quarta-feira, agosto 27, 2014

Virgo Branco 2013 + Torre do Frade Viognier 2013

Há vinhos de enólogo, vinhos de produtor, vinhos do consumidor, vinhos dos críticos, vinhos para concurso. Nenhum significa bom ou mau, há de tudo. Penso – posso estar enganado – que os vinhos da Torre do Frade são simultaneamente vinhos de produtor e de enólogo.
.
Há muita gente a comprar terra e pelas mais variadíssimas razões. Muitas vezes, o lazer tem de ser compensado com uma actividade económica, para que se possa manter o luxo. Muitos apostaram na vinha e no vinho – uns bem e outros mal. Dentro destes, uns são enófilos outros são empresários.
.
Fernando Carpinteiro Albino – e família – não estão na agricultura porque ganharam dinheiro na bolsa ou na construção ou... ou... ou... São alentejanos de sotaque e já percebi que também de temperamento.
.
A sociedade familiar que gere as propriedades não existe para poesia, mas para criar riqueza. Mas, ao contrário doutros lavradores – antigos, pára-quedistas, vaidosos – o vinho não é só negócio.
.
Os Carpinteiro Albino gostam do que fazem – numa casa de lavoura, especialmente no Alentejo, há muito para fazer – e o vinho talvez seja a que mais apreciem, embora a criação de gado bovino de raça alentejana também lhes proporcione prazer.
.
Penso ser importante referir estes aspectos, porque nem sempre são uma realidade e fazem parte do «ser»... [palavras como projecto, filosofia, conteúdo... fazem-me urticária em algumas coisas].
.
Já tive o prazer de me sentar à mesa com os Carpinteiro Albino e nota-se bem o brilho com que apreciam os seus vinhos. Conhecendo Fernando Carpinteiro Albino – o chefe – há 19 anos é natural que lhe conheça algumas características pessoais. Duas delas são a franqueza e a coragem de dar o corpo à luta.
.
Estão no vinho! Porque é um vinho de produtor. Não entraram num táxi e disseram para o motorista os levar onde quisesse. Chamaram um dos melhores enólogos do país, homem da região, para dar nascimento aos néctares.
.
As suavidade, elegância e polimento de Paulo Laureano estão também nos vinhos desta casa situada no concelho de Elvas. Quem conhece os vinhos deste enólogo reconhece-lhe uma linha coerente – tem um estilo próprio. E tem a competência técnica (quem sou eu para o afirmar) para fazer o perpétuo Mouchão – que é como a equipa do Ajax, que venha que treinador vier a táctica é sempre a mesma – como para apoiar ou aconselhar o mais autónomo e «desalinhado» José Mota Capitão.
.
Os vinhos da Torre do Frade têm a caligrafia de Paulo Laureano, bem desenhada e respeitadora da encomenda. Por isso, penso que a Torre do Curvo (Frade) faz vinhos de produtor e de enólogo.
.
Não pude estar presente na apresentação em Lisboa de dois brancos da Torre do Frade. Fizeram-me chegar as botelhas a casa e foram provadas cumprindo as rígidas formas de análise do bloguista: ambiente de convívio feliz, à mesa, sem estresse (adoro), rótulo à vista...
.
Atenção: blogue é prazer e respeita apenas gosto pessoal, condimentado com bom-senso (espero), respeitando a linha que divide gosto pessoal e a qualidade intrínseca quando não coincidentes. Não sou crítico profissional. Nos concursos em que tenho feito parte do júri, os meus parâmetros não são os do blogue. As provas cegas são o que Churchill disse da democracia:
.
– É o pior dos regimes políticos, com excepção de todos os outros.
.
Cá em casa o regime é monárquico e absolutista e o pensamento iluminista só é usado em assuntos específicos. Portanto...
.
Quanto aos vinhos que me chegaram, Virgo 2013 e Torre do Frade Viognier 2013, começa agora a sua entrada em cena.
.
O Virgo é o que mostra o rótulo. Um vinho divertido, bem-disposto, descontraído, veraneante... e felizmente não tem no lote a casta maldita! Viognier em esplendor. É elegante e fundo. É um vinho sem estágio em madeira, pelo que a flor de laranjeira, a evocação de tangerina não ganharam as notas de manteiga e de fumo que andam a infestar muitos vinhos alentejanos. Há depois algum abacaxi que reforça a frescura.
.
Quanto a mim, o melhor Virgo que bebi.
.
O outro já é outra coisa. É para jantar e de casaco vestido. Pode apresentar-se na Real Mesa. Com corpo e frescura, ainda assim delicado. Um cavalheiro. Complexo, com evocação de laranjeira, maçã verde (nunca me lembro do nome da cultivar), manteiga suave, banana ao de leve e mais umas tropicalidades domesticadas. Fuuuundoooo na boca. Honra os antepassados.
.
.
.
Virgo Branco 2013
.
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Torre do Curvo
Nota: 7/10
.
.
Torre do Frade Viognier
.
Origem: Regional Alentejano
Produtor: Sociedade Agrícola Torre do Curvo
Nota: 8/10

Sem comentários: