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Tive a sorte de ter tido dois grandes professores de
português na Escola Secundária de Gil Vicente (Lisboa): Maria Joana Meira e
Adalberto de Azevedo. Passados 24 anos (deviam ter sido 26, mas como mudei de
área vocacional «perdi» dois anos – mas se soubesse o que sei hoje... ) tenho
algumas memórias já esborratadas e outras talvez inventadas – a memória também
se inventa e não mente necessariamente – e outras fiáveis, que são as que nunca
mudei e sempre contei da mesma forma.
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Maria Joana Meira e Adalberto de Azevedo mais do que leccionaram
português e nele espetaram o Luís Vaz de Camões e o seu «Os Lusíadas». Ambos
Ensinaram (não costumo pôr maiúsculas em substantivos comuns, mas aqui
justifica-se) a obra genial... genial não é por ter dez cantos, estrofes de
oito versos com dez sílabas (algumas tónicas)... quem teve qualquer um desses
professores (ou algum grande professor) compreende
o que quero transmitir. Tinha 30 anos e presenciei a uma nova revelação: o
falecido actor Carlos César deu uma formação, de vários dias, e o material didáctico
foi «Os Lusíadas» e os materiais a voz e a interpretação. Pois, o nosso Camões
escreveu prosa em verso... já não bastavam a métrica e a rima e o exercício das
estrofes.
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Tal como Dom Quixote de La Mancha, Luís de Camões foi um
fidalgo de triste figura, certamente presunçoso nos pergaminhos, que maquilhava
com engrandecimento o seu baixo grau de nobreza (classe social, entenda-se),
que infelizmente teve de bajular o malfadado Dom Sebastião e ver cair Portugal,
que tanto enalteceu, definhando no sangue da sucessão, passando dum clérigo
para outro e sabendo que o sangue real iria desaguar em Filipe II de Espanha,
que foi Filipe I de Portugal – um dos melhores que tivemos por monarca. Morreu
Luís Vaz de Camões a 10 de Junho de 1580 e chegou a Lisboa Dom Filipe a 12 de
Setembro do mesmo ano (coroado como Rei de Portugal em 1581).
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Esta crónica não é um arengar de memórias, de história e de
literatura, mas penso que pode haver por aí uns distraídos que não saiba o que
são ninfas. Talvez esteja a ser presunçoso...
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As ninfas são divindades femininas grega clássica – são porque
nunca morrerão enquanto houver ideias e cultura – muito ligadas à água e aos
rios. As do Tejo são as tágides, a quem Camões pediu inspiração.
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Forçando um bocadinho, estes Ninfa são vinhos do Tejo. Mas
há mais: ninfa significava (tanta coisa) botão de rosa. E há uma rosa nestes
vinhos, a rosa azul, graal da botânica tal como a tulipa negra – impossíveis como
os sólidos impossíveis que António Quintas inventou para os rótulos. Sinceramente,
estes vinhos do meu homónimo dão-me um prazer leve de fruição.
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O Ninfa Sauvignon Blanc 2013 não é um raça pura, pois tem,
no limite legal para monovarietal, fernão pires (15%). É um vinho bom amigo. É
muito mais do que um vinho de splash! Muito mais! Todavia, gostei dele a
conversar. Amigo silencioso a que se prestou atenção. Gostei tanto dele assim
que não o imagino ligado a um género alimentício concreto... mas assaltou-me,
agora mesmo, um queijo de cabra, dos pequeninos e salgados... não sei. Muito
fresco quer na acidez quer no que diz ao sentido do olfacto.
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Não gostava de sauvignon blanc... mas mudei de opinião. Para
mim, o temperamento cosmopolita combina com a patusca fernão pires.
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O Ninfa Rosé 2013 é outro belo conversador. Pode ir à mesa
com os suspeitos habituais e também à areia da praia ou à borda da piscina.
Fez-se com uvas alfrocheiro e aragonês, em partes iguais – diz o contra-rótulo,
mas não me admirava que por lá exista alguma touriga nacional escondida.
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Touriga nacional tem o Ninfa Tinto 2012, mais alfrocheiro e
aragonês (deste não sei as percentagens... mistérios). Tal como os anteriores é
um vinho com frescura, não cansa. Acompanha bem... blá blá blá blá blá... já se
sabe violeta e cereja.
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Ninfa Sauvignon Blanc 2013
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Origem: Regional Tejo
Produtor: João M. Barbosa
Nota: 6/10
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Ninfa Rosé 2013
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Origem: Regional Tejo
Produtor: João M. Barbosa
Nota: 6,5/10
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Ninfa Tinto 2012
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Origem: Regional Tejo
Produtor: João M. Barbosa
Nota: 7/10
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Nota 1: Estes vinhos foram enviados para prova pelo
produtor.
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Nota 2: Talvez tenham achado o texto demasiadamente
longo, chato, desfocado... paciência. Para mim vinho é mais do que vinho. Diziam
os romanos que a viticultura era agricultura inteligente. Ita missa est!
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Nota 3: Luís de Camões pedindo inspiração às tágides - pintura de Columbano Bordalo Pinheiro
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