sexta-feira, janeiro 16, 2015

Pala da Lebre Branco 2013

.
A crónica é sobre vinho, garanto! Contudo, há mais coisas para escrever. Quem não quiser ler além do estritamente vínico que salte para onde o texto retoma a sua cor habitual.
.
.
.
Vinho sem emoção tem interesse? Talvez tanto quanto quando é bebido por beber. Os momentos fazem os vinhos. Nem sempre os vinhos fazem os momentos. Viver é muito mais do que prazer e ter um só prazer sabe-me a poucachinho.
.
As artes plásticas, sobretudo a pintura, dão-me um prazer que não substitui o vinho, nem por ele é substituível. A elas posso juntar a música, a heráldica cívica ou vida de dois países que inventei quando era criança e que mantenho porque o devo.
.
Um só copo pode ser exagero e duas garrafas um défice. Como os beijos e as zangas. Tanto já se disse escreveu acerca dos momentos e emoções e seus acompanhamentos báquicos. A eles junto a estética visual.
.
O vinho é várias coisas e uma delas pode ser manifestação artística. Ao mesmo tempo, o seu embrulho pode dar-lhe valor, diferenciação ou coisa nenhuma. Infelizmente, a sensibilidade artística é escassa, falta «mundo» a muitos produtores. Há vinhos que se bocejam, tal como rótulos.
.
Nem todas as casas podem aspirar a serem – em euros disponíveis para a arte – o Château Mouton Rothschild. As garrafas desta vinícola do Médoc conheceram obras exclusivas de Picasso, Henry Moore, Kandinsky… é assim desde 1924. Por cá temos o Esporão, que aposta nos artistas portugueses.
.
Volta e meia deparo-me com preciosidades. Sim, os olhos comem e já comprei vinhos por causa dos rótulos. Por que não?! Uns valiam a pena e outros não. O mesmo se passou com o título da obra.
.
Os vinhos Ninfa, do meu homónimo, são a mais recente descoberta artística, com os seus sólidos impossíveis. Aliás, penúltima, porque chegou-me uma garrafa de Pala da Lebre. A 29 de Junho de 2014 publiquei uma nota acerca da nova imagem deste produtor duriense. Desde esse dia que está prometido um texto acerca do vinho enviado para prova.
.
É chegado o tempo. Agora, porque sim. Agora, por que não?! Coisas da vida, nas suas larguras, alturas, comprimentos e espessuras, que me abstenho de esmiuçar. É agora!
.
Já se percebeu que me maravilhei com o rótulo deste branco. Basta olhar para o blogue encarnado para se perceber que não gosto de lá ter ilustrações. Não bem não gostar, é não reconhecer interesse estético no que mostram.
.
O trabalho foi concebido pela Essência do Vinho, mas os créditos devem ser atribuídos a Maria Adão. O Pala da Lebre é infantil, é a capa dum livro de estórias que uma avó lê ao neto. Mais do que belo, é terno; e a ternura é confortável. Não sugiro que se esteja a incentivar o consumo de álcool por parte das crianças. Realço o calor que me transmite.
.
Embora seja difícil acontecer, uma vinha pode ser tão entediante quanto uma máquina de engarrafamento. Quando não o é? Quando quem olha aprecia a natureza, das ervinhas à bicheza.
.
O rótulo do Pala da Lebre tem as árvores, os montes e as vinhas; animais que se recolhem à capoeira e outros que são vadios. Fechado numa cidade aberta, vi-me em descanso campestre, enquanto o bebia e acompanhava com… não me lembro.
.
O afecto e o prazer contaminam, mas tentarei ser justo, ainda que assuma toda a subjectividade a que tenho direito neste bloco público. À nota atribuída, 0,5 ponto é prazer visual.
.
O Douro encanta-me e o seu vinho dá-lhe mais luzires. Daí obtenho os tintos mais prazenteiros – generalizando – e brancos diferenciados. O Pala da Lebre Branco 2013 responde ao que gosto de encontrar.
.
A região tem as alegrias da personalidade e da família. O Douro sabe a Douro. Este branco tem aquele leve adocicado – que não é – petulante, que se conjuga com a terra e as ervas bravias em secagem.
.
Rui Walter da Cunha é o responsável pela enologia. As castas são as gouveio, rabigato e malvasia fina. O Douro sabe a Douro. Não é um vinho poderoso, mas tem volume e elegância – esta última nem sempre se consegue por lá. Na garrafa cabem maçãs granny smith sem euforia, a lembrança de rebuçado e restolho. Na boca mostrou-se equilibrado e fresco. Faltam-lhe 100 metros, podia o final ser mais longo.
.
.
.
Origem: Douro
Produtor: Patamar Ancestral
Nota: 7,5/10
.
.
.
Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

Sem comentários: