terça-feira, julho 31, 2012

Wine Spectator humilha portugueses

A poderosa Wine Spectator deu um arraso nos vinhos portugueses. Numa lista com alguns notáveis, o resultado chega a ser humilhante. Para mim, a revista cobriu-se de ridículo, mas quem leva o enxovalho são os produtores portugueses.
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Não há muito a fazer. A imprensa tem uma força que dificilmente se vence. Um órgão de comunicação social só costuma ser batido por outro parceiro do ofício. É assim em todo lado onde vigoram regimes democráticos.
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Não se pede à Wine Spectator que tenha pena dos portugueses, que pense no difícil momento do país e inflacione as avaliações, por amor, carinho, caridade ou misericórdia. Talvez os vinhos até só valham as pontuações que receberam… mas… há um mas, uma dúvida legítima. Ou dois mas. Ou três mas. Ou mesmo mais mas que os meus mas.
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Afasto teorias conspirativas, juízos de valor e processos de intenções. Não me amedronto com fantasmas, mas pergunto-me se a Wine Spectator bateria com a mesma força e do mesmo modo nos vinhos de França, Itália ou Estados Unidos.
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São memoráveis as vitórias de David sobre Golias, mas em mil combates o homem apenas vence uma vez o gigante. A prepotência é uma acção perniciosa do mais forte em relação ao mais fraco.
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Quando falo de a Wine Spectator ter caído no ridículo dou exemplos: CARM Maria de Lourdes 2008 bate-se de igual, com 87 pontos, com o Pêra Manca Tinto 2007, mas abaixo do Cabriz 2009.
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Claro que há opiniões para tudo, com respectivas justificações. Claro que há virtualidades nas provas cegas e nas provas com rótulo à vista. Claro que há revelações surpreendentes, com maravilhosas relações entre a qualidade e o preço… mas dificilmente me convencerão que um Cabriz é melhor que um Pêra Manca.
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E pergunto-me ainda: será que quem provou sabia que país estava a provar? É que numa revista global as provas não podem ser só às cegas quanto a marcas… Sabiam qual o país? Se sim, terá havido preconceito?
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Entre vários exemplos, repito: Cabriz melhor que Pêra Manca?
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Preconceito meu? Talvez. Preconceito da Wine Spectator, tenho pouca dúvidas. Asneira dos provadores da Wine Spectator, quase de certeza.
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Uma coisa é também certa: Portugal põe-se a jeito: A quantidade e variedade de vinhos abaixo de medíocre que os portugueses põem lá fora só desajuda e dá a reputação que cria este eventual preconceito. E a certificação portuguesa ajuda à festa, validando vinhos inacreditáveis de maus ao lado doutros inacreditáveis de bom. Quem compra lê dois rótulos com a mesma DOC, sem diferenciação qualitativa; o preço dá uma avaliação concreta, mas a percepção do vinho dá uma subjectiva: compro o mais barato, porque é a mesma coisa, mas como não presta desconfio quando voltar a ver um vinho da mesma DOC. Há muito que penso que as denominações deviam ter escala de avaliação qualitativa.
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Voltando à Wine Spectator: é sabido que manda quem pode e obedece quem deve… a revista faz a merda e são os portugueses quem a limpa.

domingo, julho 29, 2012

Quinta Mendes Pereira Garrafeira Tinto 2004

Há já algum tempo que namorava este vinho, de recomendado pelos amigos da Garrafeira Campo de Ourique. Comprei-o há um ou dois meses e bebi-o: gostei muitíssimo.
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É um vinho muito elegante, que quer ser Dão e que sabe ser garrafeira. Não engana e surpreende. Suave, delicado, diria feminino, mas não frágil. Pede mesa com comida, mas não vejo inconveniente a que seja bebido apenas em conversa com os amigos, que são os melhores repastos.
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Parece-me que o rótulo não transmite Dão, mas antes Alentejo, devido à imagem de planura com uma árvore, que lembra a campina e seu sobreiro. Mas isso não tem importância.
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Origem: Dão
Produtor: Raquel Camargo Mendes Pereira
Nota: 7,5/10

sábado, julho 28, 2012

Conde de Vimioso Colheita Seleccionada Rosé 2011

Parece-me que João Portugal Ramos percebeu que o público dos rosés talvez não seja tanto o dos rebuçados. Os consumidores mais conservadores, talvez menos letrados (sem desprimor ou juízo de valor), provavelmente dispensam os rosados.
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– Ah, não gosto!
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É o velho preconceito de que homem que é homem não bebe coisas cor-de-rosa. Se calhar os nossos (muito) homens gostam mas nunca provaram ou se provaram foi com preconceito.
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Penso que talvez o público dos rebuçados de vinho até prefira outras bebidas e opte pelas sangrias da 7 Up, pelas cervejas de sabores, pelos refrescos e refrigerantes.
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Provavelmente, a maioria dos que gostam de rosés até seja quem os aprecia mais austeros. Começo a desconfiar que sim.
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– E porquê?
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Porque alguém como João Portugal Ramos, que sabe fazer os vinhos que quer, tem faro para esta coisa do mercado. Se ele os faz assim, é porque sabe… ou não voltaria a fazer.
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Por mim, aprecio. Gostei, tal como no ano passado, da menor exuberância e espalhafato no doce. É mais austero, mas tem os morangos e as cerejas à mesma.
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Origem: Regional Tejo
Produtor: Falua Sociedade de Vinhos
Nota: 5,5/10

quinta-feira, julho 26, 2012

Sogrape fez 70 anos

A Sogrape celebrou 70 anos de actividade a 22 de Julho. Nesse dia de 1942, 16 sócios, liderados por Fernando van Zeller Guedes, assinaram, na Conservatória de Registo Comercial, a escritura pública de constituição da Sociedade Comercial dos Grandes Vinhos de Mesa de Portugal, informou a empresa em comunicado.

domingo, julho 15, 2012

O Dão de António Narciso e dos seus vinhos com sotaque

António Narciso é um enólogo discreto e pouco ou nada dado a mediatismos. O silêncio esconde o talento, mas a competência canta dos vinhos que trabalha. Tomou coragem e ontem organizou um jantar de divulgação dos vinhos de três clientes, no Gspot, em Sintra. António Narciso quis mostrar como é possível um mesmo enólogo, numa mesma região, fazer vinhos diferentes. Conseguiu.
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O tema foi o dos vinhos com sotaque, ou seja Quinta das Marias (Peter Eckert), Fonte do Gonçalvinho (Casimir e Christelle da Silva) e Quinta Mendes Pereira (Raquel Mendes Pereira). O primeiro carrega no alemão suíço (não esteve presente), os segundos no requintado francês e a terceira no ritmado brasileiro.
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À entrada um Fonte de Gonçalvinho Touriga Nacional / Aragonês Rosé 2010, vinho escorregadio e suave, sem o aborrecido xarope ou concentrado de morango. Posto o começo, o mundo sentou-se à mesa, onde foram servidos dois vinhos para cada prato.
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Primeira parelha enquadrada com creme de ervilhas, vieira fumada e sapateira (umas malditas ovas fizeram-me passar o número). Quinta Mendes Pereira Encruzado 2010 e Quinta das Marias Encruzado 2010. O primeiro revelou no nariz erva seca, minério, mas também com carácter floral, muito fresco, e na boca assinalou doce, minério, com feliz acidez e profundidade; o segundo mais floral com nuances de mel e manteiga, na boca deu flores, metal e frescura.
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Segundo acto: garoupa assada, quinoa com tomate seco, morangos e poejo… para mim foram umas iscas. De um lado Quinta Mendes Pereira 2006, do outro Quinta Mendes Pereira Reserva 2007. Fiquei com a sensação que, à volta, a preferência foi para o 2006, mas escolhi o 2007. O QMP 2006, feito com touriga nacional, alfrocheiro e tinta roriz mostrou um casamento de flores de violeta com cerejas, é profundo e elegante, com grande acidez e longo final. O QMPR 2007, de touriga nacional e tinta roriz, é mais mineral, mais complexo, com violeta, cereja, menta e fumo, na boca é denso (não é gordo nem pesado nem corpanzudo), muito elegante, um pouco fumado, com final bem longo.
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Terceiro acto: Entrecosto com favinhas contra Fonte de Gonçalvinho Tinta Roriz 2010 e Fonte de Gonçalvinho Inconnu Reserva 2010. O primeiro revelou-se mais óbvio, embora complexo é mais fácil de perceber, com muita fruta vermelha, um pouco fármico (acho que a palavra não existia até agora), ameixa preta, ligeira trufa, na boca lenha de azinho e queimado do leite creme. O Inconnu mostrou-se menos óbvio, com tendência mineral, algumas notas de farmácia e menta, na boca madeira, chocolate preto (de 75% de cacau para cima), figo e castanhas. Este acabaria por fazer gastar muitas palavras, visto os produtores e o enólogo não revelarem o lote… António Narciso não gosta nada da casta jaen, mas ela está na vinha, será? Com o tempo viu-se um aproximar ao tinta roriz, mas com nuances de violeta, será touriga nacional e tinta roriz? A mim, o primeiro embate foi de sirah com evocação de touriga franca. Porém o enólogo disse rotundamente que não. Por uma questão de coerência reinadia, teimei. Ainda o tentei subornar, mas o homem não de descoseu.
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Quarto acto: arroz de pato e magret de pato fumado contra Quinta das Marias Touriga Nacional Reserva 2010 e Quinta das Marias Cuvée TT Reserva 2010. O primeiro muito abaixo de qualquer um dos vinhos servidos. António Narciso garantiu que tal se deve apenas a não estar pronto. Convence-me em parte e não teimo muito noutra parte. Convence-me porque está de facto pouco casado, não me convence por estar tão doce, mas tão doce, que me custa a acreditar que venha a atinar. Cedo, porque António Narciso sabe mais de vinho a dormir do que eu acordado e com cinco cafés. O Cuvée TT, leia-se touriga nacional e tinta roriz, pia mais fino. Mostra-se com ameixa preta, violetas, fumo suave, minério, cogumelos, na boca há doçura, mas também notas de granito, elegância e tem um belíssimo final.
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Quinto e último acto: bolo de alfarroba (e muito chocolate) com sorvete de framboesa, contra… o que se quisesse. Eu e parceiros à volta escolhemos o Inconnu e o Cuvée TT.
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Quanto ao vinho da noite a escolha é complicada, pois houve um vinho que foi muitíssimo mais comentado, devido ao «segredo», e outro que, talvez por ilustre elegância, se mostrou mais discreto. Direi que execuo ficaram o QMP Reserva 2007 e o Inconnu… porém, quase um dia depois a boca e pensamento escolhem o QMP. No terceiro lugar colocaria o Cuvée TT, embora com a mesma nota que o QMP 2006.
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A boda terminou com um Quinta Mendes Pereira Reserva 2005 que esteve soberbo.
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Fonte de Gonçalvinho Touriga Nacional / Aragonês Rosé 2010
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Origem: Dão
Produtor: Fonte de Gonçalvinho
Nota: 5/10
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Quinta Mendes Pereira Encruzado 2010
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Origem: Dão
Produtor: Quinta Mendes Pereira
Nota: 6/10
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Quinta das Marias Encruzado 2010
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Origem: Dão
Produtor: Quinta das Marias
Nota: 6,5/10
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Quinta Mendes Pereira 2006
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Origem: Dão
Produtor: Quinta Medes Pereira
Nota: 7,5/10
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Quinta Mendes Pereira Reserva 2007
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Origem: Dão
Produtor: Quintas Mendes Pereira
Nota: 8/10
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Fonte de Gonçalvinho Tinta Roriz 2010
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Origem: Dão
Produtor: Fonte de Gonçalvinho
Nota: 7,5/10
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Fonte de Gonçalvinho Inconnu Reserva 2010
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Origem: Dão
Produtor: Fonte de Gonçalvinho
Nota: 8/10
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Quinta das Marias Touriga Nacional Reserva 2010
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Origem: Dão
Produtor: Quinta das Marias
Nota: X/10
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Quinta das Marias Cuvée TT Reserva 2010
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Origem: Dão
Produtor: Quinta das Marias
Nota: 7,5/10

sábado, julho 14, 2012

Ben Rosh 2004

Comentar um vinho que é uma homenagem não é fácil para quem está de boa-fé ou não se acha uma luz no mundo. Um vinho não é bom nem mau se for, ou deixar de ser, uma evocação. Escrever sobre um vinho ou livro ou disco ou obra criativa merece, à partida e acima de tudo, respeito. Sendo uma homenagem maior tem de ser a vénia e o cuidado.
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Aprendi, ao longo de 22 anos de jornalismo, a estar acima de tais «sentimentalismos». Mas não só um blogue é uma «folha impressa», com suas prerrogativas de vantagem e atenuantes, como humanamente não posso brutalizar inconscientemente. Entre uma e outra coisa cabe muita coisa. Com isto não digo mal ou bem, nem o quero fazer, apenas ressalvo.
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Este vinho merece-me uma pausa solene, porque lembra uma vida. Não é por não ser judeu que a história deste vinho me faz mais leve. Alguém que parte em demanda da «sua questão» e torna sua a causa dum povo merece um respeito de arrepiar.
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Admiro a bravura do capitão Barros Bastos, que adoptou o nome hebraico Ben Rosh… fez-se circuncidar, aprendeu hebraico, lutou pela causa judaica num país  áspero (católico apostólico romano que tantas malfeitorias fez em nome do Deus ao longo de séculos) e penou pelas suas acções.
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Sou incompetente e ignorante para escrever sobre o capitão Barros Bastos, oficial condecorado na Grande Guerra e «apagado» dos registos heróicos pela sua fé e actos. Humanamente faço-lhe uma vénia. Quantos são os que fariam o que fez? Remeto para a Wikipédia.
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Por ser uma homenagem, por sentir o volume da obra deste homem (não tendo a minha fé ou sendo família), recuso-me a dar a nota numérica, como habitualmente faço. Não que não tenha gostado do vinho. Gostei e bastante, e independentemente do que a ele está associado.
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Num país com uma longa tradição judaica, é impressionante a tão fraca, quase ausente, oferta de vinhos judaicos. Provei dois, há uns anos, e a qualidade era criticável. Portugal e a sua longa ligação hebraica merecem mais vinhos kosher ou kasher, para os iberistas. Este faz justiça.
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Só conheço o 2004, não sei se houve anteriores ou posteriores. Notei-o em boa forma, com frescura e promessa de longevidade. Elegante e escorreito, suavizou-se.
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Perante Ben Rosh, recolho a minha opinião e faço um brinde.
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Origem: Regional Estremadura
Produtor: Sociedade Agrícola Félix Rocha
Nota: X/10
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Nota: Disse-me um amigo que dei grandes voltas no texto. Respondo: já gostava do vinho antes de o ter bebido e depois gostei muito dele. Talvez tenha dado demasiadas explicações, mas a vida deste homem tocou-me.

sexta-feira, julho 13, 2012

Independent Winegrowers Association deram show no Ritz

Aos quarto dias de Julho do anno de 2012 decorreu um momento… que ia perdendo estupidamente. Eu, reconhecido pontualista e de boa agenda, tropecei nas horas e não fosse João Pedro Araújo (Casa de Cello) a ligar-me e estaria agora a lamentar-me.
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Os Independent Winegrowers Association, um grupo de cinco «magníficos» das regiões dos Vinhos Verdes, Dão, Bairrada e Douro (Casa de Cello, Alves de Sousa, Luís Pato, Quinta do Ameal e Quinta dos Roques) apresentou novidades e puxou dos galões, mostrando vinhos com idade.
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Quanto a novidades… nada de novo. Ou melhor nada de novidade quanto à qualidade. Vinhos com mestria, sabedoria e estética de paladar e olfacto. Cada ano é um ano e há vinhos que melhor os espelham; aqui, ainda com as ressalvas para as diferentes categorias na gama dum produtor, o tempo do ano de nascimento está dentro das garrafas. Como é hábito nestes produtores, os territórios têm ramificações nos vinhos. Têm genericamente tudo: ano, terroir e personalidade do autor/produtor.
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A Casa de Cello (Vinho Verde e Dão) apresentou os Quinta Sanjoanne 2011 (Vinho Verde branco – escorreito, fresco e algo sensual, muito para o Verão), Quinta de Sanjoanne Escolha 2009 (Vinho Verde branco – na senda do anterior no que se refere a frescura e sensualidade, mas mais gastronómico), Quinta de Sanjoanne Superior 2009 (Vinho Verde branco – uma categoria, com mentolado no nariz e notas florais na boca), Quinta da Vegia Rosé 2011 (Dão – um rosado suave, com sentido gastronómico, com fruta e sem as mariquices doces que só atrapalham), Quinta da Vegia 2008 (Dão tinto – limpo muito mais do que honesto), Quinta da Vegia 2010 (Dão tinto – um clássico, um Dão algo moderno, elegante), Quinta da Vegia Reserva 2007 (Dão tinto – um grande vinho) e Quinta de Sanjoanne Passi lote 2009 (vinho de mesa branco, que não provei).
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Alves de Sousa apresentou vários vinhos que já foram aqui comentados no blogue; Vale da Raposa Sousão 2010, Quinta da Gaivosa Tinto 2008 e Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo Tinto 2009. A novidade D’Oliva Grande Reserva 2009 acabei por não provar nem o Alves de Sousa Porto Vintage 2009. Tragados com muito agrado Branco da Gaivosa Reserva 2007 (Douro) e Alves de Sousa Reserva Pessoal Branco 2005 (Douro) em grande nível.
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Luís Pato (Bairrada) demonstrou uma vez mais a sua mestria nos espumantes: Espumante Maria Gomes 2011 Premium Bruto, Espumante Baga Bical Duet 2010 Bruto, Espumante Bical Cercial Duet 2010 Bruto e Espumante Informal 2010 Bruto. Belíssimos. Os Duet, que debutaram no ano passado, ganharam com o tempo e, assim sendo, prevê-se continuação em crescendo. Tintos: Luís Pato Vinhas Velhas Tinto 2010, Luís Pato Vinha Barrosa 2009, Luís Pato Vinha Pan 2009 e Luís Pato Vinhas Velhas 2001.
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Quinta do Ameal (Vinhos Verdes) só trouxe brancos: Quinta do Ameal Loureiro 2011 (sensual e elegante, fino e fresco), Quinta do Ameal Escolha 2009 (gostei da pêra pouco doce no nariz, mais doce na boca, mas muito elegante), Quinta do Ameal Solo 2011 (amostra de cuba – prometedor), Quinta do Ameal Speacial Harvest 2011 (amostra de cuba, que não provei). À parte um espumante com três anos de cuba e seis anos de garrafa… suave, orgânico, palha, com borbulhagem fina e elegante – belíssimo.
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Da Quinta dos Roques, do Dão, apenas provei os brancos e um tinto… os tintos foram vítimas do atraso do escriba. Experimentei: Quinta dos Roques Branco 2011 (fresco e gastronómico), Quinta das Maias Malvasia Fina 2011 (notas de minério e acidez dão-lhe boa frescura, elegante – excelente), Quinta dos Roques Encruzado 2011 (muito «verde», não no sentido de impreparado, mas de alegria, de erva, de algum limão, na boca mineral – acima de excelente) e Quinta dos Roques Tinto 2010 (notas de violeta e mentol, taninos presentes e elegantes). De foram ficaram Quinta dos Roques Alfrocheiro 2010, Quinta das Maias Jaen 2010, Quinta dos Roques Touriga Nacional 2010 e Quinta dos Roques Tinto Garrafeira 2008.
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O momento alto do dia foi a masterclass de vinhos com idade destes produtores. Esse momento ficou também marcado pela negativa pelo serviço do Ritz, que se mostrou a nível de hotelzeco, com empregados trapalhões e com incompetência qb.
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Ao que interessa: Quinta do Ameal Loureiro 1999 (branco) apenas pode revelar uma boa acidez, pois foi vítima do TCA (tricloroanisol – o popularmente conhecido como cheiro e gosto a rolha); Quinta do Ameal Escolha 2000 (branco), muito fresco no nariz, com notas de goma, na boca muito elegante e com belo final; Leiras Mancas 1997 (branco – Casa de Cello) fez-se com azal e pedernã (arinto), com notas orgânicas, de musgo e terra molhada, na boca muito fresco, vibrante… disse João Pedro Araújo: «estava à espera que vivesse seis meses; estamos feéricos»); Quinta da Vegia Reserva 2003 (tinto) nada evoluído, fresco com chocolate preto e menta, na boca é elegante e envolvente); Luís Pato Vinhas Velhas Branco 1995… uau! Vibrante, perfumadíssimo, resina, rebuçado, fresco, na boca é guloso e envolvente; Luís Pato Vinha Pan 1995 é quase inebriante, com notas de farmácia e menta, na boca é elegante e felino); Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2003 com notas de madeira encerada, doce de ameixa, civilizado, na boca muito profundo, que só me ocorre dizer um vago e impreciso «nocturno»); Quinta da Gaivosa Tinto 1995 com aroma de couro polido e mineral «marmóreo», na boca muito elegante e longo); Quinta dos Roques Tinto Reserva 1992 com suave madeira encerada e fino couro, na boca elegante, delicado e longo; e Quinta dos Roques Touriga Nacional 1996 foi para mim o melhor acima de todos os muito grandes, com aromas de couro, temperado com algum vegetal e até flores, na boca uma grande elegância, feliz acidez, taninos fantásticos e um final profundo e denso).
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À mesa juntou-se aos vinhos a carne de vaca do produtor alentejano Solar da Giesteira. Carne tenra e muito gostosa. O produtor, Joaquim Freixo, lembrava-se de mim, quando me dedicava à televisão (saudades das reportagens) e praticava frente ao ecrã no programa Da Terra Ao Mar. A reportagem não foi feita por mim, mas por Bruno Barrocas de Jesus. O senhor é uma super-simpatia, o senhor.


quinta-feira, julho 12, 2012

José de Sousa 2010

Este vinho é daqueles que têm memória. Tá bem qué uma marca antiga… tá bem que um dia outras casas terão referências como esta… um dia. Para já esta tem e, se tudo rolar como o desejado, há-de continuar.
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Hoje, no Alentejo há coisas mais modernas e mais novas. Ainda bem. Mas consola-me saber que há vinhos que não mudaram muito. Gosto que ainda parte da fermentação se faça em tradicionais talhas de barro.
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Ok, já não é um alentejano da velha guarda… estagiou em barricas de carvalhos francês e americano, novas e usadas. Tem a casta grand noir, mas constou-me que sempre teve, além da trincadeira e de aragonês. Esta coisa é regional alentejano? Se «só» é regional, não sei o que será um DOC Alentejo...
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Consola-me. É uma memória que me traz memórias. Não as quero partilhar convosco e sinceramente nelas não cabem descritores, coisa que muitas vezes é vaga e mero proforma. Nem me apetece falar de anos. Tenho dito!
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca
Nota: 6/10

segunda-feira, julho 09, 2012

Novidades da Adega de Borba

Duma assentada, dez vinhos. As novidades do ano postas em cima da mesa do Belcanto, em Lisboa. A Adega de Borba surpreendeu ainda com duas pingas; de babar. Hesito entre começar pelo filé mignon ou pelo naco do lombo ou se pelo bife da vazia (devo estar com fome).
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Porque me apetece, começo pela equipa base e sigo para os topos. Os vinhos foram muitos e o ambiente muito mais propício à conversa do que à prova. Ora, por aqui é assumido que são raríssimos os exercícios «científicos», pelo que não é por aí que se fica aquém da opinião. Por outro lado, a tagarelice com boa companhia fez com que não tivesse experimentado todos.
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Antes refiro os que ficaram por experimentar: Senses Touriga Nacional 2010 (ainda o meti à boca durante o conversê, mas, estava tão agradado com o rosado, será desonesto da minha parte escrever o que quer que seja a seu respeito), Senses Syrah 2010 e Montes Claros Colheita Tinto 2010.
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Durante o parlapié refresquei-me com Montes Claros Colheita Branco 2011, Senses Alvarinho 2011 e Adega de Borba Rosé 2011. Arregaço as mangas e atiro-me ao texto e por ordem de chegada:
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Adega de Borba Rosé 2011, muito refrescante e agradável, algo sensual. Imagino-me a flirtar com uma beldade nórdica e com os pés na areia, numa festa de praia. Ai que saudades de praia e das beldades nórdicas… Um frutado muito suave, equilibrado em termos de doçura, acidez contente e uma duração acima do esperado.
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O Montes Claros Colheita 2011 continuou a sedução: fresco, fácil, prazenteiro e que vai além da piscina. Notas cítricas, evocação de pinhões; boca gulosa, de pêra suave e sem açúcar.
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O ano de 2011 foi considerado unanimemente como um ano de superior qualidade. Todavia há momentos menos felizes. Provados os Senses Alvarinho de 2010 (há um ano) e 2011 prefiro o mais antigo. Sinceramente. Embora de inquestionável qualidade, achei o anterior mais fresco e elegante. Neste havia uma tropicalidade e notas doces que excederam o meu olfacto. Na boca, embora melhor, mostrou-se também menos interessante que o anterior. Mas nota sem dúvida positiva.
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Já na mesa, os vinhos que cantaram fizeram-no de poleiro mais alto. Com o amuse de bouche veio o Senses Alvarinho 2011, mas todos os restantes foram novidade para mim.
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Montes Claros Reserva Branco 2011, complexo e com bom corpo. Muito feliz no resultado final. Dos trópicos veio ananás, mas felizmente a manga e o maracujá ficaram de fora. Notas abaunilhadas, apenas a temperar. Na boca, muito elegante e fresco. Hesito num meio ponto acima.
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O Montes Claros Reserva Tinto 2010 é um clássico e não é desta vez que perde o estatuto; não desilude, honra a tradição… embora a tradição já lá tenha syrah, cabernet sauvignon e touriga nacional (o resto do lote é de aragonês e trincadeira). No nariz é complexo, com notas de compota de cereja, avelã e chocolate preto. Na boca é forte e com carácter; gostei muito da muita ameixa preta e dos taninos.
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Adega de Borba Premium Tinto 2010 com estrela. Um vinho desta qualidade e com 120.000 garrafas já é obra, merece aplauso extra. É um vinho denso, todo ele, sem que se torne maçador ou enfadonho. Não é um grande intelectual, mas dá conversa. No nariz revela madeira, alguma noz-moscada, café, chocolate preto e ameixa preta. Na boca é envolvente e encorpado.
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Montes Claros Garrafeira Tinto 2008… não foram as surpresas e este teria sido o rei do almoço. Não deixa de ser um grande vinho por causa disso. Na ementa distribuída al almoço deixei as minhas notas ao lado, como sempre nestas situações. Neste apenas escrevi seis setas e um sinal mais… achei que não havia muito a dizer. Nele cabe o forte e o suave, com um final comprido. No nariz revela geleia de cereja, geleia de uva, café, chocolate, noz-moscada, um finíssimo cravinho, alguma canela… Na boca é encorpado, sem ser bruta-montes, é suave no deslizar.
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Primeira surpresa: Adega de Borba Grande Reserva Tinto 2009. Esta referência apenas aparece em anos considerados excepcionais e, pela segunda vez, parece-me acertada a escolha. Um vinho de elegância e carácter, com personalidade. Não desfazendo nas opções doutros produtores de qualidade do Alentejo, vinhos destes interessam-me mais do que os «perfeitinhos» e «bonitinhos». Sinto tradição, noto uma vontade de não seguir modas. No entanto, este não deixa de ser um vinho fácil e bem desejável por qualquer enófilo de preferência mais contemporânea.
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O Adega de Borba Grande Reserva Branco 2009 foi servido antes do anterior, mas já que guardei para o fim as surpresas… blá, blá, blá, já se percebeu por que este vai a terminar. Tem ovação de pé. Um grande vinho e que nos comentários dos presentes à mesa e, melhor, pelas reacções faciais, suponho que foi unânime. 70% (lembram-se dos sorteios da Lotaria na tv? O tipo insistia em dizer satenta) do lote fez-se de arinto, cabendo a restante quantidade, em partes iguais, a alvarinho e a verdelho. Esta referência é rara, tendo a última saído em 1979! Notas de prova? Comprem uma garrafa e digam de vossa justiça… Só custa nove euros.
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Adega de Borba Rosé 2011
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Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 5,5/10
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Montes Claros Colheita Branco 2011
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Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 5,5/10
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Senses Alvarinho 2011
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Adega de Borba
Nota: 5/10
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Montes Claros Reserva Branco2011
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Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6/10
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Montes Claros Reserva Tinto 2010
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Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 6,5/10
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Adega de Borba Premium Tinto 2010
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Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 7/10
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Montes Claros Garrafeira Tinto 2008
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Origem: Alentejo (Borba
Produtor: Adega de Borba
Nota: 7,5/10
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Adega de Borba Grande Reserva Tinto 2009
Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 8/10
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Adega de Borba Grande Reserva Branco 2009
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Origem: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega de Borba
Nota: 8,5/10

quinta-feira, julho 05, 2012

Quinta do Côtto 2007

– Um vinho português com tampa de rosca?
– E por que não?
– É legítimo.
– É, e mais barato do que uma rolha de cortiça.
– Mas, e espera lá, não é um bocado contra-a-natura? Não devíamos defender o que é nosso?
– Conservador! Não tem nada a ver. Cada um usa o que quer. Isso seria patrioteirismo bacôco.
– Pois, de acordo. Vivemos num país livre. Todavia, por que hei-de de comprar um vinho como a Quinta do Côtto se há outros importados tão bons e melhores, e a preço inferior?
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Vedante de rosca? Tudo bem. Desde que depois não me venham falar nos custos de fazer vinho em montanha, nem da interioridade, nem do preço da mão-de-obra  que é caro por escassa, ou da água ou o c******. Não me venham com conversas moralizadoras. 
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Vedante de rosca num vinho abaixo de um 1,5 euros, até aceito. Mas num vinho como o Quinta do Côtto, marca com história e reputação?
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Conservadorismo? Nem por isso. O bag-in-box é uma óptima invenção. Se querem descomplicar e facilitar, que usem o saco-dentro-do-caixote. Esse sistema tem virtudes além do preço. Ainda assim, um Quinta do Côtto num bag-in-box? 
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Para quê falar de região ou ano? Falemos de produto. É uma bebida com álcool. Um vinho português com rosca não tem identidade. O produtor usa o vedante que entende e o consumidor consome o que quer.
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Quanto ao vinho: perdi a tesão de o comentar.
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Quanto ao produto: nos mesmos patamares de preço e de qualidade, há melhores da estranja. Com rosca ou com rolha.
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Refiro, uma vez mais, que as opiniões são todas subjectivas e que por aqui são assumidas como tal. O critério é mesmo o do prazer e este vinho não me deu nenhum. A qualidade não comento, o produto é evitável.
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Origem: Douro
Produtor: Montez Champalimaud
Nota: 2/10