terça-feira, abril 12, 2016

Legado 2011

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Mercúrio conjurou contra mim, por rancor a Ceres e Baco. Por isso escrevo este texto tardiamente face à vontade. Desculpo-me… Bem, faz de conta que esteve em estagiar em cave durante seis meses, a contar da data da sua apresentação.
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Vai na quinta edição e o Legado é já uma referência obrigatória. É um vinho notável dentro da Sogrape e do Douro – se nesta região, então no conjunto do país. Não é o Barca Velha, não é o Ferreirinha Reserva Especial… é o Legado.
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Habitualmente são os filhos que homenageiam os pais. Aqui é o oposto. O senhor Fernando Guedes – a referência a «senhor» é obrigatória, pois é matéria rara – brinda os seus descendentes com um vinho feito com uvas duma só vinha, onde a idade média das plantas poderá rondar os 115 anos.
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A vinha tem oito hectares e situa-se na Quinta do Caêdo, em Ervedosa, na sub-região de Cima Corgo. A propriedade foi comprada em 1990 e tem 24 hectares plantados, sendo atravessada pela ribeira do Caêdo. A exposição solar é a Sul e a Poente. As plantas estão em patamares construídos antes da chegada da filoxera.
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As vinhas velhas da Quinta do Caêdo são um ramalhete de castas do Douro, que como é comum são mais do que muitas. Neste vinho convivem donzelinho (10%), rufete (5%), tinta amarela (5%), tinta da barca (5%), tinta roriz (10%), touriga franca (35%), touriga nacional (15%) e 10% de várias outras.
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Para o Legado, as uvas são apanhadas separadamente por casta e vinificadas individualmente. Por isso, a fruta é colhida no ponto considerado ideal pelos técnicos. Algumas plantas já só conseguem dar um cacho, contou o senhor Fernando Guedes no jantar de apresentação da colheita de 2011.
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Em anos anteriores, a equipa de enologia da Sogrape, dirigida por Luís Sottomayor, optou por estágios de 24 meses em madeira. O vinho daquela vinha velha mostrou-se capaz de aceitar uma vida mais longa em estágio. Por isso, o Legado 2011 estagiou 30 meses em barricas novas de carvalho francês.
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O ano de 2011 foi muito generoso para os vitivinicultores portugueses. No Douro foi esplendoroso. Por isso, este vinho está no pedestal. É um vinho de incrível complexidade aromática, que evolui no copo com o passar do tempo. Na boca mostra-se também variado, com muita frescura e durabilidade. É um néctar que se pode guardar sem medos.
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Não gosto de pontuar vinhos de homenagem. No entanto, tratando-se duma saudação em vida, porque me podem dar umas bengaladas se escrever besteiras e por ser mesmo um vinho extraordinário… abro a excepção e sai uma nota máxima.
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Origem: Douro
Produtor: Sogrape
Nota: 10/10
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1 comentário:

L. disse...

em breve vou provar o 2010. mal posso esperar.