segunda-feira, maio 12, 2014

Revisitação aos O. Leucura

Há injustiças que me encolerizam... quando era miúdo o tempo custava a passar e queria ser adulto. Hoje, quendera ser criança e não sentir a velocidade alucinante com que passam os dias. Foi um chasco-preto que mo veio mostrar.
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A vinícola mostrou-me novamente os três vinhos. O que contam depois dum ano em guarda? O alentejano ainda não foi provado, pelo que neste texto só abordarei os durienses.
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O que cantam os chascos-pretos? Estes passarinhos, que voam de Norte a Sul do país e vão a África, têm de nome científico Oenanthe leucura, nomenclatura latina que dá o nome a estes dois fora-de-série da Duorum Vinhos (grupo João Portugal Ramos)... e lembra loucura, pois a ideia de fazer dois vinhos duma mesma encosta, com altitudes diferentes, pareceu bizarra aos parceiros José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos – isto foi dito há um ano pelos próprios.
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Ah! Sim... o que cantam os chascos-pretos? Ou como cantam... Há um ano, ponto de partida, está ali atrás. Tanto um como outro aceleraram. O chasco-preto é um passarinho não é uma ave corredora, mas estes «passarinhos» estão a dar passadas em direcção ao voo.
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Pondo fim às metáforas, notei uma evolução para melhor, quer no Cota 200 quer no Cota 400. O 200 é mais quente e o 400 demonstra maior frescura, o que é natural, devido à altitude das vides.
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Há um ano hesitei na atribuição de notas aos dois néctares. Acabei pela resposta (óbvia?) do 400 acima do 200 (7,5 ao Cota 400 e 7 ao Cota 200). Provavelmente saberão, se me acompanham na bloguice, que aqui conta o gosto pessoal, mas tendo em conta, ou não penalizando demasiado, a qualidade dos que caíram menos bem.
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A verdade é que há um ano puni o vinho que gostei mais. Por uma razão, na indecisão da preferência, fiz tira-teimas o potencial de evolução. Voltados a serem abatidos este ano, a decisão será a mesma, mas a extremar-se.
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Portanto, este ano gostei mais do Cota 200 do que em 2013. Este ano gostei mais do Cota 400 do que em 2013. Agora, gostei muito mais do Cota 200 do que do 400. Porém...
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O que se deve e pode dizer dum vinho (ou doutras coisas)... o que é ou o que poderá vir a ser? É quase como estabelecer a ordem primária entre o ovo e a galinha. Provar um vinho inacabado é injusto, mas se foi dado para prova, o que se faz?... Prova-se. O que se diz? O presente ou o condicional.
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Penso que as coisas são o que são. Hoje sou gordo e há dez anos era magro. Os O. Leucura não são os mesmos de há um ano... que devo pensar? Avaliar novamente? Teria de começar a fazer isso com todos... é um dilema!... Que não me tira um nano-segundo de sono.
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Pois, este ano gostei mais do Cota 200 quer em relação ao ano passado quer face ao Cota 400. Porém, o 400 é-lhe superior. Esta situação só me tinha acontecido em vinhos que não me encheram as medidas mais altas no goto e que, no entanto, demonstraram grande qualidade.
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Agora é mais difícil, pois para ser justo com um vinho serei injusto com o meu gosto pessoal... até ao final do texto hei-de decidir se não darei duas notas, a do mérito formal e a da apreciação subjectiva... uma hipótese.
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Fora desse quadro, voando uns parágrafos para cima, ambos respiram juventude. Estão com grande fulgor e vivacidade. Se já eram bons há um ano, hoje ganharam balanço. Irão voar ou cair do ninho?
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Vão voar, mas não será ainda no próximo ano que ocorrerão as maiores viagens... Parece-me que o Cota 400 voará mais alto e mais longe. Se pudesse (os dois mestres enólogos podem) guardaria uma frasqueira para lhe acompanhar a vida. O meu saber (grande ou pequeno) e o instinto dizem-me que se podem guardar.
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Estão mais delicados, apesar da força que demonstram. Começam a sublinhar diferenças de carácter (ou isso) e a refinar os traços orográficos. O Cota 200 com a touriga nacional a mostrar-se mais, em relação à touriga franca. Penso que a situação tende a equilibrar-se. Para já a lenha da touriga franca ainda não bate a fruta preta da touriga nacional, que, entretanto, começou a mostrar cereja, morango bem maduro e lembranças de violetas.
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O Cota 400 ganhou cereja e morango, ficando menos violáceo. As notas de ervas secas, não sei se esteva ou se de ramalhete de bravias, dão-lhe tipicidade. A touriga nacional está a brilhar muito, o que acontecerá à franca, não sei... não a senti muito presente... devia estar distraída ou saíra em passeio quando bebi o vinho.
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Pois... quem me lê sabe que tenho uma relação apaixonada com a touriga franca. Provavelmente, quase de certeza, é o olá que a touriga franca me dá no Cota 200 que me faz preferi-lo ao Cota 400.
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Reconheço que a maior frescura do Cota 400 vai fazê-lo mais longevo. A juventude é um estado de graça, mas a vida longa também.
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Devo voltar a pontuá-los? Acho que sim. Vinhos destes, que têm estrada para andar e há um ano debutaram, podem ou devem ser reavaliados.
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O. Leucura Cota 200 Reserva 2008
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Origem: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Nota de justiça: 8,5/10
Nota pessoal (a tradicional do blogue): 8/10
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O. Leucura Cota 400 Reserva 2008
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Origem: Douro
Produtor: Durum Vinhos
Nota de justiça: 8/10
Nota pessoal (a tradicional do blogue): 8,5/10

segunda-feira, maio 05, 2014

Ensaio sobre a cabeça e a boca – e mais os portugueses

Os portugueses são dados aos exageros. Estamos sempre entre a euforia e o desânimo, o que nos torna bipolares. Temos o maior número de loiça lavada com uma garrafa de detergente (Fairy – 1998 – feijoada na ponte Vasco da Gama, a maior do mundo – dois em um) e não faltam portugueses candidatos a aparecer no livro de recordes da Guinness.
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Para quem não sabe, o livro da Guinness nasceu para pôr termo às discussões intermináveis dos bebedolas nos bares da Irlanda. Não me parece elogioso trabalhar propositadamente para aparecer... é a versão escrita do «Emplastro» do Futebol Clube do Porto.
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Pouco viajados e pouco exigentes, deslumbramo-nos com facilidade. Se tivéssemos «mundo»... e «ter mundo» não implica só viajar. Ter «mundo» é cultura, conhecimento, sensibilidade e relativisação, a cultura e a relativização.
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Há portugueses por todo o planeta e todos partilham um orgulho meio bacoco acerca do que é nosso. São os portugueses do mercado da saudade, que consomem o que vem do rectângulo e ilhas adjacentes, só por virem do rectângulo e autonomias. Por isso, vi espumante Raposeira à venda numa loja em Reims.
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Um aspecto que se prolonga até aos jornalistas, que, muitas vezes, não fazem o que estão obrigados. Saber mais, perguntar mais, falar com mais gente. Em 2008, um vinho português passou a ser «o melhor do mundo».
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Passou? Não, não passou. Mas o comunicado, escrito por um ignorante ou cínico, da Câmara de Palmela, incendiou as redacções: o Casa Ermelinda Freitas Syrah 2005 venceu o Grande Prémio Especial do Júri (ou algo assim – foi o mais pontuado) no concurso Vinalies Internacionales de Paris.
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É um bom concurso, mas colocá-lo-ia no fim da lista dos melhores certames. Ganhar é sempre bom, mas aquele vinho, em concreto, não era o melhor do mundo. Porquê? Porque em concurso não estavam todos os vinhos do mundo. E quem é quem para dizer o que quer que seja... um júri são pessoas, todas elas falíveis e que, estatisticamente, podem estar todas erradas. Não vou por aí e o vinho era bom, sim senhores.
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Há vinhos que nem vão a concursos, ou porque não precisam ou porque poderiam sair-se mal e lá cairia a aura de santo príncipe dos néctares de Baco. Com o palmelense Syrah 2005, tão inchados, os portugueses correram às prateleiras das lojas para comprar «o melhor vinho do mundo».
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Assisti a conversas e vi, com estes dois que tenho abertos para a alma, à demanda dos curiosos... e diverti-me quando, na ausência do 2005, outro qualquer ano servia. E quando já não havia Syrah, marchava outro, como que se «o melhor do mundo» passasse por osmose a toda a obra do enólogo Jaime Quendera, na vinícola Casa Ermelinda Freitas.
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Não sei de preços, mas aposto que os 8,50 euros de preço recomendado pelo produtor se tenham multiplicado, para contentamento dos comerciantes. O português, que quer vinho barato, não se importou de pagar mais, só para experimentar e perceber o que é ser-se «o melhor do mundo».
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Este é um exemplo de falta de «mundo». Um outro é acreditar que a marca comercial «O melhor bolo de chocolate do mundo» é um facto real, que traduz uma sentença dada por alguém com poder para tal. O bolo nem é nada de especial, e falta «mundo» aos portugueses.
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Por isso, temos o melhor vinho do mundo... o melhor queijo... a melhor comida... Certo, certo. Também é verdade especialistas mundiais da cozinha gostam de se abastecer de peixe da nossa costa. Esse facto, que não resulta de concurso, e é formado por gente não concertada ou formada em júri, pode traduzir-se no «”melhor”» peixe do mundo? Pode? Não! Mas é um excelente reconhecimento ter alguns dos mais reputados chefes de cozinha do mundo a comprar peixe português.
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Portugal salazarento era a preto e branco, silenciado, fechado na mesquinhez duma ditadura que considerava que aos portugueses bastava saber ler e contar. Havia miséria e subdesenvolvimento.
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O que foi a vaga da emigração? Poucos se lembram ou sabem das condições deploráveis em que viviam os portugueses na cintura de Paris, nos bidonville. Podia haver miséria, mas tinham bacalhau e couves penca, garrafão de tinto da aldeia. Sim, levaram Portugal atrás. Como fizeram os italianos nos Estados Unidos ou os japoneses no Brasil.
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A pobreza provinciana trouxe a Lisboa (e a outras cidades) esses rurais em busca de melhores condições de vida. O país rural é quase urbano e as auto-estradas «encolheram» o território. Hoje, 2,9 milhões de pessoas vivem em torno de Lisboa e quase 2,3 milhões ao redor do Porto.
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Os pais vão à terra e a segunda geração na cidade passeia-se nos centros comerciais, com bonés americanos e/ou fato de treino. As segundas e terceiras gerações nas cidades têm «vergonha» das suas origens campestres.
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Os portugueses papam tudo! Uns patinhos! Comprámos o Dia de São Valentim e o Halloween, um carnaval fora de época. E no Entrudo adoptamos o tropical samba... com suas miúdas descascadas, em pleno Inverno, habitualmente frio e chuvoso.
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Há décadas fritámos em óleo e temperámos com caldos salgados, em cubos. Desenganem-se, esses produtos ainda se vendem e muito. Outro dia espantei-me ao ver temperar uma salada com óleo, sei lá se de girassol, amendoim, sésamo ou milho. Óleo?
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As gerações que vieram procurar uma oportunidade de vida nas cidades ou na estranjas usavam azeite oxidado, talvez lampante... depois renderam-se aos óleos industrias, de sabor quase neutro. O azeite fazia mal, dizia uma indústria, alguns médicos e vários comerciantes.
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A desruralização quebrou agriculturas. Uma amiga italiana disse-me chocada que, quando veio a primeira vez a Portugal, se admirou com as poucas variedades de hortícolas... Falta? Temos imensas! Mas não chegam à cidade ou desapareceram.
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Não me fico pelos ingredientes, mas pelas comidas. Além dos bifes com batata frita (que entretanto perdeu o dito «ovo a cavalo»), a variedade de receitas tradicionais resume-se a uma vintena, se tanto.
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Depois, a boçalidade e a errónea genialidade faz com que proliferem coisas que têm nomes de coisas concretas, mas que não são a mesma coisa. Exemplos: amêijoas à Bulhão Pato já comi com manteiga, cerveja, vinho branco e mostarda – até talvez com tudo ao mesmo tempo; leitão à Bairrada com batata frita, iscas com batata frita, alheira frita com batata frita e ovo frito. Vegetais, hortícolas? Não sei onde comem os meus leitores, mas caso isto que escrevo seja desconhecido, vede os cafés (!), cada prédio tem um.
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Se querem fazer essas, e outras coisas, que lhe chamem outras coisas. Um burro é um burro e um cavalo é um cavalo e não é por deixar que lhe dêem festas que um gato se torna num cão.
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Nas portas que dão para as ruas, verduras, comida abundante durante séculos resumem-se a alface, tomate, às vezes cebola e raspas de cenoira. E o pimento? E o pepino? E os orégãos? Não sei onde comem, mas vejam.
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Já escrevi (no infotocopiavel.blogspot.com) que esta crise veio provar que adormecemos europeus e acordámos portugueses. Nos tempos em que o dinheiro brotava e o crédito era barato, graças a estarmos no euro – aliás, começou no cavaquismo – viajámos e vimos mundo, mas aprendemos algumas coisas? Fomos para a praia e fizemos bem. Só isso ou pouco mais que isso.
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Lembro-me quando andar de avião implicava vestir melhor e pagar caro. Com o dinheiro do crédito, os portugueses passaram a gritar, nos autocarros, nas ruas, que tinham ido a Cuba, Brasil, México, República Dominicana... gritavam, como gritavam os emigrantes quando vinham de férias «à terra» e mostravam a bagnole e começavam a construir as suas maisons com janelas tipo fenêtre.
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Uns, mais urbanizados, descobriram que havia um país aqui ao lado... lá havia (há) uma sopa que se come fria, chamada gaspazo... pois, da Beira Baixa ao Algarve sempre esteve (esquecido) o gaspacho. Estes tugas urbanizados deliciam-se com rúcula, porque desconhecem a eruca. E por aí fora...
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Estes são exemplos de falta de cultura. Cultura não é só literatura, cinema e pintura. Nada há de mais nobre do que comer (incluindo beber). Há outro tipo de incultos, os que se fecham às massificações... o mundo não pára e, tal como nas antiguidades, há bom e mau. Que mal tem o MacDonald’s e a Coca-Cola? Cabemos todos, mas uma só coisa, não.
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Voltando às peneiras do melhor do mundo... somos incongruentes. Temos o melhor vinho do mundo (e não me refiro àquele syrah de atrás), mas 90% dos vinhos vendidos em Portugal têm um preço até cinco euros. E 80% até três euros.
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O vinho, pura e simplesmente, não tem valor. Não lhe damos valor. A questão não pode ser vista no ângulo do bom é sempre caro. Todavia, o bom não pode nem deve ser barato.
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Os portugueses, que acham uma fortuna dar cinco euros por um vinho, pagam 1,10 euros por uma água engarrafa (0,25 litros), 1,50 euros por uma Coca-Cola (0,33 litros), 0,60 euros por um café (30 mililitros) ou sete euros por um copo de vodka corrente (atestado, porque é para bater) quando saem à noite.
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Depois há a mania (compreensível) de fazer o cálculo entre a relação a qualidade e o preço. Para mim vale quase nada, pois o mau será sempre mau e prefiro não ter. Há uns anos a esta parte que deixei de ir jantar fora... e não foi por causa da relação entre a qualidade e o preço, mas por causa da falta de dinheiro para pagar o bom.
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Numa crónica antiga (2006 – ainda hoje é dos textos no top dos mais lidos no blogue) disse mal dum restaurante, o Mal-amanhado. Choveram-me impropérios em cima, discussãoinfindável até ameaças, mais ou menos óbvias, de me quererem bater – por acaso o cozinheiro chamava-se Barbosa; somos danados. A dada altura, uma defensora do restaurante justificou que (não ipsis verbis) o restaurante era bom, se olhássemos para o preço.
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Só que preço e qualidade são coisas diferentes. Ou se consegue ter, comprando, recebendo, roubando, ou... o mau nunca será bom nem sofrível. Ah! Mas gostos, tal como a arte, discutem-se. Respeitem-se as opiniões, mas discutem-se. Já a qualidade é mais difícil de debater e aceitar... luta que exige conhecimento, cultura, «mundo».
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Um dia tinha marcado um jantar no Tavares, provavelmente o mais antigo restaurante português. O emblemático e aristocrático Tavares, na rua da Misericórdia (outrora rua do Mundo – por lá se situar a redacção desse jornal de referência da viragem dos séculos anteriores). Passeando pelo Bairro Alto, cruzei-me com o Fulano, proprietário do restaurante O-Í-Ó-Ai (invenção), que estava com o seu filho Cicrano.
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Em adolescente e mancebo costumava frequentar a casa. A mina de ouro em que se transformou o Bairro Alto fez-lhe subir os preços além das minhas posses... não é bem assim, mas não quero explicar. Perguntaram-me:
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– É hoje que finalmente vens cá jantar?
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Respondi-lhes que não, que ia ao Tavares. Fizeram um esgar...
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– Ao Tavares? Não vale nada ...
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– Já alguma vez lá comeram?
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Não. Mas sabiam que não era bom. Tinha a discutível Estrela Michelin, mas isso não importava (e talvez não importe mesmo). Isto traduz é o sentido português em que só o popular (popularucho) é que é bom. Mesmo que seja apenas, e tão só, barato.
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Calcular a relação entre a qualidade e o preço é legítima, não o nego, mas a mim interessa-me muito pouco. É claro que por vezes também faço esse raciocínio. Dou dois exemplos:
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Em 1999, fui com a minha namorada a um tasco no Bairro Alto. Grelhados bem-feitos e gente trabalhadora e simpática. Custou a refeição 4.700 escudos e fez-se de manteiga, pão, prato, vinho (popular), sobremesa e café. Na semana seguinte fui à Bica do Sapato e o pão, manteiga, prato, vinho (popular), sobremesa e café custaram-me 5.100 escudos. Já naquela altura a diferença de preço era mínima, mas não a confecção, o empratamento, o serviço, a decoração, a luz... Em 2006, almocei com a minha namorada (outra) na Portugália, no Cais do Sodré. Manteiga, patês industriais, pão industrial e mau, bife da vazia com batata frita, duas imperiais e café custaram-me pouco mais de 15 euros. No dia seguinte fui com Raul Durão (referência do jornalismo televisivo, já falecido) ao Magano, em Campo de Ourique. Vieram entradinhas boas, da «terrinha alentejana», bom pão alentejano, prato, vinho (acessível) e café... 16 euros.
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O que há de errado? A falta de cultura e de critério. Achamos caro um vinho de cinco euros, mas aceitamos ser «roubados» numa cervejaria industrial.
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Ao contrário das certezas dos analfabetos, os «sábios» têm mais dúvidas, por isso procuram mais. Nessas buscas encontram respostas, mas também mais dúvidas. É disso que se faz «o mundo». Não apenas na gastronomia, em tudo.
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É feio, mas vou auto-citar-me ou fazer pior: plagiar-me. Escrevi há poucos dias, num texto acerca de José Bento dos Santos, proprietário da Quinta do Monte d’Oiro, gastrónomo sábio.
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Abro aspas: «Aparte. Contaram-me uma vez que um famoso financeiro (não me recordo do nome) fazia as entrevistas finais aos candidatos a um emprego qualificado. Uma equipa já teria questionado, passado por testes de vária ordem e ficando «licenciados» teriam de ir à oral com o banqueiro.
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Certamente nervosos, do que iriam falar? Do óbvio, cifrões, parcelas, margens, taxas de juro, spreads... ou... música, desporto, gastronomia, ciência, banda desenhada ou outra arte... e era aqui que entrava a decisão. Gente que sabe fazer contas e tem olho para o negócio até abunda, mas quem tem «mundo» tem a vantagem de saber usar microscópios e telescópios, transmitindo esse conhecimento transformado em cultura. Quem tinha «mundo» era quem ficava com o lugar, ainda que tivesse conversado acerca dos lacraus do Saara e o banqueiro disse não soubesse. O financeiro lia os olhos, a expressão da boca, a dança do corpo, a vivacidade, as vistas largas».
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Agora os marketeers (estrategas de mercado) agarraram o vocábulo francês gourmet. Julgo que só não há pastilhas elásticas gourmet. Qualquer banalidade pode ascender à categoria de gourmet. Hão-de cansar a palavra – porque o povo pode ser ignorante, mas não é estúpido. Um dia dizer gourmet será o mesmo que dizer fécula de batata.
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Quando um português diz que «ali se come bem» quer dizer que «ali as doses são bem servidas», ou seja: têm muita comida. Por tudo o que já escrevi, já se percebeu que considero que o português não é gourmet (gastrónomo), mas gourmand (comilão).
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Vou parar com a comida. Tentando mostrar que tenho algum (quiçá mínimo) «mundo» vou escrever acerca de coisas que andam à volta da comida e não são de se comer, ou apenas isso.
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Comer tem algo de sagrado. Não é por acaso que em todas (palavra perigosa – arrisco-me) as culturas a mesa é o corolário. Podem variar no género, no momento... são sempre simbólicas. À mesa fechamos um negócio, à mesa seduzimos, à mesa somos aceites numa tribo...
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Compreendo perfeitamente os vegetarianos (de todo o género), aceito argumentos. Mas há um que lhes falha e é intrínseco à espécie humana: dentes caninos. Comemos animais, criaturas de Deus ou apenas viventes, devemos-lhe respeito e agradecimento por nos alimentarem. Não devemos matar animais para comer, mas sacrificá-los, num sentido religioso, de fé ou de sagrado. Devemos ter presente que nos vão dar vida.
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Comer é um acto da maior importância. E é pena que em Portugal não existam tantas recolhas etnográficas acerca do que comemos e como comemos, como as há sobre os trajes, a música ou o trabalho (etc).
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Homem que buscou nas raízes musicais populares portuguesas argumentos de trabalho falhou ao desprezar o alimento que lhes sustentou as vozes e mãos. Mesmo os génios têm lados negros. Fernando Lopes Graça (1906 – 1994), um dos maiores compositores eruditos portugueses do século XX, e com reconhecimento mundial (pelas elites cultas, provavelmente), desprezava a comida – ou, pelo menos, assim me parece.
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Afirmo-o por saber que quem o recebia em sua casa estava «proibido» (literalmente) de pôr música a acompanhar a refeição. Lopes Graça não considerava tão nobre o alimento do corpo quanto aquela comida para a alma.
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Um outro exemplo, assisti (horrorizado) a José Duarte (que só aceita como perito em jazz, em Portugal, cinco pessoas, embora só fale a três ou não fale a três – ouviu-o afirmar isto numa entrevista na rádio, numa arrogância incomodativa) a espancar o vinho, qual fanático maometano. Num interessante debate sobre música e vinho – uma iniciativa descontinuada pela Adega Mayor, que reunia à arte do vinho uma outra actividade cultural – José Duarte, de cátedra de Inquisidor do Santo Ofício, arrogante e insuportável, destratou o vinho, coisa de alcoólicos. Não disse, mas pensou, que nem admitia que pudesse ser arte. Música no alto e jazz no topo, tudo o resto é para mortais imbecis, deve pensar.
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Com uma falta de educação deplorável, admoestou um presente por ter tropeçado, na boca, no nome de Ella Fitzgerald. Como era possível?! O senhor, que é um senhor sorriu. Apenas tropeçara no nome, não no seu conhecimento.
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Ao contrário de Lopes Graça e José Duarte há quem tenha maior flexibilidade de espírito (é forçado, mas referir «cultura» seria totalmente estúpido da minha parte). Há dias, no 25 de Abril, o hotel Conrad Algarve, em Almancil, promoveu uma harmonização entre música clássica, vinho e comida, do chefe Andrew Macgie. Lopes Graça não gostaria e José Duarte não conta, não ficará na História, apenas nas sebentas da Universidade de Aveiro, entidade a quem cedeu a sua vastíssima colecção de jazz.
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Pois, o vinho é muita coisa. Além do industrial, do de autor e do popular, o vinho é alimento, é objecto religioso, é droga (social no Ocidente), é divertimento... e pode um excelente vinho ser mau por se deixar contaminar por ambiente hostil e vice-versa. Além do mais, como qualquer arte, tem momentos... a praia, o churrasco, a tasca, o salão nobre, é história, o Natal, o fim de ano, o casamento, o nascimento dum filho, o médico que nos salvou a vida, a apresentação ao sogro, tradição e história... além do mais, o vinho é vida. O vinho é arte viva. E as três categorias que elenquei no início podem ser todas estas coisas.
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O vinho é a liberdade que se quiser!
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Com mais visão que Lopes Graça ou José Duarte, os proprietários do Château Mouton Rothschild têm vindo a pedir (e pagar) a artistas que pintem propositadamente para os seus rótulos. E à lama não caíram as almas de Miró, Picasso, Kandinsky, Tàpies, Warhol, Francis Bacon, Chagall, Delvaux, Keith Haring, Arman, Henry Moore, Dali, Braque, etc... ecletismo e consonância com épocas. José Duarte é quem?
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Por cá, felizmente, também há visão do casamento entre o vinho e as artes plásticas. Não tem a aura nem a antiguidade da referida vinícola de Bordéus, mas mostra o que fazem os nossos artistas. Desde o lançamento do seu primeiro vinho, em 1985, são já 24 os artistas que iluminaram os rótulos do Esporão.
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Bual, Costa Pinheiro, Dórdio Gomes, Graça Morais, José Pedro Croft, Guilherme Parente, João Hogan, Julião Sarmento, Júlio Pomar, Pedro Cabrita Reis, Pedro Proença (o meu preferido), Pedro Calapez... E para a Quinta dos Murças, no Douro, o Esporão dá a conhecer fotógrafos. A propósito de Pedro Proença: ilustrou a colheita de 1999, comercializada em 2001. Um homem de turbante deliciava-se com uma taça de vinho – o 11 de Setembro obrigou ao arrebanhar das garrafas e voltar a rotulá-las. Hoje, essas «proibidas» serão objectos de colecção e provavelmente terão preço superior. José Duarte é quem?
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Ao Esporão só critico uma coisa: não promover mais mediaticamente os duetos. Não sou pago para ter ideias, não sou publicista, fui gestor de comunicação... nem me quero meter onde não devo, no caso a política da vinícola e da sua assessoria mediática... ainda assim, atrevo-me: Por que não uma festa (vernissage está démodé e só dá para poucos)... uma festa multi-artes. Pelo menos, exposição no sítio da internet, com memória escrita e visão do artista.
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Tenho de ser justo... se há quem na intelectualidade despreze o vinho há também quem no vinho não veja mais do que produto e comércio. A Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo censurou uma obra de Paula Rego, provavelmente a mais conceituada artista plástica portuguesa, que iria iluminar o Esporão. A CVRA será sempre uma repartição, cinzenta e anónima, e a artista um capítulo ou um livro. A arte é eterna e divina, ou resto são folhas de Excel.
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Nem Mouton Rothschild nem o Esporão são casos únicos. Certamente que, num planeta habitado por mais de sete mil milhões de pessoas, haverá outras adegas, maiores ou menores, com um relacionamento com as artes. Não contabilizo o banal patrocínio.
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João Barbosa, um homónimo simpático e educadíssimo. Que saibamos não temos parentela... talvez os nossos sangues só se cruzem na origem, no primeiro que tomou o vocábulo toponímico. Sancho Nunes de Barbosa (1070 – 1130) que se casou com Teresa Afonso, filha ilegítima de Dom Afonso Henriques. Este produtor das regiões do Tejo e Alentejo escolheu para emblema uma Graal do reino vegetal... um dos dois (que eu saiba) na botânica: a Rosa Azul e a Tulipa Negra.
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Mas isto, assim a cru, é pouco do que tem para contar João Barbosa (adoro o pinot noir deste senhor)... acrescentou ao seu Graal uns degraus de dificuldade: sólidos impossíveis. As artes são de António Quintas, que se baseou na obra do arquitecto e artista visual Maurits Cornelis Escher. Confesso que quem me assaltou a memória foi o húngaro Victor Vasarely, autor do sólido impossível que serviu a Renault durante décadas.
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Outro senhor, muito dito por aqui.
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Conversar ou apenas ouvir falar José Bento dos Santos é um duche de conhecimento, mais do que conhecimento, sabedoria, de tudo o que vai à mesa e tanta coisa que anda à sua volta e mais uma tanta que anda à volta da que anda à volta. Benditos programas tinha na televisão – serviço público – embora criticando o formato, mas isso é técnica, ofício, não é conteúdo.
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O novo milénio, tenha ele começado em 2000 ou 2001, trouxe (o novo milénio começou antes, em contextos) coisas novas, como o fenómeno dos DJ. Antigamente gostava-se de músicos, agora apreciam-se também os homens dos pratos de discos, dos efeitos musicais. Novas danças.
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A essa vida junta-se a jovem arte urbana, outrora apenas clandestina, ganhou estatuto e hoje tem artistas reconhecidos. Nesses referidos encontros das artes com o vinho, a Adega Mayor convidou vários a interagirem com garrafas (tenho uma) e fez-se um debate.
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Quem se apresenta novo sucede. Sucede a maneirismos, uns vivos, outros moribundos e outros mortos. Os cerimoniais das mesas, as hierarquias do sentar, o lado em que se põe o guardanapo (sigo a tradição portuguesa de o colocar à direita), do servir, da sequência dos copos, da chegada do queijo, da vizinhança da salada. Dos talheres de ferro, de prata, de madeira, de «christofle» e das mãos.
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As mãos? Há melhor forma de abrir um pão? O pão é «o» alimento e é sagrado. Com as mãos, abrimo-lo como a carcaça dum animal, gesto ancestral, primordial. O pão que, para Pablo Neruda, é o mais nobre dos alimentos.
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A Portugal chegou tarde o fenómeno do chefe de cozinha, embora tenha existido sempre gente capaz de orar acerca de alimentos e como olhos abertos além fronteiras. Não quero ser injusto por presunção, mas Portugal era Maria de Lurdes Modesto (grande senhora e sábia da comida) e o chefe Silva (grande profissional «doutro tempo»)... mas também do Michel, do Capote, da Vacondeus... com os devidos respeitos, não têm o mesmo substrato que os primeiros.
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A minha memória de 44 anos situa no novo milénio (que começou antes) o culto dos chefes em Portugal. Gastrónomos acompanham as obras como os melómanos os seus compositores...
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Falei aqui no sábio José Bento dos Santos... foi um dos responsáveis para que (o estrelado Michelin) Joachim Koerper viesse para Lisboa, para o Eleven, no topo do Parque Eduardo VII; em Lisboa.
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Gostos discutem-se! Respeitam-se, mas discutem-se... não gosto da comida de Joachim Koerper, como não gosto de Verdi. Quanto a mim falta-lhe alma, ao músico sobra-lhe. «Venero» José Avillez (também estrelado Michelin) e Wim Mertens, pela força, temperamento, subtileza...
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E o mundo de Avillez não está só na cozinha... ele e o seu prato Pollock – nele brilha a carne da raia, apesar de pollock ser escamudo, peixe que, na década de 80, imitava o bacalhau, rarefeito pelo preço... sim, o Fundo Monetário Internacional não esteve só agora em Portugal, embora Mário Soares se tenha esquecido e apele a revoltas e «ao por muito menos do que isto mataram o Rei Dom Carlos»... Vem isto a propósito? Vem, vem a propósito, vem, porque se tratou de fome e este é um texto de gastronomia... nesses idos, havia um «bispo vermelho», Manuel da Silva Martins, em Setúbal, epicentro da crise, que criticava a situação do país, em particular do seu distrito...
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Quantas vezes a fome não criou iguarias... cultura de almanaque: a cozinha alentejana, as suas muitas ervas, o cação e as amêijoas que não pagavam impostos e a carne de porco. Isso, isso, isso... e a cavala, quem diria há uns anos, elevada à alta cozinha, por José Avillez. E com falta de «mundo», profissionais bem capacitados, mas sem estrela (de iluminação de espírito), rosnam por Avillez ser menino queque e não um proletário.
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Regressando ao vinho... a arquitectura teve sempre uma relação mais óbvia com o vinho. O vinho tem de ser feito em algum lugar, exige elementos funcionais e industriais, por mais pequena que seja a vinícola.
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Em Espanha, temos fábricas de Santiago Calatrava, Frank Gehry, Philippe Mazieres ou Herzog & de Meuron. Por cá, com renome internacional, temos (que me lembre) Álvaro Siza Vieira na Adega Mayor, na Quinta do Portal – confesso que não aprecio a arquitectura (genericamente) de Álvaro Siza, aborrece-me tanto branco, que chega a induzir melancolia. Tive acesso a desenhos (e é fácil encontrar numa pesquisa na internet) de Siza Vieira e que traço! Que força simples e quase frágil, em que muito pouco mostra muito.
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A 30 de Abril, no Porto, a Adega Mayor ofereceu a Álvaro Siza Vieira o seu vinho, um alicante bouschet rico e complexo (terá crónica em breve aqui no blogue), bem alentejano. Não é caso único, Pedro Abrunhosa também tem o seu, lavrado pelo duriense Dirk Niepoort.
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Enquanto cá coleccionamos saca-rolhas (com devido respeito pelo indispensável apetrecho e seus ajuntadores), em Espanha mostra-se um incrível museu, reconhecido como valoroso no seu ano de abertura, em 2004, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
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O Museu Dinastia Vivanco, além dos saca-rolhas, tem para mostrar peças egípcias, gregas, romanas, moçárabes, medievais... contemporâneas. À entrada vi uma exposição sobre o vinho e a mulher, no espaço das mostras temporárias. Desde hilariantes saca-rolhas em «T», em que cada parte era uma perna e, sobre o sem-fim, uma vulva, a capas da Playboy ou uma pintura de Paula Rego. Lá dentro, prensas das várias regiões espanholas, objectos de trabalho e arte. Apaixonei-me por um Sorolla.
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Não sei como viveria em ditadura. Sou muito afirmativo, a roçar o autoritário... como o meu cão, que ladra e rosna, mas abana sempre o couto de cauda (fizeram-lhe essa maldade). Para mim, podem dizer que tudo o que escrevi acima é mentira ou mais-ou-menos mentira. Podem discordar de gostos, podem criticar-me o tom, certamente mais manso se dito cara-a-cara...
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Como qualquer pessoa (como de alguma forma fiz – justa ou injustamente – no começo deste texto) não gosto que me insultem ou, pior, que pensem por mim. Há uns tempos, há mais dum ano zanguei-me com a revista Wine – não com ninguém, que sou homem de paz.
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A Wine valia (vale) pelos colunistas. Comprava-a para ler mestres e com eles aprendi alguma coisa. Um dia saiu um texto que me fez sentir insultado. O influente José Peñin dissertou sobre o que é saber beber vinho... uma coisa de escol, que eles (e poucos) conseguiam, que era beber (bebericar, como passarinho – certamente) vinhos... diferentes aos bárbaros, imbecis, bruta-montes... ele e seu escol sentiam a sedução do álcool e não se deixavam cair em tentação.
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A embriaguez, para Peñin, é uma espécie de doença de pobre de espírito. Como se os vapores de Baco não tivessem inspirado tantos artistas... embora não fosse com vinho, que musa acompanhou Henri de Toulouse-Lautrec? O álcool, sob a forma de absinto.
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Se Peñin tivesse pensado um bocadinho talvez percebesse que foi o álcool que manteve o vinho vivo. O álcool e a higiene da bebida, quando a água podia envenenar. Sim, o álcool é um tóxico e está integrado na cultura de quase todos os povos dos velhos continentes. E só aí, sendo tão danoso para as vidas e saúde pública de comunidades onde era desconhecido até à chegada de europeus, nomeadamente entre os ameríndios. Tóxico como heroína ou crack! Literalmente. Aparte: O National Geographic Channell emitiu um documentário impressionante sobre o alcoolismo no Alasca. Sim, naquele Alasca o álcool é degradação total, incluindo criminalidade.
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Sentir o cantar das musas, quando se fica de pé a flutuar dez centímetros acima da realidade, é divinal. Ajuda a criar e a pensar. Talvez, por estar absolutamente sóbrio, este texto não me tenha saído tão bem.
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Em acto de contracção, digo: talvez tenha exagerado na tareia que dei aos portugueses numa boa parte do texto. Tenho direito de o pensar, mas talvez me tenha faltado o engenho da delicadeza. Snob ou sem nobreza.
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Nada disto tem a ver com sofisticação ou popularidade. Com aristocracia e povo. Bom é bom e mau é mau. Sim, a tascas onde se cultiva a comida melhor que num palácio. Haja sabedoria.
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Em, «O clube dos anjos», Luís Fernando Veríssimo (filho de Eurico Veríssimo) narra um policial à volta da mesa. Um grupo de amigos, entrados no mundo da gastronomia pela porta do picadinho à mineira, foi evoluindo na exigência. O círculo definhou com o falecimento do seu motor. Um dia, surge um cozinheiro genial e o clube regressa à vida. Contudo, um a um, os membros foram morrendo. Morrendo envenenados pela gula. Morriam ao saborear a comida predilecta. Perceberam quem era o homicida e ainda assim deixavam-se morrer. Neste policial, o picante está no «porquê», que só se sabe no fim. Pois a minha iguaria favorita são pezinhos de coentrada e os melhores que traguei foram do simpático mestre José Avillez. Morreria, de homicídio-suicídio, se fosse ele o carrasco do livro e eu membro do clube.
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Tudo se discute, sobretudo o gosto.
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Música (por ordem de entrada):
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Fernando Lopes Graça – Acordai – pela Tuna Académica da Universidade de Coimbra
DJ Patife – ao vivo no Sumol Summer Fest
Wim Mertens – Struggle for pleasure
Pedro Abrunhosa – Se fosse um dia o teu olhar
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Artes visuais (por ordem de entrada):
Vicky Neumann – Picnic Fastfood
Richard Lippold
António Quintas
Maurits Cornelis Escher
Victor Vasarely
Jackson Pollock
Álvaro Siza Vieira