sábado, agosto 30, 2014

Adega de Borba Premium Branco 2013

Porem-me a gostar dum vinho com antão vaz é feito. Este compadri tein-ín e nã me fez muito mali.
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A Adega de Borba tem vindo a mostrar uma grande consistência nos seus vinhos. Ser-se regular não é bom nem é mau, pois pode ser as duas coisas. Pois a Adega de Borba tem vindo a mostrar uma bela regularidade e com tendência crescente.
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Já se sabe que vai levar uma aparadela por causa do antão vaz – lamento, a casta complica-me com o olfacto e o paladar. Convém dizer que está amparada pelas outras que compõem o lote: arinto, verdelho e alvarinho.
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A ficha técnica não especifica a percentagem de cada uma das castas, mas a frescura deve muito à arinto. O verdelho tempera muito bem, a alvarinho dá gulodice...
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É um vinho frutado, mas não é a cesta da fruta. Maçã granny smith, notas de banana, abacaxi, pêssego (julgo que vem da alvarinho) podia ser mais moderado. Não escrevi nos meus apontamentos, mas quando agora escrevo vem-me à cabeça uma passagem de melão... pôs que nã sê.
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Resultado harmonioso, prazenteiro na boca. Vinho para todo o ano.
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Conforme os princípios assumidos, em que a apreciação é assumidamente subjectiva e obedecendo apenas ao meu gosto pessoal, mas não pretende penalizar, só porque não gosto, vinhos que outros poderão considerar acima... a minha nota final estará meio ponto a um ponto abaixo do que merecia o vinho se fosse menos narcisista e cioso das minhas preferências. Não é preciso ser-se bruxo... antão vaz.
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6,5/10

Trinca Bolotas 2013 + Vinha do Monte Rosé 2013

Epá! Que delícia! Encantei-me. Um temperamento tão easy going... não gosto e não costumo estrangeirar, mas aqui tem de ser, porque é um vinho capaz de agradar em todo o mundo.
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Ser fácil (é!) e haver muito (julgo que sim!) não são sinónimos de não prestar – quem duvida que vá ver os números de Champanhe e das grandes casas. Aquelas duas características que apontei têm uma – de várias razões – competência enológica. Ponto!
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Apesar do que disse, a verdade é que «fácil» normalmente significa desinteressante. Fazer-se muito é habito ser medíocre. É um vinho muito fácil e bom prazer me deu.
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Não é um grande vinho e nem será essa a ideia. É um vinho tinto muito agradável, equilibrado, que vai bem, no Verão, num jantar menos leve e que acompanha comidas te tempos mais frescos.
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Este vinho nasceu na Herdade do Peso, em Pedrógão, concelho da Vidigueira. As castas do seu lote são: alicante bouschet (44%), touriga nacional (40%) e aragonês (16%).
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É um tinto jovem, muito frutado, mas sem que nem morangos, amoras, framboesas, mirtilos e ameixa tenha esmagado a outra. Como é fresco, não é compota para barrar no pão.
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Duas coisas que não têm nada a ver: o nome é «MUINTA GIRO» e o rótulo muito simpático. Penso que a Sogrape, da produção ao marketing, passando pela agência que concebeu a face estão de parabéns.
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No dia em que foi apresentado, serviram um Vinha do Monte Rosé 2013 que é 120% Verão. Também ele fácil... embora em patamar mais abaixo do Trinca Bolotas.
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Trinca Bolotas 2013
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Origem: Alentejo
Produtor: Sogrape
Nota: 7/10
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Vinha do Monte Rosé 2013
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sogrape
Nota: 5/10
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Nota: Não sei qual é a fixação dos produtores em escrever aragonês com grafia do século XIX (aragonez), que foi o tempo de maior confusão da língua portuguesa, pelo menos na matriz europeia.

quinta-feira, agosto 28, 2014

José de Sousa Tinto Velho 1940 e o seu tempo

Olá! Poderia colocar a crónica sobre este vinho aqui no blogue. Porém, o texto é praticamente uma evocação da época. Do vinho escrevi pouco.
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Todavia deixo a ligação directa para o infotocopiável. José de Sousa Tinto Velho 1940 e o seu tempo.

quarta-feira, agosto 27, 2014

Mário Sérgio celebra 25 anos da Quinta das Bágeiras

Mário Sérgio (Alves Nuno) nasceu na Bairrada e numa família com vinhas. Lembro-me quando o visitei pela primeira vez, contou-me que houve camponesas a queixarem-se ao pároco por causa da monda de cachos. Desperdício de alimento é pecado!
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Este bairradino assinalou 25 anos como vitivinicultor e chamou, à aldeia da Fogueira, amigos, familiares e jornalistas. Lá a meio do convívio rasgou um sorriso e deu-me um abraço:
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– Epá! Já nos conhecemos há uma data de anos.
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Pois já! Fui em reportagem pelo programa «Da Terra Ao Mar» (RTP 2 – domingo às 11h00) – era muito mal pago, mas foram os anos profissionais que mais gostei de viver. Dez anos! O texto da reportagem data de 13 de Outubro de 2004, pelo que a visita deve ter acontecido em finais de Setembro ou no início do mês seguinte. Não me lembro se estava em vindimas.
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O vinho é uma complexa criação humana, com várias nuances e significados, seja directos, seja indirectos:
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– Alimento de alimentar, alimento de comida, objecto sagrado, droga social (álcool) do Ocidente, com ele se brinda ao amor, se afogam desamores, se celebra o Natal, o Ano Novo, a Páscoa, os aniversários... A grosso modo, pois assume ainda mais contornos e funções...
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A Bairrada é uma região especial. O consumidor contemporâneo, que usufrui sem chegar a ser enófilo, não a compreende muitas vezes. Uma região que nem muitos bairradinos a entendem.
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Lá vem a polémica das castas (tem de ser): uma denominação de origem tem de ser tradição. A evocação duma denominação de origem não significa maior nem menor qualidade do que menção «regional». Quanto a mim, cada um planta o que quer, seja qual for a razão e critério. Custa é ler num rótulo Bairrada (ou outra) menções a cabernet sauvignon, merlot, viognier, sauvignon blanc ou outra qualquer – por muito bons que sejam os vinhos. Desde já afirmo que gosto mesmo muito dos néctares de Carlos Campolargo, mas há alguns que, no meu conceito de região, não deviam ser classificados como Bairrada. Bem, assunto encerrado. Entendam-se, organizem-se e tenham sucesso.
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O Mário Sérgio é um rosto da tradição. Se transgride é ligeiramente e pontualmente. Os Quintas das Bágeiras são mesmo Bairrada! O seu enólogo Rui Moura Alves, homem que se formou e doutorou sozinho – grande valor.
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A publicação desta crónica está atrasada – como as que recentemente saíram e as que estão na calha. O que talvez seja uma vantagem, pelo distanciamento face a 10 de Julho, quando se deu a festa e o lançamento de três vinhos de homenagem.
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Visitar Mário Sérgio implica ganhar peso. Não há volta a dar. O vinho é rico em calorias e o leitão é pecaminoso. O Mugasa – a par da Casa Vidal – faz o melhor leitão da Bairrada que conheço. O nosso vinhateiro tem forno e uma relação de amizade próxima com o proprietário e assador do Mugasa.
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Garantidamente leitão. Leitão português e bairradino (não sei se bísaro). Assado com lenha de videira. Os leitões do Mugasa abrem a porta para o paraíso gastronómico... ou seja, vai toda a gente parar ao Inferno.
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Nesta celebração dos 25 anos, Mário Sérgio apresentou os vinhos Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2012, Quinta das Bágeiras Pai Abel Tinto 2009 e Quinta das Bágeiras Avô Fausto Tinto 2010.
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Tratando-se de vinhos de homenagem não os classificarei. O Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2012 resulta dum lote de maria gomes e bical. O Quinta das Bágeiras Pai Abel Tinto 2009 é composto por baga (80%) e touriga nacional. O Quinta das Bágeiras Avô Fausto é formado por uvas baga (90%) e touriga nacional.
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Grandes vinhos da Bairrada. Grandes vinhos em qualquer lugar em que haja quem saiba apreciar. A Bairrada não é a Disneylândia.
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Mário Sérgio teve (obrigatório) de subir a uma cadeira e discursar. Improvisou e emocionou-se. Por tudo destes 25 anos.
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Que venham mais 75!

Virgo Branco 2013 + Torre do Frade Viognier 2013

Há vinhos de enólogo, vinhos de produtor, vinhos do consumidor, vinhos dos críticos, vinhos para concurso. Nenhum significa bom ou mau, há de tudo. Penso – posso estar enganado – que os vinhos da Torre do Frade são simultaneamente vinhos de produtor e de enólogo.
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Há muita gente a comprar terra e pelas mais variadíssimas razões. Muitas vezes, o lazer tem de ser compensado com uma actividade económica, para que se possa manter o luxo. Muitos apostaram na vinha e no vinho – uns bem e outros mal. Dentro destes, uns são enófilos outros são empresários.
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Fernando Carpinteiro Albino – e família – não estão na agricultura porque ganharam dinheiro na bolsa ou na construção ou... ou... ou... São alentejanos de sotaque e já percebi que também de temperamento.
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A sociedade familiar que gere as propriedades não existe para poesia, mas para criar riqueza. Mas, ao contrário doutros lavradores – antigos, pára-quedistas, vaidosos – o vinho não é só negócio.
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Os Carpinteiro Albino gostam do que fazem – numa casa de lavoura, especialmente no Alentejo, há muito para fazer – e o vinho talvez seja a que mais apreciem, embora a criação de gado bovino de raça alentejana também lhes proporcione prazer.
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Penso ser importante referir estes aspectos, porque nem sempre são uma realidade e fazem parte do «ser»... [palavras como projecto, filosofia, conteúdo... fazem-me urticária em algumas coisas].
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Já tive o prazer de me sentar à mesa com os Carpinteiro Albino e nota-se bem o brilho com que apreciam os seus vinhos. Conhecendo Fernando Carpinteiro Albino – o chefe – há 19 anos é natural que lhe conheça algumas características pessoais. Duas delas são a franqueza e a coragem de dar o corpo à luta.
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Estão no vinho! Porque é um vinho de produtor. Não entraram num táxi e disseram para o motorista os levar onde quisesse. Chamaram um dos melhores enólogos do país, homem da região, para dar nascimento aos néctares.
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As suavidade, elegância e polimento de Paulo Laureano estão também nos vinhos desta casa situada no concelho de Elvas. Quem conhece os vinhos deste enólogo reconhece-lhe uma linha coerente – tem um estilo próprio. E tem a competência técnica (quem sou eu para o afirmar) para fazer o perpétuo Mouchão – que é como a equipa do Ajax, que venha que treinador vier a táctica é sempre a mesma – como para apoiar ou aconselhar o mais autónomo e «desalinhado» José Mota Capitão.
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Os vinhos da Torre do Frade têm a caligrafia de Paulo Laureano, bem desenhada e respeitadora da encomenda. Por isso, penso que a Torre do Curvo (Frade) faz vinhos de produtor e de enólogo.
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Não pude estar presente na apresentação em Lisboa de dois brancos da Torre do Frade. Fizeram-me chegar as botelhas a casa e foram provadas cumprindo as rígidas formas de análise do bloguista: ambiente de convívio feliz, à mesa, sem estresse (adoro), rótulo à vista...
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Atenção: blogue é prazer e respeita apenas gosto pessoal, condimentado com bom-senso (espero), respeitando a linha que divide gosto pessoal e a qualidade intrínseca quando não coincidentes. Não sou crítico profissional. Nos concursos em que tenho feito parte do júri, os meus parâmetros não são os do blogue. As provas cegas são o que Churchill disse da democracia:
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– É o pior dos regimes políticos, com excepção de todos os outros.
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Cá em casa o regime é monárquico e absolutista e o pensamento iluminista só é usado em assuntos específicos. Portanto...
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Quanto aos vinhos que me chegaram, Virgo 2013 e Torre do Frade Viognier 2013, começa agora a sua entrada em cena.
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O Virgo é o que mostra o rótulo. Um vinho divertido, bem-disposto, descontraído, veraneante... e felizmente não tem no lote a casta maldita! Viognier em esplendor. É elegante e fundo. É um vinho sem estágio em madeira, pelo que a flor de laranjeira, a evocação de tangerina não ganharam as notas de manteiga e de fumo que andam a infestar muitos vinhos alentejanos. Há depois algum abacaxi que reforça a frescura.
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Quanto a mim, o melhor Virgo que bebi.
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O outro já é outra coisa. É para jantar e de casaco vestido. Pode apresentar-se na Real Mesa. Com corpo e frescura, ainda assim delicado. Um cavalheiro. Complexo, com evocação de laranjeira, maçã verde (nunca me lembro do nome da cultivar), manteiga suave, banana ao de leve e mais umas tropicalidades domesticadas. Fuuuundoooo na boca. Honra os antepassados.
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Virgo Branco 2013
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Torre do Curvo
Nota: 7/10
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Torre do Frade Viognier
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Torre do Curvo
Nota: 8/10

Portal da Calçada Reserva 2012

Tenho notado em mim uma certa embirração com os Vinhos Verdes. Não é o «ódio» que tenho à casta alentejana antão vaz, é outra coisa. É pura parvoíce minha, até porque não tem justificação.
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Não costumo beber vinho mau e qualquer má experiência, nos primórdios, terá sido tanto com um Vinho Verde como com qualquer outro. Apesar da comichão injustificada, nunca deixei de recomendar Vinhos Verdes a amigos que me pedem conselho. Sei que é puro preconceito meu.
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E tanto assim é que quando bebo um Vinho Verde – já referi que não costumo fustigar-me com mau vinho – delicio-me com a frescura e delicadeza que emanam. Não sei se alguém me lê pela primeira vez, pelo que volto a referir que embora o meu gosto pessoal prevaleça sobre qualquer outro aspecto, não penalizo um vinho bem feito apenas porque não gosto. Tal seria indelicado ou até insolente. Quando existe tal situação realço sempre o facto.
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Neste caso, a situação não se põe. O prazer de o beber condisse com a qualidade que tem. É um vinho muito fresco e equilibrado, sedutor. Não será um vinho de piscina, mas um tanque de fundo azul com água batida pelo Sol, para divertimento, e mesa posta com os comeres do Verão é maravilha de se ter. Um mergulho, salta, três rodelas de tomate, um golinho e salta lá para dentro. Gente mais séria terá igual prazer na sua mesa conservadora. Sublinho que não é vinho de piscina.
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Tem delicadeza da flor de laranjeira e aroma e sabor com presenças cítricas e de abacaxi, raspas de casca de laranja verde. Sem concessão aos pêssegos muito maduros nem aos aborrecidos maracujás – estão lá, uma e outra fruta, mas estão a saber comportar-se.
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Quinta da Calçada situa-se em Amarante – bonita terra – e o Portal da Calçada é o vinho de entrada de gama. A sub-região é a de Amarante (já se percebera) e as uvas do lote foram loureiro, arinto, azal e trajadura.
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Não sei se para facilitar a leitura ao consumidor ou se por naquela sub-região ter o nome mais corrente da casta, faz-se referência a arinto e não a pedernã. A talhe de foice uma coisa que não interessa mesmo nada: pedernã é um nome horrível!
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Origem: Vinho Verde
Produtor: Agrimota
Nota: 6/10

Azeite Oliveira Ramos Premium Virgem Extra + Quinta da Lagoalva Azeite Virgem Extra

Nasci numa família com ligações ao Alentejo. Por isso, os sabores daquela província, que se estende por quatro distritos, são-me familiares. Os meus primos têm oliveiras e as azeitonas iam para um bom lagar, com a certeza de que o óleo que levavam provinha das suas azeitonas.
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Muito bom azeite faziam os meus primos. A revolução nos lagares – necessária, devido à poluição das águas ruças – causou o encerramento dalgumas unidades de transformação, entre as quais o lagar onde os meus primos mandavam fazer azeite.
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A família urbanizou-se e o «possível» é num lagar em que vai tudo ao molho, entregam-se X toneladas ou quilogramas de azeitonas e recebe-se Y de azeite. Pois, o belo azeite dos primos foi-se...
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A minha geração tem os pais oriundos do campo. Todos com parentela com uma leira e quatro ou cinco oliveiras. O cheiro – às vezes fedor – desses azeites fazia-me confusão. O que era aquilo? Hoje sei o que é, na infância e juventude não percebia.
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Coincidentemente, nenhum dos camaradinhas tinha família no Alentejo, pelo que a minha justificação provável é que se tratava de regionalismo. O primeiro azeite comercial pelo qual me apaixonei era (é) do Alentejo e «tal e qual» o dos meus primos... a teoria batia certo, as azeitonas do Alentejo dão melhor azeite.
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Mentira – percebi depois. E lembro-me do prazer que me deu o primeiro azeite bom que não era do Alentejo – da Cooperativa de Freixo de Numão, colheita de 2004 e que vencera um prémio no Concurso Mario Solinas, do Conselho Oleícola Internacional, as olimpíadas.
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Felizmente, hoje há muitos produtores apostados na qualidade, desde os azeites de ourivesaria aos mais industriais. Quem quiser comprar um bom azeite encontra-o com facilidade – no vinho é muitíssimo mais notório, mas a revolução foi anterior.
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Tenho dois azeites para comentar há meses – perdoem-me os olivicultores pela demora na publicação da crónica – que são exemplos do que de melhor se faz no país. Tal como no vinho, não faço sentenças acerca da relação entre a qualidade e o preço. Penso que são acessíveis às bolsas da classe média (a que vai resistindo) e às possibilidades financeiras (via prioridades) dos gastrónomos.
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Tenho muito mais dificuldade em escrever sobre azeite do que sobre vinho, embora ambos sejam sagrados nas culturas mediterrânicas. A dificuldade que encontro – preconceito ou incompetência – é o azeite ser «apenas» sumo de azeitona e o vinho ser mais complexo.
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Isso é factual, mas classificar dessa forma tão redutora seria até falta de educação.
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A qualidade ou o seu reconhecimento não se escreve a metro. Tudo na vida tem um nascimento, um tempo, uma história, um estatuto... a ideia de que o azeite (ou outra coisa) do produtor pequenino é que é bom é tão verdade como mentira. Tal como se aplica ao grande produtor.
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Tal como as azeitonas virem dum olival velho e pouco produtivo ou dum moderno e cultivado em sebe. Muito não significa mau... repare-se no exemplo dos vinhos de Champanhe. Casas importantes comercializam centenas de milhares de garrafas de espumante de grande qualidade. O Ti Zé faz 30 litros de azeite e o sumo fede.
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Hoje já está com a alguma divulgação a função que cada azeite desempenha na comida, se para fritos ou se para temperos em cru.
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Qualidade, raridade e reputação fazem preços – criam mitos. Não entrando na questão dos preços, peço que atentem ao valor pedido por uma garrafinha de azeite da Quinta do Noval, onde o negócio é vinho.
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Os dois azeites que justificam este texto têm em comum serem produtos de empresas agrícolas. Digo empresas, porque são geridas de forma muito profissional, têm uma dimensão considerável no nosso mundo rural, e sabem bem o que fazem.
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O primeiro vem de Estremoz e fez-se com azeitonas das cultivares cobrançosa, galega e picual – árvores com raízes enfiadas em solo de xisto. Ao contrário do que era (é) hábito, estes frutos foram colhidos cedo, tendo em atenção à frescura e características organolépticas pretendidas.
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O azeite Oliveira Ramos Premium Virgem Extra 2013 é a prova que numa mesma província há diferenças. Não lhe reconheço os aroma e sabor do azeite dos meus primos. Encontro uma frescura vegetal e um certo picante. O produtor é João Portugal Ramos.
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O outro azeite é também delicioso. Foi produzido a partir de azeitonas das cultivares frantoio e moraiolo. O produtor é a Quinta da Lagoalva de Cima, junto a Alpiarça. Ora, que bizarria é esta de fazer azeite com variedades italianas?
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A Quinta da Lagoalva de Cima pertence à família dos duques de Palmela e, através do ramo Holstein, está ligada à Casa Real da Dinamarca. Em Itália, os Holstein tinham propriedades e de lá, do Piemonte, trouxeram oliveiras e uma tinta com um tom verde lindíssimo, que se mantém como tradição familiar nas paredes das casas.
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Estas oliveiras, com mais de 200 anos, dão um azeite diferente... como explicar?! São apanhadas cedo, ao modo italiano, e o seu sumo é muito fresco e aromático, um embaixador do Piemonte e da Toscânia.
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No programa «Da Terra Ao Mar», da RTP 2, visitei a Quinta da Lagoalva de Cima em reportagem acerca do azeite destas duas variedades italianas. O embate foi histórico – quem viu o início entrevista não se esquece da resposta à primeira pergunta que coloquei a Manuel Campilho, que é dono e patrão da Quinta da Lagoalva de Cima. Fiquei amigo.

sábado, agosto 16, 2014

Senses Alvarinho 2013

A casta alvarinho fez as malas e abalou para conhecer o país, quiçá o mundo. O Alentejo têm-na recebido bem, com boas vendas – ou seja, a aposta foi ganha. Não sei qual a classificação à chegada da meta, mas penso que a Adega de Borba foi das primeiras casas a cultivar esta casa do Alto Minho e Galiza.
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O resultado é bem diferente. Sendo diferente é comparável? É!... Sempre que a Adega de Borba lança um Senses tenho sempre notado a sua especialidade, o carácter que está subjacente, mas discreto, à marca.
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Aqui torna-se num tropical mais doce e declarado, mas com presença de lima e tangerina e casca de laranja. Envolve a boca e tem bom final.
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O alvarinho marca Borba. É diferente – não há como a nossa casa. O resultado é francamente bom, mas a sub-região de Monção e Melgaço é o seu terroir. No Alentejo é natural que seja mais quente, todavia é um vinho fresco e que pede comida. Para aperitivar há brancos mais indicados. A Adega de Borba recomenda-o para peixes gordos, acrescento Queijo de Niza ou Queijo Picante de Castelo Branco.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6/10

Burmester Branco 2013 + Curva Branco 2013 + Kopke Branco 2013

A Sogevinus é uma casa de Vinho do Porto! A empresa (julgo que ainda controlada pelo banco galego Caixanova) detém importantes marcas de Vinho do Porto (Kopke, Burmester, Calém, Barros e Gilbert’s), mas avançou também para os vinhos de mesa, com denominação de origem Douro.
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Bateram-me à porta para me entregarem três garrafas das novidades de branco: Curva Branco 2013, Burmester Branco 2013 e Kopke Branco 2013.
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Bem... os vinhos não são maus nem estão mal feitos... Mas situam-se muitos patamares abaixo donde estão os Vinhos do Porto da casa. Parece-me – e essa questão não é da minha conta – que se estão a prejudicar.
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Quanto a estes vinhos Douro em concreto...
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O Burmester Branco 2013 vence os manos. É mais complexo, com fruta citrina e flor de laranjeira, associadas a notas minerais.
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O Curva Branco 2013 registo-o mais «à moda», com a fruta tropical, a sensação de doce... Recomendo-o para uma esplanada ao ar livre, à conversa numa noite cálida.
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No Kopke Branco 2013 elogio-lhe a mineralidade, com frescura. É um vinho descontraído, enquadrado numa refeição ao ar livre, seja em esplanada ou no terraço de casa.
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Burmester Branco 2013
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Origem: Douro
Produtor: Burmester/Sogevinus
Nota: 4,5/10
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Curva Branco 2013
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Origem: Douro
Produtor: Calém/Sogevinus
Nota: 3,5/10
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Kopke Branco 2013
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Origem: Douro
Produtor: Kopke/Sogevinus
Nota: 4/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

Flor das Tacedeiras 2013 + Quinta das Tecedeiras Port Special Reserve

A dupla Marcelo Lima e Tony Smith não se contenta em fazer «estragos» na região do Vinho Verde. Ainda bem, pois trazem aragem consigo. Não sendo portugueses conseguem, por certo, ter uma visão de distância, ao mesmo tempo, o prazer, mais do que comprovado, pelos néctares cá da gente.
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Na Quinta das Tecedeiras, na sub-região duriense do Cima Corgo, mora uma maior tradição do que na «outra» quinta (ver crónica abaixo). Em equipa que vence não se mexe, pelo que reparei no cuidado entre a assinatura dos produtores, enólogo (Carlos Lucas) e o carácter da região.
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Não falei propriamente com o enólogo e com os promotores, mas julgo que não falho se disser que a frescura é o Graal. Em Baião, Rui Cunha persegue a taça, em Ervedosa do Douro o cavaleiro é Carlos Lucas.
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A Quinta das Tecedeiras tem a seu favor a localização na margem esquerda, menos ensolarada – voltada a Norte. Não vá o clima estar mesmo a mudar, para mais quente, e este factor será vital.
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Há uma gireza nesta coisa da geografia ou da orografia. A frescura, que por regra ascende montes, aqui é conseguida entre os 90 e os 190 metros de altitude. Para quem tem dificuldade em localizar mentalmente esse intervalo, refiro que o Aeroporto da Portela, em Lisboa está a 114 metros de altitude – não é portanto um monte dos Himalaias.
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Bom, quantos aos vinhos apresentados, foi o Flor das Tecedeiras 2013 (Douro) e Quintas das Tecedeiras Port Special Reserve (Porto).
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O Flor das Tecedeiras 2013 não é, portanto, uma bomba. A ficha técnica refere estágio em madeira, mas não especifica. Deduzo que tenha estagiado em barricas já com alguns anos e/ou por um curto espaço de tempo.
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O enólogo recomenda-o para queijos... direi: jamais! Percebo a vontade de mostrar polivalência, mas não é preciso chegar a tanto. Quanto a pizas, idem, idem, aspas, aspas. Sigo para carne de vaca mal passadas, a sugestão das almôndegas... por aí.
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Este vinho com denominação Douro fez-se com uvas touriga nacional, tinta barroca, touriga franca, tinta roriz, tinta amarela e o ramalhete habitual das vinhas velhas.
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Quintas das Tecedeiras Port Special Reserve resulta dum lote de uvas das castas touriga nacional, touriga franca, tinto cão, tinta roriz, tinta barroca, tinta amarela, moreto e sousão... O lote compreende vinhos com uma média de 12 anos.
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Não sendo um topo de gama, não é um de gama básica. Gosto de vinhos com este perfil em duas ocasiões muito concretas: bebericar (fresco) enquanto cozinho e após o final das refeições, já numa decente temperatura de 16 graus Célsius, com figos secos e amêndoas.
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Flor das Tecedeiras 2013
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Origem: Douro
Produtor: Quinta das Tecedeiras
Nota: 6/10
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Quintas das Tecedeiras Port Special Reserve
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Origem: Douro
Produtor: Quinta das Tecedeiras
Nota: 6/10


Covela Rosé 2013 + Covela Edição Nacional 2013 – Arinto + Covela Edição Nacional 2013 – Avesso + Covelo Escolha Branco 2013

Nunca fui a Baião, onde se situa a Quinta da Covela, que depois de sobressaltos empresariais encontrou em Marcelo Lima e Tony Smith um rumo. Os vinhos da quinta estavam bem cotados e os que nasceram desde que esta dupla de empresário tomou conta dos destinos da propriedade mantém-se num patamar de qualidade inegável.

Antes de continuar... nunca fui a Baião – que me lembre – e a terra sempre me causou irritação nervosa... a vila não tem culpa do irritante saltitão do João e do seu macaco Hadriano. Fui procurar fotografias e não me parece mal.
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O que me parece muito bem é a Quinta de Covela e os seus vinhos. Na propriedade juntam-se castas típicas da região do Vinho Verde, nacionais e internacionais. Com elas, Rui Cunha, o enólogo, consegue fazer um conjunto de vinhos diferenciados entre si – pode pensar-se nas diferentes casaras, mas nem sempre é óbvio – e com um perfil coerente.
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Num evento em Lisboa, foram-me dados a provar – com comida, porque fiz uma confusão qualquer e cheguei depois da prova, o que até talvez tenha vantagens – quatro vinhos, dois quais três brancos e um rosado.
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Começo pelo diferente, pelo Covela Rosé 2013; é um vinho fresco, com secura final, mas não um mono sem sabor. Achei curioso o comportamento da touriga nacional nesta zona de fronteira do Vinho Verde com o Douro. É um vinho com elegância e – preconceito – feminino, pois nele convivem rosas, violetas e flor de laranjeira.
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O Covela Edição Nacional 2013 – Arinto é um vinho feito à minha medida. Já nem suspeito sou, tantas são as vezes que elogio a casta arinto, que talvez seja a melhor variedade branca portuguesa.
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Na região dos Vinhos Verdes chamam-lhe pedernã, mas além de ser um vocábulo muito feio – acho horrível, pedernã – há de facto vantagens numa sinonímia comum em todo o país. Chama-se «Nacional» por ser resultado de uvas duma cultivar portuguesa. Mais uma vez revela-se elegância e frescura, onde a fruta citrina se conjuga com a flor de laranjeira e alguma rosa, muito subtil.
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O Covela Edição Nacional 2013 – Avesso segue a linha escorregadia. Ainda os citrinos e a flor de laranjeira. Se o anterior era delicado, este é delicadíssimo.


Em conclusão. Penso que não posso designar estes vinhos como típicos Vinhos Verdes – atenção, não vi o rótulo, pelo que desconheço se tem o selo de certificação ou se é um regional Minho – têm um «mundo» dado pelos empresários, o brasileiro Lima e o britânico Smith, e que o enólogo terá interpretado à altura – deduzo.
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São vinhos frescos, fáceis de se gostar e seguem um perfil cítrico, que os une, mas não os torna iguais.
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Por fim, o Covela Escolha Branco 2013 tem outras pretensões – é mais internacional. Fez-se sobretudo com avesso e chardonnay – há mais, mas não foi revelado – donde resulta alguma untuosidade. Curiosamente foi o que notei mais mineral.
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Covela Rosé 2013
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Origem: Vinho Verde (não vi o rótulo, pode ser regional Minho)
Produtor: Quinta da Covela / William Smith & Lima
Nota: 6/10
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Covela Edição Nacional 2013 – Arinto
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Origem: Vinho Verde (não vi o rótulo, pode ser regional Minho)
Produtor: Quinta da Covela / William Smith & Lima
Nota: 6,5/10
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Covela Edição Nacional 2013 – Avesso
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Origem: Vinho Verde (não vi o rótulo, pode ser regional Minho)
Produtor: Quinta da Covela / William Smith & Lima
Nota: 6/10
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Covela Escolha Branco 2013
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Origem: Regional Minho (não vi o rótulo, mas contendo chardonnay...)
Produtor: Quinta da Covela / William Smith & Lima
Nota: 6,5/10

terça-feira, agosto 12, 2014

Marquês de Borba Reserva 2011

Grande vinho!
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É tão redonda a afirmação que pouco posso escrever.
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Não é um vinho para todos os dias. Felizmente há vinhos que não são para todos os dias.
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Se fosse agradecer ao médico que me operou, ou quisesse impressionar o futuro sogro na primeira vez que partilhasse-mos a mesa, este estaria na lista das hipóteses.
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Sou dos que pensam que a forte graduação num vinho – excepto os rosados e alguns brancos mais informais – não é um defeito. Só será defeito se não tiver acidez para lhe dar frescura e vivacidade.
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Este vinho projecta-se a 14,5 graus de álcool e perigosamente, pois tem frescura e gulodice – mas não é um vinho para barrar no pão, porque tem acidez e não é uma cesta de fruta encarnada (vermelha já cansa).
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O Alentejo é cosmopolita nas castas da denominação de origem (facto que me encanita), pelo que neste vinho se pode encontrar a cabernet sauvignon – variedade que infantilmente e injustamente disse que não gostava.
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A cabernet sauvignon se travada a tempo não é pimentão, revelando-se pimento mais ou menos intenso. É um colosso que marca muito os lotes em que participa. Neste caso, tempera bem, dá exotismo (!), mostra-se e não põe e dispõe.
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A bordalesa é acompanhada pelas alentejanas trincadeira, alicante bouschet e aragonês, que lhe dão o sotaque cantado dos alentejanos. A madeira envolve bem, penso que está numa boa medida – julgo que quem gosta dum uso minimalista da madeira poderá não apreciar tanto. Não sendo caruncho, gosto muito de sentir a madeira no vinho, sendo que nos tintos a sua ausência pode ser trágica...
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Podia o marquês ascender a duque... título que em Borba não existe, tal como os outros todos (excepto o de marquês), incluindo o de visconde.
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Origem: Alentejo
Produtor: João Portugal Ramos
Nota: 8,5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

Monte da Ravasqueira Branco 2013 – Monte da Ravasqueira Alvarinho 2012 – Monte da Ravasqueira Alvarinho 2012 – Monte da Ravasqueira Viognier 2012 – MR Premium Branco 2012 – MR Premium Rosé 2013

Acho que já escrevi isto, mas acho por bem repetir (se for o caso)... a enologia é uma disciplina técnica, tal como a arquitectura. Quando há hipótese e talento, a enologia, tal como a arquitectura, podem ser arte.
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Antigamente, penso que até ao Romantismo, os pintores tinham oficinas (depois ateliês e agora estúdios), com aprendizes e oficiais, muitos deles especializados, mas que, por falta de talento, ausência de oportunidade ou receio para se estabelecerem por conta própria não ficaram registados na história de arte.
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Um dos que sobressaíram foi Leonardo da Vinci, que oficializava na oficina de Verrocchio. Conta-se que o mestre florentino ao ver um anjo pintado pelo Anchiano prometeu nunca mais pintar nenhum.
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É claro que «Leonardos» há poucos, às vezes nenhum em muitos anos. Este exemplo foi apenas para fazer sobressair a diálise entre técnica e arte. Os vinhos que agora comento – independentemente da quantidade produzida – têm essa componente de arte.
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Sou fã de Pedro Pereira Gonçalves, jovem que já provou competência e talento diferenciador. Brinco com ele chamando-se de Mourinho da enologia. O artigo definido masculino do singular que não se interprete como falta de competência e de talento de outros.
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O produtor apresentou seis vinhos, dos quais dois são homenagens, pelo que (como é hábito desde que não saiam todos os anos, mas apenas em anos de excepção) não os vou classificar.
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Este produtor de Arraiolos deu-me a felicidade de não pôr no lote a abominável antão vaz no Monte da Ravasqueira Branco 2013. Fez-se com uvas viognier, alvarinho, semillon e arinto. Tenho a dizer que a viognier faz maravilhas no Alentejo e a arinto em todo o país. A semillon por vezes exagera no temperamento e a alvarinho – embora com bons resultados no Sul – torna-se muitas vezes enjoativa e se pensarmos nos da sub-região de Monção ou Melgaço... se eu fizesse vinho no Alentejo não a plantaria.
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Todavia, o conjunto mostra-se muito prazenteiro e «culpo» o arinto a frescura gulosa que transmite. Quer na prova olfactiva, as castas mostram-se. Tem a virtude de ser complexo no aroma, reunindo mineral, vegetal fresco (talvez relva acabada de cortar) e aquela fruta que cheira quase a rosas e que responde pelo nome de líchias. Todos com boa presença na boca.
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O Monte da Ravasqueira Alvarinho 2012 achei-o um pouco cansativo. Sou fanático de citrinos e da fruta que se encontra no vinho é a que mais gosto. Todavia aqui... bem, penso que é um vinho para receber convidados. É alegre e descontraído. Não o poria à mesa. Mas nota bem positiva.
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O Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2013 é a confirmação de quanto estive errado acerca desta casta. Não nada provável que os enólogos tenham mudado as características da casta duma vez... se antes não simpatizava, hoje só posso justificar com alteração do meu gosto.
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Não é um tropical da Nova Zelândia, embora nele se reconheçam maracujá, fina banana e ananás. Acresce pêssego e espargos brancos. Tomo-o como versátil, sabendo receber e portar-se muito bem na mesa.
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O Monte da Ravasqueira Viognier 2012 é... o Alentejo não tendo nada a ver com as Côtes du Rhone mostra aqui uma pincelada, nomeadamente uma evocação de chocolate branco, a que lhe somo a ameixa. Belíssimo vinho!
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Os dois vinhos seguintes – MR Premium Branco 2012 e MR Premium Rosé 2013 – homenageiam José Manuel de Mello, industrial de referência na história recente de Portugal, que desencarnou em 2009, aos 82 anos. Penso que o seu espírito, ou alma, estará muito feliz com esta evocação da sua descendência.
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Monte da Ravasqueira Branco 2013
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte da Ravasqueira
Nota: 6/10
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Monte da Ravasqueira Alvarinho 2012
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte da Ravasqueira
Nota: 5/10
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Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2013
Origem: (indicação de casta e ano)
Produtor: Monte da Ravasqueira
Nota: 7/10
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Monte da Ravasqueira Viognier 2012
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte da Ravasqueira
Nota: 7,5/10
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MR Premium Branco 2012
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte da Ravasqueira
Nota: X
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MR Premium Rosé 2013
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Monte da Ravasqueira
Nota: X

H’our Branco 2012 e H’our Tinto 2010

Quando era miúdo tinha uns livros muito giros do Hergé, as aventuras de Joana, João e do macaco Simão. Ora, os amigos Joana Pratas e João Nápoles podia adoptar um macaquinho, mas em vez disso meteram-se a fazer vinho.
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Ainda bem, porque os chimpanzés devem viver no seu habitat ou nos zoos, e os vinhos destes dois simpáticos e bem-dispostos vitivinicultores podem ser visitados em mais sítios. E em boa Hour se desafiaram. H’our é a marca dum branco, dum tinto e dum azeite delicioso.
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A propriedade era originalmente uma, mas as necessárias partilhas separaram-nas. Num lado está a Quinta do Monte Travesso – com néctares muito bons – e noutra nasceu a Quinta de Montravesso. O domínio fica na sub-região duriense do Cima Corgo, entre a Régua e o Pinhão. O enólogo é Pedro Francisco.
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O azeite, infelizmente, é pouco, pouquíssimo. Notei-o num equilíbrio entre a tradição e a tendência mais moderna, em que os aromas naturais e frescos fazem apetecer molhar o pão ou regar alimentos em cru.
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Tanto pela quantidade como pela qualidade, o Azeite Virgem Extra enquadra-se no que se pode chamar de segmento de «ourivesaria». As árvores têm entre 60 anos e um século. As cultivares são as tradicionais da região: cobrançosa (50%), negrinha (20%), madural (20%) e verdeal (10%). Em 2013 engarrafaram-se apenas 300 garrafas. Este ano foram 6.300, o que é praticamente o mesmo. Ponham-se na fila depressa, antes que esgote.
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Quanto ao vinho... João Nápoles vendia uvas à Sogrape e o que sobrava não lhe acrescentava o valor de ter uma marca própria. Mas em 2010 nasceu a ideia de lançar um vinho de quinta (embora sem menção no rótulo). A culpa é da Joana, é uma empresária cheia de genica, com espírito de iniciativa e de talento empreendedor.
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Bingo! A Joana Pratas estava certa. A aposta foi ganha. Dois belíssimos vinhos.
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A altitude da Quinta de Montravesso situa-se entre os 450 e os 550 metros e o solo é de xisto. As trepadeiras estão bem instaladas, pois não necessitam de rega. Querem melhor exemplo de «terroir»?!
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A quinta é pequena, mesmo para os parâmetros da região, com apenas 14 hectares, dos quais 12,5 de vinha. As castas tintas são touriga nacional (dois hectares), tinta barroca (1,5 hectares), tinto cão (0,5 hectare) e sousão (3.000 metros quadrados). As brancas são: viosinho (1,3 hectares), verdelho (um hectare), rabigato (um hectare) e côdega (um hectare). A estas áreas somam-se perto de três hectares de vinha velha, que como é comum no Douro é formada uma grande variedade de cultivares.
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Quem habitualmente me lê sabe que («nunca») falo de preços nem de relação entre a qualidade e o preço. Cada um tem um padrão de qualidade e suas balizas de euros. Não é por isso que entrarei agora. Mas vou cingir-me a um patamar concreto, usado comercialmente: está num segmento médio e a puxar para cima ligeiramente.
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Em vez de enunciar as chatíssimas notas de prova – é que não me apetece mesmo e cada vez menos – digo que tanto o H’our Tinto 2010 como o H’our Branco 2012 mostram bem o que é o Douro do Cima Corgo, com evidente frescura. São vinhos que agradecem comida.
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Negativo: não há touriga franca na quinta.
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H’our Branco 2013
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Origem: Douro
Produtor: PNC
Nota: 7,5/10
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H’our Tinto 2010
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Origem: Douro
Produtor: PNC
Nota: 7,5/10

segunda-feira, agosto 04, 2014

Quinta da Ponte Pedrinha Branco 2013 - Quinta da Ponte Pedrinha Tinto 2012 - Quinta da Ponte Pedrinha Touriga Nacional 2012

Acabei de publicar no blogue o texto da Adega de Borba em que referia, como aspecto claramente positivo, a regularidade da qualidade, a fiabilidade.
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Fiabilidade quanto à qualidade intrínseca, quer no respeito pela identidade da região e pelo ano em que foram colhidas as uvas.
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Ainda outro dia me queixei da tourigação que anda neste país. Mas há duas excepções, que quanto a mim definem as duas linhas por onde vão os vinhos de touriga nacional, o Dão e o Douro.
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Falando apenas de gosto pessoal – que é a regra do blogue – tendo sempre para o Douro, até na touriga nacional. Mas isso é gosto e um resultado de local. No Dão sobressaem as violetas, às vezes com mais uma ou outra flor.
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O Quinta da Ponte Pedrinha Touriga Nacional mostra bem a casta. Passar uma refeição com amigos a falar de vinhos é uma chatice, mas não os comentar é uma injustiça – tal como a comida. Esqueço-me dos marrões (nerd – não queria escrever em inglês) dos vinhos (os enochatos, grupo em que tento não me incluir) que podem esmiuçar... safa! Numa mesa com gente normal e que gosta de vinho – estando a entrar ou simplesmente apreciar no modo «gosto» ou não gosto» - este néctar é didáctico. É uma touriga nacional do Dão.
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Aliás, os outros vinhos mantém essa certeza. Respeito pela região. Penso que acrescentar será mais do mesmo. O branco tem a frescura da encruzado – de todos os que bebi deste produtor, este foi o que caiu melhor – e o tinto define igualmente a região, com o lote de touriga nacional, alfrocheiro, trincadeira e jaen.
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Quinta da Ponte Pedrinha Branco 2013
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Origem: Dão
Produtor: Quinta da Ponte Pedrinha
Nota: 7/10
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Quinta da Ponte Pedrinha Tinto 2012
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Origem: Dão
Produtor: Quinta da Ponte Pedrinha
Nota: 6/10
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Quinta da Ponte Pedrinha Touriga Nacional 2013
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Origem: Dão
Produtor: Quinta da Ponte Pedrinha
Nota: 6/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

Montes Claros Reserva Branco 2013 e Montes Claros Reserva Tinto 2012

Bebi estes dois vinhos e dei por mim a pensar acerca do que escrever. Seja para premiar, seja para criticar, qualquer juízo tem de ter uma fundamentação. Só sim ou só não... não deve ser assim.
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Sentei-me para escrever e senti aquela força negativa da síndrome do papel em branco, mal que afecta todos os criadores. Deixei a folha do word aberta e infotocopiei, feicebuquei, sarfei na internet, adiei, e o mesmo, e o mesmo e e o mesmo.
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Resumir o vinho a notas de prova é quase insultuoso, quer para o vinho, quer para quem o fez, quer para quem o bebe. As notas de prova são giras para jogos de convivas à mesa. Duvido que alguém compre um vinho por causa das notas de prova.
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Olhei tantas vezes para os meus apontamentos e fiquei com a mesma sensação que tinha nos testes de matemática:
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– O que é que eu faço?...
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Convém referir que eu era (sou) tão dotado para a matemática que os professores, para me incentivarem, me davam as notas em linguagem binária... 0 e 1.
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Hoje ocorreu-me o modo de definir estes dois belíssimos vinhos, sentimento que é, obrigatoriamente, extensível à empresa e quem o faz: Suíça.
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– Suíça?!
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– Sim! Rigor, certeza, fiabilidade e qualidade.
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A qualidade dos vinhos da Adega de Borba e do seu enólogo, Óscar Gato, é uma certeza. A fiabilidade e a segurança de comprar estes vinhos é uma conquista de toda uma equipa. Sim, nota-se a añada nos vinhos da empresa e estes contam com os elogios já referidos.
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Claro que não aprecio castas estrangeiras aprovadas para vinhos DOC (denominação de origem controlada), mas quanto a isso nada posso fazer; é assunto dos produtores. Claro que não gostei da presença do antão vaz – e quase contradição acerca do que acima escrevi sobre as cultivares.
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A respeito da antão vaz só tenho a dizer que a arinto faz milagres!
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O branco fez-se com antão vaz, arinto, roupeiro e verdelho. O tinto resultou de aragonês, touriga nacional, cabernet sauvignon (deu frescura, a sua verdura) e syrah.
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Montes Claros Reserva Branco 2013
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6,5/10
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Montes Claros Reserva Tinto 2012
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Origem: Alentejo
Produtor: Adega de Borba
Nota: 7,5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

João Portugal Ramos Vinho Verde Loureiro 2013

Como pode uma região destruir-se ou, pelo menos, não se construir se tem argumentos para ascender?
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Apesar dos renomeados alvarinhos de Monção e Melgaço, que conseguem com mérito afastar-se do retrato-robô e de poucos produtores – em número e muitíssimo menos em percentagem no todo da região – a região dos Vinhos Verdes é reconhecida pelos preços (tão) baixos que, não tenho dúvidas, estraga negócio a quem faz bem feito e tem um projecto profissional, não apenas técnica, mas também de gestão.
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Pergunto-me, muitas vezes, o que passará pela cabeça dum alemão, apreciador de vinho, mas sem ser erudito, quando vê numa prateleira Vinho Verde que custa trocos e outro que tem mais umas moedas em cima.
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Outra pergunta que me faço é que reacção tem um consumidor que experimentou Vinho Verde de cêntimos quando bebe um vinho «a sério».
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Felizmente, tem aparecido gente apostada em descolar-se dessa realidade de vinho baratucho – diga-se que é enorme a quantidade de Vinho Verde ao nível do decapante – e com sucesso. Que mais surjam.
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Há na região produtores que, apesar de venderem barato, sabem o que fazem e nada disso é condenável. A Aveleda é um produtor que sabe fazer bem e barato – produzir em grande quantidade não é fácil e os vinhos desta sociedade antiga e familiar de Penafiel merecem todo o respeito.
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Não vou entrar em enumeração de produtores, pois iria ser injusto com esquecidos, mas achei por bem notar o caso da Aveleda, que até na dimensão é um caso à parte.
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Com este enquadramento pretendo notar que é muito benvinda – lamento, mas bem-vinda não tem lógica, os doutores da língua que aprendam – a chegada de João Portugal Ramos à região dos Vinhos Verdes.
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O Vinho Verde vende bem e João Portugal Ramos sabe fazer e gerir bem. Chegar ao Vinho Verde só mostra que a região quem potencial para vinho de qualidade e que o faro de negociante rastreou consumidores – pelo menos lá fora – dispostos a pagar mais. Cá, duvido. Não perguntei, mas palpita-me que esta entrada no Noroeste é mais para exportar.
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Quanto ao vinho em si... surpreendeu-me alguém não fazer um monovarietal de alvarinho na sub-região de Monção e Melgaço. Surpreendeu-me e bem, muito bem. Aqui, o lote é constituído em 85% por uvas da variedade loureiro, ficando o alvarinho com a parte restante.
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O Verão vai alto, mas com tempo bastante para saciar fins-de-semana e férias, além de que os brancos, mesmo os leves, não são consumíveis apenas no estio.
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Este é do mais fresco – ou refrescante – que há. É uma delícia! Pelos citrinos... e com uma elegância feminina das flores de laranjeira, um pouquinho de jasmim... um pequeno jardim.
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Origem: Vinho Verde
Produtor: João Portugal Ramos
Nota: 6,5/10