A Quinta de Pancas é pioneira no trabalho de rigor e
qualidade numa região que vai deixando de ser desamada – era Estremadura e hoje
é Lisboa, embora chegue a Ourém.
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Se não me foge rigor à memória, ainda antes de pertencer à
Companhia das Quintas estava na senda da produção com qualidade.
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Não sei datas, ou não me lembro e não me apetece procurar. A
Quinta de Pancas já ganhou estatuto de clássico. Tem vários vinhos e obviamente
não valem, em termos de qualidade, todos o mesmo.
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Este, em particular, deu-me bom prazer.
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Como tudo na vida, não somos sempre os mesmos. Já tive o
momento da irreverência, já deixei a arrogância (assim espero), já perdi alguns
preconceitos, já me libertei de verdades de outros que assumi como minhas –
sinal de fraqueza de principiante... e por aí fora, já se percebeu.
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Assim acontece com uma casta deste lote: a cabernet
sauvignon. É de facto uma grande casta e consegue manter identidade e uma
plasticidade ou elasticidade quanto ao local onde a plantam.
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Criticam-na por muitas coisas e todas elas com lógica e
legitimidade. Refiro as duas que mais oiço: ser verdosa e impositiva. Quanto ao
verde, parte é característica ou carácter e muito tem de competência e/ou
empenho de quem a trabalha. Ainda verdosa como se fosse um pecado e que bom é a
fruta e (talvez às vezes) as flores. Sim, é impositiva... e aqui reina a
subjectividade do gosto e da encomenda.
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Como tudo o que é notável (não necessariamente um elogio) é
alvo grande e apetecível para ataques. Seja, é comum que aconteça. Pois penso que essa
notabilidade é justificável – seja aplauso ou apupo – pois é uma grande casta.
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Pois libertei-me de alguns preconceitos e opiniões condenatórias...
sim, gosto de cabernet sauvignon, mas não de todo. De monovarietais? Nem por
isso, e para todos. Mas sendo tão impositiva, penso que tanto se pode deitar a
toalha ao chão e dizer: neste lote ela põe e dispõe... e/ou antes se faça
monovarietal. Não sou produtor nem enólogo nem comerciante, que cada um fique na
sua.
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Pois neste Quinta de Pancas Grande Escolha 2011 ocupa 35% do
lote. A petit verdot tem idêntica percentagem e a touriga nacional os restantes
30%.
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E se disser que a touriga nacional pode ser acusada de crimes
semelhantes às do cabernet sauvignon? A seu favor está uma maior elasticidade
de comportamentos. Contra, na minha opinião, obviamente, torna-se muitas vezes
cansativa. Ora é muitas vezes demasiado frutada, até compotada... ou, pior,
excessivamente floral. Houve um monovarietal de touriga nacional que me fez
pensar que estava encarcerado num jazido atafulhado das flores oferecidas ao defunto.
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Ok, há a questão da competência e de a saber ensinar a
comportar-se, mas isso vale para a touriga nacional como para a cabernet
sauvignon como a outra «qualquer».
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Acerca deste vinho... a cabernet domina e não é por causa de
ter mais cinco pontos percentuais do que a touriga nacional. Sempre que as
senti juntas, França ganha a Portugal. Isso não é nem bom nem mau, é assim...
sou gordo e tal não me torna nem simpático nem antipático.
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Gostei do nervo da cabernet sauvignon, masculina, e da
delicadeza com personalidade feminina da touriga nacional. Quanto à presença da
petit verdot... não me sinto competente para ajuizar o seu papel e desempenho, penso que provavelmente
esteja para amenizar o casal, uma espécie de criança, que anima um lar.
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Origem: Regional Lisboa
Produtor: Companhia das Quintas
Nota: 7,5/10
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