terça-feira, abril 20, 2010

Colares nobre e romântico

A vila de Sintra tem em Colares uma vila irmã. Enquanto Sintra fica num alto e aponta ainda mais para cima, para o castelo dos Mouros e para o palácio da Pena, a vila de Colares é mais modesta, tendo sido sede de concelho até 1885, fazendo hoje parte da mesma unidade administrativa. Uma tem a frescura da serra e das verduras sombreiras, a outra já sente os ares do mar.
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Mas é nas Azenhas do Mar, São Martinho e São João das Lampas que nasce o produto maior da vila de baixo: o vinho de Colares. Os primeiros registos ao cultivo da vinha e da casta tinta ramisco datam do século XII. Em 1367 já se exportava e no século XVI embarcou nas caravelas dos descobrimentos. Mas é o século XIX que marca mais o Colares, com a resistência à praga da filoxera e com as apologias nas casas de Lisboa, onde se destacam os aplausos de Eça de Queiroz.
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Em 1865 dá-se a chegada da praga da filoxera a Portugal e, por terem as raízes em solo arenoso, as vinhas de Colares resistem ao insecto. Até à terceira década do século XX a região esteve em grande, mas a crise mundial de 1929 derrubou o negócio. Dos 20 produtores de então restam hoje cinco, sendo dois recentes.
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Já Sintra é mais aristocrática, com palácios e quintas fidalgas, mas também de chalés românticos e casas de povo. Nessa Sintra monumental saliente-se o palácio em estilo neo-clássico de Seteais. A casa foi mandada construir pelo cônsul da Holanda em Lisboa, Daniel Gildemeester, em 1787. O palácio mudou de dono e foi o quinto marquês de Marialva. Dom Diogo Coutinho ordenou novas obras e, em 1802, estabeleceu-se a actual fisionomia do edifício. Hoje é um hotel de prestígio da cadeia Tivoli.
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Pois foi neste hotel palácio que se realizou uma prova de vinhos de Colares, dos cinco produtores no activo. Três são históricos, um é recente e outro estreante. À prova seguiu-se um almoço, orquestrado pelo chefe Luís Baena.
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Foram vários os vinhos provados e os servidos à refeição. Segue a lista, mas vou deter-me em apenas num, porque foi o que mais me surpreendeu… pela ruptura que faz. Citem-se os conjurados, começando pelos brancos: Fundação Oriente Branco 2008 (um vinho com inovação, mas sem rupturas bruscas), Arenae Malvasia 2008 (um Colares clássico), Monte Cascas Malvasia 2008 (agitador) e Colares Chitas Branco 2006 (tradicional como manda a lei); os tintos foram Fundação Oriente MJC Tinto 2005 (grande elegância), Viúva Gomes 2003 (rústico e com muito «animal»), Viúva Gomes Reserva 1969 (em grande forma, belíssimo), Adega Regional de Colares 1992 (bem comportado e justo, mas ofuscado pelo vinho anterior) e Fundação Oriente MJC Tinto 2004 (igualmente elegante, a prometer futuro). À parte dos Colares veio um Carcavelos, da Quinta da Belavista (no nariz notas florais e muito mel, mas na boca revelou-se curto).
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De loucura são os preços dos vinhos agora apresentados a prova. Bem sei que normalmente marimbo-me para as relações de qualidade e preço. Não é agora que vou fazer essa pesagem, mas não posso deixar de notar a exorbitância que atingem estes néctares. Cada garrafa da Fundação Oriente (0,75l) custa 30 euros. Uma de Arenae Malvasia (0,5l) 9 euros. Uma de Monte Cascas (0,75l) 30 euros. E uma de Viúva Gomes (0,5l) 12 euros.
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Bem se sabe que a vinha é pouca, que vinho é menos, que o preço da terra é elevado, que a mão-de-obra é trabalhosa e cara… mas!... A região quer ressurgir e os preços são de loucura. Pela dimensão da região sabe-se que nunca poderá competir com um Alentejo ou um Dão, mas sabe-se que os Colares são pouco conhecidos e reconhecidos. A história não vende vinhos nem equilibra contas. Por estes preços encontram-se vinhos de qualidade não inferior e mesmo superior, de regiões mais sonantes.
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O vinho que me debruço com maior pormenor é o Monte Cascas, pela ruptura que faz com a tradição. Dir-se-á que poderia ser doutra região… não propriamente. Dir-se-á que a fruta tem algum combate com a madeira… é verdade. A madeira marca este vinho. Este vinho é discutível. Outras pessoas na prova não se mostraram tão entusiasmados quanto eu.
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Este produtor recorreu a barricas de terceiro e quarto ano, mas, mesmo assim, se nota bem a madeira. Hélder Cunha, responsável por este projecto iniciado há apenas ano e meio, reconhece a marcação, mas refere que tudo se irá acertar, até porque as barricas também se cansam.
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Este não é um vinho de garagem, mas de alpendre… foram produzidas pouco mais de 600 garrafas (seiscentas)!!! A razão é simples: a produção da região é pouca e poucos são os agricultores e, quase todos, vendem as uvas à Adega Regional de Colares. Sobra pouco para a jovem empresa.
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O que mais me impressionou neste vinho foi a festa que fez no nariz, muito complexo, muito variado e em evolução. Primeiro: rosas. Depois citrinos, maçãs. Terceiro, mineralidade e especiarias. Em todas as etapas uma finura tropical e uma mínima de rebuçado. A boca não desanima, mas fica aquém do nariz e menos surpreendente.
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Monte Cascas Malvasia 2008
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Produtor: Monte Cascas
Nota: 6,5/10
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Fundação Oriente Branco 2008
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Produtor: Fundação Oriente
Nota: 7/10
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Arenae Malvasia 2008
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Produtor: Adega Regional de Colares
Nota: 6,5/10
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Colares Chitas Branco 2006
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Produtor: António Bernardino Paulo da Silva
Nota: 6/10
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Fundação Oriente MJC Tinto 2005
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Produtor: Fundação Oriente
Nota: 7/10
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Fundação Oriente MJC Tinto
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Produtor: Fundação Oriente
Nota: 7/10
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Viúva Gomes 2003
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Produtor: Jacinto Lopes Baeta
Nota: 5/10
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Viúva Gomes Reserva 1969
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Produtor: Viúva Gomes
Nota: 8/10
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Adega Regional de Colares 1992
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Produtor: Adega Regional de Colares
Nota: 7/10

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
João Barbosa disse...

o comentário aqui colocado por um anónimo foi retirado visto este espaço não ser uma parede para afixação de propaganda.