partir, tenho de sublinhar um Porto, daqueles muito velhos que andam pelas adegas das quintas. Uma relíquia a que tive acesso e que consegui bebericar mais do que um dedal. Um tawny muito velho, que terá idade sabida, mas que não me lembro. Talvez nem seja importante. Relevante é saber que no Morgadio da Calçada se guarda um tesoiro. 

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