Este texto vai causar-me dissabores, derivado do gozo que os
meus amigos vão ter ao lê-lo!... Paciência, estou lixado, mas a verdade acima
de tudo. E isto porquê? Porque passei metade da minha vida adulta a praguejar
contra os Estevas, acusando-os de inúmeras patifarias. Tenho agora de fazer
ALGUMA travagem… conto toda a verdade nesta crónica.
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Há coisa de oito meses conheci uma malta da Sogrape, na
apresentação do Casa Ferreirinha Reserva Especial 2003. Conversas e tal e veio
à baila o Esteva. Disse o que pensava, que basicamente era um pouco menos do
que Maomé disse do toicinho.
Um escândalo! Gritaram, o enólogo e a influente directora
[não me lembro do cargo]. Sacrilégio! Tentaram evangelizar-me, como se fosse um
perigoso Cátaro, ameaçaram-me com padecimentos, como se fosse um mártir…
perante a minha posição irredutível, prometeram-me uma garrafa do novo Esteva.
Mantive-me firme e aliciaram-me com uma caixa… se uma garrafa era mau, seis
seriam um horror sádico.
O certo é que nem um frasquinho do 2010 chegou… a senhora
directora argumentou que se esqueceram ou foi lapso… mentira! Deram o caso por
perdido… digo eu. Todavia prometi-lhe, dando palavra de honra, que iria
compra-lo e prova-lo, sendo que marcaria, por antecipação, consulta em dois
médicos: um por intoxicação e outra por problemas psicológicos.
Para que se tenha uma ideia da dimensão do ódio ao Esteva
refiro a vez em que joguei a mão a uma garrafa para encher o copo e que, ao
levá-lo à boca, verti, em versão de banda desenhada, todo por cima da mesa,
numa clara, mas involuntária, atitude de péssima educação. Ainda bem que os
meus pais não estavam presentes… que vergonha!
Refiro outra situação, em que duas amigas foram jantar
comigo e outro amigo. Ao chegarem a casa, com duas garrafas de Esteva, foram
mandadas embora, para as trocarem, sem terem sequer passado a porta! Tarrenego,
tarrenego, tarrenego! Vade retro! Para trás, Satanás!
Ontem, dia que não esteve nem frio nem calor nem antes pelo
contrário, iluminou-se-me a mente com uma ideia obscura: comprar uma garrafa de
Esteva. Era agora ou nunca. Ou aproveitava a coragem de, no momento, saltar o
precipício ou viveria toda a vida acabrunhado, escondido atrás da memória e do
terror.
Fui ao Pingo Doce e soltei três euros e picos para levar a
botelha. Fosse o que Deus quisesse. Se aquele vinho era obra de Satanás, eu
estava a ser posto à prova… ou a ser tentado. Para o caso de me acontecer
alguma coisinha má, mensagei duas pessoas, não fosse dar-se o caso…
O enólogo António Braga garantiu-me que o perfil do vinho
tinha evoluído, aproximando-se do dos primeiros Estevas. Não que fosse mau [na
sua opinião], mas porque se sentira uma vontade de renovar o vinho.
Abri a garrafa. De lá dentro veio ao nariz algum embate
alcoólico, secundado por um suave odor a framboesas, ervas secas (esteva, pois
então) e um pouco de especiarias. Na boca mostrou-se suave, macio, fácil de
ingerir, mas curtíssimo de boca.
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Se há uns meses lhe daria uma nota 2 [evitável], agora
avalio-o positivamente. Bem, ainda bem que marquei consulta no psiquiatra… e
vou esconder-me dos amigos!... será que aguento a chacota?... É que gostei!
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Origem: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha / Sogrape
Nota: 4/10
9 comentários:
Talvez o teu melhor artigo de sempre! Hilariante!
a ver se me convences!!!! ah ah ah ! vr
Vou ligar-te para ter a certeza que ainda tens a cabeça no sítio :)
Atenção que o João começou a colocar fotos no blogue. E todas com ele. Tu vê lá se não provas nada que gostes, pois ainda apareces em trajes menos próprios. Excelente artigo João.
Abraço,
Nuno
Belo e hilariante post, João!
Ainda assim '4' é uma nota continua a revelar algum preconceito. As meninas de Avintes vão-se rir mas vão-te dar na cabeça e não te vais livrar de levar com uma caixa. Não do de 2010 mas sim do, sei lá, de 2006 :)
Brilhante!
As meninas de Avintes estão para aqui a pensar que as prometidas e desviadas amostras ainda podem subir a nota de 4 para cima! Nunca satisfeita, mas promovida! :)
João,
Nunca te imaginei a beber Esteva mas pelos vistos foste convencido. Para o preço que custa é sempre um vinho a escolher pois é garantia de qualidade. Já agora para quando é que vais ao "pêxinho"???
Abraço
rlp
www.artmeetsbacchus.blogspot.com
Rui, não brinques com coisas sérias ;-)
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