segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Comida de Santo

Se não foi o primeiro, terá sido o segundo restaurante brasileiro em Lisboa. A minha estreia foi noutro. Mas neste, o do Príncipe Real, que me recebeu barrigadamente. Do outro tenho memórias de sangue; deste, memória de leveza na vida.
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O Comida de Santo abriu as portas em 1981... tinha 11 anos e Lisboa estava a modernizar-se. Os bigodes rapavam-se, as calças à boca-de-sino tornaram-se roupa para fazer esfregões... os brados da revolução democrática já não pesavam tanto na vida e na música.
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Mil novecentos e oitenta e um mexemo-nos com os Heróis do Mar, a primeira banda com estética na roupa, fardas de músico, evocação nacionalista, que irritou a malta mais à esquerda, que lhes chamava fascista.
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Mil novecentos e oitenta e um, um agitador, de visual fora-de-tudo, arrasou a televisão, num programa para toda a família, em que Júlio Isidro juntava o que hoje é inconciliável. De macacão amarelo, com bolas ou nódoas de tinta, barba farta, cabelo oxigenado, uma força tremenda...
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Mil novecentos e oitenta e um quase ninguém tinha televisão a cores... António Variações... desde 1978 que andava a cantar e ninguém lhe ligava. Nem os Heróis do Mar, quando estes fizeram um casting para vocalista.
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Mil novecentos e oitenta e um era tudo novo, não era só eu. Saía-se do país com mais facilidade, descobria-se a Europa, vinha roupa de marca e de formatos diferentes. A Guerra Fria estava no auge e havia algum medo. Ah! e a paranóia da sida, que matava pelo sexo... logo quando a revolução sexual da pílula tinha posto o mundo a amar-se, libertar-se e abusar-se.
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Mil novecentos e oitenta e um e não existia o bar Frágil no Bairro Alto. Aqueles quarteirões tinham tabernas, tascos, putas e dancings, tinham jornais e jornalistas... Um ano depois surgiu um dos mais icónicos bares (dançantes) da capital.
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Quem ia à frente, ia ao Frágil. Era gay friendly, numa época em que muito pouco já dava direito a ser chamado de maricas e paneleiro. Ali havia outra música e pensamentos novos. Havia ânsia de viver, de sair e respirar.
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Mil novecentos e oitenta e um e a móvida (movida, em espanhol) de Madrid estava no auge, farol de toda a Europa, excepto Londres. Com Espanha já ao lado... artistas, jornalistas, comerciantes de arte... romperam Lisboa.
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Todos os anos, Manuel Reis, Rei do Frágil e desde 1998 Rei do Lux, mudava o cenário das duas salas onde se dançava e conversava. Gente gira, gente diferente, onde se podia ser tudo. E eu na escola a ouvir Heróis do Mar.
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Em Madrid, a lua da móvida estava cheia e em Lisboa em quarto crescente. Misturava-se gente, conceitos, as novas tendências juntavam-se mais do que se afastavam... e eu entrei no Lux com o meu pai, não sei bem porquê, em 1982... talvez.
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Nessa onda de novidade, quando a casa se arrumava e redecorava, quando havia tanto cotão para limpar que surgiu, também na comida, uma estrelinha: o Comida de Santo. No Príncipe Real, na Calçada Engenheiro Miguel Pais, concretamente no número 39.
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Eu, com 11 anos, comia na cantina da escola. Quando me deram liberdade para sair sozinho à noite, em 1986, tinha 16 anos, pouco dinheiro guardava para jantares. Não sei quando entrei pela primeira vez na Comida de Santo, mas deve ter sido por volta de 1990, quando já trabalhava, no novíssimo Diário Económico, e não tinha de cravar os pais... ganhava 450 euros (em formato actual, tradução literal). Na altura dava para pouco e agora tem de sobrar.
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Que exotismo aquela comida... às vezes próxima e outras distante. Comida da Baía, trazida, e sem tradução, por António Pinto Coelho. Com o oceano pelo meio, a mesa põe-se sempre à moda da terra das negras gordas, que rodam as ancas, com enfeites nos cabelos e alegres e cheios peitos guardados em vestidos coloridos.
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Para mim... era tudo novo... ter dinheiro mesmo meu, comer fora sem paizinhos, namoradas, o glamour da noite (vestíamo-nos para sair, perfumávamo-nos, sorriamos muito bem encantados, pela e para a sedução), o cosmopolitismo pequenino alegrava tanto... e eu não sabia nada da Baía, nem via telenovelas.
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Sei, que é autêntico o sítio. Só a honestidade da mesa faz com que uma casa se aguente. Imagino que pela cozinha da Comida de Santo tenham passado muitos artesãos, enquadrados por Pinto Coelho.
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Dois mil e catorze cabe tanta coisa em Lisboa e, ou estou velho, que a novidade fica de fora. O que é bom, o colo da mãe, o colo da mesa que se aprendeu a gostar, nunca parte – haja saúde e alegria.
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Houve uma época em que ia com frequência ao Comida de Santo... não deixei lá dinheiro para comprar Pinto Coelho comprar um Porsche, mas as caipirinhas (ui, que boas) impediram-me de pegar num volante.
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Marisco, peixe, carne, fruta... tudo à moda da Baía. Até vinho brasileiro (da portuguesa Dão Sul)... fui sempre feliz ali. E agora que conheci Pinto Coelho leio uma paixão, sábia de deixar falar e ouvir.
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Quando há quem diga que tem «o melhor bolo de chocolate do mundo»... ah! O pagode!... Pinto Coelho diz, rindo-se, mas com trunfos na manga, de brasileiros profissionais da crítica, ter o melhor quindim do mundo. Afirma-o aos amigos e aos comensais... e talvez seja verdade.
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Em 2007 escrevi isto sobre o Comida de Santo... ora leiam.
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Local: Calçada Engenheiro Miguel Pais, 39 (Príncipe Real – Lisboa)
Telefone: 21 396 33 39
Aberto: De quarta-feira a segunda-feira
Horário: 12h30 às 15h30 e das 19h30 à 1h00.

domingo, fevereiro 23, 2014

Muitas novidades da Adega de Borba

Quem pensou que os dois Montes Claros, apresentados há dias eram tudo o que vinha daquela vila alentejana, eram tudo, enganou-se. Optei por não os juntar todos, visto não terem chegado na mesma ocasião.
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Enquanto os primeiros foram entregues em casa, para prova, os restantes serviram-se num almoço assustador de bom no Chefe Cordeiro, no Terreiro do Paço (Lisboa)... a comida estava óptima e o casamento com os vinhos muito bem conseguida.
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Almoço assustador de bom e prova de resistência. Ui! Foi coisa violenta... convívio cinco estrelas e, como se não bastasse o firmamento dentro da cabeça, um grupo de tiroleses (não tem nada a ver) foi ainda dar à língua para o Museu da Cerveja... uma banal cervejaria, com nome a atirar ao pingarelho, de estética sem estética, com serviço antipático, preços absurdos e uma oferta que me pareceu cingir-se à dos países lusófonos. Só lá voltarei se tiver mesmo de ser.
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Ora as estrelas do espectáculo:
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Montes Claros Espumante Bruto
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Fresco e atrevido, de bolha fina, por isso perigoso. As línguas começaram a palpitar... boas conversas.
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Origem: Borba / Alentejo
Nota: 7/10

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Adega de Borba Premium Rosé 2012
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Este foi à barrica durante seis meses: resultou bem, deu-lhe estrutura e não o marcou. Fez-se com aragonês, syrah e touriga nacional, o pau travou os ímpetos. Equilibrado e prazenteiro.
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Gostei mais da pastilha elástica da edição anterior, mas as gomas (com menos açúcar do que...), o floral e o fino picante deram muito bom resultado.
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Origem: Borba /Alentejo
Nota: 6,5/10
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Senses Syrah 2012
O trabalho da equipa da Adega de Borba, que não começa nem finda no enólogo, mostra-se nos vinhos e na sua consistência de perfil, qualidade e mostra do ano.
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Lendo as notas, deste e do ano transacto, percebo que o anterior me marcou mais. Porém, se a memória não falha, este anda perto na personalidade.
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Origem: Regional Alentejano
Nota: 7/10
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Senses Touriga Nacional 2012
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Pois... a touriga nacional. Travada ou domesticada, mas com o seu temperamento. Confesso-me um pouco cansado desta casta no Alentejo e no Douro... o mercado manda, os vinhateiros decidem e eu aguento-me à bomboca.
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O mesmo estilo, com suas compotas de morango e geleia de cereja. Um pouco doce na boca, equilibrado e com frescura.
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Origem: Regional Alentejano
Nota: 6/10
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Adega de Borba Premium 2011
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Este já é uma peça de artilharia. Bum! Corpo forte e com garra, com taninos recolhidos, como as garras dum gato. No nariz mostra morango maduro, chocolate preto e um suave pimentão.
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A cabernet sauvignon não se consegue esconder, mas aqui está bem camuflada com cultivares de bom valor e que se portaram com dignidade: alicante bouschet, touriga nacional e trincadeira.
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Na boca mostra café torrado, pimenta preta, chocolate de cozinha, com garrafa e fundura.
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Origem: Borba / Alentejo
Nota: 7,5/10
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Montes Claros Garrafeira 2009
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Ui! É mesmo como gosto! Artilharia pesada... cabuuuuum! Porque nem só de elegância vive o homem... este general tanto usa camuflado como traje de grande gala. Bate-se com comidas fortes, mas consegue ser delicado com carnes vermelhas menos resistentes, desde que com tempero certo.
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É mineral, maçã encarnada (não me lembro como se chama, mas há em toda a parte), geleia de morango, café bem torrado, chocolate de cozinha, cravinho, leve canela, noz moscada... na boca, cuidado com ele... com vagar e pouco, sob pena de ser portar como dinamite. Com calma é tranquilo e suave, fundo, prolongado, pedindo refeições longas e conversas onde todos participam.
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Origem: Borba / Alentejo
Nota: 8,5/10
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Nota: No almoço foram servidos ainda Adega de Borba Licoroso Premium Tinto e Adega de Borba Aguardente Velhíssima... todavia, já estava fora de combate, enamorado pelo Montes Claros Garrafeira 2009.

sábado, fevereiro 22, 2014

Messias Porto 1963 - (Colheita - Tawny)

É um tawny clássico, nos aromas, na macieza com garras para prender à boca. Seja no nariz seja na boca, é um vinho didáctico.
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O caramelo é óbvio, o alcaçuz reconhece-se, tem iodo e mais frescuras. Na boca, marca-se um pouco a madeira avinhada e chocolate branco, em equilíbrio com chocolate de cozinha, notas balsâmicas, frutos secos, chá e casca de laranja cristalizada.
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Há 50 anos colheram-se as uvas e em 2013 engarrafou-se o elixir. Com juventude temperada com alguma oxidação, é um vinho moderado. Não é de corrida, é de deleite.
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A mim serviu-me de sobremesa. Só ele, sem mais nada.
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Origem: Vinho do Porto
Produtor: Messias

Nota: 8/10

Vinhos de Domingos Alves de Sousa – Colecção de Portos

Atrasado como um comboio português de há uns anos, escrevo acerca de néctares dados a provar antes do Natal... a vida nem sempre deixa fazer o que a vida quer.
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A 12 de Dezembro de 2013, no Hotel Ritz (Lisboa), este consagrado vinhateiro centrou a apresentação nos seus Vinhos do Porto. Ao Jantar foram servidos tranquilos, mas o pretexto, deste encontro habitual, foi o Vinho do Porto.
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Embora o impacto mediático de Domingos Alves de Sousa seja relativamente recente, mas já transformado numa garantia de estilo, variedade e qualidade, a família tem uma longa vida no mundo vínico do Douro.
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Em 1860, a família plantou as primeiras vinhas na Quinta da Aveleira. O Porto mais antigo ainda na posse da casa data de 1917. É claro que esse quase centenário ficou fora deste baralho.
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Notei-lhes uma omnipresente pimenta branca, o que me deu bué de gozo.
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Ora por ordem de serviço:
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Caldas Porto Wine – muito doce e elegante, com notas de mel e sultanas... vinho amoroso... imagino-o embebido nos dardos de cupido.
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Castas: malvasia fina, viosinho, gouveio e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 6/10
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Quinta da Gaivosa Porto White 10 anos.
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Floral no teste olfactivo, finura de anis e notas um pouco oxidadas. Na boca é fresco e guloso, infelizmente marcado pela aguardente.
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Castas: malvasia fina, viosinho, gouveio e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 6/10
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Caldas Porto Ruby Special Reserve
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Caldas Porto Ruby Special Reserve mostrou, no nariz, notas de compota de morango e doce de tomate. Fresco na boca, foi temperado com um pouco de picante. Para Special Reserve está muito bem.
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Castas: tinta francisca, touriga franca, tinto cão e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 5/10
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Quinta da Gaivosa Porto LBV 2009
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Continuo pouco fã de LBV... acho que são intermédio entre o pouco e o muito, mas com mais do pouco do que do muito. Este não foi excepção. É claro: a qualidade é elevada, mas falta-lhe um turbo para andar mais.
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Não tenho muito para diz em termos olfactivos e gustativos. Cumpre bem os critério, é Porto inegavelmente, mas não o compraria uma segunda vez.
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Castas: tinta roriz, touriga franca, tinto cão, touriga nacional e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 6/10
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Quita da Gaivosa Porto Vintage 2003
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Sou fraco de memória quanto à meteorologia dos anos... não me peçam para dizer como foi o 2001 ou o 1999 – e se juntarmos isso às regiões, saio logo da conversa – os nerds que se divirtam. Do de 2003 lembro-me muito bem: calor de Inferno, incêndios com fartura, Lisboa envolta em fumo; no Saldanha não se via para o outro lado da avenida.
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Pois, mas este tem frescura, apesar de tudo... e picante. No nariz veio anis, terra, ervas secas e um pouco de compota de morango.
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Castas: tinta amarela, sousão, touriga nacional e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 8/10
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Quinta da Gaivosa Vintage 2008
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Este entra já no meu cabaz de compras. Dizia o parceiro da mesa atrás:
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– Oh Barbosa, este é mesmo como tu gostas!
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Tau! Acertou-lhe mesmo a meio!... as notas químicas e de borracha das drogarias, a frescura discreta, a fruta em suave quantidade, as ervas bravias... Na boca, a pimenta preta, uma gulodice de fruta madura e frescura.
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Castas: sousão, touriga nacional e touriga franca.
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 9/10
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Alves de Sousa Porto Vintage 2009
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Terra lavrada e molhada. (lá me vão perguntar o que quero dizer com isto... mando-os para o campo) e lenha de azinho. Na boca é fresco e guloso, doce e picante.
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Castas: touriga franca, sousão e touriga nacional
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 8,5/10
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Alves de Sousa Porto Vintage 2011
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Terra lavrada já com dias, seca com alguma humidade. (lá me vão perguntar o que quero dizer com isto... mando-os para o campo), ervas bravias entre os verdes e os amarelos e alguma drogaria e violetas. Na boca é fresco e guloso.
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Castas: sousão, touriga franca e touriga nacional:
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 8,5/10
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Caldas Porto Tawny Speacial Reserve
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O que dizer? A pimenta que experimentei noutros Portos de Aves de Sousa e doce de tomate. Na boca, a aguardente tapa a frescura.
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Castas: tinta francisca, tinta roriz, tinto cão e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 4/10
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Quinta da Gaivosa Porto 10 anos Tawny
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Reinam as notas de farmácia, «contém» alcaçuz e bombons de chocolate de leite. Na boca é untuoso e envolvente.
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Castas: tinto cão, tinta roriz, touriga franca e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 6/10
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Quinta da Gaivosa Porto 20 anos Tawny
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Linóleo, uva quase em passa, alguma aguardente, rebuçado, menta, pimenta preta e ganhos com temperatura lá para os 17 graus. Com tanta coisa a chegar ao nariz, poder-se-ia dizer que na boca se mostrou confuso. Nada disso. É Complexo, com notas de pêssego, onde o tempo revela novidades.
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Castas: tinto cão, tinta roriz, touriga franca e «outras».
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Origem: Vinho do Porto
Nota: 8,5/10
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Para rematar, no jantar foi servido o Memórias Alves de Sousa Tinto (ver crónica do ano passado)... em crescimento.

Prova Régia Arinto 2010

Hoje já não é só de Bucelas, tal o sucesso que a marca alcançou. Mas está lá a frescura do arinto. Certinho como um relógio suíço.
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Dele já tinha falado em 2011 e regresso agora. Vejam o que disse... e mantenho. Fresco e mineral.
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Origem: Regional Lisboa
Produtor: Companhia das Quintas

Nota: 6/10

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Monte da Ravasqueira SG 2012

Olha que graça! Eureka! A sangiovese vai bem... ginja (não é o licor), terra e café. Eis qualquer coisa fora do comum.
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Deu-me a volta à cabeça. Nunca diria e às cegas não chegava lá...
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Gratas memórias de Arraiolos... de repente, lembrei-me do liceu e da Guida.
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Beijinho para a Guida, compra-o e diz que te lembra da viagem e de mim.
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Uma viagem em que vimos tapetes e mantas... e demos beijinhos.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Dom Diniz
Nota: 8,5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

Tons de Duorum Tinto 2012

A casa produtora não tem muitos anos, mas os praticantes da enologia têm séculos de uvas. Ano após anos, o Tons de Duorum mostram uma regularidade de qualidade e um perfil, o que é de louvar.
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Não é um vinho marcante, mas um bom companheiro de mesa. Para mim, com a sua (minha) touriga franca, o prazer é garantido. Depois há a touriga nacional e a tinta roriz.
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Origem: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Uniqo Tinto 2010

Diz o quite de imprensa que a touriga nacional é a mais portuguesa de Portugal... irritei-me... capaz de chibatar que o escreveu... mentira, só uns açoites.
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A ideia é bem gira! Juntar vinhos de touriga nacional, provenientes das diferentes propriedades da Companhia das Quinta; não todas, pois a Quinta da Romeira é só de arinto.
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Os bailarinos vieram da Quinta da Fronteira (Douro), Quinta do Cardo (Beira Interior), Quinta de Pancas (Lisboa) e Herdade da Farizoa (Alentejo).
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Feliz bailado, este. Complexo e divertido, sobretudo para quem já dá uns toques na bola (vinho). O que se encontra? Notas de fruta vermelha quase madura (Douro), mineralidade e frescura (Beira Interior), frescura amena e elegante (Lisboa) e compota de morango (Alentejo).
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Resulta uma complexidade e que, com o tempo da refeição, evolui e gera conversa. Sim, domina a mesa. Não digo que domine o prato, pois isso depende. Mas quem já tem amor ou uma paixoneta pelo vinho vai dar-lhe atenção.
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Julgo que é bailante, uma ciranda, onde os aromas e sabores vão e vêm. Onde a madeira, de barricas de carvalho francês (50% novas e 50% com um ano) servem de soalho seguro.
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Provei-o na Quinta da Romeira, uma mostra de brincadeira do enólogo João Corrêa. Garrafa aberta, levei-a para casa e foi uma alegria. Dêem-lhe espaço para respirar e temos: twist, funky, valsa e saias.
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Origem: Portugal
Produtor: Companhia das Quintas

Nota: 8,5/10

Montes Claros Colheita Branco 2013 e Montes Claros Colheita Tinto 2013

E zás! Lá vou eu implicar com a antão vaz!... Não há hipótese! Va lá, houve força do arinto, da roupeiro e da alvarinho para lhe travarem o mau feitio.
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Tem frescura, sim, senhor. O lote resultou muito bem. Cítrico e com notas de amêndoa levemente torrada. É escorregadio na boca, o que me leva a crer que com peixe de rio irá dar balho (baile).
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Origem:  Regional Alentejano
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.
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Montes Claros Colheita Tinto 2013
Um clássico. Se me apetecesse escrever... aquelas ganas em que uma pessoa acorda de manhã, passa o dia a fazer, prolonga pela noite e até sonha...
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É um clássico. Quem o compra ou bebe, conhecendo-lhe a alma, reconhece-o. Alentejano visível e... contudo... touriga nacional, aragonês e syrah.
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Tenho de rever a matéria dada. Fruta vermelha, compota de ameixa e chocolate preto sem excesso.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: 5/10
Nota: 6/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Herdade das Albernoas Tinto 2011

Senti-o tão alentejano que me apetece escrever com sotaque e usando apenas gerúndios.
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Quem gosta do Alentejo e tem memória dum tempo com um sabor... aragonês (60%), trincadeira (20%) e castelão (20%).
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Uma coisa que não tem nada a ver com o vinho: mudem o rótulo... por favor.
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Origem: regional alentejano
Produtor: sociedade agrícola encosta do guadiana
Nota: 7/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

Herdade Paço do Conde Reserva 2009

Provei-o primeiramente na prova da revista Epicur. Bom vinho, mas que me encantou mais em casa.
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Não o achei facilzinho... e não creio que se safe bem em concursos. É um belíssimo vinho, mas precisa de tempo para se mostrar. Fez-se com cultivares bastante encontráveis no Alentejo: syrah (60%), touriga nacional (30%) e alicante bouschet (10%).
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Gosto das notas de madeira no vinho, mas considero que neste estão, de momento, exageradas... dêem-lhe tempo.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Encostado Guadiana
Nota: 7/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Continente apresenta quatro vinhos - Contemporal Selection

A Sonae, empresa detentora dos hipermercados Continente, alargou a gama dos seus vinhos. Aos colheitas, acrescentou reservas... contudo baptizados de selection. A marca é a mesma: Contemporal.
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São quatro os vinhos Contemporal Selection, obra de três enólogos, consagradas figuras das regiões onde mais trabalham.
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São os quatro vinhos correctos, sem defeitos. São fáceis e gulosos. Não ficam mal na mesa, a menos que o pudor (que acho bem que eista) impeça de levar para um jantar ou ofertar um vinho de marca branca.
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O jantar é informal e com a pandilha? Todos gostam de vinho e estão todos nas lonas...
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– Olhem o que eu descobri...
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E vai daí e está tudo em festa, com o arroz a passar-se, com os vizinhos a passarem-se com o barulho e o gosto satisfeito.
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Já devem ter percebido que não me apetece entrar em descritores nem contar história ou estória. Estes vinhos são isso mesmo: boa parte integrante da refeição, não fazem alarido nem desapontam.
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Jaime Quendera assinou os Contemporal Selection Branco 2012 (Regional Península de Setúbal – chardonnay, arinto, fernão pires e verdelho – 5,99 euros) e Contemporal Selection Tinto 2011 (Península de Setúbal – touriga nacional, cabernet sauvignon, tinta miúda e 5% da branca arinto – 6,99 euros).
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Anselmo Mendes assinou o Contemporal Selection Branco 2012 (Regional Minho – alvarinho e loureiro – 5,99 euros).
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Rui Reguinga foi responsável pelo Contemporal Selection Tinto 2011 (Regional Alentejano – aragonês, trincadeira e alicante bouschet – 6,99 euros).
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A nota é idêntica e aos pares: brancos com 5/10 e tintos com 5,5/10. Os rótulos têm as caricaturas dos enólogos... tá giro, sim senhor.
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Não consigo deixar de dizer isto: há uns anos, não muitos, o Pingo Doce criou a sua gama de linha branca. Eram vinhos fáceis e de qualidade. O tempo passou e o chefe de mercearia, de lápis, afiado à navalha, atrás da orelha, quis engordar os ganhos e achou que os clientes são todos tolos. Sentiu-se no nariz, boca e cérebro... hoje escapa o Palmela... e o Dão? Fujam dele.

Herdade do Peso Tinto Reserva 2011

Não sou um frique ambientalista, nem activista contra centrais nucleares, pirata contra os defensores dos organismos geneticamente modificados, radical da reciclagem (que faço)... mas, bolas! A garrafa tem o impacto duma pata de urso pardo...
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É um grande vinho. Aqui e em qualquer lugar. Penso que está equilibrado entre o gosto português e alguma tendência internacional, pela suavidade, apesar de pujante e pela fruta vermelha casada com bálsamos.
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É um tanque de guerra. Cada golo é um balázio. Forte e notório, acompanha comidas fortes, em temperos e substância.
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Origem: Alentejo
Produtor: Sogrape

Nota: 8,5/10

Luiz Costa

O homenageado neste vinho é para mim desconhecido. No almoço de homenagem e de lançamento deste espumante, bruto natural e fabricado no método clássico, muitas foram as palavras elogiosas, que criaram embargo de voz e algumas lágrimas um pouco fora do canto do olho.
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Pelo que percebi, Luiz Costa era um defensor de castas estrangeiras na Bairrada... essa questão que volta e meia dá confusão. E em sua homenagem, as Caves São João criaram um lote com o melhor dos seus pinot noir e chardonnay.
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Origem:  Bairrada
Produtor: Caves São João
Nota: X

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

A fruta!

Se a maçã fosse o fruto da árvore-da-ciência-do-bem-e-do-mal os dias seriam todos aborrecidos.
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É certo que foi uma maçã que fez Newton elaborar acerca da lei da gravidade... mas isso foi um acidente que Deus tocou.
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Se fosse o figo... é uma fruta que se come tão sofregamente que nunca daria luz.
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É certo que há guerras, mas o mundo também tem paz.
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Para mim foi a uva. Não percebemos quase nada de Deus e por isso erramos...
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A videira não é uma árvore, mas dá fruta de cores e arco-iris de aromas.
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Qualquer serpente se dissimula melhor numa trepadeira do que num tronco largo.
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Deus fez-nos inteligentes e deu-nos o direito do vinho.
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Da alegria ao desacato.
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A uva tem a alma do homem.
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Nota: Lúcifer caiu porque estava bêbado...

Quinta dos Carvalhais Encruzado 2012

É um clássico suave e elegante. Devia ser proibido não gostar dum encruzado do Dão. Este está com uma pintarola que apetece cantar.
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Dá arrepios a mineralidade e as notas vegetais, um vinho elegante... mostra a região e leva alto o nome de Portugal.
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Não é o meu branco português favorito, mas ilumina qualquer jantar em que o peso do prato não o parta ao meio.
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Raisparta qu’o vinho é mesmo bom.
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Origem: Dão
Produtor: Sogrape
Nota: 8
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

Quinta da Leda 2010

É já um clássico, este tinto do Douro Superior. Colocado na base dos topos de gama da Sogrape, é facílimo de beber. Dá conversa, ambiente e cozinha-se bem no copo com carnes vermelhas.
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Não é um dos meus tintos favoritos, porém reconheço-lhe uma qualidade que vergará qualquer sogro complicado de amainar.
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Origem: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha / Sogrape
Nota: 8/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

Receitas com Alentejo e Monte Velho

Os Monte Velho são vinhos para o dia-a-dia, não pesam na algibeira. Não sendo grande fã, reconheço-lhes qualidade e consistência. Não desiludem, são fiáveis, o que, para muita gente, é uma vantagem.
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Em Portugal temos o hábito de consumir vinho às refeições (não foi sempre assim)... Nascidos em vides fincadas no Alentejo, surgiu a ideia de os juntar a comidas da maior província portuguesa.
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Chama-se «À mesa com Monte Velho – 4 estações com ingredientes do Alentejo» e os textos são de Maria João Freitas e Miguel Vaz. Comida de confecção simples, o que dá jeito para os furações dos dias, ingredientes de época e variedade.
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Setenta e poucas páginas de apetite e variar a mesa.

domingo, fevereiro 16, 2014

Le Jardin - A Embaixada

Há uns anos largos (nem quero pensar nisso)... em 1989, fiz o Interail, que era a coisa mais fixe que um jovem podia fazer nas férias grandes, que eram mesmo grandes. Agora há a Easyjet e a Rayanair e... na altura andar de comboio sem adultos era aventura, hoje viaja-se sem estilo em aviões de companhias manhosas.
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Eu, o P e o V arrancámos de Lisboa sem saber muito bem para onde ir. Queríamos chegar à Irlanda e à Escócia, ver Londres e Paris...Não arranjámos poiso em Paris e não vimos nada, cruzámos a cidade com mochilas pesadas e carregadas, entre o cair da noite e a noite... noite, mesmo, abrigados do frio (era Agosto) na escadaria dum wc público...
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Inventámos que em Le Havre haveríamos de apanhar um barco, como nos filmes, para a Irlanda, embora a documentação dissesse que nesse dia não circulavam ferries... bolhas nos pés, cansados, exaustos...
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Lá chegámos à Irlanda no Saint Kilian, onde dormimos, primeiro, no convés sob umas escadas e depois no chão da discoteca... não dormimos nada. Em Dublim conhecemos o Patrick, que desconfiamos e acertámos que era do IRA, que nos mostrou toda a cidade. Fomos para o campo e regressámos à capital irlandesa.
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De Dublim seguimos para Londres e odiamos tanto a metrópole que, só de pensar que teríamos de lá voltar se fôssemos à Escócia, abalámos para a Alemanha.
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Isto foi a entrada... agora vem o bife:
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Em Dublim, nesse ano de 1989 (já tive 19 anos), visitámos um «centro comercial» fantástico. Em vez de corredores e grandes portadas de vidro, de espaços fechados, de desvios... era um antigo palácio convertido ao consumo.
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Passava-se de loja para loja por portas de madeira, cada sala era diferente, mas sempre com uma continuidade de casa grande. Maravilha!...
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E eis que, anos mais à frente, abre uma galeria com esse encanto que encontrei em Dublim. Sempre conheci aquela grande casa fechada, no Jardim do Príncipe Real. Não havia estrago, mas não se via viv’alma.
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Dão-lhe o nome Embaixada, ao Palacete Ribeiro da Cunha, que prefiro chamar-lhe palácio. Palácio urbano, já se vê... O estilo neo-árabe enquadra-o no romantismo e, por conseguinte, no século XIX. E um hectare de jardim resistiu à voragem do cimento de Lisboa.
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O centro do espaço – no meu caso, que tenho neurónios na barriga – é o restaurante: o Le Jardin. Mandam nas mesas, nas comidas, nos serviço os experiente Miguel Picciochi, em parceria com o restaurante Moma (o da Rua de São Nicolau e não o de Copenhaga).
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Sou um romântico e deixo-me abraçar pelos ambientes. Ali, só pode ter havido retoques... a preciosidade já lá estava. Dá uma certa tonalidade de importância, aquele cenário... Os retoques de que falo fazem parte da decoração... enquadram, realçam. Não rompem, mas não se fazem passar por outra coisa. Ou seja: bom gosto e consistência... trabalho inteligente.
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As refeições à carta vão até às 23h00, mas para quem se atrasou tem ao dispor uma carta de petiscos, até às 2h00. Os responsáveis do espaço estabelecem um preço médio, por pessoa, entre os 17 euros e os 25 euros.
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Ou seja, não é um luxo, embora a comida seja de muito boa nota e a envolvência de cenário. É um luxo acessível. E basta pensar na enorme quantidade de tascas – foleiras, de azulejo e alumínio, onde o balcão serve de copa, com o inevitável ruído a talheres e loiças em combates ferozes – que, por pudor chamam restaurantes, que servem refeições nesse mesmo intervalo de preços. Exemplo: Portugália (porque é grande e fácil de acertar, mas basta abrir os olhos e espreitar, para tapar os ouvidos e segurar a algibeira).
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Ora, o intervalo entre os 17 e os 25 euros abarca entrada, prato principal, bebidas, sobremesa e café. Ora, eu, que me manifesto sempre indiferente àquela coisa da relação do preço com a qualidade, tenho de reconhecer que o Le Jardin é bom local de poiso e se enquadra nesse âmbito.
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O Príncipe Real, um dos locais mais charmosos de Lisboa, cuja traça das edificações mostra a elegância antiga, contrasta com a típica (que também gosto) popularidade do Bairro Alto, que ali vai desaguar.
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Fazia falta, ali e em Lisboa, um sítio com elegância e beleza. Diria que hoje é cosmopolita... sítio para «gente gira», sem paciência para o moche e com ouvidos sensíveis à barulheira. Sim, 17 a 25 euros.
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A ementa conta com comidas portuguesas e outras vindas doutros lugares. Cosmopolita e diferente. Variado e bonito.
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Morte ao feio! Viva o bonito!... e bom!
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Onde: Lisboa, Príncipe Real, 26 (palacete Ribeiro da Cunha).
Horário: 12h00 às 2h00.
Aberto todos os dias.
Telefone: 93 832 14 14

Alandra Branco 2012 e Alandra Tinto 2012

Sempre disse que prefiro os Alandras aos Monte Velho. Embora não tenha andado a tragar Monte Velho, tenho a certeza que a simplicidade e descontracção dos Alandra ficam à frente... É que, com base na memória desses de antanho, são algo entre a carne e o peixe, entre o sim e o não.
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Por mim, vai bem num almoço descontraído. E se são as gargalhadas que dominam, nada como um vinho que não estragando não se impõem às palavras.
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Quem bebe vinho todos os dias tem aqui uma boa escolha. Tanto no branco do que no tinto (que gostei mais).
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Branco
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Origem: Portugal
Produtor: Esporão
Nota: 3/10
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Tinto
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Origem: Portugal
Produtor: Esporão
Nota: 3,5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.