quinta-feira, junho 12, 2014

Quinta de Pancas Grande Escolha 2011

A Quinta de Pancas é pioneira no trabalho de rigor e qualidade numa região que vai deixando de ser desamada – era Estremadura e hoje é Lisboa, embora chegue a Ourém.
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Se não me foge rigor à memória, ainda antes de pertencer à Companhia das Quintas estava na senda da produção com qualidade.
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Não sei datas, ou não me lembro e não me apetece procurar. A Quinta de Pancas já ganhou estatuto de clássico. Tem vários vinhos e obviamente não valem, em termos de qualidade, todos o mesmo.
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Este, em particular, deu-me bom prazer.
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Como tudo na vida, não somos sempre os mesmos. Já tive o momento da irreverência, já deixei a arrogância (assim espero), já perdi alguns preconceitos, já me libertei de verdades de outros que assumi como minhas – sinal de fraqueza de principiante... e por aí fora, já se percebeu.
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Assim acontece com uma casta deste lote: a cabernet sauvignon. É de facto uma grande casta e consegue manter identidade e uma plasticidade ou elasticidade quanto ao local onde a plantam.
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Criticam-na por muitas coisas e todas elas com lógica e legitimidade. Refiro as duas que mais oiço: ser verdosa e impositiva. Quanto ao verde, parte é característica ou carácter e muito tem de competência e/ou empenho de quem a trabalha. Ainda verdosa como se fosse um pecado e que bom é a fruta e (talvez às vezes) as flores. Sim, é impositiva... e aqui reina a subjectividade do gosto e da encomenda.
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Como tudo o que é notável (não necessariamente um elogio) é alvo grande e apetecível para ataques. Seja, é comum que aconteça. Pois penso que essa notabilidade é justificável – seja aplauso ou apupo – pois é uma grande casta.
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Pois libertei-me de alguns preconceitos e opiniões condenatórias... sim, gosto de cabernet sauvignon, mas não de todo. De monovarietais? Nem por isso, e para todos. Mas sendo tão impositiva, penso que tanto se pode deitar a toalha ao chão e dizer: neste lote ela põe e dispõe... e/ou antes se faça monovarietal. Não sou produtor nem enólogo nem comerciante, que cada um fique na sua.
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Pois neste Quinta de Pancas Grande Escolha 2011 ocupa 35% do lote. A petit verdot tem idêntica percentagem e a touriga nacional os restantes 30%.
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E se disser que a touriga nacional pode ser acusada de crimes semelhantes às do cabernet sauvignon? A seu favor está uma maior elasticidade de comportamentos. Contra, na minha opinião, obviamente, torna-se muitas vezes cansativa. Ora é muitas vezes demasiado frutada, até compotada... ou, pior, excessivamente floral. Houve um monovarietal de touriga nacional que me fez pensar que estava encarcerado num jazido atafulhado das flores oferecidas ao defunto.
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Ok, há a questão da competência e de a saber ensinar a comportar-se, mas isso vale para a touriga nacional como para a cabernet sauvignon como a outra «qualquer».
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Acerca deste vinho... a cabernet domina e não é por causa de ter mais cinco pontos percentuais do que a touriga nacional. Sempre que as senti juntas, França ganha a Portugal. Isso não é nem bom nem mau, é assim... sou gordo e tal não me torna nem simpático nem antipático.
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Gostei do nervo da cabernet sauvignon, masculina, e da delicadeza com personalidade feminina da touriga nacional. Quanto à presença da petit verdot... não me sinto competente para ajuizar o seu papel e desempenho, penso que provavelmente esteja para amenizar o casal, uma espécie de criança, que anima um lar.
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Origem: Regional Lisboa
Produtor: Companhia das Quintas
Nota: 7,5/10

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