segunda-feira, maio 30, 2016

V Concurso de Vinhos do Douro Superior – Festival de Vinho do Douro Superior 2016

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Encontra-me...
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Antes que o tempo acelere… continuo na vertigem dos dias (ver texto anterior)… conto do concurso que vai na quinta edição e o primeiro parece ter sido anteontem. É uma prova que se arrisca a tornar num clássico, devido à qualidade média dos concorrentes.
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Este ano, o concurso decorreu entre 20 e 22 de Maio, mantendo-se no Expo Côa (parque de feiras e exposições de Foz Côa). Estiveram presentes 70 produtores e o concurso contou com 144 vinhos. O júri foi formado por críticos, jornalistas, bloguistas, escanções, comerciantes e profissionais de hotelaria.
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A pensar no almoço...
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De todos os concursos em que participei, o Concurso do Douro Superior é o de melhor qualidade média. O princípio da precaução vigora, pelo que os grandes vinhos não costumam ir a prova. Porém, ali existe uma espécie de acordo de cavalheiros e os produtores apresentam-se com os seus melhores néctares.
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Há quem diga que a vida é uma roda… ora, pois! Lembro-me de há umas edições quase todos os vinhos que me calharam terem tido pontuação para medalha. Este ano não tive tanta sorte. Ainda assim, a qualidade foi notável.
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«O nível de pontuações foi tão alto que não foram atribuídas medalhas de bronze», lê-se no comunicado da organização. Ficam os principais premiados: Passagem Douro Reserva Branco 2015 (Quinta das Bandeiras), Quinta do Grifo Grande Reserva Tinto 2011 (Rozès) e Maynard’s Porto Colheita Branco 2007 (Barão de Vilar).
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Os grandes vencedores.
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No entanto, o concurso é apenas uma parte do evento. Além da feira, há visitas a quintas e sessões de formação, palestras e debates. Este ano, abriram as portas as Quinta do Vale Meão, Muxagat, Quinta da Cabreira (Quinta do Crasto), Quinta da Terrincha e Quinta das Bandeiras.
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Quinta do Vale Meão.
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Ainda não tinha provado nenhum branco da Quinta do Vale Meão, propriedade mítica do Douro e cuja família sempre me recebeu de braços abertos. O Meandro Branco 2015 é um alegre contentamento. A junção de viosinho e arinto dá um néctar sem travões… a bizarria da viosinho e a frescura da arinto (possivelmente a minha casta portuguesa favorita) resultam numa conjugação complexa.
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Os vinhos da Muxagat são um encanto. Ali não há luxo e trabalha-se com o essencial. O resultado é a prova de que, no vinho, dois e dois não são necessariamente quatro. A verdade está na fruto e no rigor enológico. Belos tintos, magníficos brancos.
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Gosto muito de ciprestes.
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A Quinta do Crasto situa-se em Sabrosa. Porém, o Douro Superior tem mostrado ser uma sub-região de grande qualidade. Por isso, a família Roquette comprou terra e criou a Quinta da Cabreira. O resultado chama-se Crasto Superior e vai dum lote clássico do Douro, à base de touriga nacional e touriga franca, até a uma espécie de provocação, feita com 97% de syrah e 3% de viognier. A jovialidade das vinhas ainda não permite uma equiparação dos vinhos dali aos da casa-mãe. Roma e Pavia não se fizeram num dia.
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O Vale da Vilariça é de terra fértil e de clima mediterrânico, mas sem mar. Disseram-me que ali os figos chegam 15 dias antes de amadurecerem no Algarve. É ali que se situa um projecto turístico de luxo, enquadrado na produção de vinho. A Quinta da Terrincha é também uma casa jovem. As vinhas farão o seu caminho e, com elas, os vinhos vão mostrar as características dessa terra quente. A propriedade foi recuperada e acolhe um enoturismo com pernoita. O restaurante é gerido pelo proprietário do Flor de Sal, de Mirandela.
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A viagem começou na margem direita do Douro e terminou na margem oposta, precisamente em frente da Quinta do Vale Meão. A Quinta das Bandeiras nasceu porque há pessoas que não conseguem estar quietas. Tim Bergkvist não se contentou com a sua Quinta de La Rosa (Pinhão – Cima Corgo) e avançou para montante. Hoje, o empreendimento tem à frente a sua filha, Sophia Bergkvist, e o enólogo Jorge Moreira (Passagem, Poeira, Quinta de La Rosa e Real Companhia Velha).
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Os rios são passagens e nas reentrâncias dos vales passou outrora o comboio. Daí nasceu o marca Passagem. Jorge Moreira é um dos enólogos com toque de Midas. Um vinho seu já só será notícia se não for bom. Coisa absolutamente improvável. Ali se almoçou no último dia e como se não houvesse amanhã… a simplicidade do campo!
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Roubei esta fotografia no Facebook...
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O Festival de Vinho do Douro Superior 2016 é organizado pela Câmara Municipal de Foz Côa, sendo produzido pela Revista de Vinhos estão de parabéns, com o apoio de imprensa de Joana Pratas.
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Nota: As fotografias de grupo são da autoria de Ricardo Palma Veiga, da Revista de Vinhos. A fotografia da Quinta das Bandeiras foi roubada, mas não sei a quem.

Concours Mondial de Bruxelles - Bruxelas é a capital da Bélgica! É, mas o concurso é mundial...

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Encontra-me...
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Quando era criança, o tempo demorava uma eternidade a passar. O dia 1 de Outubro assinalava o final das férias grandes, que eram praticamente infinitas, e o começo do ciclo escolar, igualmente semi-eterno.
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Li algures que há um mecanismo na cabeça que coordena a velocidade. Essa engenhoca da biologia é responsável pela aceleração da percepção do tempo. Portanto:
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Entre 29 de Abril e 1 de Maio, deste ano, estive em Plovdiv, na Bulgária. Parece que foi ontem que recebi o convite para participar como jurado no Concours Mondial de Bruxelles, mas faz um mês que terminou o evento. Este texto quase vai tarde!
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A experiência foi rica no que respeita a vinho. Não tanto pela esperada variedade de vinhos que provei, mas por ter confirmado que a componente do gosto tem muito a ver com a cultura em que se nasce. Se refiro o gosto, o que pode alarmar quem acredita que tal deve ser banido da prova, é porque a ciência do exame varia com o berço.
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A minha mesa era presidida por um francês e formada por uma búlgara, um italiano, um norte-americano e, obviamente, um português. Todos tínhamos experiência de prova, mas houve momentos em que estranhamente o vinho não era o mesmo para todos. Como pode alguém premiar o que outro penaliza?
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Aqui entra o gosto? Alguém dirá que sim e outro dirá que não. Aqui entra o hábito, no sentido de cultura ou conhecimento duma realidade, direi. Isso foge ao acerto? Ou há que assumir que o reconhecimento da qualidade também se molda nos critérios colectivos do gosto?
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A minha mesa provou sobretudo rosados, sendo alguns também eram espumantes. No total, nos três dias, provei 158 vinhos – em cada dia repetiram-se alguns, mas o total em classificação foi esse. Foram 84 rosés tranquilos, 27 espumantes rosados – alguns eram, na verdade, brancos de uvas tintas –, 40 tintos tranquilos e sete brancos tranquilos.
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Não me recordo de grandes divergências, em relação a tintos e brancos. Porém, a avaliação dos 111 rosados foi, por vezes, diferenciada. A grande divergência foi em relação a doçura e a acidez. É aqui que entra a questão do gosto ou do ambiente cultural. Houve quem penalizasse rosados por serem ácidos. Penalizei vinhos que cheiravam e sabiam a açúcar.
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Em termos de pontuações, a organização atribui Medalha de Prata a vinhos com pontuações entre 84 e 86,5. A Medalha de Ouro vai para os que obtém entre 86,6 e 92 pontos. A Grande Medalha de Ouro é atribuída a vinhos com mais de 92 pontos e até (obviamente) 100.
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Estiveram em prova 8.015 vinhos, provenientes de 51 países. França (2.421 – 17 Grande Ouro, 191 Ouro e 434 Prata), Espanha (1.570 – 10 Grande Ouro, 167 Ouro e 300 Prata), Itália (1.226 – 16 Grande Ouro, 104 Ouro e 234 Prata) e Portugal (1.033 – 12 Grande Ouro, 107 Ouro e 212 Prata) foram os países com maior número de vinhos em prova. Para se ter ideia mais precisa, a quinta maior presença foi a do Chile, com 327 vinhos.
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Porém, na escolha Exceptionnal Old Vintages, Portugal conseguiu oito prémios, num total de nove, sendo o restante francês. Seis foram Porto, dois Madeira e um Rivesaltes (Languedoc-Roussillon).
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Pelas minhas contas, se não errei ao olhar os papéis, só uma vez dei mais de 92. Por acaso calhou ao um vinho português. Não irei quebrar o sigilo. Foi numa ronda pequena, mas notável.
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Quanto ao extra-concurso… a cidade de Plovdiv é interessante, mas não me encantou por aí além. Gostei da higiene das ruas e da paisagem, mas só conheci o caminho entre Sófia e Plovdiv.
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Ficha sem bonecada, não é ficha...