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As homenagens devem ser feitas em vida – infelizmente tantas
vezes não acontece. A razão por que o digo não é para saudar os que partem, mas
para os expressar aos que ficam. Quem vai, por algum tempo, permanece connosco,
com os entes queridos e pessoas que lhe são agradáveis
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Já quem fica é levado,
bastas vezes, talvez na maioria dos casos, a supor que morremos definitivamente
quando o caixão desce à terra, é guardado num jazigo ou entra na fornalha, ou por
algum motivo se perde. Digo, por convicção, que não nascemos no berço e não nos
finamos no túmulo.
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As homenagens são para os vivos, para os que estão na carne.
Certamente lembram-se – lembramo-nos, episodicamente, e a vida continua, no
dia-a-dia desta pesagem pela matéria, esquecendo, ainda que inadvertidamente,
das bênçãos que nos chegam de formas tão diversas.
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Elogiar os mortos é fácil! Não irão telefonar emocionados,
mas podem-no ficar, nem amuar porque se foi poupado nas laudas, que acontece,
ou passar recados, porque algo não foi bem assim, mas é verdade. Assim creio.
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Perdoem-me os leitores que diferente de mim pensem: A morte
não redime. O dom da Graça é um conforto confortável – expressão propositadamente
pleonástica. Vamos e vimos as vezes necessárias até que um dia um chamamento
nos promova, quando for merecido e houver a necessárias modéstia e vontade de
missão.
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Isto se aplica a todos. Podia citar o caso recente do meu
pai, mas não – 20 de Fevereiro foi ontem e será sempre ontem, mas abraça-me
quando preciso e critica-me se o acha necessário; talvez nem o saiba, ele e eu.
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Dirijo as palavras a alguém que, não tendo conhecido
pessoalmente nesta vida, entrou em minha casa e auxiliou o Manuel Jorge, sempre
empenhado na cozinha. Era miúdo quando o chefe Silva ensinava na televisão ou já adolescente e desinteressado.
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Não era sorridente, mas não carrancudo – contudo sorria. Falava
devagar e explicava. Quando me iniciei aplicadamente no mundo do vinho e da
comida sólida, ouvi sempre palavras de respeito e consideração – sem excepção.
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É um feito! Não sei como seria no seu círculo íntimo, mas
teria força e fraqueza, erros e benefícios – como todos. Sei do homem que
entrou em minha casa tela RTP, do «outro», do senhor António da Silva, não sei –
certo estou que o amaram e amou.
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Disseram-me bem como homem e como profissional, honesto e
conhecedor, influente na vida de jovens que viriam a ser colegas e nas tarefas
da casa, para que o arroz ficasse no ponto e a carne suculenta. Era miúdo, e o
que me contam é que respeitava a comida e o público. Sem «plástico» e fiel à
gastronomia portuguesa.
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É esse respeito que sempre ouvi e por que lhe dedico estas
linhas de homenagem. Escrevo tarde (12 de Novembro de 2015), se pensarmos no dia do passamento . Escrevo
a tempo, pois sei que vive além, fazendo as tarefas que a Espiritualidade
Superior lhe designou.
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As homenagens em vida, podem lacrimejar os olhos da família
e da figura, mas são para quem está encarnado. Escrevo tarde, mas
simbolicamente coloco este texto no dia em que o chefe Silva foi a um outro
lugar.
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Nota: Pensei em contactar a família para lhe dar conta desta
sincera homenagem. Decidi não o fazer, pois conhecia o chefe Silva e não o
senhora António da Silva. Não tive sequer a oportunidade de lhe apertar a mão.
O que tem de ser será, se alguma dia um familiar, ou amigo do senhor António da
Silva, encontrar esta minha prosa, espero que a (me) compreenda e, por isso, a
aprecie.
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