Grão Vasco é das marcas mais antigas de que tenho na
memória. É dum tempo em que o Dão tinha fama e em poucas casas havia uma referência
com identidade. A região decaiu e está a ressurgir.
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Os renascimentos não se fazem sozinhos, mas quando uma
empresa com a dimensão da Sogrape se põe a trabalhar é certo que a aposta é
ganha. O Dão ainda não recuperou completamente a fama, mas têm surgido firmas competentes.
Pela minha memória, fico feliz por o Grão Vasco estar nesta causa.
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Nestes dois vinhos, a Sogrape assume a imagem que marcou os
rótulos: São Pedro no trono, pintura de Vasco Fernandes datada do início do
século XVI. É uma associação feliz, visto o Grão Vasco, alcunha com que o
artista passou para a história, ter uma ligação, por nascimento e ofício, à
cidade de Viseu. Esta obra está no pequeno, mas excelente museu que herdou o
nome deste mestre renascentista, situado na capital do Dão.
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Há uma outra novidade que surge na etiqueta: a referência a
Carvalhais. A Quinta de Carvalhais é a principal propriedade da Sogrape no Dão
e dá o nome a vinhos de grande qualidade. Aqui aparece como simples alusão,
pois nestes nem todas as uvas foram colhidas no domínio.
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Contudo, o que importa não é o embrulho, mas o presente. As oferendas
são o que deu fama à região: elegância. O Grão Vasco Branco 2016 é um lote de
encruzado (39%), malvasia fina (37%), bical (16%) e gouveio (8%) e tem frescura
e capacidade para acompanhar comida. O Grão Vasco Tinto 2016 é um conjunto de
touriga nacional (42%), tinta roriz (25%), alfrocheiro (24%) e jaen (9%).
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Nenhum dos vinhos passou por madeira. Há uma moda ou
tendência, em Portugal, de louvar os vinhos sem estágio em madeira –
provavelmente, em grande parte, para não assumir os cortes nas despesas. Pois
que sim e também pois que não, como em tudo.
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Reconheço que esta situação me chateia um bocadinho. Passa-se
do elogio à madeira – mesmo quem não abusava – para o conceito do esplendor da
fruta e das flores. Raramente, muito raramente, um tinto que não tenha passado
por um recipiente de pau me contenta. Não que Grão Vasco Tinto esteja
desgostoso, mas falta-lhe aquele-não-sei-o-quê…
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Mas de enologia e de vender vinho não percebo nada. E de
previsões ainda menos.
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Quando foram apresentados, houve uma demonstração da
longevidade dos vinhos do Dão. Tanto os brancos (1981, 1983 e 1992) como os
tintos (1977, 1991 e 2006) estão joviais e são cheios de prazer.
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Grão Vasco Branco 2016
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Origem: Dão
Produtor: Sogrape
Nota: 6/10
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Grão Vasco Tinto 2016
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Origem: Dão
Produtor: Sogrape
Nota: 5,5/10
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