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A crónica é sobre vinho,
garanto! Contudo, há mais coisas para escrever. Quem não quiser ler além do
estritamente vínico que salte para onde o texto retoma a sua cor habitual.
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Vinho sem emoção tem
interesse? Talvez tanto quanto quando é bebido por beber. Os momentos fazem os
vinhos. Nem sempre os vinhos fazem os momentos. Viver é muito mais do que
prazer e ter um só prazer sabe-me a poucachinho.
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As artes plásticas,
sobretudo a pintura, dão-me um prazer que não substitui o vinho, nem por ele é
substituível. A elas posso juntar a música, a heráldica cívica ou vida de dois
países que inventei quando era criança e que mantenho porque o devo.
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Um só copo pode ser
exagero e duas garrafas um défice. Como os beijos e as zangas. Tanto já se
disse escreveu acerca dos momentos e emoções e seus acompanhamentos báquicos. A
eles junto a estética visual.
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O vinho é várias coisas e
uma delas pode ser manifestação artística. Ao mesmo tempo, o seu embrulho pode
dar-lhe valor, diferenciação ou coisa nenhuma. Infelizmente, a sensibilidade
artística é escassa, falta «mundo» a muitos produtores. Há vinhos que se bocejam,
tal como rótulos.
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Nem todas as casas podem
aspirar a serem – em euros disponíveis para a arte – o Château Mouton
Rothschild. As garrafas desta vinícola do Médoc conheceram obras exclusivas de
Picasso, Henry Moore, Kandinsky… é assim desde 1924. Por cá temos o Esporão,
que aposta nos artistas portugueses.
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Volta e meia deparo-me com
preciosidades. Sim, os olhos comem e já comprei vinhos por causa dos rótulos.
Por que não?! Uns valiam a pena e outros não. O mesmo se passou com o título da
obra.
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Os vinhos Ninfa, do meu
homónimo, são a mais recente descoberta artística, com os seus sólidos
impossíveis. Aliás, penúltima, porque chegou-me uma garrafa de Pala da Lebre. A
29 de Junho de 2014 publiquei uma nota acerca da nova imagem deste produtor
duriense. Desde esse dia que está prometido um texto acerca do vinho enviado
para prova.
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É chegado o tempo. Agora,
porque sim. Agora, por que não?! Coisas da vida, nas suas larguras, alturas,
comprimentos e espessuras, que me abstenho de esmiuçar. É agora!
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Já se percebeu que me
maravilhei com o rótulo deste branco. Basta olhar para o blogue encarnado para
se perceber que não gosto de lá ter ilustrações. Não bem não gostar, é não
reconhecer interesse estético no que mostram.
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O trabalho foi concebido
pela Essência do Vinho, mas os créditos devem ser atribuídos a Maria Adão. O Pala da Lebre é
infantil, é a capa dum livro de estórias que uma avó lê ao neto. Mais do que
belo, é terno; e a ternura é confortável. Não sugiro que se esteja a incentivar
o consumo de álcool por parte das crianças. Realço o calor que me transmite.
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Embora seja difícil
acontecer, uma vinha pode ser tão entediante quanto uma máquina de engarrafamento.
Quando não o é? Quando quem olha aprecia a natureza, das ervinhas à bicheza.
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O rótulo do Pala da Lebre
tem as árvores, os montes e as vinhas; animais que se recolhem à capoeira e
outros que são vadios. Fechado numa cidade aberta, vi-me em descanso campestre,
enquanto o bebia e acompanhava com… não me lembro.
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O afecto e o prazer
contaminam, mas tentarei ser justo, ainda que assuma toda a subjectividade a
que tenho direito neste bloco público. À nota atribuída, 0,5 ponto é prazer
visual.
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O Douro encanta-me e o seu
vinho dá-lhe mais luzires. Daí obtenho os tintos mais prazenteiros –
generalizando – e brancos diferenciados. O Pala da Lebre Branco 2013 responde
ao que gosto de encontrar.
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A região tem as alegrias da
personalidade e da família. O Douro sabe a Douro. Este branco tem aquele leve
adocicado – que não é – petulante, que se conjuga com a terra e as ervas
bravias em secagem.
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Rui Walter da Cunha
é o responsável pela enologia. As castas são as gouveio, rabigato e malvasia
fina. O Douro sabe a Douro. Não é um vinho poderoso, mas tem volume e elegância
– esta última nem sempre se consegue por lá. Na garrafa cabem maçãs granny
smith sem euforia, a lembrança de rebuçado e restolho. Na boca mostrou-se
equilibrado e fresco. Faltam-lhe 100 metros, podia o final ser mais longo.
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Origem: Douro
Produtor: Patamar
Ancestral
Nota: 7,5/10
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Nota: Este vinho foi
enviado para prova pelo produtor.
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