Horas e momentos. Um dia, na mercearia de sempre, cruzei-me
com uma senhora, prima deste produtor. A Dona São, proprietária da loja, já não
sei bem porquê, disse-lhe que eu curtia vinhos. Pois a tal outra senhora, a
cliente, elucidou-me quanto ao seu sangue: prima de vinhateiro alentejano. Disse-me
mais: um dia trar-me-ia umas garrafas do parente.
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Assim foi: um dia tinha uma caixa com as diferentes
referências do produtor Monte Cruz. Há designações várias, mas o que fixei foi
o «Tem Avondo», termo que em alentejano quer dizer «basta», «tem que baste»,
«suficiente», «abunda», etc… pode
parecer estranho, mas abundância vem do mesmo.
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Lembro-me bem do «tem avonde», com «E», como se usa em
Castro Verde. Mas com «E» ou com «O» vai dar ao mesmo. Em alentejano nos
entendemos. E com esta expressão se pode resumir o carácter ou identidade duma
região. Tem lá tudo! Basta saber alentejano.
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Com tão boa marca, supus que este(s) vinho seria fácil de
encontrar na internet. Engano! Saber informações não tem que abunde. Aliás, é
impressionante a abundância de produtores que vive nos anos oitenta do século
vinte. É preciso abrir a pestana… ou então vive-se bem, longe do mercado, dos
enófilos e dos consumidores em geral.
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As garrafas chegaram, infelizmente algumas por identificar.
Posso imaginar a marca, mas trata-se de «suponhamos». Um tinto sem madeira, um
Sy TN (supondo syrah e touriga nacional), um rosé, Monte do Outeiro Branco,
Monte do Outeiro Tinto e Tem Avondo Tinto.
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Avaliados, a impressão é positiva, mas sem transcendência ou
luz. Qualidade regular, vinhos bem feitos, mas sem história ou estória. O nome
prometia… Desconhecendo os preços, fiquei com a impressão que os Monte do
Outeiro terão um preço mais elevado, embora a minha costela de marketeer me
diga que a marca forte seria o «Tem Avondo». De qualquer dos modos, a qualidade
de uns não abanou a qualidade de outros. Ou seja, não senti um salto
qualitativo… basicamente, duas marcas, uma só percepção.
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Alguns dos vinhos não dão para indicar a marca, visto terem
vindo com meras indicações manuais. A situação é a mesma quanto à designação de
origem. Nos provados, nenhum leva nota negativa, mas também não supera o óbvio.
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O branco, Monte do Outeiro, feito com a casta antão vaz, não
mexeu comigo. Não que o vinho seja mau, mas porque embirro com a casta. Nada a
fazer: não gosto e nem percebo qual o interesse.
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O Monte do Outeiro Tinto 2010 satisfaz. Não o poria à
entrada dum jantar, mas bate-se com denodo. Não deslumbra nem descontenta. Fruta
vermelha madura, notas levemente fumadas e final mediano.
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O rosé manteve-se na banalidade. Sim, positivo, mas sem
rasgo ou grande interesse. Morango, framboesa no nariz, mas pouca acidez e
final curto.
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O «Sy» sem madeira 2011, que desconfio ser um syrah…
lamento, mas não vi qualquer interesse. É bem feito, mas e então? Gosto de
madeira no vinho (qb)… e este, soube-me a pouco.
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O «Sy Tn» 2010, suponho syrah e touriga nacional, teve um
ano em estágio em madeira e o resultado é bem melhor que o anterior. Sem
grandezas nem abusos, mostra alguma compota e chocolate. Na boca não fere nem
apaixona.
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O Tem Avondo Tinto 2010 não pôde ser avaliado, visto a
amostra estar contaminada com o chamado aroma e sabor a rolha (TCA).
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Monte do Outeiro Branco 2011
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte Cruz
Nota: 4/10
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Monte do Outeiro Tinto 2010
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Origem: Regional Alentejano
Produtor; Monte Cruz
Nota: 4/10
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«Rosé» 2011
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Origem: ?
Produtor: Monte Cruz
Nota: 3,5/10
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«Sy» sem madeira 2011
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Origem: ?
Produtor: Monte Cruz
Nota: 3/10
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«Sy Tn» 2010
Origem: ?
Produtor: Monte Cruz
Nota: 4,5/10
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Tem Avondo Tinto 2010
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte Cruz
Nota: X/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.
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