domingo, dezembro 21, 2014

Domini Tinto 2012, Domini Plus Tinto 2011, Hexagon Branco 2013, FSF 2011 e Lancers Espumante Bruto

O tempo passa… vi num documentário que há um mecanismo no nosso cérebro, deve ser algo como a espiral da corda dos relógios mecânicos, que faz com que a percepção do tempo varie com a idade.
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Será por causa desse mecanismo que o período de aulas é demorado para as crianças e vertiginoso para os adultos. Quando conheci o anãozinho cá de casa tinha ele quase quatro anos e era um bocadinho trapalhão a andar… andava esquisito. Hoje… corre como um Fórmula 1.
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Assim está a acontecer com este blogue. Os vinhos vão sendo provados – bebidos, porque aqui há pouca ciência e mais prazer – e levam meses até se plasmarem em letras. Está bem que a minha vida não é esta… sou jornalista freelancer, não me posso dar ao luxo de faltar ou de meter baixa ou ter férias. Cada trabalho é benvido (recuso-me a escrever bem-vindo), há a família, outros óbis, dormir…
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Portanto, só posso pedir desculpa pelos atrasos a quem me enviou vinho para prova, pois partiu do pressuposto que seriam publicados os textos a eles relativos em tempo de novidade e procura direccionada.
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Uma das minhas vítimas preferidas é a firma José Maria da Fonseca. Aqui vão as linhas da minha avaliação dos vinhos enviados. Começo com os mais prováveis de chegar às mesas no Natal.
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Desta vez, ao contrário do que é hábito, coloco as pontuações junto ao texto relativo a cada vinho.
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Domini Tinto 2012
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Bendita (estão a perceber por que é que deve ser benvindo e não bem-vindo?) touriga francesa, nome da tradição e que o enólogo-mor desta casa lhe voltou a chamar. Não é envergonhada, mas não é protagonista. Porém, sem ela o Douro não pode ser Douro – ainda me vou tramar com esta afirmação.
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No lote deste vinho constam a touriga nacional (48%), a tinta roriz (30%) e a touriga francesa (22%). Um coro bem afinado, onde a touriga nacional é a maestrina, a tinta roriz os instrumentos de sopro e a touriga francesa o conjunto de vozes.
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Cá vou aos malditos descritos, pois hoje apetece-me. Lá está o doce de cereja – nada de compotas ou outro conduto de pão e bolachas – uma pitadinha de violetas. Ao fundo o terroso da touriga francesa e umas agradáveis notas de madeira. Na boca mostra-se elegante, de fino trato, com boa acidez e bom final.
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Origem: Douro
Nota: 6,5/10
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Domini Plus Tinto 2011
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Acho estranho não ter escrito antes acerca deste vinho. Consta dos meus cadernos de anotações, que inclui o telemóvel, cuja diversidade de recurso não me permite estabelecer uma linha temporal de prova. Devia escrever a data, mas sempre fui mau com números.
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Este está acima do seu sucessor. A razão, que aqui é assumidamente subjectiva, é a quantidade de sumo de touriga francesa: 68%. A tinta roriz (22%) e a touriga nacional (10%) são as parceiras. Obviamente que o trabalho enológico se repercute.
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As diferentes percentagens das composições dos dois vinhos espelharão as virtudes de cada casta em cada um dos anos. Ainda assim, acredito que a pontaria primeira à touriga nacional, no 2011, possa estar relacionada com o apetite do consumidor.
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Este é muito mais Douro. Tem os aromas bravios da região e as casas solarengas das quintas. Uma mão cheia de socalcos – não sei se a propriedade os tem, é mero recurso. Na avaliação olfactiva estão o xisto e sua terra, as estevas, aquela nota de madeira, talvez de azinho, que lhe oferece a touriga francesa. Domingos Soares Franco, enólogo-mor, refere frutos pretos… sim, não divirjo muito; às amoras, mirtilos e ameixas junto figo seco. Quanto a violetas, ná! Continuo na minha, no Douro não topo muito esta flor, parece-me sempre mais o doce, geleia e compotas de cereja e/ou outros frutos vermelhos. Na boca é equilibrado, com boa acidez e um final longo.
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Origem: Douro
Nota: 8/10
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Hexagon Branco 2013
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A marca Hexagon nasceu para os tintos e o seis a que alude referem-se ao número de castas. Neste branco há apenas quatro: viosinho (34%), verdelho (30,5%), antão vaz (20%) e alvarinho (15,5%).
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Por partes: acho gira a combinação de castas tão diferentes e de regiões diversas. Não penso que seja arriscado, é um vinho para amantes assumidos, que premeiam a diferenciação, e para os apreciadores do estilo desta firma de Azeitão.
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Como enófilo premeio as diferenças, ainda que, por vezes, não me sacie completamente o prazer. Reafirmo, este não é um blogue de crítica «séria» (é sério porque respeita o meu gosto), as provas não são cegas, o ambiente não é de sala de provas, mas de amizade e convívio e reflecte o meu gosto. Ainda assim, quando me surge um vinho que não me cai no goto, mas que tem manifesta qualidade, não o posso penalizar completamente.
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Acresce que não sou enólogo nem vitivinicultor, não tenho bases académicas para argumentar enologia nem dar conselhos comerciais e empresariais. Quem me lê sabe o quanto aprecio o trabalho de Domingos Soares Franco e sua equipa (e família).
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Já se percebeu que não gostei deste vinho. O não gostar é relativo! A escala decimal é aberta como a de Richter, sendo que o 3 é positivo, pois não vejo interesse em classificar o evitável (2) nem o imbebível (1).
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Ora, este vinho – atenção refiro-me a gosto – tem vários «defeitos»: antão vaz e alvarinho. O viosinho lembra-me o Douro dos meus amores, onde leio uma alma grande. O verdelho diz-me o nome do enólogo, que tão bom partido sabe tirar desta casta. A alvarinho é casta que raramente aprecio fora dos frios de Monção e Melgaço. No Sul, enjoa-me um bocadinho. Depois vem a casta Yeti – a abominável cultivar do Alentejo.
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Na «prova», os comensais gostaram muito. Eu não! Tenho reparado que a antão vaz só é bebível quando se lhe junta o arinto – excepção feita ao primeiro Solista, da Adega Mayor, com direcção de Paulo Laureano, que jurou que me porá a cantar laudes a esta «coisa».
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Tentando ser justo quanto a qualidade e gosto pessoal… 6! Os restantes 7.000.000.000 de terráqueos provavelmente deliciar-se-ão. Tem tudo para agradar.
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Origem: Regional Península de Setúbal
Nota: 6/10
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FSF Tinto 2011
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Adoptei não pontuar vinho de homenagem, a menos que surjam anualmente ou com grande regularidade. É o caso: Fernando Soares Franco, figura enorme dos vinhos portugueses.
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É um vinhaço! Em grande! Fez-se de syrah (79%), trincadeira (17,3%) e tannat (3,7%). Caiu-me muito bem. Mostra-se variado quanto a olfacto, desde a mineralidade quente das areias, ao figo seco, à menta e chocolate preto. Enche a boca, com calor e acidez que a equilibra, um final muito longo!
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Origem: Regional Península de Setúbal
Nota: 8,5/10
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Lancers Espumante Bruto, branco e sem indicação de ano, produzido é método contínuo.  É um vinho que calha muito bem no Verão e que na passagem de ano contrabalança os enfartamentos e os doces típicos da época.
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Tem uma acidez notória, bolhas brincalhonas a fazerem cócegas, aromas de frutas de Verão, não tropicais. É prá festa!
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Lancers Espumante Bruto
Origem: Portugal
Nota: 5/10
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Nota: Estes vinhos foram enviados para prova pelo produtor.

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