Há injustiças que me encolerizam... quando era miúdo o tempo
custava a passar e queria ser adulto. Hoje, quendera ser criança e não sentir a
velocidade alucinante com que passam os dias. Foi um chasco-preto que mo veio mostrar.
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A vinícola mostrou-me novamente os três vinhos. O que contam
depois dum ano em guarda? O alentejano ainda não foi provado, pelo que neste texto
só abordarei os durienses.
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O que cantam os chascos-pretos? Estes passarinhos, que voam
de Norte a Sul do país e vão a África, têm de nome científico Oenanthe leucura,
nomenclatura latina que dá o nome a estes dois fora-de-série da Duorum Vinhos
(grupo João Portugal Ramos)... e lembra loucura, pois a ideia de fazer dois
vinhos duma mesma encosta, com altitudes diferentes, pareceu bizarra aos
parceiros José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos – isto foi dito há um
ano pelos próprios.
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Ah! Sim... o que cantam os chascos-pretos? Ou como cantam...
Há um ano, ponto de partida, está ali atrás. Tanto um como outro aceleraram. O
chasco-preto é um passarinho não é uma ave corredora, mas estes «passarinhos»
estão a dar passadas em direcção ao voo.
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Pondo fim às metáforas, notei uma evolução para melhor, quer
no Cota 200 quer no Cota 400. O 200 é mais quente e o 400 demonstra maior
frescura, o que é natural, devido à altitude das vides.
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Há um ano hesitei na atribuição de notas aos dois néctares. Acabei pela resposta (óbvia?) do 400 acima do 200 (7,5 ao Cota
400 e 7 ao Cota 200). Provavelmente saberão, se me acompanham na bloguice, que
aqui conta o gosto pessoal, mas tendo em conta, ou não penalizando demasiado, a
qualidade dos que caíram menos bem.
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A verdade é que há um ano puni o vinho que gostei mais. Por
uma razão, na indecisão da preferência, fiz tira-teimas o potencial de
evolução. Voltados a serem abatidos este ano, a decisão será a mesma, mas a
extremar-se.
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Portanto, este ano gostei mais do Cota 200 do que em 2013.
Este ano gostei mais do Cota 400 do que em 2013. Agora, gostei muito mais do
Cota 200 do que do 400. Porém...
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O que se deve e pode dizer dum vinho (ou doutras coisas)...
o que é ou o que poderá vir a ser? É quase como estabelecer a ordem primária
entre o ovo e a galinha. Provar um vinho inacabado é injusto, mas se foi dado
para prova, o que se faz?... Prova-se. O que se diz? O presente ou o
condicional.
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Penso que as coisas são o que são. Hoje sou gordo e há dez
anos era magro. Os O. Leucura não são os mesmos de há um ano... que devo
pensar? Avaliar novamente? Teria de começar a fazer isso com todos... é um
dilema!... Que não me tira um nano-segundo de sono.
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Pois, este ano gostei mais do Cota 200 quer em relação ao
ano passado quer face ao Cota 400. Porém, o 400 é-lhe superior. Esta situação
só me tinha acontecido em vinhos que não me encheram as medidas mais altas no
goto e que, no entanto, demonstraram grande qualidade.
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Agora é mais difícil, pois para ser justo com um vinho serei
injusto com o meu gosto pessoal... até ao final do texto hei-de decidir se não
darei duas notas, a do mérito formal e a da apreciação subjectiva... uma
hipótese.
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Fora desse quadro, voando uns parágrafos para cima, ambos respiram
juventude. Estão com grande fulgor e vivacidade. Se já eram bons há um ano,
hoje ganharam balanço. Irão voar ou cair do ninho?
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Vão voar, mas não será ainda no próximo ano que ocorrerão as
maiores viagens... Parece-me que o Cota 400 voará mais alto e mais longe. Se
pudesse (os dois mestres enólogos podem) guardaria uma frasqueira para lhe
acompanhar a vida. O meu saber (grande ou pequeno) e o instinto dizem-me que se
podem guardar.
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Estão mais delicados, apesar da força que demonstram.
Começam a sublinhar diferenças de carácter (ou isso) e a refinar os traços orográficos.
O Cota 200 com a touriga nacional a mostrar-se mais, em relação à touriga
franca. Penso que a situação tende a equilibrar-se. Para já a lenha da touriga
franca ainda não bate a fruta preta da touriga nacional, que, entretanto,
começou a mostrar cereja, morango bem maduro e lembranças de violetas.
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O Cota 400 ganhou cereja e morango, ficando menos violáceo.
As notas de ervas secas, não sei se esteva ou se de ramalhete de bravias,
dão-lhe tipicidade. A touriga nacional está a brilhar muito, o que acontecerá à
franca, não sei... não a senti muito presente... devia estar distraída ou saíra
em passeio quando bebi o vinho.
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Pois... quem me lê sabe que tenho uma relação apaixonada com
a touriga franca. Provavelmente, quase de certeza, é o olá que a touriga franca
me dá no Cota 200 que me faz preferi-lo ao Cota 400.
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Reconheço que a maior frescura do Cota 400 vai fazê-lo mais
longevo. A juventude é um estado de graça, mas a vida longa também.
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Devo voltar a pontuá-los? Acho que sim. Vinhos destes, que
têm estrada para andar e há um ano debutaram, podem ou devem ser reavaliados.
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O. Leucura Cota 200 Reserva 2008
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Origem: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Nota de justiça: 8,5/10
Nota pessoal (a tradicional do blogue): 8/10
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O. Leucura Cota 400 Reserva 2008
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Origem: Douro
Produtor: Durum Vinhos
Nota de justiça: 8/10
Nota pessoal (a tradicional do blogue): 8,5/10
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